O assalto declarado #GOLD #OURO #EURUSD

Os leitores do Mosca já estão acostumados com minha desconfiança em relação às criptomoedas. Não é de hoje que vejo nesse mercado uma combinação perigosa de marketing agressivo, ingenuidade e instrumentos financeiros construídos mais para alimentar ilusões do que para gerar valor real. Admito que talvez exista em mim certo viés de negação, afinal, cada dia que passa aumenta o número de pessoas e empresas que se envolvem nesse universo. Mas é importante frisar: quando falo em “assalto declarado”, não me refiro a todo o ecossistema das criptomoedas, e sim ao fenômeno específico das stablecoins.

Nas últimas semanas, o ouro voltou a ocupar o espaço das manchetes, recuperando seu posto de ativo milenar e “porto seguro” em momentos de incerteza. Não poucas vezes já observei aqui que sua valorização costuma estar ligada a modismos passageiros: quando a euforia passa, o metal perde o encanto. Curiosamente, esse movimento do ouro contrasta com o do bitcoin, que mesmo com a introdução de mecanismos cada vez mais arriscados, vem perdendo força.

O Wall Street Journal detalhou um desses mecanismos: os chamados contratos futuros perpétuos de bitcoin, que não possuem vencimento e permitem alavancagem de até 100 vezes. Isso significa que uma queda de meros 1% pode dizimar integralmente o capital de quem ousa entrar nessa aventura. Não consigo evitar a comparação: é mais fácil tentar a sorte num cassino de Las Vegas do que acreditar que isso seja investimento responsável.

Além disso, há a pressão do mercado de opções, com vencimentos volumosos que geram volatilidade artificial. A Bloomberg relatou esse movimento recente, apontando como a especulação domina a cena, em detrimento de qualquer argumento racional sobre uso ou valor intrínseco.

Se o bitcoin perdeu parte de seu encanto, há outro ativo digital que parece seguir a passos firmes, embalado pelo som da festa: o Tether. É aqui que entra a noção de “assalto declarado”. A stablecoin — batizada por estar lastreada em títulos do Tesouro americano — tornou-se onipresente nas transações de criptomoedas. Seus gestores argumentam que oferecem uma ferramenta prática para transferências rápidas de recursos. Até aí, nada demais. Mas é preciso observar quem realmente se beneficia: enquanto investidores acreditam estar em algo “seguro”, todo o rendimento dos títulos americanos fica com a própria empresa emissora.

Como destacou um artigo da Bloomberg Opinion, o Tether parece repetir a lógica descrita por Chuck Prince, ex‑CEO do Citigroup, no auge da bolha de crédito de 2007: “enquanto a música tocar, todos precisam dançar”. Hoje, a música das criptomoedas continua, mas o baile é sustentado pelo fato de que milhões aceitam um produto que não passa de uma conta remunerada, só que sem transparência, sem regulação adequada e com risco de liquidez.

O problema vai além: outra análise, também da Bloomberg, lembra que stablecoins deveriam servir para pagamentos, e não para funcionar como substituto de poupança. Permitir que empresas privadas capturem integralmente o rendimento de títulos públicos, enquanto o usuário se contenta em achar que possui uma moeda “estável”, é o tipo de distorção que deveria acender alertas nos bancos centrais.

É aqui que a experiência brasileira entra em cena. Não posso deixar de mencionar o PIX, sistema de pagamentos instantâneos que transformou radicalmente o modo como pessoas e empresas transferem dinheiro. Com ele, as justificativas para usar stablecoins como o Tether perdem totalmente o sentido. Por que alguém aceitaria deixar rendimentos bilionários nas mãos de intermediários privados, quando há sistemas eficientes, seguros e gratuitos à disposição?

Essa comparação é inevitável para mim. Vejo no Tether — e em tantas outras stablecoins — uma versão requentada de práticas antigas do sistema financeiro: tomar algo trivial, dar um verniz de inovação e, no processo, capturar rendas que pertencem aos usuários. Se o Federal Reserve criar algo semelhante ao PIX, esse produto desaparece em questão de meses.

Os últimos dias mostraram sinais claros de fragilidade. O Bloomberg News destacou a queda do ether para seu menor nível em sete semanas, num recuo que reforça o quadro de desalento do mercado. Mais do que um ajuste pontual, esse movimento reflete a realidade de um setor que depende de narrativas grandiosas para continuar respirando. Quando a narrativa esvazia, resta apenas a volatilidade.

Ao longo da minha vida profissional, vi de perto o colapso de produtos que se vendiam como soluções definitivas para problemas complexos, mas que no fundo não passavam de embalagens sofisticadas para velhas armadilhas. Hoje, quando observo o discurso em torno das stablecoins, vejo a mesma lógica: o assalto se apresenta como modernidade, mas no fundo é apenas uma forma de transferir riqueza dos incautos para os intermediários.

Assim, reafirmo: stablecoins, como o Tether, não são solução, mas sintoma de um sistema que insiste em confundir conveniência com exploração. O assalto declarado está aí, à vista de todos. E enquanto a música tocar, haverá sempre quem continue dançando.

 

Análise Técnica

No post “De volta” fiz os seguintes comentários sobre o ouro: “Se minha contagem estiver certa, ao terminar a onda (5) vermelha em conjunto com a onda 3 amarela, um período mais longo de baixa deve levar o metal para algo entre US$ 3.200 e US$ 2.870.”


Como comentei anteriormente, o ouro deveria atingir o nível de US$ 3.825 para encerrar esse ciclo de alta. Nesta semana, alcançou a máxima de US$ 3.790, o que poderia representar o final, mas, em uma janela menor, não se observa um movimento de queda em cinco ondas, o que seria necessário na possível onda 4 amarela. Demarquei com o retângulo azul a área onde provavelmente a onda 3 amarela e a 5 vermelha teriam terminado.


Em relação ao euro, meus comentários foram: “No caso de alta, a região em salmão — que seria entre € 1,227 e € 1,253 — deveria ser superada. No caso de queda (o que considero um pouco mais provável), o euro deveria rumar para o nível de € 0,948 a € 0,920.”


Na semana passada, fiz uma análise de mais longo prazo, que tem apenas caráter de perspectiva. No curto prazo, é possível que a queda tenha se iniciado, embora, como podem ver abaixo, nada definitivo se possa afirmar. Se a queda está em curso, o euro não deveria ultrapassar € 1,1830. Nada a fazer no curto prazo.


O S&P 500 fechou a 6.604, com queda de 0,50%; o USDBRL a R$ 5,3637, com alta de 0,59%; o EURUSD a € 1,1661, com queda de 0,65%; e o ouro a U$ 3.747, com alta de 0,45%.

Fique ligado!

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