Hedge: O final de especulação malsucedida

 

Um artigo recente da Bloomberg chamou atenção para um movimento em curso: investidores estrangeiros continuam comprando ações e títulos nos Estados Unidos, mas, ao mesmo tempo, fazem hedge contra o dólar. O fenômeno foi batizado de Hedge America. À primeira vista, parece uma demonstração de sofisticação financeira. Mas, ao olhar mais de perto, revela a velha tentativa de conciliar crenças contraditórias – acreditar na força da bolsa americana e, simultaneamente, desconfiar da moeda em que esses ativos são cotados. Misturar as duas coisas, na minha visão, é um convite a frustrações de ambos os lados.

Essa história de “hedgear” – palavra que o jargão financeiro já absorveu – me traz lembranças da minha vida profissional. Não lembro exatamente quando, mas certamente após algum tombo, criei uma frase que nunca abandonei: toda vez que alguém faz hedge, a sensação é sempre ambígua. Se “ganha”, é porque perdeu no outro ativo; se perde, é porque o outro lado compensou. No fim, fica a dúvida se houve de fato um ganho. Nunca conheci quem não pensasse dessa forma, inclusive eu. Essa experiência prática mostra que hedge não é um ato neutro de proteção, mas uma escolha que carrega sempre uma contradição.

O que está acontecendo agora no mercado global reforça esse dilema. Segundo o relatório, pela primeira vez em mais de uma década, os fluxos para fundos americanos com proteção cambial superaram os fundos sem hedge. A justificativa é clara: a expectativa de cortes acelerados de juros pelo Federal Reserve torna mais barato “segurar” o risco cambial. Há estimativas de que esse movimento possa somar até 1 trilhão de dólares em apostas contra a moeda americana. Em outras palavras, a confiança nos ativos dos EUA continua, mas a fé no dólar vacila.


A contradição se aprofunda quando lembramos que, em momentos de crise, o dólar sempre foi o porto seguro por excelência. No entanto, desde a ofensiva tarifária de Trump e suas investidas para manipular o Federal Reserve, o dólar acumulou sua pior primeira metade de ano desde a década de 1970. Parte disso, segundo o BIS, foi justamente alimentada pelas ondas de hedge feitas por investidores estrangeiros. Ou seja, a proteção virou ela própria um vetor de instabilidade.

Enquanto isso, as bolsas americanas continuam desafiando a gravidade. Na última semana, o S&P 500, o Nasdaq e o Dow Jones renovaram recordes após o primeiro corte de juros do Fed em um ciclo que promete ser agressivo. O argumento predominante é que, com liquidez abundante e uma economia resiliente, as ações ainda têm fôlego. A euforia é tamanha que nem mesmo o vencimento trimestral de 5 trilhões de dólares em opções foi suficiente para aumentar a volatilidade. É mais uma prova de que o mercado vive de narrativas que se sobrepõem, e não de lógicas lineares.

É justamente nesse ponto que vejo o maior risco. Investidores globais parecem acreditar que podem escolher um pedaço da equação: ganhar com a bolsa, mas blindar-se do dólar. Na prática, acabam dobrando a aposta em direções contrárias. Se o mercado acionário americano está em alta sustentada por cortes de juros, isso significa, ao mesmo tempo, um dólar estruturalmente mais fraco. Se o temor é de que o dólar siga caindo, o mais coerente seria não comprar nada de bolsa americana, mas concentrar-se apenas em vender a moeda. Essa mistura – acreditar em uma parte e duvidar da outra – tende a resultar em prejuízos duplos.

Trago esse debate também para o investidor doméstico. Muitas vezes vejo análises que tentam “explicar” o valor da bolsa brasileira em dólares. Essa manipulação gráfica induz a uma falsa sensação de barato ou caro. A bolsa é reflexo dos lucros das empresas e da economia; o dólar é reflexo do balanço de fluxos entre países. Cruzar as duas variáveis num único gráfico é misturar churrasco com sobremesa. Parece sofisticado, mas é apenas confusão conceitual.

Essa discussão sobre horizontes de investimento ganha eco no artigo de Matt Levine na Bloomberg, intitulado “Ações para o Longo Prazo”. Ele parte de uma constatação teórica simples: todo investidor, seja um fundo de alta frequência que negocia em milissegundos ou um gestor que compra para décadas, está precificando fluxos de caixa futuros. O preço de uma ação embute expectativas infinitas – um dólar de lucro hoje vale mais do que amanhã, mas menos do que bilhões projetados ao longo de décadas, devidamente descontados.

É essa lógica que sustenta valuations de empresas como a OpenAI, avaliada em meio trilhão de dólares mesmo queimando caixa. Mas, na prática, poucos internalizam essa teoria. Investidores institucionais alegam perseguir o longo prazo, mas reagem a cada trimestre; fundos de hedge miram resultados imediatos. Levine questiona: se não houvesse relatórios trimestrais, empresas se concentrariam em criar valor sustentável? Um estudo da Columbia Business School, de Kalash Jain e Dian Jiao, oferece evidência empírica. Os autores mediram o “Horizonte” – o número médio de trimestres em que investidores ativos mantêm ações, ponderado pela participação. A conclusão é clara: empresas com investidores de horizonte longo superam em desempenho, sobretudo quando os riscos são intermediários. O motivo é que capital paciente é escasso; empresas cujo retorno só aparece anos depois são subavaliadas no curto prazo, abrindo espaço para ganhos acima da média.

Não se trata de negar o uso de hedge. Ele tem papel importante em certas estratégias, principalmente para instituições que precisam suavizar volatilidades contábeis. Mas para o investidor que busca retorno real, o hedge quase sempre vira uma muleta para justificar dúvidas sobre a própria convicção no ativo principal. É por isso que sigo convencido: hedge não elimina risco, apenas desloca sua forma e intensidade.

No campo político, a conjuntura americana acrescenta outra camada. O mesmo governo que pressiona o Fed a cortar juros, ameaça com tarifas globais e interfere em dados oficiais também alimenta a instabilidade do dólar. Há investidores que acreditam que podem amar as ações americanas e os títulos do Tesouro, mas odiar a moeda. É uma esquizofrenia de portfólio. Para mim, o mais prudente é escolher em qual narrativa acreditar, em vez de tentar equilibrar-se nas duas.

Em resumo, o Hedge America é mais uma versão da velha especulação travestida de sofisticação. O final, como já vivi em outras épocas, costuma ser de frustração. A sensação de que se ganhou quando, na verdade, apenas se perdeu de maneira diferente. O que sobra é a lembrança de que o mercado sempre pune a incoerência – seja entre ativos, seja entre narrativas.

O Mosca não tem a pretensão de ditar regras, mas insiste em lembrar: especulação e proteção são duas faces do mesmo risco. No fim, não existe atalho para fugir da realidade. Bolsa é bolsa, moeda é moeda. Misturar as duas é, quase sempre, o início de uma especulação malsucedida.

Análise Técnica

No post “o-charlatão” fiz os seguintes comentários sobre a nasdaq100: “Tudo indica que a onda (4) vermelha concluiu seu ciclo – restando apenas a hipótese de um false break ou uma estrutura mais complexa. Considerando a trajetória em curso, o Nasdaq 100 deve atingir o objetivo de 26.000 (+10%) a 26.500 (+11%) nos próximos meses (espero retornar antes disso)”.

Minha tese se mostrou correta até agora, embora eu “empurrei a onda C azul em conjunto com a onda (4) vermelha um pouco mais a frente. A nasdaq100 ruma para o objetivo traçado acima o que representa uma alta de aproximadamente 6,5%. Fiquem atentos que vou procurar entrar numa correção do movimento destacado no retângulo.

Em relação a Nvidia meus comentários foram: “O gráfico da Nvidia sugere um cenário distinto do Nasdaq 100, onde a onda (4) laranja aparenta ainda estar em formação, o que pode questionar minha afirmação anterior. O primeiro objetivo situa-se ao redor de US$ 168. Destaquei no gráfico dois níveis críticos a serem monitorados no curto prazo”

Como desconfiava a onda (4) laranja não tinha terminado, por sinal, não tenho certeza se já terminou como apontado no gráfico abaixo. Existe uma tecnicidade nessa contagem onde a onda 3 laranja é “pequena” nos padrões normais. Isso implica que o término desse movimento deveria ocorrer antes de U$ 260 (+47%!).

Qual poderia questionar essa anomalia? Que a alta seria muitooo maior, mas vamos pelo mais conservador e ficar com essa hipótese por enquanto.

Na semana passada ocorreu um fato importante com uma empresa de tecnologia que estava injustamente na fila para ganhar a sua carteirinha “Carteirinha Platinum” e do dia para noites, não só entrou no roll mas também merece uma carteirinha de destaque, não seria a Platinum que por enquanto é da Nvidia, mas talvez uma categoria abaixo que nem sei como seria denominada, mas certamente uma destacada. Essa empresa é a Oracle, mas interessante também é sua excentricidade de seu CEO.


Larry Ellison, fundador da Oracle, é uma figura extravagante conhecida por possuir uma ilha havaiana inteira, pilotar seus próprios jatos militares, sofrer acidentes graves como quebrar o cotovelo em uma queda de bicicleta em alta velocidade e perfurar o pulmão enquanto surfava, fazer uma participação especial no filme Homem de Ferro 2, atuar brevemente como restaurateur em Malibu, fundar uma empresa de agricultura hidropônica, construir o complexo de tênis Indian Wells, competir em regatas de iates e trocar de casas de férias com a mesma rapidez que de carros esportivos; apesar dessa vida extravagante, a internet parece tê-lo esquecido até que um artigo da Bloomberg em 11 de setembro de 2025 destacou seu breve reinado como a pessoa mais rica do mundo, impulsionado por um salto de 36% nas ações da Oracle no dia anterior, motivado por contratos de nuvem impulsionados por IA, elevando seu patrimônio em US$ 101 bilhões em apenas 40 minutos, mantendo o momentum de crescimento ligado à expansão em inteligência artificial.


O S&P 500 fechou a 6.664, com alta de 0,49%; o USDBRL a R$ 5,3214, com alta de 0,12%; o EURUSD a € 1,1747, com queda de 0,34% e o ouro a US$ 3.683, com alta de 1,06%.

Fique ligado!

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