Embriagado pelo sucesso #nasdaq100 #NVDA

 

No post de quarta-feira: “ia-o-camaleão” mostrei um gráfico que deixava claro: a economia americana cresce graças à tecnologia; sem ela, estaria em recessão. Essa fotografia não é um detalhe estatístico, mas o reflexo de uma Revolução Digital em andamento, que ganhou combustível com a inteligência artificial. A aposta é tamanha que os gigantes de tecnologia parecem embriagados pelo próprio sucesso — expandindo investimentos numa velocidade que remete a outras bolhas da história. Já alertei em outras ocasiões que, quando o mercado acredita que não há limites para retornos, surge o risco de os investimentos não se pagarem. E não se trata apenas de excesso de otimismo: os balanços ainda brilham, mas são financiados por capex bilionário e estruturas de dívida que deixam pouca margem para erros. Quando a euforia se desfaz, o impacto pode ser devastador.



Nunca o mercado de crédito testemunhou algo parecido com a atual corrida para financiar a IA. Somente em 2025, empresas de tecnologia emitiram mais de US$ 157 bilhões em títulos de dívida nos EUA, 70% a mais do que no ano anterior. A Oracle liderou com US$ 26 bilhões, parte deles em um único lançamento de US$ 18 bilhões que atraiu pedidos equivalentes a cinco vezes a oferta. Esse movimento não é isolado: Alphabet, Broadcom e até a Apple recorreram ao mercado, enquanto a Meta estruturou US$ 29 bilhões em crédito privado. A demanda é tão forte que os spreads dos papéis corporativos de grau de investimento caíram para níveis próximos aos mais baixos em quase três décadas. É a fotografia de um mercado com apetite insaciável, disposto a financiar projetos cujo retorno final ainda é incerto. O paralelo com a bolha pontocom é inevitável: na virada do milênio também parecia que todo empreendimento digital estava destinado ao sucesso, até que a realidade se impôs com força brutal.



David Einhorn, gestor da Greenlight Capital, verbalizou de forma direta o que muitos preferem ignorar: os números atuais são “tão extremos” que carregam grande chance de destruição de capital. Ele reconhece que a IA será transformadora, mas questiona se gastar meio trilhão ou até um trilhão de dólares por ano em infraestrutura realmente trará retorno para as empresas que fazem esses investimentos. Não se trata de negar o potencial da tecnologia, mas de separar a importância de longo prazo da IA da viabilidade econômica imediata dos projetos. Quando os fluxos de caixa não acompanham, o excesso de capital investido pode evaporar como fumaça.

Um relatório do JP Morgan sintetizou o fenômeno com uma metáfora poderosa: o “Blob”, uma massa disforme que se expande sobre a economia, formada pelo crescimento voraz dos data centers. Desde o lançamento do ChatGPT, as ações ligadas à IA responderam por 75% do retorno do S&P 500, 80% do crescimento dos lucros e 90% do aumento de investimentos em capital. O caso da Oracle é emblemático: comprometeu-se a fornecer infraestrutura de nuvem para a OpenAI em um contrato de 60 bilhões de dólares anuais. O detalhe é que não possui centros de dados prontos nem energia suficiente para cumprir a promessa. Estima-se que precisará de 4,5 gigawatts de potência — o equivalente a quatro usinas nucleares. Para financiar tamanha empreitada, elevou seu endividamento a um patamar em que sua relação dívida/capital é dez vezes superior à da Amazon.



No pano de fundo, a corrida pela liderança é também geopolítica. Os EUA ainda dominam os chips avançados e os modelos de linguagem, mas a China já aparece como a única capaz de rivalizar. Empresas como DeepSeek e Alibaba lançaram modelos competitivos, apostando em padrões abertos para difundir sua tecnologia globalmente, enquanto Pequim injeta dezenas de bilhões em subsídios. Do lado americano, Trump anunciou um plano emergencial para acelerar a construção de data centers e garantir energia elétrica. A batalha pela supremacia tecnológica se confunde com a própria disputa pela hegemonia do século XXI.

Nesse contexto, a Apple é talvez o exemplo mais revelador de como o sucesso passado não garante o futuro. Apesar de contratações estratégicas e aquisições, falhou em transformar o Siri em algo comparável a ChatGPT ou Gemini. Seus anúncios de “Apple Intelligence” vieram acompanhados de atrasos, funcionalidades que não funcionaram e até ações coletivas de consumidores que se sentiram enganados. A fórmula histórica da empresa — lançar produtos impecáveis após observar concorrentes — não se ajusta ao ritmo caótico da IA, que exige investimentos em escala e com resultados incertos. A cada trimestre perdido, cresce a percepção de que Cupertino pode repetir a trajetória da Nokia.

Durante a minha carreira no mercado financeiro, vi de perto momentos em que a convicção coletiva parecia inabalável. Do entusiasmo com o “milagre brasileiro” dos anos 70 ao excesso de alavancagem pré-crise de 2008, a sensação era sempre a mesma: nada poderia dar errado. Hoje, o discurso de que a IA será a salvação para tudo ecoa o mesmo padrão psicológico. A diferença é que agora os valores são descomunais. O que antes era medido em bilhões virou trilhão. E ainda que a tecnologia avance, o mercado de capitais não perdoa: se os retornos ficarem aquém, a correção será brutal.

O que estamos testemunhando é mais do que um ciclo de inovação: é uma reconfiguração das engrenagens da economia global. Mas essa transição vem carregada de riscos que os mercados parecem anestesiados para enxergar. A embriaguez do sucesso pode ser traiçoeira. Se os números deixam de fechar, os ativos que hoje parecem inatingíveis podem despencar. Todo cuidado é pouco.

Análise Técnica

No post “hedge-o-final-de-especulação-malsucedida” fiz os seguintes comentários sobre a nasdaq100: “Minha tese se mostrou correta até agora, embora eu “empurrei a onda C azul em conjunto com a onda (4) vermelha um pouco mais a frente. A nasdaq100 ruma para o objetivo traçado acima o que representa uma alta de aproximadamente 6,5%”.


Essa semana a bolsa andou meio de lado para baixo com uma queda máxima de 2,5% o que é pouca coisa. Fiz duas observações no gráfico abaixo: a primeira é que se pode contar 5 ondas nessa última alta destacada com a elipse; segundo, considerando essa contagem, tem muitas ondas 5 – quero enfatizar que tenho uma outra contagem que não espelha preocupação tão elevada, além de, se compararmos com o S&P 500 não estariam na mesma frequência. Para simplificar, adotei essa contagem por ser a mais conservadora.


Em relação a Nvidia meus comentários foram: “Como desconfiava a onda (4) laranja não tinha terminado, por sinal, não tenho certeza se já terminou como apontado no gráfico abaixo. Existe uma tecnicidade nessa contagem onde a onda 3 laranja é “pequena” nos padrões normais. Isso implica que o término desse movimento deveria ocorrer antes de U$ 260 (+47%!)”


Com o anúncio do investimento de U$ 100 bilhões da NVDA no OpenAI, ela encostou na máxima e depois houve um pequeno recuo. Como comentei acima a onda 4 laranja pode não ter terminado, mas se esse for o caso essa onda ficou muito “cumprida”. Isso não é uma violação, mas foge aos padrões normais. Para resolver a Nvidia precisar ultrapassar logo U$ 184,56.


Venho alertando para o fato de o setor de tecnologia não estar criando empregos, ou diminuindo em serviços que a IA os executa. Está semana, no post “IA: O camaleão” expus essa questão. No texto acima o quadro publicado pelo JPMorgan aponta o elevado domínio da IA nos lucros (75%), crescimento do EBIT (62%) e Capex (90%) quando comprado as outras empresas. Mas, é os empregos?

O gráfico acima mostra que depois de um desvio ocasionado pela pandemia em 2020, a proporção de empregos em relação ao total volta a cair se desviando da média de crescimento de longo prazo, e pior, representa meros 2%. Impressionante a concentração dos resultados comparados com os empregos necessários para fazer funcionar.


O S&P 500 fechou a 6.643, com alta de 0,59%; o USDBRL a R$ 5,3384, com queda de 0,48%; o EURUSD a € 1,1705, com alta de 0,34%; e o ouro a U$ 3.769, com alta de 0,52%.

Fique ligado!

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