Achando uma boa desculpa #IBOVESPA

 


Não vejo por que alguém escolheria um fundo de ações para investir na bolsa. Eu trouxe aqui inúmeros estudos que mostram falta de consistência no tempo. Outro indicador que me deixa intrigado é o P/L. Como confiar que uma empresa possa manter seu lucro por 10 anos — isso um parâmetro considerado conservador, barato — quiçá 30 anos? Mas essa é uma questão para os fundamentalistas. Joachim Klement traz em seu site Klement on Investing as justificativas dos gestores para seus resultados, quando são melhores e piores que seu benchmark.

Há pouco tempo, discuti como os analistas tentam transferir a culpa pelas previsões fracassadas. Mas os gestores de fundos não são melhores, como mostra um estudo de Meng Wang, da Universidade Estadual da Geórgia .

O estudo usou um modelo de linguagem ampla baseado em GPT e o treinou na discussão sobre o desempenho que os gestores de fundos oferecem. Esse modelo permitiu diferenciar quais as razões apresentadas pelos gestores para o desempenho superior das ações que contribuíram positivamente para o desempenho dos fundos em relação ao seu benchmark. Da mesma forma, permitiu identificar e classificar as razões pelas quais os gestores de fundos forneceram por que outras ações tiveram desempenho abaixo do esperado e prejudicaram o desempenho. A simples divisão entre razões internas (processo de investimento, habilidade do gestor de fundos etc.) e razões externas (circunstâncias de mercado, desenvolvimentos macroeconômicos etc.) mostra que os gestores de fundos são tão bons em transferir culpas quanto os analistas de pesquisa.

Razões apontadas para ações com desempenho superior e inferior



Fonte: Wang (2023)

Em média, os gestores de fundos têm 41% mais chances de atribuir o bom desempenho a fatores internos do que o mau desempenho. Infelizmente, o estudo também descobriu que os gestores de fundos que são mais propensos a esse viés de auto atribuição tendem a negociar mais e ver seu desempenho cair no trimestre subsequente. Infelizmente, nada de novo aqui. Gestores de fundos excessivamente confiantes pensam que seu sucesso é todo baseado em suas habilidades e não devido à sorte. E quanto mais confiantes eles ficam, mais eles negociam e destroem o desempenho. Mas esse mau desempenho, claro, não se deve ao excesso de confiança do gestor do fundo, mas a fatores do mercado externo...

Surpresos? Eu não. Afinal, quando ganha nós ganhamos, quando perde você perdeu vale com um raciocínio semelhante.

Um segundo assunto que trago é sobre os day traders ou investidores que se aventuram em participar dos mercados – principalmente na bolsa de valores, acreditando que podem fazer disso uma profissão. As estatísticas não são muito favoráveis e indicam que 80% perdem todo capital depois de seis meses. Barry Ritholtz traz em seu site The Big Picture alguns pontos que considero úteis.

Neste fim de semana, Jeff Sommer discutiu um artigo de pesquisa da DFA sobre o momento do mercado, ambos valem a pena ler.

Os traços gerais são: o timing do mercado é extremamente difícil, muito poucas pessoas (se houver) o fazem bem de forma consistente. Não só as probabilidades estão  acumuladas contra você, mas muitas vezes os sistemas que cronometraram com sucesso o mercado simplesmente tiveram sorte e não tiveram sucesso em testes fora da amostra. Isso antes de chegarmos à questão dos impostos sobre ganhos de capital, que criam um requisito de (no mínimo) 20% sobre esses lucros incômodos apenas para chegar ao ponto de equilíbrio.

Vamos adicionar um pouco de cor e nuance à discussão sobre o timing em si.

Tive algumas previsões de timing de mercado muito boas  em minha carreira, e atribuo meu sucesso nessa área a três fatores: 1) Instinto; 2) Apostas Baixas; 3) Sorte. Vamos nos aprofundar neles para ver se eles se aplicam ao seu próprio investimento e negociação:

Instinto: Blink: O Poder de Pensar Sem Pensar, de Malcolm Gladwell, discute os pontos fortes e as capacidades do "inconsciente adaptativo". Gladwell credita o sucesso em muitos campos a julgamentos rápidos e automáticos que vêm de anos de prática. Depois de repetições suficientes, torna-se uma segunda natureza para o cérebro reconhecer rapidamente padrões e regularidades para fazer bons julgamentos rápidos.

Considere-me um cético.

Há muitos problemas com o instinto, mas dois se destacam em particular: primeiro, os mercados evoluem ao longo do tempo, esse "senso de mercado" que os traders desenvolvem pode se tornar falível à medida que o mundo financeiro muda. Em segundo lugar, ser um "Contrariano" requer que você lute contra a multidão – e você, como primata social, quer desesperadamente ficar com sua tribo ou grupo social. Pegar o momento exato em que a multidão está errada vai contra todos os seus instintos como primata social.

Imagine um prospecto de captação privada buscando levantar dinheiro com base em "décadas de instintos aprimorados" como modelo de investimento. É totalmente risível.

Apostas baixas: Os temporizadores de mercado mais bem-sucedidos geralmente são aquelas pessoas que não têm ativos reais em risco. Quanto menos importa, mais fácil é ser ousado e fora do mainstream.

Os redatores de boletins informativos são notórios por fazer grandes previsões. Mas quando erram o timing do mercado, perdem assinantes. Quando você erra, isso esmaga seus planos de aposentadoria. Portanto, quanto menos importa, quanto menos capital real está em jogo, mais fácil é fazer essas previsões ousadas.

Meu próprio histórico em  fazer grandes previsões é muito bom, mas nenhum de nossos clientes quer que eu mexa com seus planos de aposentadoria com base em meu instinto. Tenho uma baita certeza de que também não quero.

Sorte: Eu coloco a sorte por último porque muitas vezes ela é negligenciada.

Considere o que você teria que fazer nas últimas duas décadas para se dar bem no timing do mercado. O topo pontocom, o fundo duplo em 02 de outubro a 03 de março; as máximos em 2007, as mínimas em 2009. Ficar comprado durante a queda de 34% de 60 dias durante a pandemia de 2020; sair do mercado antes do ciclo de alta de juros de 2022; e voltar em outubro de 2022 para a próxima etapa de alta.

Tenho dezenas de exemplos de traders que tomaram a decisão certa para algumas das situações acima por todos os motivos errados. Não é de admirar que essas pessoas sejam inconsistentes.

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Se você quer ter uma pequena porcentagem de sua carteira em uma conta de alto risco onde você pode entrar e sair sem afetar seu dinheiro real, claro, por que não!

Mas com seu portfólio principal – o capital que realmente importa – a melhor coisa que você pode fazer é deixá-lo sozinho para compor ao longo do tempo...

Eu gostava de ir ao cassino quando era mais jovem e hoje em dia não tenho a menor vontade. Percebi com o tempo que do ponto de vista racional a probabilidade de ganho é um 50/50, um pouco menor para você ou até bem grande dependendo do jogo e tipo de aposta. A parte que é tida como divertimento: não vejo nenhuma graça arriscar com as chances contra mim. Felizmente tinha uma política rígida nas apostas, não me deixando levar pelos momentos tipo: agora vai dar o 20 na roleta, ou apostar o dobro para recuperar. Graças a isso (forma de apostar) consegui sair ganhando algumas vezes. Hoje tenho certeza de que foi muita sorte!

Na área de investimentos, ocorrem situações semelhantes. Para os fundamentalistas, tenho a dizer que boa parte dos acertos é sorte, pois ninguém sabe o futuro — então as projeções podem falhar feio. Me sinto mais confortável com a análise técnica, que permite uma boa quantificação de risco x retorno e tem pontos de stop loss que corrigem uma análise equivocada.

No post até-agora-tudo-bem  fiz os seguintes comentários sobre o IBOVESPA: ... “ A onda (iii) laranja está se mostrando mais forte que o esperado, o que não foge à regra por ser a parte mais potente de um movimento. Nessas situações não se tem o que fazer a não ser esperar seu final. Como mencionei acima minha ideia é sugerir um trade de compra na onda (iv) laranja” ...




Como o post de hoje foi centrado no conceito de probabilidade, eu acredito que a onda (iv) laranja não terminou e, como indicado no gráfico, poderia retrair até 123 mil — a ser mais bem calculado caso ocorra. As razões para essa crença é que quando se compara essa onda com a onda (ii) laranja precisa de mais “tempo”.




Mas e se o mais provável não acontecer nesse caso e o IBOVESPA já estiver caminhando na onda (v) laranja? Bem, nesse caso, se tivesse intenção de me envolver com uma compra, teria que entrar entre 126 mil / 127 mil dependendo da estratégia a ser adotada, antevendo um objetivo de 130 mil. Vale a pena? Não! Por que não? Porque, primeiro, os leitores já sabem que onda 5 pode acabar antes do mais indicado e, segundo, porque ao terminar deve ocorrer uma correção na onda 2 verde.

Por esses motivos, só admito pensar em entrar se a onda (iv) laranja não tiver terminado – minha hipótese acima, e num nível confortável para se estabelecer um stop loss compatível com o potencial ganho.

Admito que eu deveria ter entrado ao redor de 117 mil, quando a bolsa mostrou a possibilidade de ocorrer um movimento de alta, mas agora não posso deixar meu emocional, que ficou p$to, me fazer entrar de “qualquer jeito” para não perder o bonde. Entendam que sempre é possível entrar no mercado, pois garanto não ser a última oportunidade, mas dentro de parâmetros que justificam um bom risco x retorno.

O SP500 fechou a 4.550, sem variação; o USDBRL a R$ 4,9030, o EURUSD a 1,0973, com queda de 0,16%; e o ouro a U$ 2.044, com alta de 0,16%.

Fique ligado!

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