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Empurrando com a barriga #EURUSD

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  Jerome Powell parece ter se especializado na arte de administrar o tempo — não para resolver um problema, mas para adiar sua solução. O status quo da taxa de juros foi mantido na última reunião do FOMC, apesar das crescentes pressões vindas da Casa Branca e da dissidência inédita de dois governadores indicados por Trump. Ainda assim, o presidente do Fed optou por empurrar com a barriga a decisão sobre um possível corte em setembro, preferindo manter todas as opções em aberto. A metáfora é apropriada. Powell sabe que agir cedo demais pode ser tão perigoso quanto agir tarde demais. Como ele próprio declarou: “Se você se move muito cedo, talvez não consiga resolver a inflação por completo e terá que subir os juros novamente. Isso é ineficiente”. Ou seja, mais vale esperar e observar, mesmo que isso contrarie os desejos de Trump e de seus aliados no Comitê. Os dados econômicos divulgados no mesmo dia da decisão ajudam a entender a hesitação. O PIB dos EUA cresceu 3% no segundo tr...

China: sobrevivente da guerra tarifária

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  A guerra comercial imposta pelos Estados Unidos sobre seus parceiros não produziu o mesmo impacto em todos. Alguns cederam rápido, outros souberam negociar. Mas nenhum caso é tão emblemático quanto o da China. A maior potência emergente do planeta enfrenta a pressão econômica de Washington sem abrir mão de seu objetivo central: tornar-se a número 1. Essa ambição, como é próprio de regimes autoritários, não se mede por ciclos políticos curtos. Enquanto presidentes americanos vêm e vão a cada quatro anos, o Partido Comunista Chinês segue firme, controlando com mão de ferro os rumos do país. E mesmo quando a maré vira — como parece ser o caso com a suavização recente da retórica de Trump — a China continua operando sob uma lógica estratégica de longo prazo, que combina crescimento econômico, poder geopolítico e planejamento central rigoroso. O país prepara agora seu próximo grande passo: a elaboração do 15º Plano Quinquenal, referente ao período 2026–2031. O documento será debat...

Muitos gatos no telhado #S&P500

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  No auge do verão no hemisfério Norte, com a maioria dos investidores em modo férias, o mercado financeiro global aguarda com atenção dois eventos que podem redefinir o curto prazo: a reunião do Fed e o anúncio do Tesouro americano sobre sua estratégia de refinanciamento da dívida. Embora a primeira tenha 99% de chance de ser uma “não notícia”, com manutenção da taxa básica, o mercado não tira os olhos do telhado: está atento aos miados que podem sinalizar uma futura queda de juros. Powell não deve entregar a mudança agora, mas será preciso observar o tom — tanto no comunicado quanto nas perguntas dos jornalistas. A metáfora do “gato no telhado”, usada tradicionalmente para suavizar más notícias, aqui se aplica de forma inversa: a de boas notícias, mas que precisam ser preparadas com cuidado. Afinal, se Powell piscar, o mercado vai reagir antes do último miado. Mas enquanto o Fed hesita, o Tesouro, sob o comando de Scott Bessent, parece disposto a se mover — e rápido. O ex-ges...

Europa: Template para o Brasil #USDBRL

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  No último fim de semana, o anúncio do acordo tarifário entre os Estados Unidos e a União Europeia chamou a atenção global e, particularmente, a minha. Independente das opiniões polarizadas sobre Donald Trump, é inegável reconhecer que ele demonstra grande habilidade negocial, algo frequentemente ausente entre os negociadores oriundos do setor público. O acordo anunciado impõe uma tarifa base de 15% sobre a maioria das exportações europeias para os Estados Unidos, especialmente relevante para o setor automotivo, cujas tarifas caíram dos originalmente ameaçados 25% para os atuais 15%. Apesar de aparentemente draconiano, este acordo parece ter sido o melhor cenário possível para a Europa. O economista francês Christophe Barraud, reconhecido consecutivamente como melhor economista pela Bloomberg, ressaltou em sua análise que não enxergava nada particularmente positivo para a Europa, mas concluiu que "qualquer acordo é melhor do que nenhum acordo". De fato, os europeus aceit...

Trump arma uma cilada para Powell #nasdaq100 #NVDA

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  Ontem comentei que os estrangeiros continuam a investir nos EUA em volumes expressivos. Queria aproveitar para acrescentar um gráfico que confirma melhor do que minhas palavras: a entrada de recursos para investir na bolsa americana já ultrapassa os aportes em renda fixa. São impressionantes US$ 18 trilhões, evidenciando que o apetite por ativos de risco nos Estados Unidos continua forte. Esse fluxo de capitais sugere confiança na economia americana e, por consequência, sua moeda. Gráfico: Investimento estrangeiro em ações supera o de renda fixa: US$ 25 trilhões destinados à bolsa americana. Mas esse cenário otimista nos mercados contrasta com o teatro político que se desenrola em Washington. Donald Trump, fiel à sua vocação para o espetáculo, encontrou mais uma forma de colocar o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, sob os holofotes — e não por bons motivos. O palco foi a obra de renovação da sede do Fed, mas o verdadeiro objetivo era expor Powell ao constrangimen...

O dólar vai virar pó? #EURUSD

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O dólar atravessa um momento de estranha fragilidade. Mesmo diante de um ambiente que tradicionalmente fortaleceria a moeda americana — como tarifas protecionistas e diferencial de juros positivo — o comportamento recente do câmbio tem desconcertado analistas e alimentado apostas sobre um ponto de inflexão no papel do dólar no sistema financeiro global. Desde abril, o índice do dólar caiu mais de 10%, o pior desempenho em um primeiro semestre em pelo menos 25 anos. A desvalorização ocorreu justamente após o pacote de tarifas apelidadas de “Liberation Day”, promovido pelo governo Trump. Economistas como Stephen Miran esperavam o oposto: com uma melhora do balanço comercial, a tendência natural seria de apreciação da moeda. Mas não foi o que vimos. E é exatamente essa anomalia que exige cautela por parte do Federal Reserve. Mesmo com a escalada tarifária, a inflação ao consumidor se manteve relativamente contida — pelo menos por enquanto. Três hipóteses se apresentam: o repasse dos...

Juros altos matam no tempo #IBOVESPA

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  Durante boa parte da minha carreira, costumo repetir: "pagar juros de 1.000% por um dia não tem problema, mas por um ano mata". Essa ideia, que inicialmente parece hiperbólica, carrega um aviso simples: à medida que o tempo passa, os juros cobrados se infiltram nas veias da economia, afetando silenciosamente seus alicerces. Foi assim no Brasil durante anos de taxa real estratosférica, e é exatamente esse o risco que ronda a economia norte-americana agora. A taxa de juros básica dos EUA, embora não esteja em patamar historicamente extremo, permanece elevada para os padrões recentes. Pior: permanece elevada por tempo demais. E como sempre enfatizo aqui no Mosca, a economia segue aparentemente bem. Mas isso é exatamente o ponto: as consequências do juro alto são cumulativas, e não imediatas. O mercado é reincidente em anunciar recessões precipitadamente. Em 2022, analistas estavam convencidos de que a inversão da curva de juros anunciava uma contração iminente. A bolsa cai...