Europa: Template para o Brasil #USDBRL

 

No último fim de semana, o anúncio do acordo tarifário entre os Estados Unidos e a União Europeia chamou a atenção global e, particularmente, a minha. Independente das opiniões polarizadas sobre Donald Trump, é inegável reconhecer que ele demonstra grande habilidade negocial, algo frequentemente ausente entre os negociadores oriundos do setor público.

O acordo anunciado impõe uma tarifa base de 15% sobre a maioria das exportações europeias para os Estados Unidos, especialmente relevante para o setor automotivo, cujas tarifas caíram dos originalmente ameaçados 25% para os atuais 15%. Apesar de aparentemente draconiano, este acordo parece ter sido o melhor cenário possível para a Europa. O economista francês Christophe Barraud, reconhecido consecutivamente como melhor economista pela Bloomberg, ressaltou em sua análise que não enxergava nada particularmente positivo para a Europa, mas concluiu que "qualquer acordo é melhor do que nenhum acordo".

De fato, os europeus aceitaram, além da tarifa, compromissos significativos, como a compra de US$ 750 bilhões em produtos energéticos americanos, um investimento adicional de US$ 600 bilhões em solo americano e ainda a aquisição de grandes quantidades de equipamentos militares. A visão compartilhada por Robin J. Brooks ressalta que o acordo não representa uma derrota, mas sim uma aceitação das realidades econômicas e geopolíticas: a Europa necessita mais dos EUA, especialmente em termos de defesa militar, do que o contrário.

Essa situação torna-se ainda mais interessante quando comparada ao Japão, que também firmou um acordo com os EUA, aceitando a mesma tarifa básica de 15% e comprometendo-se a investir US$ 550 bilhões nos Estados Unidos, em um cenário similar de "buy down" de tarifas ainda mais pesadas.

Aqui entra o Brasil, que está às portas de enfrentar uma situação significativamente mais adversa: a ameaça de uma tarifa de 50% sobre todas as exportações brasileiras aos EUA. Observo, com preocupação, a total falta de habilidade demonstrada pelo governo brasileiro nesta questão crucial. O governo parece desnorteado, sem estratégias claras ou interlocutores capazes para lidar com uma crise dessa magnitude. Não surpreende essa falta de preparo, dado o histórico de escolhas governamentais, frequentemente baseadas em critérios políticos ou ideológicos, que resultam em equipes pouco competentes tecnicamente.

O exemplo mais evidente disso é Celso Amorim, enviado recentemente a Washington sem uma agenda definida e provavelmente sem interlocução eficaz, considerando seu alinhamento ideológico frontalmente oposto às políticas americanas atuais. Como é possível negociar de forma produtiva ao enviar alguém ideologicamente comprometido com grupos adversários dos interesses americanos? Essa abordagem não apenas enfraquece a posição brasileira como coloca em risco a credibilidade e eficácia da negociação.

Outro erro estratégico grave foi a reação brasileira à justificativa americana para aumentar as tarifas, baseada em críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF) e sua atuação política no governo Bolsonaro. Ao adotar uma postura defensiva em relação a essas críticas, o governo brasileiro mordeu a isca americana e ficou totalmente desprovido de argumentos sólidos para negociar melhores condições. Uma abordagem mais inteligente teria sido reconhecer que as críticas americanas são parte de um jogo negocial e buscar outras concessões ou pontos de interesse mútuo, afinal, Trump sabe que não se pode impor nada ao STF.

Dado esse contexto, o recente acordo entre os EUA e a União Europeia deve servir como modelo para o Brasil. A redução das tarifas, mesmo que para níveis mais elevados que os anteriores, associada a compromissos comerciais e investimentos estratégicos pode oferecer um caminho viável para evitar uma catástrofe econômica iminente. O Brasil precisa urgentemente abandonar abordagens ideológicas e adotar uma postura pragmática, baseada em negociações técnicas e estratégicas.

Se quisermos evitar a iminente catástrofe comercial com nosso maior parceiro econômico, é imprescindível usar o acordo europeu como modelo de negociação. Precisamos abandonar urgentemente a postura defensiva e confusa adotada até agora. Afinal, como bem observado por diversos analistas internacionais, "qualuqer acordo é melhor do que nenhum acordo". O Brasil, com sua importância estratégica e econômica, não pode se permitir continuar errando em um jogo onde a competência negocial é a única alternativa à ruína.


Análise Técnica

No post “no-dia-dia-é-bem-diferente”, fiz os seguintes comentários sobre o dólar:

“A dúvida ainda não foi resolvida e as 5 ondas não foram completadas. Resolvi mostrar o gráfico de mais longo prazo e enfatizar que se tudo estiver correto na minha avaliação a onda 5 vermelha é diagonal e como tal se desenvolve não de forma impulsiva, mas sim corretiva como se pode ver nas ondas anteriores os A – B – C em vermelho

O dólar passou a semana passada dentro de um intervalo restrito, sem violar a opção de alta. Hoje pela manhã, se aproxima do objetivo mínimo de R$ 5,6276 — embora o ideal seja R$ 5,66272. Com o teor do post de hoje, esse patamar parece algo factível de ocorrer.


Até recentemente, todos os analistas apontavam, na melhor das hipóteses, para uma consolidação do dólar ao redor de R$ 5,40. Nós aqui, no Mosca, alertávamos para uma possível reversão. É natural que essa situação tarifária possa levá-los a mudar de opinião, caso a alíquota de 50% seja implementada sem qualquer gesto de alívio por parte dos americanos.

O Mosca tinha inside information? Absolutamente não. Esse é mais um caso em que a análise técnica alerta para uma exaustão e os fatos se encarregam de corroborar. Em outras palavras, se não fosse esse imbróglio, poderia ser outro fator qualquer, como por exemplo uma valorização do “dolar-dolar” — lembram dessa citação no post?

O S&P 500 fechou a 6.389, sem variação; o USDBRL a R$ 5,5885, com alta de 0,42%; o EURUSD a € 1,1591, com queda expressiva de 1,28% ‑ pegou o mercado totalmente comprado sendo parte da queda abrupta consequência disso. Talvez os investidores estejam concluindo que agora com acordo firmado uma forma de combater a tarifa de 15% é desvalorizando a moeda; e o ouro a U$ 3.313, com queda de 0,70%.

Fique ligado!

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