Lutando Morro acima #USDBRL



Nunca imaginei que veria um presidente de um país declarar, com todas as letras, que deseja uma moeda mais fraca. Isso normalmente é algo que se evita dizer em público — especialmente se o mercado já aposta nessa direção. Mas Trump, com sua visão mercantilista arcaica, não tem pudores: quer um dólar desvalorizado. É muito diferente de afirmar que o yuan, o iene ou o euro estão artificialmente altos – embora o efeito final é o mesmo. Aqui, ele é explícito: quer um dólar mais fraco, ponto final.

O problema é que essa declaração, que muitos desdenham como apenas mais um devaneio de campanha, tem implicações estruturais. E pior: está sendo acompanhada de ações que ameaçam reconfigurar a base institucional da política monetária americana. Se por um lado ele promete nomear leais ao comando do Fed para cortar juros à força, por outro, os mercados não estão se comportando como os manuais indicam — e é justamente aí que começa a escalada morro acima.

Os modelos cambiais usados pelos traders simplesmente deixaram de funcionar. Com juros elevados nos EUA, inflação ainda fora da meta e sem perspectiva clara de cortes, o dólar deveria estar em alta. Além disso, uma guerra tarifária, como a que Trump flerta novamente, em tese deveria desvalorizar as moedas dos países exportadores — tornando seus produtos mais baratos em dólar. E, mesmo assim, o dólar não se comporta como esperado.

 


O que está por trás dessa disfunção? Narrativas. Os mercados são moldados, cada vez mais, por histórias. Robert Shiller, em Irrational Exuberance e depois em Narrative Economics, mostrou como as bolhas financeiras não são apenas fenômenos de liquidez ou excesso de alavancagem, mas de imaginação coletiva. A crença de que "dessa vez é diferente" impulsiona a compra de ativos, mesmo quando os fundamentos gritam o contrário.

Durante a bolha das pontocom, acreditava-se numa “nova economia” imune a valuation tradicional. Na bolha imobiliária, que imóveis sempre sobem. Agora, muitos embarcam na tese de que “o dólar vai cair porque Trump quer”, como se vontade política substituísse fundamentos. Só que há uma diferença brutal entre criar uma história e sustentá-la na realidade. O Mosca não compra essa narrativa.

Pior ainda quando essa narrativa é usada como arma política. O artigo assinado por Bill Dudley é preciso ao mostrar que o plano de Trump não é apenas populista, mas institucionalmente perigoso. Ele quer substituir Powell e colocar no Fed alguém que cumpra ordens diretas da Casa Branca. Se isso ocorrer, a política monetária americana deixará de ser técnica para virar extensão do comício eleitoral.

Juros não se cortam no grito. Ainda mais em um cenário onde a inflação, embora tenha recuado, está longe de domesticada. A tentativa de derrubar os juros à força, via controle político do banco central, pode sim gerar um boom artificial — mas às custas de desancorar expectativas, afugentar capitais e corroer a credibilidade do próprio dólar.

E isso nos leva de volta aos modelos cambiais: eles falham porque já não captam o componente institucional que se tornou dominante. Se o mercado começa a precificar que os EUA deixarão de ter um banco central independente, ou que a política monetária será ditada por objetivos eleitorais, o dólar deixa de ser o ativo sem risco. E não há diferencial de juros que resista a esse colapso de confiança.

O Mosca enxerga esse momento como uma batalha travada em terreno inclinado. Estamos todos escalando uma montanha, mas o general responsável insiste em dizer que seu próprio exército é fraco. E mais: ao invés de motivar a tropa, decide sabotar o comando que garante a estratégia de longo prazo.


 

É por isso que o Mosca continua apostando que, apesar do barulho, os fundamentos resistirão. O chamado “excepcionalismo americano” ainda não morreu. Os juros nos EUA continuam sendo o farol do sistema financeiro global. A tentativa de Trump de dobrar essa lógica pode até enganar no curto prazo, mas não altera a gravidade. Os juros não levam desaforo no tempo — e o mundo depende mais dos EUA do que o contrário.

Por isso, sigo cético. A narrativa pode seduzir, mas o mercado é implacável com quem tenta manipular as engrenagens profundas da confiança. E por mais que os modelos falhem, o Mosca não perde o norte. Quem sobe uma montanha contando histórias em vez de medir o terreno, acaba escorregando.


Figura 3 – Dólar muito abaixo da média de 200 dias, segundo John Authers (Bloomberg)


Esse gráfico do artigo de John Authers sintetiza o paradoxo atual: mesmo com dados de emprego surpreendentemente positivos, o dólar segue em queda. O índice DXY encontra-se abaixo de sua média móvel de 200 dias como não se via há 20 anos. Esse comportamento sugere que a moeda americana não está apenas “descansando”, mas talvez “pregada ao poleiro”, como diria o autor. O enfraquecimento do dólar, apesar de condições econômicas favoráveis, expõe o peso da incerteza política, do ruído comercial e da manipulação monetária antecipada. Ao invés de refletir força, o dólar parece carregar nas costas os custos do 'exorbitante privilégio' de ser moeda de reserva global.

O Mosca vê esse enfraquecimento do dólar como reflexo de algo mais profundo: um colapso narrativo. Quando os modelos deixam de prever, as decisões políticas ignoram os dados e o ruído ocupa o lugar dos fundamentos, o investidor precisa dobrar sua vigilância. A tentativa de Trump de dobrar a lógica dos juros pode até surtir efeito no curto prazo, mas não altera a gravidade: juros não levam desaforo no tempo.

É por isso que sigo cético. O chamado “excepcionalismo americano” ainda resiste. Os juros nos EUA continuam sendo o farol do sistema financeiro global — e o mundo depende mais dos EUA do que o contrário. A narrativa pode seduzir, mas o mercado é implacável com quem tenta manipular as engrenagens da confiança. O dólar pode até flutuar, mas sem credibilidade institucional, sua sustentação não se mantém por muito tempo.

O Mosca não perde o norte. E quem sobe uma montanha contando histórias em vez de medir o terreno, acaba escorregando.


Análise Técnica

No post “China: um problema estrutural”, expus as opções que tinha para administrar a posição vendida em dólar e optei por esta: “Elevar o stop loss – nesse caso, se o nível da mínima estiver correto, você devolverá uma pequena parte do lucro e ficará com a sensação de: ‘Burro, eu estava certo em zerar’. Mas garanto que, após poucos dias, essa sensação será esquecida”. Esse nível foi originalmente fixado em R$ 5,51, porém durante a semana reduzi para R$ 5,45, atingido hoje pela manhã.






Sempre que zeramos uma posição, ficamos “torcendo” para estarmos certos — como se liquidar nas mínimas fosse dar um troféu, aquela sensação de “eu sou bom pra KRlho”. Todos somos humanos, e é fundamental entender e reconhecer essas reações para evitar novas entradas movidas por impulso. A clássica armadilha é entrar no sentido oposto logo em seguida — no caso, comprar dólar — porque se pensa: “Se acertei na ida, acerto na volta”.






Mas aguente firme. Como conselho de macaco velho: nunca entre logo na sequência. Espere um tempo até que cinco ondas deem alguma luz. Não é porque o mercado atingiu um ponto próximo da provável mínima, como no caso o nível de R$ 5,36, que esse ponto deve ser assumido como a mínima definitiva. Ele pode continuar caindo. O gráfico acima é de janela semanal, e vale notar que o stop loss que invalida minha contagem está distante: R$ 4,69.

Conclusão: por enquanto, a decisão de saída foi tomada pelo mercado com o acionamento do stop loss. Contenha seu entusiasmo.

O S&P 500 fechou a 6.229, com queda de 0,79%; o USDBRL a R$ 4,4765, com alta de 1,00%; o EURUSD a € ,1716, com queda de 0,52%; e o ouro a U$ 3.337, sem variação.

Fique ligado!

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