A volta do "Carteirão" #EURUSD
Até os anos 90, era
possível fazer aplicações financeiras no Brasil sem qualquer identificação do
investidor. Bastava comparecer a uma corretora com um cheque — sem transferir
da conta, pois isso revelaria o emissor — e deixar o dinheiro rendendo. O
produto era conhecido como “Carteirão”, geralmente lastreado em CDBs de bancos
médios. Por não haver qualquer registro formal da titularidade, esse tipo de
operação demandava absoluta confiança na corretora ou no funcionário responsável.
Casos de dinheiro “evaporando” eram frequentes, e não havia qualquer instância
formal a quem recorrer.
O “Carteirão”
desapareceu com o endurecimento da regulamentação financeira e o cerco à
lavagem de dinheiro. Mas como acontece com toda estrutura de mercado, o desejo
de manter recursos fora do alcance estatal encontrou novos caminhos — mais
sofisticados, mais globais e, principalmente, mais digitais.
O roubo de
aproximadamente R$ 1 bilhão, ocorrido recentemente e detalhado em reportagem do
Brazil Journal, mostra como os tempos mudaram — mas o instinto permanece. Os
criminosos recorreram às criptomoedas para escapar da rastreabilidade: em
especial, à stablecoin USDT e ao Bitcoin. O dinheiro não deixou rastros e
dificilmente será recuperado. Isso porque, ao contrário do “Carteirão”, que
exigia confiança em terceiros, agora basta proteger a chave digital. O
anonimato está na estrutura do sistema, e a possibilidade de movimentar volumes
bilionários sem mediação institucional torna as criptos o “Carteirão 5.0”.
O JP Morgan, em
relatório recente, oferece uma radiografia do crescimento das stablecoins.
Apesar do entusiasmo de alguns participantes do mercado, o banco questiona a
viabilidade de uma expansão exponencial desse segmento. Das cerca de 35 bilhões
de dólares transacionadas diariamente via stablecoins, quase 90% estão
associadas à intermediação de operações dentro do ecossistema cripto: trading,
DeFi, uso como colateral e armazenamento de liquidez. O uso como meio de
pagamento ainda é insignificante — apenas 6% do volume.
A projeção mais
realista do banco para 2028 é que o universo das stablecoins dobre, atingindo
cerca de 500 bilhões de dólares — longe dos US$ 2 trilhões imaginados pelos
entusiastas. As limitações são claras: ausência de rendimento (não pagam
juros), necessidade de infraestrutura para conversão entre fiat e cripto
(on/off ramps), riscos regulatórios e dificuldade de atratividade fora do
ecossistema cripto.
É nesse contexto que
Matt Levine, da Bloomberg, propõe uma reflexão ousada sobre o futuro da
tokenização. Ele observa que, embora as grandes empresas privadas — como
SpaceX, OpenAI ou Stripe — não queiram se submeter às exigências regulatórias
do mercado público (auditoria, divulgação de resultados, risco jurídico), há
uma demanda crescente por parte do público para investir nelas. O que impede
isso? Justamente as leis de proteção ao investidor, criadas após a crise de
1929.
Essa combinação —
stablecoins como reserva e tokens como ações — pode recriar, em nova roupagem,
um sistema financeiro paralelo. Um universo no qual trilhões de dólares
circulam fora da supervisão institucional, no qual empresas captam recursos sem
obrigação de transparência, e onde crimes financeiros não deixam vestígios
físicos nem digitais. Tudo isso sem que os governos consigam acompanhar a
velocidade da inovação.
Como no velho
“Carteirão”, o sistema depende de um único ponto de falha: a confiança. Antes,
era no gerente da corretora. Hoje, é na estrutura de código que protege as
chaves privadas. Em ambos os casos, o elo frágil pode ser fatal.
O Mosca vê com
preocupação a naturalização desse movimento. Embora seja legítimo desejar
liberdade sobre o próprio patrimônio, não se pode ignorar os riscos estruturais
de um sistema que cresce à margem das instituições. Em última instância,
trata-se de uma escolha entre um mundo onde as regras protegem os fracos ou um
onde os espertos fazem as regras para si mesmos — e os demais que se virem.
Não se trata de negar
a inovação — o blockchain tem méritos e casos de uso genuínos. Mas é preciso
distinguir o avanço tecnológico da engenharia financeira voltada à opacidade. O
que o “Carteirão” fazia com papel, hoje se faz com código. E se o passado serve
de alerta, sabemos bem onde isso pode acabar.
Análise Técnica
No post “inflação-sob-o-escrutínio-do-var”, comentei o seguinte sobre o euro: “propus uma sugestão
de compra na ruptura da onda 1 laranja, conforme destacado na figura abaixo, a
€ 1,1494, com stop loss a € 1,1372 e objetivo a € 1,2004, a ser mais bem
calculado”.
Nos últimos dias,
estive mais focado no ouro e acabei não atualizando a planilha com esse trade.
Esta semana farei a correção.
A estrutura de ondas
para o euro se mostrou desafiadora. Tudo indica que estamos diante de múltiplos
níveis de correção — e com correção não se brinca. Isso é compatível com o
posicionamento técnico da moeda única, que parece estar supercomprada, “só falta
os russos comprarem”. Nessas situações, costumo me guiar pelas ondas de maior
grau e apenas acompanhar as de menor grau, sem nomear cada uma. Considerando
esse contexto, o objetivo estaria ao redor de € 1,23 e o stop loss em €
1,1630.
Enfatizo, contudo, a fragilidade dessa projeção. A estrutura está tão complexa que o gráfico parece mais um bê-á-bá desordenado! Hahaha.
Estava observando o
dólar agora pela manhã e tudo indica que estamos nos momentos finais da
correção. Pensei em liquidar a posição, lembrando das palavras do meu saudoso
sócio Ibraim Eris: “deixe as lâmpadas para o próximo inquilino” — ou seja, não
tente tirar leite de pedra.
Aplicando os
parâmetros da Teoria de Elliott, a queda deveria estancar em um dos seguintes
níveis: R$ 5,4040 / R$ 5,3890 / R$ 5,3480. Atualizei o stop loss para R$ 5,45.
Acho que, desta vez, eu é que quero levar as lâmpadas! Hahaha.
O S&P 500 fechou a 6.279, com alta de 0,83%; o USDBRL a R$ 5,4061,
com queda de 0,35%; o EURUSD a € 1,1751, com queda de 0,41%; e o ouro a U$
3.327, com queda de 0,89%.
Fique ligado!
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