Trump arma uma cilada para Powell #nasdaq100 #NVDA

 


Ontem comentei que os estrangeiros continuam a investir nos EUA em volumes expressivos. Queria aproveitar para acrescentar um gráfico que confirma melhor do que minhas palavras: a entrada de recursos para investir na bolsa americana já ultrapassa os aportes em renda fixa. São impressionantes US$ 18 trilhões, evidenciando que o apetite por ativos de risco nos Estados Unidos continua forte. Esse fluxo de capitais sugere confiança na economia americana e, por consequência, sua moeda.

Gráfico: Investimento estrangeiro em ações supera o de renda fixa: US$ 25 trilhões destinados à bolsa americana.

Mas esse cenário otimista nos mercados contrasta com o teatro político que se desenrola em Washington. Donald Trump, fiel à sua vocação para o espetáculo, encontrou mais uma forma de colocar o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, sob os holofotes — e não por bons motivos. O palco foi a obra de renovação da sede do Fed, mas o verdadeiro objetivo era expor Powell ao constrangimento público e reforçar a pressão para que reduza os juros.

Trump apareceu no canteiro de obras com capacete na cabeça e microfone à disposição. Aproveitou a presença de câmeras e repórteres para reclamar do custo da reforma, insinuando má gestão. Comparou com edifícios que ele próprio construiu por valores muito menores, deixando claro que não estava ali para discutir concreto, mas para deslegitimar Powell. E claro, terminou a visita atacando a política monetária atual. Repetiu que a taxa de juros deveria estar em 1%, citando o exemplo de países como a Suíça, e insinuou que não vê motivos para manter Powell no cargo — embora tenha evitado dizer que pretende demiti-lo.

“Se tem algo que Trump entende é de construção civil, e se tem algo que Powell não entende é de construção civil.” Essa frase resume o espírito da visita. Mas o ponto central não era o edifício do Fed, e sim o edifício da credibilidade monetária dos EUA.

Segundo a Bloomberg, Trump está aplicando uma versão refinada do “flood the zone”, conceito atribuído a Steve Bannon: atacar por todos os flancos, criando confusão, desestabilizando o oponente e sobrecarregando sua capacidade de resposta. No caso de Powell, isso significa críticas sobre os custos da obra, insinuações sobre má gestão, e discussões abertas sobre potenciais substitutos — como Kevin Hassett, que já se reuniu com Trump algumas vezes.

Marc Short, ex-funcionário da Casa Branca, revelou que a estratégia tem três objetivos: (1) forçar cortes de juros; (2) preparar terreno para o próximo presidente do Fed; (3) criar um culpado caso a economia enfraqueça, especialmente diante dos efeitos adversos das tarifas impostas por Trump.

O Wall Street Journal descreveu a visita como uma encenação rara, onde um presidente transforma o Fed em palco de disputa política, com Powell constrangido ao lado. Ainda assim, o Fed tem se mantido sereno: Powell indicou que poderá cortar os juros, caso os efeitos inflacionários das tarifas não se materializem, mas mantém o discurso de prudência.

Enquanto isso, editoriais como o da Bloomberg fazem um apelo direto ao setor privado e investidores para que defendam a independência do Fed. Afinal, um corte forçado de 3 pontos percentuais, como deseja Trump, poderia desancorar as expectativas de inflação, gerar turbulência nos mercados e provocar elevação nos juros de longo prazo — o exato oposto do que se busca.

O perigo maior não é Powell perder o cargo antes do fim de seu mandato em maio de 2026. É o precedente de um banco central acuado, que cede à vontade do chefe do Executivo por conveniência eleitoral. Um Fed “politicamente capturado”, como alertam os editores da Bloomberg, é um Fed fraco — e um risco para toda a economia global.

Mesmo com alguma resistência dentro do Partido Republicano, como a do senador John Kennedy, que elogiou Powell por derrubar a inflação sem recessão, o cerco político está se fechando. O silêncio dos investidores, por sua vez, beira a cumplicidade. É hora de decidir: defender a independência do Fed, ou aceitar a normalização da ingerência autoritária.

É possível que, após essa encenação e também a pressão sobre Powell, ele tenha sinalizado uma possível queda de juros na reunião de setembro, já que a da próxima semana o mercado precifica em 99% como sem alteração. Powell ofereceu um 'cala boca' para tentar parar de receber desaforos do presidente.


Análise Técnica

No post *o-role-dos-bitcoins-bitcoin-stalbecoins* fiz os seguintes comentários sobre a Nasdaq 100: *A bolsa está muito próxima do primeiro objetivo na contagem mais conservadora — aproximadamente 3%. Posso afirmar com certeza que, em algum momento, ocorrerá uma correção. Quando isso acontecer, o que vai determinar a sequência seguinte será o grau de extensão da queda. O objetivo que se observa no gráfico é algo em torno de 23.700 pontos.*

Se a bolsa estava próxima na semana passada, está ainda mais nesta. Como o objetivo está a apenas 2% do fechamento, não vejo nada a fazer no momento. Queria apenas complementar uma frase colocada acima: *Posso afirmar com certeza que, em algum...*. Pode soar forte essa afirmação, e de fato faltou dizer que não sei a que nível ocorrerá essa correção — e é aí que reside o problema, tendo em vista que, como vocês sabem, trabalho com uma contagem mais agressiva. Até o momento, não há razão para usar essa hipótese.

Sobre a Nvidia, comentei: *A Super Star está batendo na porta do objetivo de US$ 176,50. A dúvida é: vai parar aí e reverter? Ninguém tem essa resposta. Como pode-se observar pela coloração do gráfico, essa reversão parece ser o cenário mais provável — mas, nem sempre o mais provável prevalece.*

A Nvidia atingiu a região esperada para a alta, em US$ 174,11. Em seguida, houve uma retração que foi rapidamente recuperada, e a ação agora se encontra nas máximas. Se a Nasdaq 100 sofrer uma correção a partir dos níveis atuais, é possível que essa cotação tenha marcado uma máxima. No entanto, por enquanto, o que parece é o contrário: a *Super Star* ainda tem espaço para novas altas no curto prazo. O gráfico a seguir, em escala semanal, reforça essa visão. Em resumo: cautela.

Sexta-feira é dia de tecnologia no Mosca, e, via de regra, escolho temas desse setor — embora hoje não tenha sido o caso. Trump atropelou, como de costume. A Tesla divulgou seus resultados na última quarta-feira e, nem preciso dizer, foram muito fracos. Elon Musk, no entanto, pintou um quadro otimista para o futuro, reafirmando sua estratégia dos robotáxis e robôs humanoides, como estão sendo chamados. O mercado, porém, não comprou o otimismo: as ações da Tesla caíram ontem 9%.

Agora, deem uma olhada nesta projeção de consumo de energia, segundo o Deutsche Bank, proveniente da IA:

A expectativa é que, dentro de aproximadamente três anos, cerca de 10% de todo o consumo de energia dos EUA seja abocanhado por essa área. Os “agents”, como são chamados, não comem, não recebem salário, mas consomem um insumo que exige investimentos pesados: energia elétrica.


O S&P 500 fechou a 6.388, com alta de 0,40%; o USDBRL a R$ 5,5598, com alta de 0,72%; o EURUSD a € 1,1741, sem variação; e o ouro a US$ 3.338, com queda de 0,889%.

Fique ligado!

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