O mercado acredita em milagres #IBOVESPA

 


É curioso observar como o mercado insiste em ignorar a realidade, buscando consolo em esperanças frágeis e ilusões políticas. A reação dos ativos à divulgação recente do CPI de junho nos EUA foi um exemplo disso. Apesar da inflação vir praticamente em linha com as expectativas e com leve alívio no núcleo, a leitura geral foi otimista demais, como se estivéssemos a caminho da meta de 2% do Fed — quando os próprios números desmentem essa narrativa. O mercado parece preferir crer em milagres.

Segundo Ed Yardeni, a inflação parece ter se estabilizado em torno de 3,0%, sem mais queda significativa desde o final de 2024. Em parte, essa resistência inflacionária é atribuída à política tarifária de Trump, que voltou com força após sua reeleição. Os aumentos de tarifas sobre carros, aço, alumínio, cobre e até medicamentos, vestuário e calçados — todos bens importados — vêm pressionando o índice de bens duráveis e não duráveis.

Na superfície, os serviços ainda seguram a média, com crescimento mais moderado, mas isso apenas mascara a instabilidade do processo desinflacionário. Como lembra o colunista John Authers, o núcleo de inflação sem alimentos e energia subiu 0,55% em junho (maior alta desde 2021, excluindo veículos), e vários indicadores acompanhados pelo Fed — incluindo preços rígidos, supercore e média aparada — voltaram a superar 3%.

A insistência de Trump em reduzir os juros dos Fed Funds de 4,33% para 1,00% expõe um jogo político e fiscal: menos juros significam menos pagamento da dívida e um dólar mais fraco, o que beneficiaria exportações. Mas o Fed não está disposto a ceder. Powell, corretamente, mantém o discurso cauteloso: com tarifas pressionando o lado dos bens e o núcleo ainda desconfortável, não há espaço para cortes drásticos. Um Fed submisso politicamente seria o pior cenário — como a própria Bloomberg alertou: um 'Fed cativo' é um risco sistêmico.

No mercado imobiliário, o impacto das taxas de juros é imediato. Um simples aumento de 4% a.a. para 5% a.a. numa hipoteca de 30 anos encarece a prestação em cerca de 12%. Empresários do setor, por óbvio, preferem juros baixos, e Trump parece ter internalizado esse clamor. Mas os fundamentos macroeconômicos não permitem aventuras. Foi exatamente isso que derrubou Liz Truss no Reino Unido — cortes irresponsáveis de impostos, sem compensação do lado fiscal, detonaram os mercados, fizeram a libra despencar e os juros dispararem.

Agora imagina esse mesmo tipo de erro num país com US$ 34 trilhões em dívida pública e com o dólar ainda reinando como moeda de reserva. Com taxa de juros não se brinca.

Enquanto isso, o mercado acionário ignora esses alertas. A alta continua, apoiada apenas nas gigantes da tecnologia — as chamadas Sete Magníficas. O S&P 500 renovou máximas, mas mais de 200 ações do índice estão em queda no ano. Uma recuperação sem fôlego, com concentração excessiva, é um terreno fértil para correções abruptas. Para o Mosca é o efeito da CAR_PJ em ação.

O mais irônico disso tudo é que, mesmo diante de dados cada vez mais desafiadores — inflação parando de cair, Fed firme no discurso, tarifas pressionando — o mercado insiste em acreditar que os juros vão cair, que os lucros vão subir e que tudo dará certo. Como se uma força invisível estivesse operando milagres.

O Mosca, por sua vez, prefere manter os pés no chão. Não é questão de pessimismo, mas de reconhecer que o risco está sendo mal precificado. A história já ensinou que milagres, quando se trata de política monetária e inflação, geralmente terminam em crise de confiança.


Análise Técnica

No postespeculação disfarçadafiz os seguintes comentários sobre o IBOVESPA: “A onda 5 azul destacada terminou e vamos entrar numa correção que vai demorar um tempo, ou esse false break foi continuidade da onda 4 azul (símbolo em vermelho) e ainda vamos ter uma nova alta em breve?” 




Não combinei nada com ninguém pois, a bolsa parou exatamente no ponto que eu tinha demarcado acima. O que fazer agora? Não resta outra coisa que não esperar o mercado nos dizer. Por mais que eu acredite que o imbróglio das tarifas não vai se resolver tão fácil, e só uma opinião. Demarquei os pontos de observação: entre 137,1 mil até 138,6 mil pode ser o intervalo onde vai ocorrer a correção do cenário mais negativo, caso ultrapasse o nível superior podemos estar na opção mais benigna. Importante também observar o shape se parecer uma correção ou movimento impulsivo.




- David, existe mais uma possibilidade: e se continuar caindo do nível atual?

Melhor nem pensar!

O S&P 500 fechou a 6.263, com alta de 0,32%; o USDBRL a R$ 5,6180, sem variação; o EURUSD a € 1,1641, com alta de 0,34%; e o ouro a U$ 3.347, com alta de 0,76%.

Fique ligado!

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