Imprevisibilidade: Como Lidar e Investir Sem Adivinhações #S&P500


Hoje os mercados brasileiros estão fechados, embora os internacionais não. Vou aproveitar para postar um assunto que é de todos nós: a incerteza e como lidar com ela. Esse tema tem a ver com a matéria de Finanças Comportamentais, e Joe Wiggins é um profissional de finanças que possui ampla experiência. Preparei um breve perfil seu. 

Joe Wiggins é um especialista em finanças comportamentais e gestor de portfólios sênior com mais de duas décadas de experiência no setor financeiro, iniciada em 2004. Trabalhou em grandes empresas de gestão de ativos no Reino Unido, desenvolvendo expertise em seleção de fundos e gestão de investimentos. Em 2017, concluiu um Mestrado em Ciência Comportamental pela London School of Economics (LSE).

Wiggins, em seu blog *Behavioural Investment*, publicou o post “Dealing with Uncertainty”, que aborda a incerteza, do qual se encontra a seguir um resumo. 

Os seres humanos odeiam incerteza. Quanto mais incertos nos sentimos, mais ações tomamos para restaurar uma sensação de controle. Para os investidores, uma resposta inevitável ao aumento da incerteza é fazer mais previsões. Se pudermos ver o futuro, então não precisamos nos preocupar com ele. Isso cria a situação paradoxal em que, quanto mais difícil é fazer previsões, mais queremos fazê-las. 

Em seu fantástico livro "Alchemy", Rory Sutherland dá um exemplo de nossa aversão à incerteza: 

Estamos pegando um voo para Frankfurt, qual painel de partidas preferiríamos ver? 

Opção 1: BA 786 - Frankfurt - Atrasado 

Opção 2: BA 786 - Frankfurt - Atrasado 70 minutos 

Embora o atraso na Opção 2 seja frustrante, ela é muito superior à Opção 1 porque reduz o desconforto irritante da incerteza. Isso nos dá um pouco mais de confiança de que o avião realmente vai decolar e alguma ideia de quanto tempo temos. Na Opção 1, sabemos quase nada, e isso causa uma dor psicológica considerável. 

De maneira semelhante, Sutherland dá o exemplo dos mapas fornecidos para nos mostrar onde está o motorista do Uber. Eles não fazem o carro chegar mais rápido, mas eliminam a incerteza sobre quando ele chegará. As previsões dos investidores são uma forma de fazer mapas. Elas nos dão um guia para o futuro e, teoricamente, ajudam a aliviar a incerteza. O problema é que os mercados financeiros são tão caóticos e complexos que os mapas que os investidores fazem não são muito úteis. 

É possível argumentar que prever inutilmente em um ambiente incerto é algo bom — se isso nos faz sentir menos ansiosos, talvez esteja tudo bem? Eu não acho que isso seja verdade. Investidores com uma falsa sensação de confiança sobre como o mundo vai se desenrolar provavelmente tomarão decisões piores, não melhores. 

Investir com sucesso é fazer escolhas que reconhecem a incerteza, não agir como se ela pudesse ser evitada. 

Nosso desgosto pela incerteza torna a venda de certeza incrivelmente lucrativa. Vemos isso em todos os lugares na indústria de investimentos. Seja em fundos de investimento que afirmam poder navegar por todos os ambientes com tranquilidade, ou adivinhos vendendo previsões de investimento. Eles se aproveitam da dor da incerteza ao agir como se fossem de alguma forma prescientes. (Eles não são). 

Apesar do desconforto que a incerteza causa aos investidores, temos uma tendência a piorar as coisas para nós mesmos. Ao interagir com os mercados com muita frequência, exacerbamos nossos sentimentos de impotência. Parecemos acreditar que interagir mais com os mercados nos dará aquela sensação elusiva de controle. Infelizmente, isso tem o efeito oposto. Quanto mais nos imergimos, maior a probabilidade de sermos capturados pela imprevisibilidade inerente aos mercados e amplificarmos os riscos comportamentais que enfrentamos. 

Não há como remover a incerteza inerente aos mercados financeiros, mas podemos adaptar nosso comportamento para lidar melhor com ela. 

O passo mais importante é valorizar os princípios muito mais do que as previsões. Um foco em princípios de investimento sólidos, como diversificação, horizontes de longo prazo e o poder da capitalização, em vez de previsões imprecisas sobre um futuro imprevisível, é essencial. 

Princípios de investimento robustos não removem a incerteza (particularmente no curto prazo), mas nos tornam mais resilientes a ela. 

Também precisamos nos preocupar com as coisas certas. Não tenho ideia de qual será a inflação daqui a dois anos, nem qual será a taxa de juros do Federal Reserve (ninguém tem), mas estou razoavelmente confiante de que, no longo prazo, as economias crescerão e isso se refletirá nos lucros corporativos e no desempenho do mercado de ações. 

Nada é certo, mas algumas coisas são mais certas do que outras. 

Todos nós detestamos a incerteza, mas ela é uma característica inescapável do investimento e com a qual temos que lidar. Nossas tentativas de minimizá-la podem levar a maior ansiedade e julgamentos ruins. Em vez de buscar um conforto ilusório em previsões pouco confiáveis ou redesenhar constantemente mapas inúteis, estamos muito melhor aceitando a incerteza e garantindo que os princípios de investimento que seguimos sejam suficientemente robustos para que tenhamos a chance de resistir a ela. 

Essa é a única maneira de ter um pouco mais de certeza de melhores resultados no longo prazo. 

E aí entra minha visão. Acredito que o investidor confunde certeza com probabilidade. Elas se confundem quando algum evento tem 100% de probabilidade de ocorrer; basta uma ínfima dúvida para deslocar 1% e já não seriam iguais. Quantas vezes existe essa situação (100% de probabilidade)? Sinceramente, acho que nunca. Se acreditam nessa afirmação, o melhor é assumir que nada é certo, principalmente em finanças. 

Como é de conhecimento do leitor, eu uso Análise Técnica para meu processo decisório de trades. Enfatizo que o portfólio nem sempre segue os trades, que têm um caráter mais especulativo, enquanto o primeiro é de prazo mais longo. Essa técnica associa o comportamento dos investidores em conjunto com a Teoria de Elliott Wave (no meu caso, existem outras). 

No curto prazo, estou vivendo um dilema na bolsa americana para observar qual estratégia adotar. Essa indecisão não é surpresa, dado o cenário incerto que o presidente Trump vem assumindo. Traduzindo na linguagem de Wiggins, a probabilidade (ou risco x retorno) não indica uma boa opção no momento, embora o portfólio deva conter ações, haja vista a visão do Mosca de alta. 

Concluindo: em alguns momentos, a incerteza é maior que em outros, e, como investidor, não devemos ficar fazendo tentativas de adivinhar o que vai acontecer. Vale a frase que uso com frequência: “Let the Market Speak”.

 

Análise Técnica

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Com o feriado de Carnaval, vou inverter as publicações essa semana, começando com o S&P500, cujo comentários no post “Espero que seja Wishful Thinking”: “Não vou complicar a vida dos leitores postando novamente essas possibilidades, então vou continuar usando o Cenário ADOTADO. Todos os cenários têm algo em comum: a contenção no nível de 5.773. Mesmo assim, a probabilidade de cada um se altera conforme esse nível se aproxima”. 




Essa estratégia ficou muito próxima de ser eliminada na última sexta-feira ao atingir a mínima de 5.837 – stop loss a 5.773 – mas acabou reagindo no próprio dia. Se a recuperação está em curso, e segundo essa estratégia, onde a onda 5 vermelha é diagonal, o objetivo seria entre 6.182 / 6.209, aproximadamente 4%. 




A alta da última sexta-feira, observada numa janela menor de 15 minutos – detesto ter que observar num intervalo tão curto –, ainda não se observa 5 ondas. Continuamos em observação para qualquer sugestão de trade.

O S&P500 fechou a 5.849, com queda de 1,76%; O EURUSD a € 1,0485, com alta de 1,06%; e o ouro a U$2.890, com alta de 1,31%.

Fique ligado!

Comentários

  1. Excelente, mestre Mosca. Sempre digo que o nosso problema no “ trêide “ é tentar achar ordem no caos. Principalmente no curto prazo, impossível.

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