MAWOGA: que raios é isso? #EURUSD

 


Os leitores do Mosca sabem que tomar decisões baseadas em modelos de correlação não encontram aqui um adepto. Minha frase que sustenta essa diretiva se resume: a correlação funciona até que não funciona, e esse pode ser exatamente o momento em que você se expõe. Trump, na exposição que fez ao Congresso americano, disse claramente o que pretende com as tarifas: trazer de volta as fábricas para os EUA, coletar trilhões de impostos de importação e reduzir a carga de impostos das empresas e indivíduos. Isso, por si só, envolve muitos segmentos das economias mundiais, com impactos que variam para cada país.

O momento atual é de grandes mudanças. O presidente Trump pretende mudar o mundo a seu modo; se vai conseguir, são outros quinhentos. O investidor cauteloso deve observar sem grandes ideias e nem tampouco exposições arriscadas, afinal, o mercado odeia mudanças exatamente por esse motivo.

Vamos fazer um exercício simples para entender as várias possibilidades de ocorrência. Um país X exporta para os EUA um produto que é oferecido a US$ 100; ao câmbio atual, vale na sua moeda $ 500. Trump resolve impor uma tarifa de 25% sobre esse produto, que imediatamente passa a custar $ 625. O produtor tem a opção de bater o pé e elevar seu preço em dólares para US$ 125. Nos EUA, o impacto imediato é aumento na inflação e, secundariamente, o volume de vendas deve diminuir, pois, para alguns, não vai caber no bolso, o que vai afetar o produtor no volume de produção, podendo ter impacto de subir seu custo de maneira expressiva ou moderada. Nessa situação, a inflação será impactada nos EUA, e o PIB no país de produção cairá.

Uma outra opção extrema seria o produtor assumir o total do imposto. Nesse caso, nada mudaria para os americanos, mas a margem para esse produtor seria muito afetada, o que pode ter consequências no emprego e, como consequência, na economia. Uma última possibilidade extrema seria uma desvalorização da moeda do país X de tal forma que não afetasse os preços nem do produtor nem do importador. Ficaria assim: preço de venda $ 625 (incorporando o imposto), taxa de câmbio passaria de 5,00 para 6,25, e o produto em dólares seria os mesmos US$ 100. A consequência é que a inflação no país X subiria, o que, com o tempo, iria afetar os custos de produção.

Você pode imaginar que uma combinação desses fatores teria centenas de impactos diferentes em cada caso. Por essa razão, os especialistas projetam que o dólar teria que subir para acomodar parte desse impacto. Agora, não se esperaria que uma determinada moeda suba, iria na contramão da lógica, porém, é isso que está acontecendo com o euro. Por que será? Vejam a seguir argumentos de várias fontes da Bloomberg.

Por que o euro está subindo, mesmo com a ameaça de tarifas de Trump? 

Contrariando as expectativas, o euro está em alta, ganhando mais de 3% contra o dólar em 2025, sendo a segunda moeda de maior valorização entre as principais, atrás apenas do iene. Isso é surpreendente, já que a eleição de Donald Trump e sua retórica protecionista sugerem um cenário de tarifas pesadas sobre a Europa, algo que, em teoria, deveria enfraquecer a moeda do bloco. Mas os mercados estão contando uma história diferente, e ela tem raízes em uma reviravolta inesperada na política fiscal europeia, especialmente na Alemanha. Vamos destrinchar isso com base nas análises recentes de colunistas da Bloomberg.

 



O gatilho principal vem de Berlim. A Alemanha, historicamente avessa a gastos fiscais expansionistas devido a traumas como a hiperinflação de Weimar, deu uma guinada radical. Friedrich Merz, provável próximo chanceler, anunciou planos para alterar a constituição e liberar € 900 bilhões em empréstimos para defesa e infraestrutura, reagindo ao recuo dos EUA na segurança europeia sob Trump. John Authers, em "Germany's Shock Turns to Anger - and Animal Spirits", descreve o choque nos mercados: o rendimento dos bunds de 10 anos subiu 30 pontos-base, o maior salto desde a reunificação em 1990. Ainda assim, o euro não despencou – ele disparou. Por quê? Porque os investidores veem isso como a Europa finalmente "se ajudando", como Marcus Ashworth aponta em "Europe Is Having the Right Sort of Bond Rout". É uma venda de títulos, sim, mas não por pânico, e sim por uma aposta em crescimento. 

Comentário meu: essa elevação nos juros alemães vem em direção inversa do que está acontecendo com os juros americanos, que vêm caindo no último mês, conforme se pode notar a seguir. Essa reação pegou o mercado de calça curta, pois a aposta era no sentido inverso – queda do euro, o que tornou a alta imediata por um movimento de “short covering”. Para jogar mais lenha na fogueira, o ECB decidiu reduzir as taxas em 25 pontos hoje pela manhã para 2,5% - achei falta de prudência da autoridade europeia. Dessa forma, a estrutura de juros entre os títulos de 2 anos e 10 anos está ficando mais íngreme. 




Outro fator é a ausência de uma crise existencial. Ashworth, em ambos os artigos, destaca que os yields de nações periféricas, como França e Itália, sobem, mas sem descontrole – Itália, por exemplo, viu seus spreads caírem de 150 para 110 pontos-base ante a Alemanha. Isso sinaliza confiança na coesão do bloco, mesmo com o aumento da oferta de dívida (estimada em € 1,3 trilhão em 2025). Tyler Cowen, em "The Case Against Tariffs Is Getting Stronger", reforça que tarifas não resolvem déficits comerciais e podem até prejudicar os EUA mais que a Europa, elevando o dólar e tornando exportações americanas menos competitivas. Ou seja, o mercado parece duvidar que Trump consiga sufocar a economia europeia como promete.

A narrativa se completa com o otimismo nos mercados acionários. Authers nota que o índice MDAX alemão disparou, superando os mid-caps americanos, enquanto o DAX sobe 16% no ano. A combinação de política fiscal expansiva e um BCE que deve cortar juros na quinta-feira (06/03) está soltando os "espíritos animais" em Frankfurt, como ele diz. O euro forte, então, reflete menos o medo de tarifas e mais a fé numa Europa que reage à altura. 




Ainda é muito cedo para conclusões, mas os mercados, por enquanto, ao invés de MAGA, Trump está desencadeando o recém-criado acrônimo pelo Mosca: MAWOGA – Make the World Great Again, um estrondoso tiro no pé.

No post “o-culpado-foi-o-chuchu-ou-o-ovo”, fiz os seguintes comentários sobre o euro: “Mesmo com a indicação de que o Fed não vai baixar os juros tão cedo e o ECB está numa trajetória de queda, a moeda única continuou a subir. Como demarcado no retângulo a seguir, pode surgir um trade de venda daqui a pouco.” 




A postagem acima foi há quase 30 dias, e muitas coisas mudaram. Não posso ainda alterar minha contagem, pois não houve nenhuma violação, porém fico desconfiado. Vou postar o gráfico da estrutura que vinha usando e, mais à frente, uma outra contagem que pode estar em andamento. O euro está agora a € 1,0817, dentro do que se poderia esperar na opção que venho adotando. O que não se poderia esperar é ultrapassar € 1,09825 e nem pensar acima de € 1,1230, o que certamente traria a alternativa abaixo. 




Se vocês se lembram, eu já havia postado essa situação no passado, onde denominei a área em amarelo de Pântano, onde o euro tentava romper, mas não conseguia. Nessa opção, a moeda única iria à casa de € 1,20 e só depois haveria a queda esperada abaixo de € 1,00. Notem que frisei a reta de longo prazo como também uma barreira a ser vencida. 




O leitor pode notar a sequência de altas e baixas ao longo do tempo, denotando um movimento de longo prazo de correção, o que sempre venho frisando. Nessas situações, é importante ser flexível, pois não se sabe para onde pode ir. Por tudo isso, altero minha opção de baixa para neutra, me deixando livre para qualquer opção de alta ou de baixa.

O S&P500 fechou a 5.738, com queda de 1,78%; o USDBRLA a R$ 5,7631, com alta de 0,41%; o EURUSD a € 1,0788, sem variação; e o ouro a U$ 2.911, com queda de 0,26%.

Fique ligado!

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