O menino pentelho #IBOVESPA
Na infância, sempre havia aquele colega que se metia em tudo e brigava quando não obtinha o que queria. Trump é a versão adulta desse personagem. No lugar do pátio da escola, ele usa o microfone presidencial. Ontem, mirou no setor privado e ‘sugeriu’ que a Goldman Sachs trocasse seu economista-chefe por alertar que tarifas elevam preços. Isso não é debate técnico; é tentativa de intimidação. E vem no rastro de outros ataques a executivos e ao próprio corpo técnico do governo. Quando a política tenta domesticar a análise, o resultado é previsível: ruído no curto prazo, custo mais alto no longo.
O dado do CPI de julho trouxe combustível para
a pressão por cortes agressivos. O secretário do Tesouro, Scott Bessent,
defendeu publicamente um corte inicial de 50 pontos-base em setembro e uma
queda total de 150–175 pontos nos próximos meses. É compreensível que o emissor
da dívida prefira juros menores; o custo de financiamento cai. Mas política
monetária existe para preservar a estabilidade de preços e a credibilidade do
regime, não para otimizar o balanço do Tesouro. Quando o Tesouro dita o compasso,
os ‘bond vigilantes’ respondem nos vértices longos da curva.
Yardeni lembrou um fato incômodo: no último
ciclo, o Fed cortou 100 pontos entre setembro e dezembro e, mesmo assim, o
Treasury de 10 anos subiu cerca de 100 pontos. Em outras palavras, forçar a mão
nos curtos não garante alívio nos longos; pode acontecer o oposto se o mercado
julgar o Fed leniente. Esse é o risco hoje: cortes justificados mais pela
política do que pelos núcleos de inflação podem reacender prêmios de prazo,
elevar o custo do capital e neutralizar o efeito pretendido sobre a economia
real.
Nos números, a fotografia incomoda. Tira
energia e sobra uma inflação perto de 3%, longe da meta. Os núcleos mais
teimosos — serviços não habitacionais, ‘supercore’ e preços rígidos — voltaram
a subir. Isso contraria a tese de que bastaria ‘olhar através’ das tarifas.
Além disso, a difusão em bens essenciais aumentou: mais itens subiram em julho,
sinal de que o repasse tarifário, inicialmente amortecido por margens e
sensibilidade do consumidor, pode estar ganhando tração. Se essa dinâmica se
firmar, os próximos meses trarão um choque de bens convivendo com serviços
ainda quentes — a combinação menos amigável para quem quer cortar rápido.
O quadro institucional piora o balanço de
riscos. A Casa Branca acena com mudanças no board do Fed e ventila nomes para a
presidência com visões pouco ortodoxas sobre balanço e mecanismo de
transmissão.
A ideia de encolher agressivamente o balanço
para ‘abrir espaço’ a cortes na taxa curta é sedutora no som — parece
engenharia elegante —, mas falha na prática. Um balanço muito menor, num
sistema de reservas amplas, não reduz magicamente a taxa neutra nem gera
crédito por si só; pode, isso sim, encurtar os amortecedores do sistema e
reintroduzir fragilidades de liquidez. A experiência pós-2019 mostrou o custo
de errar a mão no nível de reservas.
Qual é a implicação para o leitor do Mosca?
Primeiro, separar barulho de tendência. O rali de curto prazo em ações com um
‘Fed put’ político é tentador, mas não altera a lógica: valuation recorde
depende de margens elevadas, e margens dependem de custos de capital e
desinflação. Se os longos subirem na contramão dos curtos, o múltiplo que hoje
sustenta o preço terá de se acomodar. Segundo acompanhar de perto a inclinação
da curva e as expectativas implícitas de inflação: piora nesses dois vetores,
combinada a cortes ‘adiantados’, é convite aos vigilantes.
Terceiro, olhar para onde a inflação realmente
vive. Serviços sensíveis a renda e emprego ainda mostram resiliência; salários
desaceleram, mas continuam acima do pré‑Covid. Bens podem voltar a pressionar à
medida que montadoras e varejistas tentem recompor margens corroídas por
tarifas. Sem um arrefecimento claro nesses núcleos, cortar para debaixo de 3%
rapidamente é elevar o risco de errar por complacência e ter de recortar
credibilidade depois — quase sempre com juros finais mais altos.
Minha posição continua direta: se a política
capturar a condução, o juro terminal de longo prazo tende a subir, e não
descer. Em horizonte mais amplo, e segundo a análise técnica apresentada na
virada de 2024, não descarto uma volta acima de 5% nos Treasuries longos se a
âncora de credibilidade for testada. Entre um corte rápido por pressão e um
ajuste parcimonioso amparado nos dados, prefiro o segundo. O preço de um erro
benevolente é maior do que o desconforto de esperar mais um mês.
Análise Técnica
No post *a-moleza-de-calculo-do-valuation*, comentei sobre
o IBOVESPA: “Se ultrapassar o nível de 135,7 mil, essa correção deveria
alcançar a área demarcada pelo retângulo azul entre 136,6 mil / 137,8 mil /
139,4 mil, de forma tortuosa — uma onda B. E o leitor antigo sabe que queremos
distância dessa traiçoeira. Terminado esse movimento, deveria voltar a cair.”
Como já comentei antes, o sistema da Metastock que fui obrigado a usar é arcaico comparado ao MotiveWave, mas é o que temos. A bolsa recuperou parte da queda iniciada em julho dentro dos parâmetros que mencionei no post acima. Neste momento, encontro-me num dilema: por um lado, o mercado poderia permanecer por mais algum tempo corrigindo nesse intervalo para depois retomar a queda; por outro, como mostro no gráfico abaixo, desde a mínima se formaram 5 ondas, o que pode ser o prelúdio de novas altas.
— Xiiii David, está cheio de ‘não me toques’! Se fosse colocado contra a parede, o que faria: compraria ou venderia?
A pergunta é difícil, mas posso garantir que,
qualquer que fosse minha decisão, o *stop loss* seria bem curto. Se optasse por
vender, colocaria o *stop* em 139,4 mil, topo do que seria razoável esperar
dessa correção; se optasse por comprar, aguardaria a correção da onda 2 de
maior grau, situada entre 135,8 mil / 134,9 mil / 134,1 mil (retângulo verde).
O S&P 500 fechou a 6.466, com alta de 0,32%;
o USDBRL a R$ 5,4021, com alta de 0,21%; o EURUSD a € 1,1701, com alta de
0,22%; e o ouro a U$ 3.357, com alta de 0,27%.
Fique ligado!
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