O novo estagiário #OURO #GOLD
Nos tempos em que selecionava estagiários, o
currículo era uma formalidade que mal disfarçava o verdadeiro teste: a
capacidade de reação frente a provocações sutis, mas calculadas. Era nessa hora
que eu decidia se aquele jovem tinha futuro na organização. E mesmo nos casos
bem-sucedidos, sabíamos que a fase mais crítica da formação se daria ali, no
início da carreira — na rotina repetitiva, “ad nauseam”, onde se aprende de
fato como uma área funciona. Agora, esse ciclo essencial pode estar sob ameaça.
E não é por falta de talento ou disposição. É porque o “novo estagiário” pode
se chamar ChatGPT.
O mercado de trabalho nos Estados Unidos tem
oferecido um alerta inquietante: a substituição de mão de obra jovem
qualificada por sistemas de inteligência artificial está deixando uma geração à
margem do primeiro degrau corporativo. O fenômeno não é marginal nem passageiro
— ele tem nome, número e tendência. A taxa de desemprego entre jovens de 20 a
24 anos chegou a 8,3% em julho, e mesmo entre recém-formados o índice alcança
5,3% — quase o dobro do observado entre mulheres da mesma faixa etária. A comparação
com o período pós-Lehman Brothers, em 2008, não é exagerada.
A transformação não se limita à macroeconomia.
Uma análise da Goldman Sachs revela que, embora os impactos agregados da IA
ainda não tenham contaminado todos os setores, já há evidências estatísticas
robustas de retração no emprego nas áreas mais expostas: marketing, atendimento
ao cliente, design gráfico e desenvolvimento de software estão entre os setores
que mais perderam tração desde a popularização do ChatGPT em novembro de 2022.
A transformação não se limita à macroeconomia.
Uma análise da Goldman Sachs revela que, embora os impactos agregados da IA
ainda não tenham contaminado todos os setores, já há evidências estatísticas
robustas de retração no emprego nas áreas mais expostas: marketing, atendimento
ao cliente, design gráfico e desenvolvimento de software estão entre os setores
que mais perderam tração desde a popularização do ChatGPT em novembro de 2022.
Essa não é apenas uma “crise dos estagiários”.
É uma mutação estrutural do mercado de trabalho. O “gap” geracional está sendo
acentuado pela decisão estratégica de empresas como Meta, Google e Microsoft de
investir mais de 250 bilhões de dólares em IA reduzindo suas contratações a
praticamente zero desde 2022. McKinsey, por exemplo, tem optado por montar
times mais enxutos, porém mais experientes, descartando o modelo tradicional de
incorporar novatos promissores com potencial de desenvolvimento.
Essa realidade remete à questão central: se o
primeiro emprego é extinto, quem formará os líderes do futuro? Quem passará
pela curva de aprendizado prática, pelo “erro permitido”, pela observação
silenciosa da cadeia de decisão que só se aprende com o tempo? A execução
mecânica de tarefas repetidas é mais do que um castigo corporativo — ela é
parte essencial do processo de formação.
O fenômeno ganha um contorno ainda mais
perturbador quando observado sob a lente de gênero. Como aponta Allison
Schrager na Bloomberg, o que se desenha é uma potencial “he-cession” — uma
recessão que atinge mais intensamente os homens jovens. Mesmo com formação
superior, os recém-formados do sexo masculino enfrentam taxa de desemprego em
serviços como varejo e hospitalidade superior a 8%, contra menos de 5% para as
mulheres.
Há quem sustente que se trata de uma oscilação
cíclica, uma consequência da desaceleração econômica. Mas os dados sugerem o
contrário: o declínio no emprego jovem masculino é estrutural, e suas raízes
estão na realocação de capital das empresas. Em vez de apostar em trainees,
gestores estão contratando algoritmos.
O estudo da Goldman Sachs estima que 6 a 7% dos
trabalhadores dos EUA serão deslocados pela IA nos próximos anos, com picos
localizados chegando a 14% em determinados cenários.
Não se trata de um apocalipse imediato, mas de
uma corrosão progressiva. O mercado de trabalho se bifurca: de um lado,
profissionais experientes, com especialização profunda e adaptabilidade; de
outro, jovens qualificados, porém substituíveis por sistemas automatizados.
Jensen Huang, CEO da Nvidia, capturou esse espírito ao afirmar que “você
perderá seu emprego para alguém que usa IA”. Não é uma ameaça: é uma descrição
da realidade.
Mas há um paradoxo. A mesma IA que elimina
cargos pode criar novas funções — principalmente se a produtividade crescer e a
demanda agregada acompanhar. O próprio Goldman Sachs relembra que mais de 60%
dos empregos atuais nos EUA foram criados em ocupações que não existiam em
1940. O que nos resta é saber se conseguiremos repetir esse salto com a
velocidade exigida pelo ritmo exponencial da tecnologia.
Se esse movimento de reorganização do mercado
não for acompanhado por políticas que criem novos caminhos de entrada — como
programas de capacitação específicos, mentorias estruturadas e projetos de
transição profissional — o que está em risco não é apenas o emprego do novo
estagiário. É o futuro da liderança empresarial.
Como o Mosca já alertou em outras ocasiões, o
impacto da IA sobre o emprego não é neutro nem uniforme. Ele atinge primeiro
quem está na borda do sistema: os jovens, os inexperientes, os que ainda não
mostraram a que vieram. E se não houver espaço para errar, não haverá espaço
para aprender. E sem aprendizado, não há sucessão.
Análise Técnica
No post “A China luta...” comentei sobre o
ouro: “O metal continua sem uma direção no curto prazo, mantendo-se dentro
de uma região entre US$ 3.200 e US$ 3.430. Nas duas últimas semanas, ainda mais
restrito. O objetivo, caso essa correção se configure como flat, seria entre
US$ 3.139 e US$ 3.080, onde poderia terminar a onda (4) vermelha. Nada a
fazer no curto prazo, a não ser acompanhar.”
Aparentemente, a onda (4) vermelha configurou-se como um triângulo — formação técnica comum nesse estágio da estrutura de Elliot. Em uma escala menor, a área demarcada no gráfico revela cinco ondas completas. Se essa leitura se confirmar, retomar posições compradas em ouro faz sentido. Ao analisar as razões entre diversas ondas, notei amplitudes significativas, o que reforça a probabilidade de a onda (5) vermelha ser curta. Vale o alerta: ondas finais tendem a ser truncadas e exigem cautela. O alvo, em caso de rompimento de US$ 3.390, projeta-se para a faixa entre U$ 3.637 (+5%) e US$ 3.579 (+7%).
O S&P 500 fechou a 6.340, sem variação; o USDBRL a R$ 5,4241, com queda de 0,73%; o EURUSD a € 1,1660, sem variação; e o ouro a U$ 3.399, com alta de 0,90%.
Fique ligado!
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