Bons tempos do telefone #nasdaq100 #NVDA

 


“Alô, é da tesouraria? Aqui é o David do BFB. Abre o spread para 100 bi”.
Essa pergunta, nos idos dos anos 80, dava início a muitas conversas que se transformavam em negócios – e negócios se transformavam em dinheiro. Era uma época de voz, de intuição, de presença. Uma época em que os terminais Bloomberg não dominavam as salas de negociação, tampouco a inteligência artificial conduzia decisões que antes dependiam de faro, timing e vivência.

Nos bons tempos do telefone, construir uma curva de juros era um exercício artesanal. Partíamos das taxas dos depósitos interfinanceiros, adicionávamos prêmios conforme a percepção de risco, consultávamos colegas, cruzávamos com expectativas de inflação e, por fim, tentávamos traçar uma lógica coerente. Dava trabalho. Era imperfeito. Mas funcionava. Mais importante: criava uma responsabilidade intelectual que hoje parece em extinção.

Não estou aqui para pregar nostalgia analógica nem me colocar como um ludita do mercado. O avanço tecnológico nos trouxe agilidade, precisão, acesso à informação em tempo real. Entretanto, quando leio um artigo como “Wall Street Needs AI. It’s Too Complex for Mere Humans”, publicado pela Bloomberg, me vejo obrigado a refletir sobre os rumos que estamos tomando. Se até mesmo os maiores investidores do mundo passaram a confiar nos algoritmos para processar e tomar decisões, o que sobra para o discernimento humano?

O artigo mostra que o volume de dados financeiros cresce a uma velocidade exponencial. Isso torna praticamente inviável, para qualquer ser humano – mesmo treinado e experiente – manter uma leitura acurada dos mercados. Fundos como Two Sigma, Renaissance e Citadel já operam há anos com esse paradigma: decisões tomadas por modelos estatísticos que vasculham milhares de variáveis em busca de padrões que escapam ao olho humano.

Mas há uma diferença entre apoio e substituição. Usar a tecnologia como instrumento é um passo civilizatório. Delegar completamente o julgamento a ela pode ser um risco mal dimensionado. Um paper recente publicado no Journal of Finance, “The Virtue of Complexity in Return Prediction”, argumenta que modelos mais complexos – desde que compreendidos – podem melhorar a capacidade preditiva dos retornos. A palavra-chave aqui é compreendidos. Se nem os criadores dos algoritmos sabem explicar exatamente por que uma decisão foi tomada, onde fica o controle?

Nos anos 80, quando um trade dava errado, a responsabilidade era clara: era minha. Eu tinha ligado, perguntado, negociado. Hoje, quem responde é o código. E o código, como se sabe, não presta contas.

Isso me preocupa não apenas como ex-profissional do mercado, mas como alguém que tenta diariamente entender os movimentos que moldam o futuro. O investidor que cede à tentação de abdicar do pensamento crítico em nome da conveniência algorítmica está mais perto da irrelevância do que da eficiência.

No Mosca, sempre procurei provocar reflexões que vão além dos indicadores. A tecnologia é uma aliada poderosa, mas não pode substituir o papel da dúvida. Não pode suprimir a responsabilidade. E, principalmente, não pode nos desobrigar de pensar.

Se tem algo que aprendi em mais de 45 anos no mercado é que a disciplina intelectual é o que separa o acaso do resultado consistente. E, por mais que o telefone tenha ficado mudo, a voz que ele representava – a voz da decisão consciente – precisa continuar ecoando.

Análise Técnica

No post “com-faca-e-o-queijo-na-mão”, escrevi o seguinte sobre a Nasdaq100:

“A Nasdaq100 superou a máxima histórica nesta semana e apenas um *false break* poderia invalidar essa visão. Nesta hipótese, reorganizei as ondas para compatibilizar com o cenário. Ressalto que a distância percorrida pela onda (3) vermelha é muito baixa, o que pode indicar que ela ainda não terminou, abrindo espaço para altas muito superiores. Se a contagem estiver correta, o objetivo seria próximo de 26 mil pontos (+11%)”.


Como já desconfiava, a onda (4) vermelha parece estar se formando como um Flat Irregular. Essa onda deve terminar (ou já terminou) em algum ponto dentro do retângulo que projetei. Como o presidente do Fed discursaria às 11h, horário local em Jackson Hole, e o mercado (e toda a torcida do Corinthians) esperava uma sinalização de queda nos juros, qualquer frustração poderia impactar fortemente os ativos.


Sobre a Nvidia, comentei:

“Realoquei as ondas da NVDA para ficarem alinhadas com a Nasdaq100. A onda 3 laranja é curta, sugerindo espaço para níveis bem mais altos. O objetivo nesta leitura é US$ 227 (+25%)”


Assim como a Nasdaq100, a Super Star também apresenta uma correção semelhante. Tanto no índice quanto nesta ação, será necessário completar as cinco ondas antes de qualquer entrada. A correção pode se estender mais do que se espera. Atenção: a Nvidia divulga seus resultados trimestrais na próxima semana.


Encerrando com uma nota pessoal:

Hoje foi um dia muito triste para mim. Faleceu meu ex-sócio e amigo Gil Faiwichow. Inteligente, culto, excelente trader e esportista, vinha travando uma luta corajosa contra o câncer. Que descanse em paz!


O S&P 500 fechou a 6.461, com alta de 1,44%; o USDBRL a R$ 5,4253, com queda de 0,89%; o EURUSD a 1,1719, com alta de 0,98%; e o ouro a U$ 3.373, com alta de 1,04%.

Fique ligado!

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