Depois eu pago #USDBRL
Existe uma expressão que sempre volta à minha
cabeça quando analiso o momento atual da Inteligência Artificial: depois eu
pago. Ela resume de forma simples a lógica que tomou conta das empresas que
lideram essa corrida tecnológica. Gasta-se agora, acumula-se dívida, ergue-se
um exército de data centers… com a esperança — quase um ato de fé — de que o
retorno virá lá na frente.
O desafio é que essa aposta gigantesca ainda
está no início, e o mercado inteiro tenta medir se o investimento
extraordinário será compensado pela geração futura de receitas. Para isso,
alguns indicadores ajudam — e poucos são tão úteis quanto o EBITDA. Ele revela
a força operacional de uma empresa olhando apenas para o motor do negócio, sem
o ruído contábil. Mas, como mostra um dos artigos analisados, até esse motor
pode enganar quando a empresa acelera demais sem olhar para o combustível
restante.
No caso das empresas ligadas à IA, o
investimento não é apenas pesado: é monumental. O artigo da Bloomberg mostra
que, pela primeira vez, a promessa da IA começa a aparecer de forma concreta
nos números de gigantes como Microsoft, Alphabet e Amazon. Elas já conseguem
apontar, nos resultados, quanto da receita adicional vem de serviços
diretamente associados à IA — como copilotos integrados ao pacote Office,
ferramentas de nuvem que usam modelos de linguagem e soluções de automação para
empresas. Ou seja: a IA deixou de ser só palestra em conferência e passou a ter
linha própria na demonstração de resultados.
Mas esse é apenas um lado da história. O outro
é bem menos confortável.
O Wall Street Journal revela uma realidade que passa despercebida quando se olha apenas para o glamour da IA: as gigantes de tecnologia estão ficando mais fracas financeiramente. A geração de caixa livre, aquele dinheiro que sobra depois de todos os investimentos, está diminuindo. O ritmo de entrada de caixa não cresce na mesma velocidade do apetite por gastos — e isso pressiona o balanço.
O motivo dessa sangria? Uma corrida bilionária pelos data centers que darão suporte à IA generativa. Cada empresa tenta construir sua própria fortaleza digital, ampliando capacidade computacional, conexão entre servidores, infraestrutura de refrigeração e consumo de energia. Tudo isso custa muito — e rapidamente.
A reflexão aqui é inevitável: e se essa
expansão estiver indo rápido demais? E se parte desses data centers nunca
alcançar a demanda projetada? E se o retorno da IA vier, mas não na escala
imaginada? Nesse cenário, ficaria uma coleção bilionária de estruturas
subutilizadas, carregando depreciação por anos.
Essa preocupação se agrava ainda mais no caso
da Oracle, que além de investir pesado, tomou empréstimos volumosos para
financiar sua aposta. O conceito do “depois eu pago” nunca foi tão literal. O
risco é claro: quando a conta chega, ela não pergunta se o ciclo tecnológico
deu certo — ela simplesmente cobra.
Esse ponto se conecta diretamente ao alerta
trazido pelo artigo da RIA. Ele lembra que confiar apenas no EBITDA pode criar
uma falsa sensação de tranquilidade. Uma empresa pode reportar um EBITDA
robusto enquanto, na vida real, o caixa está se esvaindo. A divergência entre
lucro operacional e geração de caixa é um sinal clássico de estresse financeiro
— e está aumentando justamente entre empresas que mais aceleraram na corrida da
IA.
Isso nos leva ao ponto central deste texto.
Quando falo em “depois eu pago”, não estou
fazendo crítica moral ou retórica. Estou lembrando ao leitor — e a mim mesmo —
que toda tecnologia disruptiva vem acompanhada de ciclos de euforia e decepção.
O problema não está em investir demais. O problema está em investir demais sem
medir o tempo necessário para que o retorno se materialize.
O que o Mosca quer destacar hoje é a
necessidade de manter essa memória acesa. Cada vez que uma big tech apresenta
seu balanço, é preciso perguntar:
– O caixa está sendo preservado?
– O nível de endividamento faz sentido diante
dos retornos projetados?
– O crescimento anunciado compensa o risco
assumido agora?
No fim, esta é a encruzilhada: a IA já começa
a aparecer nos resultados, como aponta a própria Bloomberg, mas o custo dessa
nova era está drenando força das maiores companhias do planeta. A história
ainda não terminou — e a conta ainda não venceu.
ANÁLISE TÉCNICA
No post “queda-de-braço” fiz os seguintes comentários sobre a IA: “Eu destaquei no gráfico abaixo o intervalo desde junho em que a moeda ficou contida num intervalo de 5% entre R$ 5,60 – R$ 5,30. Observem também que as altas são mais intensas, porém duram pouco tempo. Continuo aguardando a resolução desse embate entre comprados – normalmente zerando posições, e os vendidos”
O mercado buscou romper o limite destacado pelo Mosca de R$ 5,2695 por três vezes durante a semana e agora se encontra em R$ 5,30. Por enquanto, um mercado sem a menor atratividade. Porém, minha experiência me mostra que, quando menos se espera, o movimento ganha tração — e, até então, é para novas quedas. Somente acima de R$ 5,42 a alta ganha algum alento.
- Hahaha. Você ainda não se cansou de esperar a alta do dólar?
Como você é um leitor assíduo vou repetir
novamente meus argumentos: primeiro, estamos numa macro correção e, como tal, é
difícil estabelecer mínimos; o movimento de queda da onda 4 vermelha não
é direcional deixando a opção de queda do dólar em xeque; por último, não
deixei de sugerir venda quando existe uma boa opção de risco x retorno.
O S&P 500 fechou a
6.672, com queda de 0,92%; o USDBRL a R$ 5,3240, com alta de 0,51%; o EURUSD a
€ 1,1588, com queda de 0,28%; e o ouro a U$ 4.040, com queda de 0,99%.
Fique ligado!
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