O efeito colateral #S&P500

 


Parece que Michael Makia da Bloomberg deu uma espiada no blog do Mosca, porque as semelhanças entre o artigo dele, publicado hoje, e o “Trumpvid-25: O Furacão de Uma Crise Fabricada” publicado ontem são sugestivas! Ambos jogam luz no caos atual dos mercados, com as tarifas de Trump espelhando o pesadelo da Covid-19: investidores desfazendo posições em ações em ritmo acelerado, demanda por hedges em ascensão vertiginosa e uma incerteza política que eleva a volatilidade a patamares reminiscentes da pandemia. Enquanto Makia reflete sobre valuations fragilizadas, o Mosca já apontava – com precisão, não devaneio – que esse “Trumpvid-25” é uma crise autoinfligida, uma decisão que compromete cadeias de suprimento e a confiança global, conduzindo a economia a instabilidade.

Os efeitos colaterais das tarifas se manifestam como uma terapia mal calibrada, cujos impactos se alastram pelo sistema econômico global. Imagine os Estados Unidos como um paciente submetido a uma intervenção arriscada, conduzida por um líder que despreza os sinais de alerta. Trilhões de dólares evaporaram dos mercados em poucos dias, com perdas expressivas em empresas dependentes do comércio internacional, como a Apple, evidenciando a fragilidade das cadeias transnacionais. Esse não é um ajuste trivial; é uma ruptura estrutural que remete aos choques de 2020, mas agora desencadeada por uma escolha política deliberada. A confiança econômica, alicerce essencial, foi abalada, lançando uma onda de instabilidade que atinge investidores, empresas e consumidores em escala mundial.

A Bloomberg registra uma volatilidade acentuada, com o VIX em patamares críticos e volumes recordes de opções refletindo uma busca desesperada por proteção. As tarifas, potencialmente superiores a 25% em média, conforme estima Bill Dudley, funcionam como um catalisador inflamatório, elevando custos de importação e pressionando preços domésticos. Jonathan Levin, em sua análise penetrante, alerta para um efeito colateral ainda mais grave: o risco de os EUA perderem seu status de porto seguro. O privilégio sustentado pela confiança no dólar e nos Treasuries, está em xeque – o dólar perdeu valor desde o anúncio, e as taxas dos Treasuries oscilam de forma atípica em meio a um venda significativa. O "steepening" da curva de juros, com títulos longos ganhando terreno sobre os curtos, é um indicador claro desse abalo: o mercado questiona se os EUA ainda são o porto seguro em tempos de crise, um efeito colateral que ameaça décadas de hegemonia financeira.




A reação da China intensifica esses riscos. Beijing, com sua determinação de “lutar até o fim”, mobiliza recursos estatais e afrouxa o yuan para amortecer os impactos. Esse posicionamento revela um efeito colateral de alcance global: os orientais, fiéis à sua tradição, não se curvam sob pressão – preferem resistir até o limite a negociar concessões tarifárias. Essa intransigência, típica da mentalidade chinesa, é um complicador formidável, dado o papel central do país nas redes globais de comércio. A Bloomberg destaca injeções bilionárias em ETFs e uma recuperação parcial nas bolsas após quedas expressivas, mas o yuan em mínimas recentes expõe a vulnerabilidade subjacente. Esse confronto não se limita a uma disputa bilateral; ele reverbera por economias interdependentes, amplificando a instabilidade.




O Federal Reserve enfrenta um efeito colateral de complexidade singular: uma encruzilhada entre pressões inflacionárias e crescimento ameaçado. Mohamed El-Erian adverte com lucidez: Jerome Powell não pode sucumbir à tentação de afrouxar a política monetária diante da turbulência, uma reação que o mercado, moldado por decisões passadas, parece antecipar. As tarifas injetam incerteza em variáveis críticas como preços e empregos, e o Fed, ainda marcado por equívocos anteriores, carece de uma resposta clara. A inflação, amplamente esperada, permanece uma incógnita em sua magnitude; estimativas sobre custos e margens carecem de validação prática, e o rótulo de “temporária” soa mais como especulação do que fato. Esse dilema expõe o banco central a um risco de erro histórico, um efeito colateral que testa sua autoridade em um momento delicado.

A pressão sobre os mercados globais revela outro efeito colateral de proporções sistêmicas: a erosão da estabilidade que sustenta o comércio e o consumo. A interconexão entre os EUA e a Europa amplifica os impactos, com valuations pressionadas refletindo uma tensão que transcende fronteiras, conforme registra a Bloomberg. Esse cenário não se limita às esferas financeiras; ele compromete a capacidade das empresas de planejar investimentos, abala a previsibilidade dos negócios e transfere custos inevitáveis aos consumidores, que enfrentam um horizonte de preços elevados e incerteza prolongada. O que se desenha é uma reação em cadeia que atinge a base da economia real, um efeito colateral que desafia a resiliência de um sistema já sobrecarregado.




Os efeitos colaterais dessa política configuram um cenário de alerta máximo: uma economia global interligada sofre as consequências de uma decisão unilateral, e o contágio se propaga sem uma solução evidente à vista. A reversão, embora cogitada por muitos, enfrenta barreiras enraizadas em posturas inflexíveis, prolongando os desdobramentos. No Mosca, seguimos atentos – o que sinalizamos não foi conjectura, mas uma leitura precisa de um cenário cujos impactos apenas começam a se desdobrar.

 

Análise Técnica

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No post “Delegando para Modelos”, comentei sobre o S&P 500: “A onda 4 azul revela-se cada vez mais complexa. Com essa nova perspectiva, o índice pode enfrentar uma queda adicional, projetada entre 5.450 e 5.400. Se esse suporte não se mantiver, níveis mais baixos, possivelmente próximos de 5.300, entram em consideração.”



Com quedas raramente vistas nas bolsas e nos mercados de risco, os limites mencionados foram ultrapassados com facilidade. Ajustei a contagem de ondas e mantive a opção adotada em análise, mas admito que já tenho outra hipótese em mente. Vou dar ao S&P 500 uma última chance de reagir antes de adotar essa alternativa. Segundo a opção atual, o nível crítico que ainda tolero está destacado no retângulo do gráfico. Isso não implica uma recuperação imediata – pode haver demora, talvez com a formação de um triângulo –, mas falo aqui de limites de preço, não de tempo.




- David, chega de rodeios e revela logo essa outra hipótese! Afinal, com o Trump no comando, o que pode melhorar?
Veja bem, se nem Trump sabe ao certo o que vai fazer ou como as negociações vão se desenrolar, como eu poderia prever? Como sempre reforço no Mosca, nossa análise não se baseia em fundamentos ou política – nosso foco está nos gráficos.

O S&P500 fechou a 4.959, com queda de 2,02%; o USDBRL a R$ 5,9965, com alta de 1,40%; o EURUSD a € 1,0956, com alta de 0,48%; e o ouro a U$ 2.948, sem alteração.

Fique ligado!

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