O Repique de Poker nas Tarifas #IBOVESPA

 


O tabuleiro global da economia virou um saloon de apostas altas, e os jogadores principais — Donald Trump e a China — estão repicando as fichas como em um jogo de poker selvagem. Ontem, comentei que Pequim não daria o braço a torcer, e hoje, 9 de abril de 2025, a profecia se cumpriu com estilo: a China elevou as tarifas sobre produtos americanos para 84%, uma resposta cortante ao aumento de Trump, que ontem cravou os produtos chineses em 104%. É um duelo de titãs onde cada um dobra a aposta, desafiando o outro a piscar primeiro. Mas, enquanto os governantes exibem suas cartas com audácia, o mercado global assiste, atônito, a um espetáculo que pode terminar com a mesa virada — e o saldo comercial entre essas potências reduzido a cinzas.

Esse embate não é apenas uma troca de bravatas tarifárias; é uma guerra de narrativas e poder que reverbera em bolsas, títulos e na confiança dos investidores. Trump, fiel à sua promessa de campanha, parece disposto a escalar ainda mais, mas será que isso importa? Se essas tarifas se cristalizarem, o comércio entre EUA e China pode colapsar a zero, um cenário que evoca os dias sombrios da Covid-19, embora por razões distintas. Exportações e importações bilaterais, outrora o motor de uma economia interconectada, podem se tornar relíquias de um passado menos beligerante. E enquanto os olhos se voltam para esse desfecho, outro mercado sussurra uma trama paralela: os títulos do governo americano, os Treasurys, enfrentaram uma venda expressiva nos últimos dias. Seria a China, detentora de uma fatia significativa dessa dívida, disparando um tiro de advertência ao se desfazer de suas posições? A hipótese é sedutora, mas os dados sugerem uma diversificação asiática mais ampla, como aponta Joe Lavorgna, ex-economista da primeira era Trump, em análise para a Bloomberg.

Uma análise interessante feita pelo Deustche Bank relacionando os bonds com o S&P500 colocam a situação em um extremo histórico indicando a desconfiança dos investidores nos ativos americanos.




O tom deste confronto é de uma ousadia quase teatral, mas os números pintam um quadro preocupante. Conforme o Wall Street Journal reporta, os mercados americanos sofreram uma reversão histórica na terça-feira, 8 de abril. O Dow Jones, que abriu com uma alta de 1.400 pontos na esperança de um alívio nas tensões comerciais, despencou 320 pontos ao fim do dia, enquanto o Nasdaq viu um ganho de 4,6% evaporar em uma queda de 2,1% — a maior virada em mais de 40 anos. Investidores individuais, os chamados dip buyers, injetaram bilhões em ETFs e fundos de ações, desafiando alertas de Wall Street sobre os danos ao crescimento econômico. Brooks Barrios, um jovem trader de Nova Orleans, encapsula essa mentalidade ao comparar o momento a “entrar na minha loja favorita e conseguir um desconto incrível”. Mas será essa bravura uma jogada genial ou uma aposta cega em um mercado à beira do abismo?




Do outro lado do oceano, a China joga suas cartas com uma sofisticação calculada. O premier Li Qiang, número dois de Xi Jinping, declarou em uma ligação com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que o país possui “ferramentas políticas amplas” para neutralizar choques externos. A desvalorização do yuan, que atingiu seu menor nível desde 2007, é uma dessas jogadas — um movimento que, segundo Becky Liu, da Standard Chartered, alivia a pressão sobre os exportadores chineses. Contudo, analistas da Bloomberg Economics, como David Qu e Chang Shu, veem isso como uma queda “cuidadosamente gerenciada”, não um ataque frontal. Andy Rothman, da Sinology, vai além: para compensar tarifas de 104%, uma desvalorização de 30% a 75% seria necessária, algo que Pequim evita pelos efeitos colaterais devastadores. Em vez disso, rebates de exportação e estímulos fiscais internos parecem ser os ases na manga chinesa.

Enquanto isso, os títulos americanos contam outra história. O rendimento dos Treasurys de 10 anos traçou uma curva em “V” impressionante desde o início dessa escalada tarifária, como mostra o gráfico. O salto de 70 pontos-base no rendimento dos títulos de 30 anos, alcançando 5% pela primeira vez desde 2023, reflete mais um mercado em pânico do que uma manipulação deliberada de Pequim. É o medo, não a estratégia, que move as agulhas agora.




Mas o jogo não se limita aos dois gigantes. O Congresso americano, liderado por figuras como Chuck Grassley, emerge como um possível mediador — ou sabotador — dessa loucura tarifária. O Trade Review Act de 2025, proposto por Grassley e Maria Cantwell, busca retirar de Trump o poder unilateral sobre tarifas, exigindo aprovação congressional em 60 dias para qualquer nova imposição. É uma tentativa de restaurar o equilíbrio de poderes, como detalha Patricia Lopez na Bloomberg. Com apoio bipartidário crescente, incluindo senadores como Thom Tillis e Mitch McConnell, o projeto enfrenta a ameaça de veto de Trump, mas sinaliza que o bom senso pode, em algum momento, pedir água. Se prosperar, outros países podem seguir o exemplo, boicotando a estratégia de tarifas e transformando o plano de Trump em um castelo de cartas desmoronado.

O mercado, por sua vez, oscila entre o pânico e a oportunidade. O VIX, o “medidor de medo” de Wall Street, atingiu seu maior nível desde a crise da Covid-19, enquanto as Sete Magnificas perderam US$ 2,1 trilhões em valor desde o anúncio tarifário. Para os audaciosos, como Bobby Cameron, que realocou metade de seu portfólio para ações como Robinhood, é “um momento insano para ganhar dinheiro”. Para os cautelosos, como Amber Petrovich, que reduz suas compras a uma ou duas ações por vez, a volatilidade é um monstro que “muda completamente em dois minutos”. A curiosidade mórbida do noticiário em encontrar o “fundo do poço” da bolsa reflete essa dicotomia: é loteria pura, e o Mosca, não entra nesse jogo com volatilidade nas alturas.

No fim, este repique de poker nas tarifas é mais do que um confronto econômico — é um teste de credibilidade. John Authers calcula que as tarifas elevarão o CPI americano em 0,67 pontos percentuais, empurrando a inflação para perto de 3,5%. Para um presidente eleito com a promessa de domar a inflação, isso é um paradoxo cruel: os mais pobres, sua base, sentirão o golpe mais duro ao comprar produtos chineses agora inflacionados. Será que Trump sustenta essa aposta ou recua como o Banco da Inglaterra em 1992, quando uma taxa de 15% se provou insustentável?

Estamos todos na mesa, assistindo ao próximo lance. O repique continua, mas o blefe, cedo ou tarde, será revelado.

 

Análise Técnica


No post “o-dia-t-das-tarifas”, fiz os seguintes comentários sobre o IBOVESPA: “Realizei uma adequação da onda 4 vermelha, observando a janela de 1 hora. Com isso, a onda 5 vermelha estaria a caminho de se completar, mantendo válidos todos os comentários anteriores. Vamos observar o impacto do Dia T na bolsa brasileira.” 




Notem como minha observação no gráfico “Pode ser um pepino” se revelou, de fato, um pepino dos grandes! O movimento desta semana abortou qualquer possibilidade de alta e me obrigou a adotar um novo cenário. Não que as bolsas internacionais tenham reagido melhor — estão igualmente aos tropeços —, mas é impressionante como as subidas por aqui sempre esbarram em algum obstáculo inesperado.

Diante disso, vejo duas possibilidades para a bolsa brasileira. A primeira, que apresento agora, sugere uma queda de 10%, levando o índice a uma faixa entre 109,8 mil / 108,3 mil pontos. A segunda, mais drástica, aponta para um tombo ainda maior, rumo aos 100 mil pontos. 



  

No gráfico acima, destaquei a possibilidade de uma formação clássica da análise técnica: o padrão ombro-cabeça-ombro. Segundo essa teoria, ele ganharia força com o rompimento da linha azul, e seu objetivo se alinha mais consistentemente com minha segunda hipótese, de uma correção mais profunda.

Para encerrar, a área que batizei de “Muro das Lamentações” foi testada quatro vezes nos últimos quatro anos — uma delas não é visível no gráfico — e jamais conseguiu ser superada. O nome, admito, não poderia ser mais apropriado. Estamos diante de um obstáculo que, até agora, só inspira frustrações.

Ahh, entendi! Valeu por avisar — aqui vai o texto corrigido em português, mantendo seu estilo direto e fluido:

Que dia maluco!!! Primeiro, acabei liquidando a posição do dólar a R$ 5,9450, embora não tenha conseguido avisar durante o dia. Com essa volatilidade, às vezes são necessários movimentos mais pontuais — na segunda-feira eu explico por que tomei essa decisão.
Depois, foi o Trump que deu mais 90 dias para os países que ainda não retaliaram. O mercado subiu como um foguete e provavelmente não deu tempo de o pessoal vendido zerar. Pela minha experiência, isso é o típico fucker rally — afinal, quem realmente importa é a China, que, aliás, ganhou um “presente” do Trump: elevação da tarifa para 125%, alinhando-se com o tema do post de hoje.
A estratégia do presidente Trump é clara: isolar a China dos demais países. Agora é esperar a reação chinesa.

O S&P500 fechou a 5.461, com alta de 0,61% ‑ gravem esse percentual de alta, poucas vezes será visto novamente; o USDBRL a R$ 5,8436, com queda de 2,78%; o EURUSD a € 1,0937, com queda de 0,17%; e o ouro a U$ 3.094, com alta de 3,72%.

Fique ligado!

Comentários

  1. David, suas avaliações sobre o Brasil estão com os pé trocados. rsrsr Melhor ficar operando os mercados internacionais mesmo. Concordo com você que essa alta de hoje deve ter vida curta. Acredito que o maior impacto de todo esse jogo do Trump é na credibilidade e confiabilidade dos EUA como parceiro. Entendo que mesmo que fechem acordo com os EUA, todos vão procurar não depender mais dos EUA devido a risco de mudanças abruptas e unilaterais. A postura dos EUA com a Ucrania, seus aliados ocidentais (Canada, Europa e etc), com as tarifas (ele disse que estavam querendo beijar o seu ** por um acordo) é vergonhosa.

    ResponderExcluir
  2. Acho que está confundindo os blogs! pé trocado??? gostaria que você antes de fazer uma afirmação dessas comprovasse com fatos. Onde estão esses resultados negativos? Você está se iludindo quando acha que "todos" não vão depender dos EUA essa é uma visão curta sem base em dados. Por enquanto os EUA é a maior economia do mundo e o dólar a moeda de troca. É impossível não depender dos EUA você está esquecendo também do desenvolvimento da tecnologia. Sobre o Brasil tenho uma visão negativa basta olhar as decisões erradas do governo em quase todas as areas.

    ResponderExcluir

Postar um comentário