O Dia T das tarifas #IBOVESPA



Hoje, o mundo prende a respiração enquanto o presidente Donald Trump aciona o gatilho de sua tão anunciada "Libertação" tarifária. Não é exagero dizer que estamos diante de um Dia T — um ponto de inflexão que pode redefinir a economia global ou afundá-la em um caos autoinfligido. Diferentemente do heroico Dia D, quando os Aliados desembarcaram na Normandia para libertar a Europa, este Dia T carrega um tom mais sombrio: a ameaça de uma recessão iminente, orquestrada por políticas que desafiam a lógica econômica e flertam com o precipício. Em um mundo já saturado de incertezas, as tarifas de Trump — que podem variar de 20% a impressionantes 200%, dependendo de seu humor ou rancores históricos — emergem como um experimento temerário, cujas consequências podem reverberar por anos.

No Mosca, sempre buscamos mirar o alvo com precisão, dissecando os movimentos do mercado com um olhar crítico e aprofundado. Hoje, o alvo é claro: as tarifas anunciadas por Trump não são apenas uma jogada política; elas são uma bomba-relógio econômica. Analistas, antes otimistas com o segundo mandato do presidente, agora recalibram suas expectativas. A probabilidade de uma recessão, que há semanas era um sussurro distante, saltou para a faixa de 35% a 45%, segundo observadores atentos. Este texto, com base em documentos recentes de fontes como Deutsche Bank, Bloomberg Opinion e análises independentes, explora o risco crescente de uma contração econômica e questiona: estamos diante de um erro calculado ou de uma aposta cega?

 

Tarifas: O Gatilho de uma Recessão Autoinfligida

Kathryn Anne Edwards, em sua coluna na Bloomberg, não hesita em chamar o que está por vir de "a primeira recessão diretamente causada pela Casa Branca na América pós-guerra". A audácia da afirmação é respaldada por fatos: a combinação explosiva de tarifas amplas, redução do tamanho do governo federal e deportações em massa forma um trio de políticas contracionistas que desafia precedentes históricos. Diferentemente de crises passadas, como a de 2008, que evoluiu lentamente a partir de decisões regulatórias mal calibradas, o canal entre causa e efeito aqui é direto e brutal. As tarifas, em particular, já estão paralisando a atividade empresarial e abalando a confiança dos consumidores, com o índice em tempo real do Federal Reserve de Atlanta virando negativo e o Conference Board reportando quedas acentuadas.

Jim Reid, da Deutsche Bank, reforça essa narrativa com números que impressionam. As tarifas previamente anunciadas já elevaram a média para 12% — a mais alta desde a Segunda Guerra Mundial. O anúncio de hoje, dependendo de sua extensão, pode empurrá-la para 18% ou até 20%, aproximando-se dos níveis da Lei Smoot-Hawley dos anos 1930, um período que Trump e seus aliados, como Howard Lutnick, romantizam como uma era dourada. Mas a história ensina outra lição: Smoot-Hawley aprofundou a Grande Depressão, e repetir essa receita em um mundo interconectado é como jogar roleta russa com a economia global. Reid destaca que, com o comércio representando uma fatia maior do PIB hoje, a receita tarifária como porcentagem do PIB já ultrapassa 1%, um retorno aos tempos de McKinley — e isso antes mesmo do impacto total das medidas de hoje.




O Efeito Dominó: Estoques, Preços e Demanda em Xeque

Os sinais de alerta já piscam em vermelho. John Authers, em seu boletim na Bloomberg, aponta para os dados do Institute of Supply Managers (ISM), que mostram um desequilíbrio alarmante entre estoques e novos pedidos nos EUA. As empresas, antecipando tarifas, acumularam inventários em níveis recordes — os mais altos em quatro décadas, exceto pelos piores momentos da crise financeira de 2008 e da pandemia. Com poucos pedidos à vista, a produção deve encolher, um prenúncio de recessão que não pode ser ignorado.




Este gráfico é um grito visual do que está por vir: uma economia sufocada por sua própria preparação para o pior.

Os preços pagos pelos fabricantes americanos também dispararam, um eco de 2021, quando a inflação começou a se enraizar. A incerteza tarifária é a culpada óbvia, com empresas disputando insumos antes que os custos disparem ainda mais. Curiosamente, esse fenômeno é exclusivo dos EUA por ora, como mostra o gráfico de Ariane Curtis, da Capital Economics.




Enquanto os EUA enfrentam pressões inflacionárias, o resto do mundo aguarda a retaliação de seus governos, que certamente virá. O resultado? Um risco crescente de estagflação — crescimento estagnado com preços em alta —, um pesadelo que os bancos centrais lutarão para conter.

A demanda, o motor da economia, também está sob ataque. Consumidores, temendo aumentos de preços, anteciparam compras — as vendas de veículos em março foram as melhores desde o pós-pandemia, segundo Authers. Mas isso é uma ilusão de prosperidade: trata-se de consumo antecipado, não adicional. Quando as tarifas entrarem em vigor, o poder de compra encolherá, e a confiança, já abalada, pode colapsar. Edwards alerta que, em uma economia onde o top 10% detém metade da renda e mais da metade do gasto, a reação desse grupo a uma queda nos mercados será decisiva. Se os ricos recuarem, o impacto será desproporcional, algo inédito em recessões passadas.

 

Um Jogo Perigoso: Política versus Economia

Trump parece abraçar a narrativa de que "dor é necessária" para alcançar sua visão de uma "Era Dourada". Mas há um paradoxo em sua postura: ele já recuou de propostas tarifárias várias vezes em 2025, sugerindo que a pressão dos mercados ou de aliados pode forçá-lo a ceder novamente. Edwards levanta uma questão crucial: se as tarifas forem desligadas ao primeiro sinal de recessão, será suficiente para reverter o dano? A resposta é incerta. Recessões são profecias autorrealizáveis — quando a crença no colapso se instala, consumidores e empresas recuam, e reacender a demanda é como tentar reacender uma fogueira com cinzas úmidas.

O mercado financeiro, por sua vez, está confuso. O dólar, que deveria subir em tempos de incerteza e tarifas, caiu 4,7% no primeiro trimestre, desafiando a lógica convencional. Authers sugere que a antecipação de uma guerra comercial sem vencedores — onde os EUA, apesar de sua economia relativamente fechada, sofrerão tanto quanto seus parceiros — está pesando sobre a moeda. Bank of America alerta que tarifas generalizadas seriam uma "surpresa desagradável", potencialmente quebrando algo no sistema financeiro global. A implementação, com sua logística complexa, pode abrir espaço para negociações, mas o dano inicial já estará feito.

 

O Alvo na Mosca: Recessão à Vista?

No Mosca, sempre buscamos o ponto exato onde a análise encontra a realidade. Hoje, esse ponto é inequívoco: as tarifas de Trump são um tiro no escuro com risco altíssimo de acertar o próprio pé americano. A probabilidade de recessão não é mais uma hipótese remota; é uma ameaça tangível, sustentada por dados concretos e amplificada pela ousadia de uma política que ignora lições do passado. A romantização de eras protecionistas ignora o contexto: o mundo de 2025 não é o de 1900, e o custo de isolar os EUA será pago em empregos, crescimento e estabilidade.

 

Análise Técnica

No post “Metade dos Americanos”, fiz os seguintes comentários sobre o Ibovespa: “A bolsa completou (ou ainda está completando) cinco ondas de menor grau – destacadas em vermelho no gráfico. Muito bem, qual é o problema? Indiquei no gráfico, com um símbolo vermelho, o nível de 134,2 mil pontos. Esse patamar, se não for ultrapassado, pode sinalizar o fim da alta nos outros dois cenários.” 




Realizei uma adequação da onda 4 vermelha, observando a janela de 1 hora. Com isso, a onda 5 vermelha estaria a caminho de se completar, mantendo válidos todos os comentários acima. Vamos observar o impacto do Dia T na bolsa brasileira. 




Um artigo publicado no Wall Street Journal por Samantha Pearson sugere que o Brasil pode se beneficiar das tarifas americanas. Com a China retaliando os EUA ao intensificar a compra de produtos agrícolas brasileiros, como soja, carne bovina e frango, o Brasil já registra um salto nas exportações. Compradores chineses estocaram soja brasileira antes mesmo da entrada em vigor das tarifas, o que elevou o prêmio nos portos em 70% em março, enquanto as exportações de frango e ovos cresceram 9% e 20%, respectivamente, em 2025. A sólida relação comercial com a China, que investiu mais de US$ 70 bilhões no país desde 2009, reforça essa vantagem, oferecendo ao Brasil uma alternativa robusta ao mercado americano. 

Além disso, o Brasil pode explorar oportunidades no mercado dos EUA e em outros países afetados pelas tarifas de Trump. Como o maior produtor de calçados fora da Ásia, o país enxerga a possibilidade de substituir exportações chinesas nos EUA, especialmente se escapar de tarifas significativas, aproveitando sua indústria de couro e o histórico superávit comercial com os americanos. A visita de Lula ao Japão, que garantiu acesso ao mercado de carne bovina, e os investimentos chineses em infraestrutura, como a ferrovia Fiol, ampliam as perspectivas de exportação e reduzem custos logísticos. Embora os EUA possam impor tarifas ao Brasil, a posição relativa do país em relação à China, combinada com sua riqueza em commodities e a diversificação de parceiros, sugere que o Brasil está bem-posicionado para transformar o caos tarifário em uma janela de crescimento econômico. 

Tarifas podem ser boas para algum país? Parece haver uma certa dose de otimismo (ou seria torcida?).

O S&P500 fechou a 5.67, com alta de 0,66%; o USDBRL a R$ 5,6962, com alta de 0,26%; o EURUSD a € 1,0850, com alta de 0,52%; e o ouro a US$ 3.124, com alta de 0,43%.

Fique ligado!

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