Quanto você pode perder? #IBOVESPA

 


As tarifas anunciadas pelos Estados Unidos em 2 de abril de 2025 intensificaram a incerteza no comércio global, impactando os mercados financeiros. O editorial da Bloomberg destaca como a alavancagem excessiva, especialmente no mercado de títulos do Tesouro americano, pode amplificar a volatilidade. Fundos de hedge, pressionados por chamadas de margem, podem desencadear vendas forçadas de ativos, enquanto bancos e o governo americano enfrentam limitações para absorver choques sem intervenções onerosas.

O Índice de Incerteza de Política Comercial da Bloomberg Economics ilustra como a instabilidade comercial atingiu níveis críticos desde o anúncio das tarifas.




Quanto Seu Portfólio Pode Suportar?

A pergunta central deste texto é essencial: qual é o limite de perda que você pode tolerar? Nir Kaissar, em artigo na Bloomberg, alerta que investidores frequentemente subestimam as quedas potenciais. Um portfólio com 70% em ações e 30% em títulos pode recuar entre 28% e 35% em uma crise severa. Sua regra prática — multiplicar a alocação em ações por quatro ou cinco para estimar perdas — é uma ferramenta valiosa para avaliar riscos.

Na crise de 2008, por exemplo, um portfólio 60/40 (ações/títulos) caiu 28% entre novembro de 2007 e fevereiro de 2009, enquanto um 40/60 perdeu 17%. Esses números reforçam a necessidade de alinhar seu portfólio à sua tolerância real ao risco, um princípio que o Mosca destaca como fundamental para decisões disciplinadas.

Impactos Globais das Decisões Americanas

As tarifas americanas geram efeitos em cadeia, com a China no centro das atenções. Shuli Ren sugere que Pequim pode desvalorizar o yuan em até 20%, alcançando 9 por dólar, para mitigar tarifas que atingem, em média, 135% sobre exportadores chineses. O gráfico abaixo, extraído da análise de Ren, mostra a desvalorização de 10% do yuan em 2018, durante a primeira guerra comercial de Trump, como um precedente relevante.




Uma desvalorização do yuan poderia intensificar tensões cambiais e impactar mercados emergentes, com o Brasil provavelmente sendo muito afetado. Na Europa, o aumento da posse de ativos americanos — US$ 15 trilhões em ações e US$ 3 trilhões em títulos desde 2010, segundo o Deutsche Bank — eleva a vulnerabilidade a uma possível saída de capital, pressionando mercados e rendimentos dos títulos do Tesouro.

Dados Concretos vs. Expectativas: Separando o Sinal do Ruído

É crucial diferenciar “hard data” (indicadores econômicos publicados) de “soft data” (expectativas futuras). Nos próximos meses, os indicadores podem ser distorcidos por comportamentos antecipatórios. Consumidores americanos, responsáveis por 70% da economia dos EUA, podem adiantar compras, temendo aumentos de preços devido às tarifas, inflando dados de curto prazo. Alternativamente, a cautela pode reduzir gastos, sinalizando retração. O Mosca recomenda analisar os dados com rigor para evitar decisões baseadas em distorções temporárias.

Os reguladores buscam mitigar riscos, priorizando a identificação de pontos de alavancagem, garantindo liquidez nos mercados e apoiando empresas solventes para evitar vendas desordenadas. Medidas como a extensão da facilidade de recompra do Federal Reserve a fundos de hedge e linhas de swap cambial com bancos centrais globais são essenciais para estabilizar o sistema financeiro.

Mercados para Monitorar

Para se posicionar estrategicamente, acompanhe estes mercados, alinhados à visão prospectiva do Acertar na Mosca:

  1. Títulos do Tesouro Americano: Flutuações nos rendimentos ou no mercado de recompra indicam riscos de alavancagem.
  2. Índice do Dólar (BBDXY): Desvios das previsões baseadas em taxas de juros, como na Figura 1 de Authers, podem sinalizar mudanças na confiança no dólar.
  3. Yuan Chinês (CNY): Fique atento a movimentos de desvalorização, especialmente próximo à reunião do Politburo em julho de 2025.
  4. S&P 500 e MSCI EAFE: A relação entre ações americanas e internacionais reflete fluxos globais de capital.



O Índice Bloomberg Dollar Spot (BBDXY) mede o desempenho do dólar americano em relação a uma cesta de 10 moedas globais, incluindo mercados desenvolvidos e emergentes, oferecendo uma visão abrangente de sua força relativa.

Planejamento com Disciplina

Ninguém pode prever com precisão o quanto os mercados cairão, mas todo investidor pode controlar o quanto está disposto a perder. A solução está em planejar com antecedência: defina sua tolerância máxima de perda e use simulações simples para limitar a exposição ao risco. Se perder mais de 20% do capital é inaceitável e as ações podem cair 50%, mantenha no máximo 40% em ações. Essa abordagem, defendida pelo Mosca, transforma incerteza em oportunidade, permitindo decisões fundamentadas e resilientes.

 

Análise Técnica

No post “O Repique do Poker nas Tarifas”, comentei sobre o IBOVESPA: “Vejo duas possibilidades para a bolsa brasileira. A primeira sugere uma queda de 10%, levando o índice a uma faixa entre 109,8 mil e 108,3 mil pontos. A segunda, mais drástica, aponta para um tombo ainda maior, rumo aos 100 mil pontos.”




Numa janela diária, não é possível identificar a formação de cinco ondas descendentes, o que leva a duas conclusões caso a queda não ganhe tração: 1) a onda B azul, como indicada no gráfico, não começou; 2) abre-se a possibilidade de outra interpretação do movimento. Anotei o nível de 130 mil pontos, onde essas considerações devem ser reavaliadas.




– David, não estou entendendo muito bem o que quer dizer. Acho que está me enrolando!

Não estou enrolando, não! O gráfico do IBOVESPA sempre foi desafiador, como venho comentando insistentemente. Não é à toa que, desde 2020 — estamos falando de cinco anos! —, o índice não consegue superar a região que chamei de “Muro das Lamentações”, um intervalo entre 126 mil e 132 mil pontos. Algum dia ele será rompido, mas quando?

O S&P500 fechou a 5.275, com queda de 2,24%; o USDBRL a R$ 5,8647, com queda de 0,36%; o EURUSD a € 1,1388, com alta de 0,94%; e o ouro a U$ 3.338, com alta de 3,44%.

Fique ligado!

Comentários