Trump é um estrategista ou incompetente? #S&P500

 


A Ofensiva Contra o Fed: Um Tiro no Pé

Trump, com sua habitual falta de sutileza, ameaçou demitir Powell por resistir à pressão para reduzir as taxas de juros. A justificativa? Proteger os interesses dos eleitores que o colocaram no poder. Mas, como bem apontou Bill Dudley, ex-presidente do Fed de Nova York, em artigo na Bloomberg (21/04/2025), o banco central tem quatro razões sólidas para manter a cautela. Primeiro, o cenário econômico é nebuloso: as tarifas agressivas impostas por Trump, sem precedentes em escala, elevam preços e freiam o crescimento, afastando o Fed de seus objetivos de pleno emprego e inflação estável. Segundo o potencial de crescimento dos EUA despencou, com tarifas minando a produtividade e a oferta de mão de obra, agravada por deportações em massa. Terceiro, a inflação, que deve superar os 2% do Fed pelo quinto ano consecutivo, exige rigor para evitar expectativas inflacionárias desancoradas. Por fim, as ameaças de Trump à independência do Fed só aumentam a incerteza, tornando qualquer corte de juros um risco político.

A pressão sobre Powell não é apenas ineficaz; é contraproducente. Como alertou Dudley, se o Fed cedesse, a confiança na sua autonomia desmoronaria, elevando expectativas de inflação e desestabilizando os mercados. A independência do banco central é um pilar da economia americana, e Trump parece disposto a sacrificá-la em nome de ganhos políticos de curto prazo. O resultado? Uma fuga de investidores, com o dólar despencando ao menor nível desde 2023, conforme reportado pela Bloomberg (21/04/2025).




Tarifas e Isolacionismo: O Cálculo Errado

As tarifas de Trump, vendidas como proteção à economia americana, são um fiasco em formação. Dudley destaca que o aumento abrupto nos preços de importações força reorganizações custosas nas cadeias de suprimento, enquanto a produção se desloca para mercados menos eficientes. O crescimento de curto prazo, como o salto de 5,3% nas vendas de veículos em março, é ilusório – um frenesi de compras antecipadas antes que os preços disparem. No longo prazo, a combinação de tarifas retaliatórias de países como a China e a queda na imigração, com deportações massivas, asfixia a produtividade e a oferta de trabalho em setores como construção e agricultura.

O mercado já sente o golpe. A Bloomberg relata que o dólar, os futuros de ações americanas e os Treasuries estão em queda, enquanto os rendimentos dos títulos de 30 anos disparam. A curva de rendimentos dos Treasuries, que se acentuou por nove semanas consecutivas, reflete a crescente desconfiança dos investidores na economia americana como porto seguro. Estratégicos de Wall Street, como os da Citigroup e Bank of America, revisaram para baixo suas projeções para ações americanas, citando o impacto devastador da guerra comercial de Trump.




Um Presidente Contra Si Mesmo

A ironia é que Trump, ao colecionar inimigos – do Fed a parceiros comerciais –, sabota sua própria agenda. Sua retórica beligerante pode agradar a uma base fiel, mas aliena investidores, aliados e até mesmo os mercados que ele diz proteger. Como observou Helen Given, da Monex, as ameaças contra Powell, mesmo que não se concretizem, abalam a confiança na independência do Fed e no dólar como moeda de refúgio. O resultado é um êxodo de capitais, com fundos de hedge vendendo o dólar em massa, segundo a Bloomberg.

Uma pesquisa realizada na Europa, parceira dos EUA desde a Segunda Guerra Mundial, aponta que a aprovação de Trump está em mínimas históricas. Sua postura em relação à guerra na Ucrânia irrita ainda mais o continente, ao se posicionar indiretamente ao lado do líder russo, Vladimir Putin. Como invasor, Putin recebe um aparente apoio americano para anexar parte do território ocupado, com Trump forçando um cessar-fogo imediato.




Trump calcula mal seu cacife. Ele acredita que sua popularidade o imuniza contra as consequências de suas ações, mas a história mostra que líderes que semeiam discórdia raramente prosperam. A economia global é um tabuleiro complexo, e Trump joga como um amador, movendo peças sem estratégia. Se persistir, o risco não é apenas uma recessão, mas uma crise de confiança que pode levar anos para ser revertida.

Conclusão: O Preço da Arrogância

O ataque de Trump ao Fed e sua obsessão por tarifas são mais do que erros de julgamento; são sintomas de uma liderança que confunde teimosia com visão. Como alertou Dudley, o Fed provavelmente manterá a paciência, aguardando clareza em meio ao caos. Se o desemprego disparar acima de 4,5%, acionando a Regra de Sahm, o Fed pode agir agressivamente – mas até lá, a cautela prevalece. Enquanto isso, os mercados castigam a arrogância de Trump, com o dólar e os ativos americanos em queda livre.

O presidente que prometeu grandeza está entregando instabilidade. Resta saber se aprenderá com seus erros ou se, como uma criança hiperativa, continuará a quebrar o tabuleiro quando não consegue vencer.


Análise Técnica

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Em virtude do feriado, hoje vou analisar o S&P500 deixando o dólar para amanhã. No post “Como definir risco” fiz os seguintes comentários: “Após mais uma semana buscando recuperação, o índice encontra-se próximo de um nível (5.481) que trará mais alento a essa contagem – não confunda alento com garantia. Tracei em vermelho o que poderia ser esse triângulo mencionado, onde a onda (a) vermelha corresponderia à área contemplada pela elipse amarela”




Passados alguns dias, o índice acabou recuando, sem, todavia, eliminar a hipótese mencionada anteriormente. Sem dúvida, as declarações de Trump reforçam o pessimismo que predomina em Wall Street. Contudo, assim como Lula pressionou o ex-presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto, por vários meses, não acredito que Trump tomará medidas contra Powell no momento, pois há questões bem mais urgentes a tratar.

Os indicadores técnicos da bolsa estão extremamente tensionados e, geralmente, tendem a reagir de forma contrária ao esperado. Vamos aguardar! O nível a ser monitorado, no caso de uma queda, é 4.835.




O S&P 500 a 5.117 (*), com queda de 3,12%; o EURUSD a € 1,1514, com alta de 1,07%; e o ouro a U$ 3.420, com alta de 2,80%.

(*) cotações as 16h30

Fique ligado!

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