A Teoria aplicada na prática #S&P500
O experimento econômico de Donald Trump, ancorado nas ideias
de Stephen Miran, está desestabilizando a economia global com uma velocidade
que poucos anteciparam. Como o Mosca destacou, a economia americana estava em
uma posição invejável: pleno emprego, inflação sob controle e PIB projetado
para crescer acima de 2%. Mas, em vez de preservar essa vantagem, Trump optou
por um salto no escuro, implementando tarifas agressivas que prometem
reestruturar o comércio global, mas que, na prática, estão semeando incerteza e
desordem. O plano, detalhado no estudo de Miran, “A User's Guide to
Restructuring the Global Trading System”, é uma aposta arriscada que ignora o
consenso econômico e desafia a lógica de mercados interdependentes. Este texto
mergulha nas consequências imediatas dessas políticas, com base em relatórios
recentes, e projeta os impactos que já começam a se materializar.
Stephen Miran, um economista de 41 anos com formação em
Harvard e passagem pelo Tesouro dos EUA, é a mente por trás do chamado “Acordo
de Mar-a-Lago”. Sua tese central, que o dólar sobrevalorizado e déficits
comerciais prejudicam a indústria americana, levou à imposição de tarifas de
25% sobre importações de países como Canadá e México, e até 145% sobre produtos
chineses. Miran sugeriu uma abordagem gradual, com aumentos de 2% ao mês, mas
Trump, fiel à sua impulsividade, optou por medidas drásticas e imediatas. O
resultado? Um mercado em pânico, empresas suspendendo projeções e consumidores
enfrentando a perspectiva de prateleiras vazias. O Mosca capturou essa tensão
com precisão: “Nem as tarifas anunciadas são confiáveis, pois Trump alivia
setores de forma arbitrária, gerando um grau de dúvida que paralisa
executivos.”
A indústria automotiva, um dos pilares da economia
americana, está entre as mais afetadas. A General Motors (GM), conforme
reportado pela Bloomberg, suspendeu suas projeções de lucro para 2025 e
congelou US$ 4 bilhões em recompra de ações, citando a incerteza tarifária.
Metade de suas vendas nos EUA depende de importações de Canadá, México e Coreia
do Sul, e suas fábricas de picapes no México e Canadá enfrentam custos
adicionais que podem inviabilizar modelos populares como o Chevrolet Trax e o
Equinox. A GM adiou uma teleconferência com analistas para 1º de maio,
esperando mais clareza do governo Trump, que já sinalizou alívio parcial para
tarifas automotivas após pressão de montadoras. Como disse Chris McNally,
analista da Evercore ISI, “a administração está recuando antes mesmo de as
tarifas começarem”.
Na Europa, a situação não é menos dramática. Porsche e
Volvo, ícones da indústria automotiva, estão sendo esmagadas pelo que a
Bloomberg chama de “desglobalização”. A Porsche cortou sua projeção de margem
de lucro para 6,5% em 2025, um nível humilhante para uma marca que almeja
competir com a Ferrari. Suas vendas na China, onde comercializou apenas 10 mil
carros no primeiro trimestre, despencaram dois terços em dois anos, enquanto as
tarifas americanas ameaçam seus modelos fabricados na Europa, como o Cayenne. A
Volvo, por sua vez, retirou suas projeções financeiras para 2025 e 2026 e
anunciou cortes de custos de US$ 1,9 bilhão, enquanto tenta adaptar sua
produção a um “mundo regionalizado”. Sua fábrica nos EUA, subutilizada, produz
apenas o SUV elétrico EX90, e a empresa, controlada pela chinesa Geely,
enfrenta incertezas regulatórias sobre cibersegurança em Washington.
O varejo também sente o impacto. Como o Mosca observa,
“medidas conservadoras já pipocam no noticiário”, e a Bloomberg confirma:
Walmart e Target alertaram que as tarifas de 145% sobre produtos chineses podem
levar a prateleiras vazias já na temporada de compras de volta às aulas e
feriados de 2025. Cerca de 80% dos brinquedos vendidos nos EUA vêm da China, e
a Toy Association relata que empresas de médio porte estão cancelando pedidos,
o que significa menos opções para o Natal. Roupas, decorações sazonais e até
alimentos como alho seco enfrentarão escassez ou preços mais altos. O cenário
lembra 2021, quando cadeias de suprimento colapsaram na pandemia, mas agora a
crise é autoimposta. Varejistas estão revisitando estratégias da era Covid,
como reduzir sortimento de produtos e resgatar estoques antigos, mas a
perspectiva de um “tsunami de produtos atrasados” em 2026, como ocorreu em
2022, paira como uma ameaça.
A audácia de Trump, porém, não é apenas econômica; é
tecnológica. A Bloomberg destaca que a China está liderando inovações em
veículos elétricos (EVs) e sistemas de assistência ao motorista (ADAS), com
empresas como BYD e CATL desenvolvendo baterias que recarregam em minutos e EVs
acessíveis como o Seagull, vendido por menos de US$ 10 mil. Enquanto isso, os
EUA, berço da indústria automotiva, veem suas montadoras dependentes de SUVs e
picapes de combustão, com pouca relevância global. A GM abandonou seu projeto
de robotáxis, Cruise, e a Tesla, apesar de sua aura inovadora, perde terreno na
China para concorrentes locais. As tarifas de Trump, longe de fortalecer
Detroit, podem isolar os EUA em um mercado de “brinquedos caros e obsoletos”,
como descreve Liam Denning.
O mercado financeiro, por enquanto, mantém um otimismo
cauteloso. O S&P 500, segundo Jonathan Levin, ainda negocia a 20 vezes os
lucros projetados, acima da média de 10 anos, sugerindo que os investidores não
acreditam em uma recessão iminente. Mas a queda de 60% nos embarques de carga
da China para os EUA indica que a escassez pode chegar em maio, e cortes de
empregos, adiados até o fim do período de carência tarifária de 90 dias, são
uma possibilidade real. O Mosca é incisivo: “Trump pode se preparar para uma
pressão enorme de toda a sociedade americana e líderes globais.” Essa pressão
já se manifesta em sua popularidade em queda e em recuos pontuais, como a
promessa de aliviar tarifas automotivas.
Miran, o arquiteto intelectual, enfrenta um teste de fogo.
Sua teoria, rejeitada pela maioria dos economistas, está sendo aplicada de
forma abrupta, contra sua própria recomendação de gradualismo. O Mosca
questiona: “Economia não é uma ciência exata, mas será que a prática está tão
distante da teoria?” A resposta, por ora, é um mercado em suspense, empresas em
retração e consumidores à beira de um choque de preços. A desglobalização,
impulsionada por tarifas, não é apenas uma política; é um experimento que ameaça
redefinir a economia global — para melhor ou, mais provavelmente, para pior.
No post “trump-é-um-estrategista-ou-incompetente” Fiz os
seguintes comentários sobre o S&P500: “Os indicadores técnicos da bolsa
estão extremamente tensionados e, geralmente, tendem a reagir de forma
contrária ao esperado. Vamos aguardar! O nível a ser monitorado, no caso de uma
queda, é 4.835”.
A bolsa americana recuperou grande parte da recente queda e
encontra-se em um ponto crítico para sabermos quais serão os próximos passos.
Não posso descartar a possibilidade de novas quedas mencionadas anteriormente.
Em situações como essa, assim como em aeronaves, quando a visibilidade é ruim,
voa-se por instrumentos. Aqui, os instrumentos são os níveis técnicos. No curto
prazo, o nível de 5.101 merece atenção, pois sua ruptura aumenta as chances de
novas quedas. Por outro lado, ultrapassar 5.581 ou 5.804 pode indicar um
cenário mais promissor. Por enquanto, nada a fazer.
O S&P500 fechou a 5.560, com alta de 0,58%: o USDBRL a
R$ 5,6295, com queda de 0,43%; o EURUSD a € 1,1388, com queda de 0,29%; e o
ouro a U$ 3.320, com queda de 0,62%.
Fique ligado!
Trump vai voltar atrás, pois no final das contas, todo mundo sabe que ele é um mentiroso.
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