MAS: Make America Small
Donald Trump, com sua habitual fanfarra de reality show,
subiu ao palco do Rose Garden para anunciar o que chamou de "Liberation
Day" – um pacote de tarifas que, em teoria, deveria resgatar a glória
industrial dos Estados Unidos. O que vimos, no entanto, foi um espetáculo de
ironia grotesca: a cada elogio a um líder estrangeiro – "He's a great
guy" – seguia-se uma acusação de que o país desse mesmo líder "ferrou
os EUA", com um inevitável dedo apontado para Joe Biden. Os aplausos dos
bajuladores presentes ecoavam como um coro ensaiado, mas o mercado financeiro,
esse juiz implacável, respondeu com um silêncio ensurdecedor – seguido por uma
queda abrupta. O que Trump plantou não foi o renascimento do "Make America
Great Again" (MAGA), mas sim um novo acrônimo: MAS – “Make America Small”.
E o mundo assistiu, entre perplexo e preocupado, ao início de um experimento
que pode encolher a influência americana como nunca antes.
A estratégia é clara: erguer muralhas tarifárias para forçar
a produção de volta ao solo americano. Um tarifaço de 10% sobre todas as
importações (exceto Canadá e México) entra em vigor em 5 de abril, seguido,
quatro dias depois, por tarifas "recíprocas" que variam de 20% na
União Europeia a 46% no Vietnã, com a China levando uma pancada de 34% – isso
além dos 20% já impostos desde fevereiro. Segundo a Goldman Sachs, o aumento
médio ponderado da tarifa efetiva será de 18,8 pontos percentuais, elevando a
taxa média para algo entre 22% e 30%, a maior desde 1910, quando os EUA
cobravam 23% em média. John Authers, em sua coluna na Bloomberg, compara o
impacto ao famigerado Smoot-Hawley de 1933, que aprofundou a Grande Depressão.
A história, ao que parece, sussurra advertências que Trump prefere ignorar.
O argumento oficial é sedutor: tarifas bilionárias –
estimadas entre US$ 300 bilhões e US$ 600 bilhões anuais, segundo Ed Yardeni –
reduzirão o déficit orçamentário federal e trarão "jobs and factories
roaring back", como Trump bradou. Mas a realidade é menos poética. Esses
US$ 600 bilhões, equivalentes a 2,2% do PIB, como calcula Dan Clifton da
Strategas, são duas vezes o maior aumento de impostos da história moderna
americana. E para quê? Para financiar um déficit que ainda ficará aquém dos US$
1 trilhão em pagamentos de juros líquidos do governo este ano. É como tapar um
buraco no casco de um navio com papel alumínio – vistoso, mas inútil.
O mercado não comprou a bravata. Após o anúncio, os futuros
de ações americanas despencaram mais de 4%, o dólar teve seu pior dia em dois
anos, e os títulos de renda fixa tornaram-se o único refúgio em meio ao caos. A
Bloomberg reporta que o S&P 500, já em queda de 3,6% no ano, e o Nasdaq,
com perdas de 7%, sentiram o golpe mais forte, enquanto a Europa (Stoxx 600
-1,9%) e a Ásia (-1,7%) sofreram menos. O ouro, esse termômetro da incerteza,
disparou para US$ 3.192 por onça, com Yardeni prevendo US$ 4.000 até o fim do
ano. O recado é claro: o mundo está se protegendo do furacão Trump, e os EUA,
ironicamente, emergem como os maiores perdedores.
A lógica econômica por trás disso é um delírio nostálgico.
Por mais de um século, as tarifas americanas caíram de 23% em 1910 para menos
de 2% nas últimas décadas, permitindo uma alocação eficiente de recursos
globais. Países com mão de obra barata dominaram a indústria, enquanto os EUA,
com sua inovação e espírito empreendedor, reinaram nos serviços. Era o
princípio de "cada macaco no seu galho", como bem diz o ditado, e o
mundo prosperou. Trump, porém, quer desfazer essa dança harmoniosa, forçando
uma verticalização da economia americana, como observa Jean Ergas da Tigress
Capital. O resultado? Um isolacionismo que não apenas encarece bens para o
consumidor americano, mas também ameaça empregos – exatamente o oposto do
prometido. Quando o eleitor de Trump, aquele operário do Meio-Oeste, perder seu
emprego numa recessão induzida por tarifas, o que dirá o presidente? Culpará
Biden novamente?
A reação global não será de submissão. O Wall Street Journal
destaca que empresas como Apple, Hyundai e Siemens já planejam investimentos
nos EUA, mas o custo de desmantelar cadeias de suprimentos globais é
astronômico. Dan Digre, da Misco Speakers, resume o dilema: "Você não pode
simplesmente ligar um interruptor e transformar a América numa nação industrial
de novo." Componentes básicos – parafusos, bobinas, cones – vêm de fora, e
as tarifas só encarecem o processo. Enquanto isso, Fitch Ratings alerta que
"muitos países podem entrar em recessão" se as tarifas persistirem, e
Tina Fordham, da Fordham Global Foresight, prevê uma aliança anti-EUA entre
rivais improváveis como China, Japão e Coreia do Sul. O tiro de Trump pode sair
pela culatra, isolando os EUA enquanto o resto do mundo encontra novos
parceiros.
O impacto desigual – China (47,5 pp) e Vietnã (46,7 pp) sofrem mais, enquanto Canadá (5,5 pp) e México (7,3 pp) escapam relativamente ilesos.
O MAS de Trump não é apenas uma política econômica
equivocada; é uma declaração de pequenez. Ao erguer barreiras, ele encolhe a
influência americana, trocando a liderança global por um protecionismo
mesquinho. O mundo que ele sonha – de fábricas fumegantes e empregos abundantes
– é uma miragem do passado, incompatível com a realidade interconectada de
hoje. Como disse T.S. Eliot em Four Quartets, citado por Authers, "o que
poderia ter sido e o que foi apontam para um único fim, que está sempre presente".
Trump escolheu o caminho da nostalgia, mas o futuro que ele entrega é de
estagnação. Enquanto os aplausos ecoam no Rose Garden, o mercado e o mundo já
decretaram: a América de Trump não será grande – será pequena, insular.
Por mais que eu ache – e não apenas acredite – que os EUA
estão dando um tiro colossal no próprio pé com esse tarifaço de Trump, é cedo
demais para cravar conclusões definitivas. Os países afetados, especialmente a
China, ainda não abriram a boca, e o silêncio sugere que estão esperando a
segunda lei de Newton entrar em cena: a cada ação, uma reação em sentido
contrário. Faz sentido que as bolsas estejam caindo – o pânico é um reflexo
natural –, mas o fato de a americana despencar mais que as outras levanta uma
sobrancelha. Já o mercado de câmbio jogou uma curva inesperada: numa situação
dessas, o dólar deveria se fortalecer como porto seguro, mas está caindo. A
leitura mais lógica? O mercado aposta que o PIB dos EUA vai levar um tombo. O
Mosca, porém, provoca: essa lógica não se aplica também aos outros países –
talvez até com mais força?
Diante de tanta incerteza, só nos resta ouvir o mercado. Na
última terça-feira, liquidei a posição em ouro. O movimento desde então não
descarta novas altas – ainda não vejo cinco ondas claras de baixa –, mas o
gráfico já me deu o sinal para sair. O próximo nível, caso a escalada continue,
seria US$ 3.238.
No caso do euro, retomo o que disse no post “não-invente-em-seu-portfolio”: “O
máximo que consigo dizer nesse momento é que, ultrapassando a barreira ao redor
de € 1,10, eleva consideravelmente o cenário de alta que tracei no post
‘mawoga-que-raios-e-isso’... a área em amarelo de Pântano, onde o euro tentava romper, mas não
conseguia. Nessa opção, a moeda única iria à casa de € 1,20 e só depois haveria
a queda esperada abaixo de € 1,00. Notem que frisei a reta de longo prazo como
também uma barreira a ser vencida.”
E agora, já dá para apostar na alta do euro? Confesso que há
pistas tentadoras: a onda (2) vermelha está excessivamente esticada, e
no retângulo do gráfico vejo cinco ondas nítidas. Ainda assim, mesmo que o
cenário de alta se confirme, não entraria nesses preços – esperaria uma
retração.
Mas como decidir num impasse desses? Se for alta, a correção
deve vir num formato como destacado no retângulo, caindo até € 1,075 / € 1,063.
Se for baixa, a queda será mais abrupta, seguindo a inclinação da reta rumo à onda
(3) vermelha. Sem respostas claras, só resta uma coisa: "Let the Market
Speak"!
O S&P 500 fechou a 5.396, com queda expressiva de 4,84%;
o USDBRL a R$ 5,6300, com queda de 0,53%; o EURUSD a € 1,0250, com alta de
1,57%; e o ouro a U$ 3.108, com queda de 0,80%.
Fique ligado!
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