Dia N de Nvidia #IBOVESPA
Hoje é o dia em que a Nvidia abre seus números — e, sinceramente, é
impressionante como um único balanço conseguiu capturar o humor global dos
mercados. Não é exagero dizer que há uma tensão quase psicológica em torno
desse evento. O curioso é que o resultado em si provavelmente já é conhecido:
vendas fortes, lucros acima das projeções, margens robustas. O que realmente
importa é o tom.
As expressões de Jensen Huang, a forma como responde às perguntas, as
pausas no call… Em dias como este, talvez fosse mais útil analisar linguagem
corporal do que planilhas. O mercado não está buscando informação — está
buscando segurança emocional.
E isso só acontece porque a inteligência artificial entrou num
território turvo, onde convicções viraram palpites e projeções viraram apostas.
Todos os debates que rondam a IA esbarram na mesma fronteira nebulosa: os
investimentos gigantescos feitos pelos hyperscalers vão gerar retorno? A IA vai
destruir empregos numa escala relevante? Por enquanto, ninguém tem respostas —
apenas pressentimentos.
Minha saudosa analista com quem trabalhei costumava dizer: “observe a
realidade e só então saberá se era sonho ou intuição”. Hoje, essa frase me
parece perfeita. Ainda estamos observando.
Quando o mercado depende de um símbolo
O mercado elevou a Nvidia à posição de farol em mar revolto. Em ciclos
normais, o resultado de uma empresa — por mais importante que fosse — não teria
o poder de balançar índices globais. Mas o ciclo atual não é normal.
Vivemos uma economia em formato de K: no topo, as empresas com escala,
caixa e acesso à IA aceleram; na base, companhias comuns lutam por margem,
crédito e relevância. As gigantes constroem data centers, compram chips e
treinam modelos que exigem energia de país pequeno; o resto abre planilha para
cortar custos.
É por isso que qualquer sinal da Nvidia é interpretado como diagnóstico sobre todo o futuro da tecnologia. Um trimestre exuberante acalma as bolsas. Um trimestre apenas bom desencadeia liquidações. A sensibilidade está à flor da pele — parte pelos fundamentos, parte pelo medo.
A Carteirinha no centro da discussão
A divergência entre as empresas ligadas à IA e o restante do mercado
atingiu níveis que não se via há décadas. Quem ficou de fora não acompanhou a
alta americana; acompanhou um mercado morno, quase burocrático. Daí surge a
necessidade psicológica de rotular tudo como bolha.
É nesse ambiente que Michael Burry ganhou presença constante na mídia.
Ele critica valuations, aponta riscos, alerta sobre excessos — mas há um ponto
incômodo que a Bloomberg destacou: apesar do brilhantismo de 2008, Burry vem
colecionando insucessos recentes. Ou seja, ele virou, em parte, o porta-voz
emocional dos que observam a alta de fora e precisam acreditar que ela vai
acabar mal.
Os números, porém, são teimosos. A concentração das gigantes de tecnologia não é um acidente. É consequência de um ecossistema que só os Estados Unidos conseguiram construir. Chips, energia, capital, software, universidades, mão de obra: tudo converge para o mesmo centro gravitacional.
O clima de ansiedade global
O Wall Street Journal comenta em um artigo que a IA está gerando uma
transformação tão rápida que muita gente não consegue acompanhar
emocionalmente. É um movimento que cria riqueza, mas também inquietação. A
sensação dominante é ambígua: entusiasmo pela inovação e medo pela velocidade.
O texto sobre o uso crescente de IA em demissões reforça esse ponto. Trabalhadores temem substituição, empresas testam limites de eficiência, e governos já se perguntam como lidar com transições aceleradas. Bill Dudley, ex-presidente do Fed de Nova York, é direto: para ele, a IA pode piorar a economia antes de melhorá-la.
E, enquanto isso, os hyperscalers elevaram sua alavancagem para
sustentar o maior ciclo de investimento tecnológico da história moderna. Há
estresse no crédito, spreads abrindo, emissões corporativas mais caras — num
ambiente onde o juro alto não dá trégua.
O mercado virou um jogo entre hoje e amanhã
A economia atual está completamente amarrada à dinâmica entre capex
presente e retorno futuro. Empresas investem bilhões antes de saber se a
demanda vai compensar. A assimetria de risco aumentou. A exigência de
confiança, também.
E aqui volto ao ponto que guia este post:
a Nvidia não divulga só um balanço — divulga o humor de todo o sistema.
Se Jensen sinalizar otimismo, o mercado respira.
Se a empresa soar neutra, o varejo entra em pânico.
Se houver cautela, os algoritmos fazem o resto.
O varejo, inclusive, nunca teve tanto poder. Metade das opções que
expiram no mesmo dia está nas mãos de investidores pessoa física — gente que
opera com pressa, ansiedade e desejo. Isso cria gatilhos explosivos. Basta um
sopro de incerteza para transformar ruído em tempestade.
O relatório do Deutsche Bank acrescenta um ponto interessante ao
pano de fundo de hoje: apesar da aura quase mística que o mercado atribui ao
“dia do resultado”, a verdade estatística é outra. Nos onze trimestres desde o
lançamento do ChatGPT, a Nvidia subiu mais de dez vezes — mas não foi no dia
do earnings que essas altas aconteceram.
Segundo o banco, a ação costuma performar de forma modesta no dia
seguinte, pouco melhor na semana seguinte, e só engrena de fato entre os
trimestres, no chamado “meio do ciclo”, quando o mercado digere os números,
ajusta expectativas e volta à tese estrutural.
É como se o mercado ficasse hipnotizado pelo ritual do earnings, mas a
força real do movimento estivesse no intervalo — justamente onde a construção
dos data centers, a corrida por chips e o capex de IA acontecem longe dos
holofotes.
Essa dinâmica reforça o ponto central de hoje:
o que importa não é o resultado em si, mas o que o mercado faz com ele
depois.
Conclusão
Hoje não é só o “dia N de Nvidia”.
É o teste de estresse de um mercado emocionalmente alavancado.
Os sem Carteirinha continuarão torcendo pela queda.
Os com Carteirinha continuarão entregando.
E, por enquanto, a realidade é simples:
tudo converge para o que a Nvidia disser hoje.
Análise Técnica
No post “bolsa-sob-judice”, apresentei uma leitura do IBOVESPA com janelas de prazo mais longas, que merecem ser revisitadas pelos leitores de tempos em tempos — e vou procurar lembrá-los disso. No curto prazo, fiz os seguintes comentários: “antevejo o IBOVESPA subindo até 164 – 167 mil no curto prazo. Porém, continuo a ver o movimento dentro de uma macro correção, e não como um novo ciclo direcional de longo prazo”.
Tudo indica que a onda 3 azul ainda não terminou. O movimento de curto prazo, destacado na elipse, sugere apenas uma correção antes de continuar subindo até os níveis mencionados acima.
— David, fiz uma continha aqui e cheguei numa alta mínima de aproximadamente 6%. Por que você não dá um call de compra?
Fique à vontade para fazer suas apostas — e até acho que essa não é
ruim. O único problema é decidir onde colocar o stop loss: 151 mil? Ainda
assim, o risco-retorno é razoável, embora esse stop não seja o “correto”, e sim
o conservador. Mas o principal motivo é que, como já comentei inúmeras vezes,
não me sinto confortável com o software disponível para esse mercado. Não vou
fazer! Para mim, teria que ser, como se diz na gíria, uma ‘galinha morta’ — e,
mesmo assim, não sei!
O S&P 500 fechou a 6.642, com alta de 0,38%; o USDBRL a R$ 5,3312 com alta de 0,17%; o EURUSD a € 1,1525, com queda de 0,47%; e o ouro a U$
4.074, com alta de 0,17%.
Fique ligado!
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