Momentos de tensão #SP500

 


Resumo:

Na efervescência dos eventos que moldam nosso cotidiano e o mercado, certos momentos se destacam pela tensão que carregam, aguçando nossa expectativa frente ao desconhecido. Tal é o caso da aguardada divulgação do índice de inflação pelo Federal Reserve, um divisor de águas para as futuras decisões de política monetária. Em meio à narrativa de uma economia que desafia as previsões com empregos em alta e a possibilidade de uma inflação rebelde, navegamos por um mar de incertezas. Os dados apresentados, como o surpreendente crescimento dos empregos não agrícolas e os PMIs vibrantes, são faróis que iluminam a complexidade desse cenário, realçando a intricada dança entre crescimento econômico e estabilidade monetária.

Ao mesmo tempo, espreitam os fantasmas da inflação, alimentados por um renascimento da riqueza das famílias e a volatilidade dos preços do petróleo, ameaçando a estabilidade que tanto perseguimos. As nuances dessa dinâmica são ampliadas pelo efeito potencialmente inflacionário do esvaziamento da facilidade de recompra reversa (RRP) do Fed, jogando ainda mais variáveis no cálculo de nosso futuro econômico. Essa tapeçaria de dados e eventos nos convida a uma reflexão mais profunda sobre os mecanismos que regem nossa realidade financeira, instigando-nos a decifrar os sinais que prenunciam as mudanças vindouras.

Análise Técnica: Entre linhas pontilhadas e expectativas, o SP500 navega, prometendo altas que desafiam a gravidade. A meta de 5.330 / 5.342 permanece no horizonte, um farol para os navegantes da bolsa.

Na vida, existem momentos em que a espera de algum evento gera expectativa. São inúmeras essas situações, porém existem outras em que, mesmo existindo chance, você sabe que a estatística ou realidade é contra o que deseja. Por exemplo, na final do Campeonato Paulista no último domingo, mesmo eu sendo santista, não esperava uma vitória do Santos. Como havia mencionado ao meu personal, que é palmeirense roxo, só ganharíamos por milagre.

Para o Federal Reserve, amanhã é um desses dias. A publicação do índice de inflação para o mês de março é um ponto de inflexão nas expectativas de redução de juros para o mês de junho – expectativa que o mercado já não tem com tanta convicção. Um relatório elaborado por Will Denver, da Gavekal, do qual faço um resumo a seguir, destaca os motivos dessa ansiedade.

 


Em um cenário econômico marcado por relatórios empolgantes de emprego e pela antecipação da divulgação do Índice de Preços ao Consumidor (CPI), o Federal Reserve (Fed) enfrenta um desafio comparável ao "problema dos três corpos" da física. Este problema ilustra a dificuldade de prever o movimento de corpos celestes devido à complexidade de suas interações. Da mesma forma, o Fed tem a tarefa de equilibrar seus três mandatos: emprego máximo, estabilidade de preços e taxas de juros de longo prazo moderadas.

Recentemente, o Fed tem priorizado o controle da inflação, deixando a meta de taxas de juros de longo prazo em segundo plano. A meta explícita de 2% para a inflação sobrepõe a meta de emprego, que permanece mais ambígua. Março viu os empregos não agrícolas dos EUA crescerem em 303.000, o quarto mês consecutivo de crescimento acima de 250.000. Isso confirma outros dados que mostram uma reaceleração e ampliação do crescimento dos EUA. Notavelmente, todos os quatro PMIs dos EUA (manufatura e serviços, de ambos ISM e S&P) estão agora em território expansionista, acima de 50 - a primeira vez que isso acontece desde junho de 2022.

 

Vários fatores ameaçam a trajetória desinflacionária esperada:

O primeiro é o recente rebote na riqueza das famílias, em grande parte devido aos mercados de ações em alta e aos ganhos nos preços de imóveis existentes. À medida que o patrimônio líquido das famílias aumenta em relação à sua taxa atual de consumo nominal, o efeito riqueza pode inspirar as pessoas a "viver um pouco mais". Se a oferta não acompanhar o aumento resultante na demanda, a inflação ao consumidor pode acelerar.




O segundo risco é um pico nos preços do petróleo. Isso poderia elevar os preços da gasolina e as tarifas aéreas, com efeitos em cascata por toda a economia. Como os preços do petróleo tendem a antecipar o CPI em alguns meses, isso também poderia impulsionar as expectativas de inflação precificadas no mercado de títulos do Tesouro dos EUA, que o Fed observa de perto e visa manter "bem ancoradas".

Um terceiro risco é o efeito potencialmente inflacionário do esvaziamento da facilidade de recompra reversa (RRP) do Fed. Isso aumenta a velocidade do dinheiro, o que parece estar compensando a contração da oferta monetária devido ao aperto quantitativo. No ritmo atual, a drenagem do RRP continuará até cerca de agosto. Até então, isso poderia impulsionar temporariamente a inflação, seja ao deslocar dinheiro para onde é mais provável que seja gasto em bens de consumo, ou por meio de seu impacto positivo nos preços dos ativos.

Comentário meu: Para que o leitor entenda o que está ocorrendo na liquidez do mercado americano e o que é o RRP, o gráfico abaixo explica: o destacado em vermelho corresponde ao enxugamento que o Fed anunciou estar fazendo através do resgate de títulos de sua carteira. A parte superior, em verde, corresponde ao saque que os bancos estão efetuando relativo aos depósitos que fizeram no passado, durante a pandemia e depois. Liquidamente, a liquidez, por enquanto, não está sendo drenada; pelo contrário, ainda existe uma injeção líquida.



Em resumo, a divulgação do relatório CPI de março nesta quarta-feira pode ser altamente significativa para a trajetória da política do Fed e para os mercados. Um terceiro resultado adverso do CPI poderia pesar nas ações dos EUA em geral, e especialmente nas partes mais especulativas do mercado. Por outro lado, um resultado benigno do CPI sugeriria que o cenário de boom desinflacionário está intacto e que cortes nas taxas ainda estão na mesa – um cenário que os mercados de ações saudariam com vigor.

O Fed não se encontra na mesma situação que a minha, explicitada acima. Se a inflação publicada amanhã for boa, beleza, o mercado vai apostar na queda de juros em junho; se não for, "I’m sorry", fica mais para frente.

Distorções

Dando continuidade à seção de distorções, que me propus no post de ontem a publicar esporadicamente, hoje apresento a correlação entre o dado oficial e a projeção do número de empregos que a Bloomberg coleta todos os meses. Até antes da pandemia, essa correlação era 0,80, o que é bastante expressivo em termos estatísticos. Depois da pandemia, esse mesmo indicador passou para 0,33 — pode-se dizer que quase não existe correlação. Conclusão: o número publicado será, daqui em diante, sempre uma surpresa.



No post influenceres-profissão-da-moda, fiz os seguintes comentários sobre o SP500: "... pode significar a onda IV verde que substitui a opção que adotei acima. Essa mudança tem mais impacto no desenrolar de janelas menores de uma hora do que no gráfico diário. Resumindo, ainda trabalho com uma alta final ao redor de 5.330 / 5.342, que só será alterada caso houver quedas muito superiores a 5.100 no movimento atual."



Embora na semana passada a bolsa tenha ameaçado uma correção maior das que vêm acontecendo, em seguida iniciou um processo de recuperação, se aproximando das máximas históricas. Com isso em vista, o objetivo traçado entre 5.320 / 5.330 parece mais factível. Não se pode esquecer que, se alcançado, representa um potencial de 2% de alta. Notem como as cotações se encontram contidas entre as linhas pontilhadas.



Um dado técnico interessante publicado pelo Financial Times dá conta de que o volume de ações líquido – [novas emissões – recompras pelas empresas] é negativo neste ano. Eu comentei algumas vezes a mania que se implantou nas empresas de recomprar suas próprias ações, cujo objetivo é aumentar o lucro por ação. Embora a maioria dos comentários seja no sentido de enfatizar que o motivo por trás dessa ação seriam os bônus dos executivos, é importante ressaltar que, para fazer esse movimento, é preciso ter caixa que pode estar ocioso, ou a empresa deve se endividar. Se foi através dessa última forma, ficarão agora menos atrativos com os juros atuais. Por outro lado, pela emissão, vivemos num mundo cuja necessidade de capital tem sido muito menor que no passado; se vai continuar assim, não sabemos, nessa nova era de IA.



O SP500 fechou a 5.209, com alta de 0,15%%; o USDBRL a R$ 5,0065, com queda de 0,40%; o EURUSD a 1,0855, sem variação; e o ouro a U$ 2.350, com alta de 0,52%.

Fique ligado!

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