Navegando para trás #USDBRL

 


Certa vez resolvi me aventurar no iatismo com vela. Quando somos jovens, acreditamos que podemos fazer qualquer coisa, mesmo sem experiência. Fui passar um final de semana na casa de um amigo. Nesse local havia um lago onde ele costumava velejar em um barco pequeno. Pedi algumas explicações sobre como funcionava e ele me esclareceu que, quando o vento estava a favor e você estava velejando nesse sentido, era só deixar o vento te levar, mas, quando o vento estava contra, teria que velejar em zig-zag. Beleza, deixa comigo.

Na ida foi um sucesso, percorri as águas de forma contínua e me afastei do local de partida. Pensei comigo mesmo: muito fácil isso aqui! Quando resolvi voltar, começou a complicar, mas lembrei das suas palavras: bastava navegar em zig-zag. Pois bem, fiquei em zig-zag sem avançar um centímetro — se não estava indo para trás. Em certo momento, fiquei de saco cheio, peguei a corda do barco e comecei a puxar na mão. Por sorte, não estava muito fundo e consegui chegar exausto. Desisti do esporte! Hahaha...

Venho enfatizando a delicada situação em que se encontra a economia chinesa. Seu modelo exportador está sofrendo restrições por parte dos países ocidentais, que estão cada vez mais colocando empecilhos para seus produtos. Como estratégia, voltou-se para os mercados emergentes, juntamente com incentivos para aumentar a demanda interna. Essa decisão encontra dois obstáculos: o volume das exportações não compensa integralmente a perda, o que tende a piorar com o aumento das alíquotas aos carros elétricos impostos pelos EUA e União Europeia, e a demanda interna, ao invés de subir, está caindo.

Os dados mais recentes apontam um aprofundamento da sua crise imobiliária e sua consequente queda no consumo interno relatada pela Bloomberg News.

A queda no mercado imobiliário da China se aprofundou em maio, provocando novos apelos para que o governo injete mais dinheiro e crédito na economia, enquanto a produção industrial — que tem sustentado o crescimento — ficou aquém das previsões.

Entre uma série de dados divulgados na segunda-feira, analistas se concentraram nas más notícias do mercado imobiliário, que tem sido o maior obstáculo ao crescimento econômico da China. As quedas nos investimentos imobiliários e nos preços das casas aceleraram no mês passado.

A produção industrial cresceu 5,6% em relação ao ano anterior, segundo o Escritório Nacional de Estatísticas, desacelerando em relação a abril e ficando abaixo da previsão mediana de uma pesquisa da Bloomberg. As vendas no varejo ofereceram algum alento, superando as expectativas, mas os consumidores chineses ainda estão longe de recuperar seu entusiasmo pré-pandemia.

 



Os números indicam uma recuperação ainda fraca, segundo a maioria dos economistas, o que provavelmente exigirá mais ação de Pequim para fortalecer a demanda dos consumidores e lidar com desequilíbrios, se a meta de crescimento de 5% deste ano quiser ser alcançada. Isso poderia se materializar em forma de aumento dos gastos do governo e esforços intensificados pelo banco central para estabilizar os mercados imobiliários e fazer o crédito fluir.

'O mais decepcionante nos dados de maio provavelmente é que as vendas de imóveis quase não mostraram melhorias, mesmo após tantas medidas de apoio', disse Jacqueline Rong, economista-chefe para a China no BNP Paribas SA. Ela afirmou que as autoridades chinesas precisam encontrar maneiras de reduzir as taxas das hipotecas existentes, fechando a diferença com o custo das novas.

O Banco Popular da China manteve uma taxa de juros chave inalterada pelo décimo mês consecutivo na segunda-feira. Economistas dizem que a margem do banco para cortar taxas é limitada pela necessidade de sustentar o yuan, que enfrenta pressão de baixa enquanto o Federal Reserve dos EUA reforça sua mensagem de taxas altas por mais tempo.

O que dizem os economistas da Bloomberg...

'O apoio da política poderia fazer uma diferença significativa. Mas o foco do Banco Popular da China na estabilidade da moeda parece ter atado suas mãos na hora de cortar as taxas de juros — pelo menos até o Federal Reserve agir. Isso significa que o principal apoio terá que vir das políticas recentes para ajudar o mercado imobiliário e dos gastos do governo em grandes investimentos.'

— Chang Shu e David Qu, economistas

As ações chinesas caíram, com o índice CSI 300, referência no mercado local, fechando 0,2% mais baixo. Um índice das ações de incorporadoras chinesas caiu 3,2% às 15:08, horário local.




Crescimento da China permanece 'altamente desigual'

O crescimento da China continua 'altamente desigual, com exportações e investimentos em novas energias como os motores, enquanto o consumo e o setor imobiliário são os freios', de acordo com economistas, incluindo Larry Hu, da Macquarie Capital Ltd. Ainda assim, a desaceleração não é severa o suficiente para ameaçar a meta de crescimento e, embora os formuladores de políticas possam tomar algumas ações limitadas, 'a urgência por um grande estímulo é baixa', escreveram eles.

 

Consumo aumenta

A aceleração das vendas no varejo foi a primeira desde novembro. Aos 3,7%, o ritmo ainda é menos da metade dos cerca de 8% que eram típicos antes da pandemia, embora a vida social e econômica tenha retornado em grande parte ao normal.

E mesmo esses ganhos podem não durar, de acordo com Michelle Lam, economista para a Grande China no Societe Generale SA. 'Ainda não está claro se o melhor momento nas vendas no varejo é sustentável', disse ela.

Como as famílias têm relutado em gastar, a China tem se voltado para o crescimento liderado pelas exportações. Um boom nas fábricas ajudou a compensar a crise imobiliária e manteve o crescimento econômico no caminho certo. Mas essa estratégia enfrenta incertezas crescentes à medida que os principais parceiros erguem novas barreiras comerciais que ameaçam o motor das exportações. Na semana passada, a UE seguiu os EUA ao impor tarifas pesadas aos carros elétricos chineses.

Alguns analistas não estão muito preocupados com os efeitos. As exportações de veículos elétricos da China para a UE representam apenas 0,4% das exportações totais do país, e o preço de venda muito mais alto na Europa em comparação com o mercado doméstico significa que as montadoras serão capazes de absorver os encargos, segundo Rong, do BNP. Ela espera que as tarifas reduzam o crescimento das exportações da China em apenas 0,1 ponto percentual este ano.

Buscando reforçar a demanda interna, a China lançou em abril um programa que oferece incentivos para empresas e famílias atualizarem máquinas antigas. Parte do plano envolve subsídios governamentais para compradores de novos carros.

Os dados de segunda-feira sugerem que o impacto foi limitado. As vendas no varejo de automóveis caíram 4,4% em relação ao ano anterior em maio, uma ligeira melhoria em relação ao mês anterior.

 

Resgate do setor imobiliário

No final do mês passado, a China também divulgou um amplo pacote de resgate para sustentar as vendas de imóveis enquanto uma crise de crédito envolvia alguns dos maiores incorporadores imobiliários do país. Relaxou as regras de hipoteca e incentivou os governos locais a comprarem casas não vendidas. Muitos investidores e analistas advertiram que os incentivos financeiros não são grandes o suficiente e programas piloto em várias cidades mostraram que o progresso pode ser lento.

A demanda doméstica reduzida e o ambiente comercial externo deteriorado estão pesando na confiança empresarial, desencorajando as empresas de investir e levando algumas a mover a produção para o exterior. O crescimento do crédito tem sido fraco e o indicador de oferta monetária M1 contraiu em maio na taxa mais rápida desde que os dados começaram a ser registrados em 1996.

Em uma pesquisa com mais de 400 executivos de alto nível realizada pelo UBS Group AG durante cerca de um mês até meados de maio, as empresas relataram perspectivas mais fracas para pedidos, receita e margens em comparação com o mesmo período de 2023. Houve uma queda na proporção de entrevistados que planejam aumentar os investimentos de capital no segundo semestre deste ano.

'Ainda precisamos ver novos estímulos entrando', disse Helen Qiao, economista-chefe para a Grande China no Bank of America Global Research, em uma entrevista à Bloomberg TV. 'Caso contrário, o ímpeto de crescimento pode enfraquecer muito.'"

Qual o estímulo necessário para que alguém compre uma casa quando os preços estão em queda desde 2021, tanto para residências novas como usadas? Acho que nem de graça! O governo pode oferecer taxa de juros de 0% e não obter sucesso se o comprador tem receio de que os preços continuem caindo. Aliás, neste cenário o juro real não é 0%; é muito maior.



Talvez a China nunca tenha passado por uma crise tão longa como a atual desde que adotou um modelo mais ocidental para sua economia. Houve outras tensões mais pontuais; esta está se mostrando estrutural e, como tal, exige mudanças mais profundas onde estímulos financeiros não resolvem o problema.

De tempos em tempos recebo dos leitores comentários dizendo que o dólar está sendo ameaçado em sua hegemonia, onde o candidato para substituí-lo é o yuan, moeda chinesa. É importante que o leitor distinga entre a retórica e a realidade, pois só a vontade de destronar a moeda americana não é suficiente. Recebi um artigo elaborado por Jared Cohen, presidente do Global Affairs e co-head do Goldman Sachs Global Institute, que traz à tona dados relativos a essa discussão. A seguir se encontra o link caso o leitor tenha algum interesse don't bet against the dollar.

A China não parece estar numa situação muito diferente da minha quando decidi velejar e não conseguia retornar ao ponto inicial. No meu caso, como dava pé, consegui; no caso da China, veremos.

No post democracia-em-baixa fiz os seguintes comentários sobre o dólar: ... "Como venho insistentemente enfatizando, o movimento não vai ser tradicional e sim tortuoso, com difícil posicionamento. O gráfico por si só já dá uma ideia. Para que a opção acima seja viável, é absolutamente necessário que uma queda aconteça de imediato; caso contrário, a nova opção abaixo ganha força, onde o primeiro objetivo se encontra em R$ 5,42 ou superior. No final, R$ 5,71 seria o target dessa sequência de ondas em laranja. Depois deve se suceder uma queda razoável até R$ 5,20!"

 



Longe de ser uma contagem “by the books”, é possível observar a formação de 5 ondas laranja no gráfico abaixo. Basta um fechamento acima de R$ 5,43. Como foi apontado, o objetivo inicial seria entre R$ 5,55 / R$ 5,56; caso ultrapasse, o próximo seria ao redor de R$ 5,70. Terminado, e se minha contagem estiver correta, deve haver uma queda importante ao patamar de R$ 5,20.

 



O gráfico abaixo mostra um quadro bastante interessante nas posições em dólares entre os fundos locais e os estrangeiros – os bancos são normalmente provedores de liquidez. Enquanto os primeiros foram aumentando suas apostas esperando uma valorização do real, os últimos foram em sentido inverso, atingindo um nível nunca antes observado.




Enquanto o governo, capitaneado pelo presidente Lula, vem adotando o modelo dos anos 70 – não 2070, mas sim 1970, totalmente obsoleto – se aliando aos países errados como China e Rússia, entre outros, está recebendo a resposta dos investidores que deveríamos buscar se retirando. Mas, como ele pensa ser amplo conhecedor de tudo, inclusive de economia, vai amargando derrotas e más notícias com frequência cada vez maior. Vislumbro daqui em diante duas situações: ou ele se retira dos holofotes e fica contando os dias para terminar seu mandato, torcendo para que não perca o rumo, ou tentará uma saída heroica à la Dilma. Pode até ser as duas em tempos diferentes. Mais 4 anos perdidos!

O SP500 fechou a 5.473, com alta de 0,77%; o USDBRL a R$ 5,4205, com alta de 0,83%; o EURUSD a € 1,0731, com alta de 0,29%; e o ouro a U$ 2.319, com queda de 0,54%.

Fique ligado!

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