Democracia em baixa #USDBRL

 


Estamos observando uma derrocada da democracia ao redor do mundo. Alguns países (ou regiões?) estão tendendo para a esquerda e outros para a direita, sobrando poucos locais onde a democracia ainda está presente. Tenho discutido esse assunto com grupos de amigos, e a razão para essa guinada parece ser as redes sociais, onde os algoritmos direcionam a leitura para interesses específicos que se tornam cada vez mais radicais.

Neste final de semana, na Europa, especialmente na França, a extrema direita venceu de forma esmagadora quando a União Europeia elegeu novos membros do Parlamento Europeu. A ilustração a seguir mostra que o partido de direita obteve mais que o dobro de votos do partido “Ensemble” de Macron, que também está à beira de perder para os Socialistas. John Authers comenta sobre a cartada “final” de Macron.




As eleições recentes em três grandes economias emergentes — Índia, México e África do Sul — mantiveram os partidos governantes no poder, mas cada uma levou a um impacto inesperado no mercado. Agora é a vez do mundo desenvolvido. A União Europeia foi às urnas no domingo para eleger novos membros do Parlamento Europeu. O Partido Popular Europeu de centro-direita ainda terá o maior grupo. “O centro político da UE se manteve”, disse David Roche, da Independent Strategy. A mesma “coalizão governante pró-europeia [que também inclui social-democratas e liberais] terá a maioria no Parlamento da UE. Boa notícia para os ativos da UE em geral.”

Houve grandes variações. A direita populista sofreu reveses na Polônia, Finlândia, Países Baixos e Suécia. Mas na França e na Alemanha, os partidos centristas e de centro-esquerda dos presidentes Emmanuel Macron e do chanceler Olaf Scholz foram derrotados por partidos da extrema direita — o Rassemblement National (RN) na França, e a Alternativa para a Alemanha (AfD). Os Social-Democratas de Scholz caíram até o terceiro lugar. Na França, onde o partido de Macron recebeu menos da metade dos votos do Rassemblement National de Marine Le Pen, o presidente correu o risco de dissolver a Assembleia Nacional e convocar eleições que acontecerão em duas rodadas nos domingos antes e depois do Reino Unido escolher um novo Parlamento em 4 de julho. Se for mal para ele, Macron poderá servir os últimos três anos de seu mandato em “coabitação” forçada (como dizem os franceses) com uma legislatura dominada por Le Pen.

Quão assustadora deve ser a revolta da direita populista? A experiência de Giorgia Meloni na Itália, que após 20 meses no poder preside mercados financeiros fortalecidos, ou dos quatro anos do primeiro mandato de Donald Trump nos EUA, quando os ativos financeiros estavam indo bem até a pandemia, mostra que os investimentos podem sobreviver felizmente a períodos de governo populista. Mas a França está em uma situação perigosa.

O spread entre os rendimentos dos títulos franceses e alemães costumava ser insignificante. Pensava-se que não havia diferença entre eles. Isso mudou com a crise da dívida soberana da zona do euro. Em um ponto, gestores de fundos de hedge estavam apostando entusiasticamente que a França seguiria a Grécia, Irlanda e Portugal na necessidade de um resgate. Isso diminuiu uma vez que o Banco Central Europeu prometeu fazer “o que for necessário” para salvar o euro — mas houve outro grande pico no spread no início de 2017, quando Le Pen parecia ter uma chance real de vencer Macron para a presidência. Durante os anos de ascensão de Macron, esse spread nunca voltou a níveis mais normais:




É um momento duplamente perigoso para Macron correr esse risco, já que há apenas uma semana, a Standard & Poor’s rebaixou a classificação de crédito soberano da França, citando preocupações com seu déficit. O mercado de ações também perdeu drasticamente sua atratividade este ano; este gráfico mostra como o índice MSCI para a França se comportou em relação ao índice MSCI Europa desde o início de 2022:



Olivier Blanchard, um francês e ex-economista-chefe do Fundo Monetário Internacional, disse que convocar eleições foi a decisão certa:

"Ou a incoerência do programa do Rassemblement National fica clara durante a campanha e eles perdem a eleição. Ou o RN vence, chega ao governo e rapidamente faz uma bagunça. Nesse caso, teremos dois anos ruins, comparados a cinco se eles vencessem as eleições de 2027."

A questão é se os mercados podem forçar uma crise se um governo tão incoerente encontrar problemas. E também há o risco de um verdadeiro desastre, cortesia do sistema eleitoral. Na Alemanha, um partido precisa de 5% do voto nacional antes de poder ganhar cadeiras, uma medida que manteve os extremistas de fora (enquanto Israel, onde o número equivalente é 1,5%, permite muitos grupos dissidentes no Knesset). O sistema de duas rodadas da França dá ênfase em terminar entre os dois primeiros para chegar ao segundo turno.

Como nas duas últimas eleições presidenciais, Macron pode imaginar suas chances de vencer Le Pen (ou seu partido, neste caso) em uma corrida direta. Mas se os partidos da esquerda radical se organizarem, o segundo turno poderia facilmente se tornar uma disputa entre as forças de Le Pen e as do incansável ativista de esquerda Jean-Luc Melenchon e uma mistura desagradável de socialistas e verdes. Fica fácil apostar que os mercados financeiros não gostariam disso.

Na semana passada, comentei no post europa-sem-destino como esse continente, ao usar uma moeda única, não consegue crescer de forma consistente. Não deveria ser surpresa acontecimentos como os dessa última semana, em que os eleitores buscam mudanças. Até aí, não haveria grandes problemas; é assim que acontece em qualquer lugar. No caso específico, o problema é o discurso de Le Pen, que tem uma linha de ação consistente com as ideias de Trump contra a imigração e contra o euro. O mesmo se pode dizer da Alemanha, que rumou nesse sentido.

Já na América do Sul, a esquerda prevalece na maioria dos países, que também tomam rumos radicais, embora, por exemplo, no Chile, foram brecados pela população. Talvez a única exceção seja o Uruguai, que tem um governo democrático com razoável estabilidade histórica. Já a Argentina caminhou para o mesmo caminho que a França.

Governos de direita e esquerda existem há muitos anos. O problema atualmente é o aumento do radicalismo impulsionado pelas redes sociais, que pode levar a resultados imprevisíveis com o uso de violência para impor suas ideias. Felizmente, o mundo se encontra numa fase em que as economias estão desempenhando positivamente, o que, na opinião do Mosca, é uma salvaguarda para evitar conflitos armados, pois foi assim que ocorreu na história mundial. Até quando vai durar, não sabemos.

[Esse comentário foi elaborado por um brasileiro que vive atualmente na França e não compartilha da mesma ideia que a mídia]:

Não obstante a tendência generalizada na mídia de usar o jargão “extrema direita” para qualquer vertente de direita autêntica que não se alia ao centro, a direita francesa tem pouco a ver com os movimentos do tipo fascista que nos vêm à lembrança quando ouvimos o adjetivo “extrema”. Hoje, na verdade, em vários países europeus e na França em particular, os elementos mais associados a ditaduras, como o autoritarismo, o sectarismo, o discurso único, os ataques à democracia e as manifestações públicas violentas, são características de alguns partidos da esquerda, alguns dos quais, esses sim, bastante extremistas e frequentemente contrários ao estado de direito. O presidente Macron elegeu Marine Le Pen como inimiga principal para garantir o voto da maioria (apertada) dos franceses que foram criados na aversão ao pai de Marine, o antissemita Jean Marie Le Pen, com o qual ela rompeu publicamente e do qual se distanciou, no discurso e nos atos. Por exemplo, quando da passeata em Paris contra o antissemitismo, quem se recusou a ir foram partidos de esquerda, os da direita estavam lá — mais uma inversão em relação ao século passado. Os franceses, em várias pesquisas, não compartilham da inimizade de Macron e confirmam um temor muito maior em relação ao candidato Jean-Luc Mélenchon, esquerdista truculento com a estratégia de incendiar o circo para aparecer de bombeiro.

Já no aspecto econômico, o governo Macron cometeu vários erros e perpetuou erros anteriores. Os franceses não estão preferindo a direita por terem acordado fascistas de repente, mas porque perceberam no bolso o efeito de uma gestão econômica que lhes cobra muito e devolve pouco, fora a caridade com chapéu alheio que estendem a inúmeros grupos que em nada contribuem com a atividade econômica do país. É uma desigualdade entre direitos e obrigações que cai como uma luva no discurso contra a imigração — que não seria um problema se esta obedecesse às regras já existentes — e contra a ingerência da burocracia da União Europeia, que impede a adoção de medidas que corrijam as várias distorções nas políticas agrícolas e energéticas.

Trata-se muito menos de ideologia que de política do pão-com-manteiga. Os franceses votam com o bolso, e Macron tem danificado essa importantíssima região do cérebro do eleitor. Democracia não é só vitória do centro ou da esquerda, como a mídia parece defender. Se a direita está ganhando, é porque os eleitores já não acreditam nos discursos de Macron e preferem apostar em quem pode mudar alguma coisa. E por que não foram para a esquerda? Provavelmente ficaram perplexos diante de uma campanha onde a esquerda fincou pé em questões ecológicas, palestinas, identitárias e de defesa a estrangeiros, mas pouco falou de poder aquisitivo, segurança e paz social.

Nada de extremo, portanto. It’s the economy, stupid.

No post r*-que-por$a-é-essa fiz os seguintes comentários sobre o dólar: ... “Vamos primeiro identificar quais seriam os níveis caso uma alta esteja em curso: a área indicada como barreira entre R$ 5,28 / R$ 5,35 tem que ser vencida e, se acontecer, o primeiro objetivo seria em R$ 5,6686” ...




O cenário mais altista parece estar em curso, com o rompimento da área indicada no post acima como barreira. Como venho insistentemente enfatizando, o movimento não vai ser tradicional e sim tortuoso, com difícil posicionamento. O gráfico por si só já dá uma ideia. Para que a opção acima seja viável, é absolutamente necessário que uma queda aconteça de imediato; caso contrário, a nova opção abaixo ganha força, onde o primeiro objetivo se encontra em R$ 5,42 ou superior. No final, R$ 5,71 seria o target dessa sequência de ondas em laranja. Depois deve se suceder uma queda razoável até R$ 5,20!




- David, parece que você teve um bom call, mas não ganhamos nada! Não vai sugerir nenhum trade?

Ter um bom call é condição necessária, mas não suficiente para sugerir um trade. A análise de risco x retorno se torna indispensável. Não me sinto confortável assumindo nenhuma posição por enquanto. Fique à vontade para se posicionar; não tenho stop loss com uma certa segurança para te indicar. Agora, quem tem exposição em dólares deve sofrer.

O SP500 fechou a 5.360, com alta de 0,26%; o USDBRL a R$ 5,3565, com alta de 0,22%; o EURUSD a € 1,0760, com queda de 0,37%; e o ouro a U$ 2.309, com alta de 0,72%.

Fique ligado!

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