Não ponha a mão no vespeiro #IBOVESPA
Mercado de câmbio não é para principiantes. Mesmo os mais
experientes estão sujeitos a movimentos não desejados pelas autoridades
monetárias. O motivo principal é que, sendo uma moeda de troca que envolve toda
a sociedade, a desconfiança cria um círculo vicioso.
Durante minha vida profissional, presenciei diversas
situações em que o banco central ficou sem saída e teve que promover uma
desvalorização cambial. Na maioria dos casos, são raros os momentos em que precisou
comprar sua própria moeda, mas também já aconteceu. Como diz meu ex-sócio Emir
Capez, se existe apenas um vendedor e o mundo comprando, pode comprar. Sou
partidário do câmbio livre, e intervenções devem ser pontuais, sem o objetivo
de estabelecer um teto.
A economia japonesa está em estagnação há décadas, com uma
dívida crescente para tentar incentivar sua economia, levando a relação
dívida/PIB ao nível de 240%, impensável em qualquer outro lugar. Enquanto a
taxa de juros poderia ficar ao redor de 0%, o governo foi empurrando com a
barriga para ver se conseguia sair dessa situação, mas recentemente a inflação
apareceu por lá, e mesmo assim o Banco do Japão (BoJ) resiste a subir os juros,
fazendo movimentos mínimos na taxa.
Qualquer livro básico de economia sugere que numa situação
dessas a válvula de escape é a desvalorização do câmbio. Mas essa situação gera
um problema: a inflação sobe por conta do câmbio, tornando as importações mais
caras.
Em 2024, o BoJ realizou uma intervenção significativa no
mercado cambial para estabilizar a moeda japonesa, o iene. A intervenção
ocorreu em meio a uma desvalorização acentuada do iene, que atingiu seu nível
mais baixo em 34 anos, chegando a 154,88 ienes por dólar. O objetivo era conter
a rápida depreciação da moeda e proteger a economia japonesa das pressões
inflacionárias e da perda de competitividade nas exportações.
A intervenção envolveu a venda de grandes volumes de ienes,
semelhante à estratégia utilizada em 2022. Estimativas indicam que o volume de
vendas pode ter atingido vários trilhões de ienes, com o intuito de valorizar a
moeda em quatro a cinco ienes por dólar. Este movimento foi amplamente
discutido e especulado por analistas e estrategistas do mercado financeiro, que
previram que o BoJ agiria caso a volatilidade aumentasse significativamente.
Passados alguns (poucos) meses, o iene está de novo testando
o nível de ¥160, patamar atingido naquela ocasião e indicado por aquele banco
central como uma linha na areia. Ou seja, se passar, irão intervir. Anya
Andrianova e outros publicaram na Bloomberg uma matéria cujo título é
intrigante do meu ponto de vista: "É loucura para o Japão intervir antes
da sexta-feira", dizem os traders. Veja a seguir.
O próximo ponto crítico para o iene — e um potencial gatilho
para a intervenção do Japão — pode surgir de uma leitura do indicador de
inflação preferido do Federal Reserve dos EUA na sexta-feira.
A moeda japonesa esteve em perigo durante toda a semana de superar
o nível de 160 por dólar, aumentando a pressão sobre o Japão para agir. No
entanto, os traders consideram arriscada qualquer ação para sustentar o
iene antes dos dados de despesas de consumo pessoal (PCE). Esses números são
fundamentais para a perspectiva das taxas de juros dos EUA e, por sua vez, para
o iene, podendo anular imediatamente o impacto de uma intervenção prematura.
Apesar de a moeda ter caído cerca de 12% em relação ao dólar
este ano e estar na faixa que viu intervenção em abril-maio, os diretores do
BoJ em Tóquio limitaram sua resposta a avisos verbais esta semana.
"Os diretores japoneses esperarão pelo menos até o PCE
na sexta-feira para decidir sobre a intervenção, mesmo que o preço ultrapasse
160 antes disso", disse Takafumi Onodera, chefe de vendas e negociações do
Mitsubishi UFJ Trust & Banking Corp. em Nova York. Um relatório mais forte
do que o esperado pode gerar volatilidade e levar o iene para 163, levando as
autoridades a “verificar a taxa" ou intervir durante um período de baixa
liquidez.
As verificações de taxa enviam um aviso aos traders de que as autoridades podem estar se preparando para intervir para sustentar o iene. Eles geralmente envolvem o Banco do Japão, que age sob as instruções do Ministério das Finanças, ligando para os traders para perguntar sobre o preço oferecido para a moeda em relação ao dólar.
Muito está em jogo para o Japão, que gastou um recorde de
¥9,8 trilhões (US$ 61,4 bilhões) em suas intervenções mais recentes. A fraqueza
do iene está prejudicando os consumidores japoneses e causando crescente
inquietação entre as empresas.
A principal autoridade de câmbio do Japão, Masato Kanda,
alertou na segunda-feira que as autoridades estão prontas para intervir 24
horas por dia, se necessário, enquanto reiterava que não estavam visando um
nível específico.
"O PCE será a chave", disse Nick Twidale, da ATFX
Global Markets, que negocia a moeda do Japão há um quarto de século. "Eles
seriam bastante loucos de intervir antes disso – tentarão evitar qualquer coisa
antes do PCE e o dólar-iene tem se comportado bem."
A vasta diferença entre as taxas de juros no Japão e nos EUA
continua sendo a razão fundamental para a fraqueza do iene e tem mantido a
pressão sobre a moeda apesar das intervenções.
Vamos ver se eu entendi: se o PCE a ser publicado no fim
desta semana for baixo e os traders acreditarem que o Fed irá baixar os
juros logo, o iene acalma; caso contrário, se não for tão bom assim, a
autoridade monetária americana empurra mais para frente, fazendo com que o iene
se desvalorize, implicando na intervenção do BoJ. É isso? Come on, traders!
Quer dizer que agora o Japão depende da política monetária americana para não
ter que normalizar seu nível de juros, que está absurdamente baixo? O Mosca acredita
que, no primeiro caso, acontece um refresco de curto prazo (se houver!) e, no
segundo, não tem moleza.
Mesmo que o Fed baixe seus juros e, sendo otimista, que
daqui a algum tempo estejam em 3,5%, mesmo assim, as operações de carry
trade contra o iene continuam interessantes. Além disso, os japoneses
continuam perdendo valor ficando na sua moeda. Acho mais provável ver o iene a
¥170 do que a ¥150 daqui a algum tempo — lógico, se não houver uma recessão nos
EUA. Conclusão: se existe alguma torcida para o BoJ que não dependa dele, é
essa. Caso contrário, mexer num vespeiro não é recomendável.
No post *this-time-is-different*, fiz os seguintes
comentários sobre o IBOVESPA: ..."Resolvi assumir o gráfico a seguir como
minha preferida, onde a bolsa deveria atingir entre 114,1 mil / 113,0 mil. Não
consegui uma subdivisão intermediária que fosse razoável, o que dificulta uma
melhor definição do nível a ser atingido. Em termos de prazo, poderia ser no 3º
trimestre deste ano."...
Quero enfatizar que não tenho muita convicção nesse cenário. Como podem verificar no gráfico a seguir, uma recuperação é esperada na onda b) laranja até o nível de 125,4 mil / 127,3 mil para, em seguida, voltar a cair na onda c) laranja. Alternativamente, como ainda espero novas altas da bolsa mais à frente, pode ser que a onda 2) azul termine onde indiquei com a flecha verde. Como saberemos? A configuração da alta em andamento, e principalmente se ultrapassar 127,2 mil. Por enquanto (ou talvez por um tempo) nada a fazer!
O SP500 fechou a 5.477, com alta de 0,16%; o USDBRL a R$ 5,5210, com alta de 1,28%; o EURUSD a € 1,0678, com queda de 0,33%; e o ouro a U$ 2.298, com queda de 0,89%.
Fique ligado!
Comentários
Postar um comentário