"This time is different" #IBOVESPA
Hoje é feriado nos EUA, Juneteenth, dia em que se comemora o
fim da escravidão. Os mercados estão em banho-maria.
Tenho uma certa ojeriza à frase "This time is
different" [Desta vez é diferente], muito usada para explicar situações
que fogem ao esperado. Na grande maioria das vezes, se mostra falsa. Mas será
que estamos num momento em que ela pode ser verdadeira? No post "Só Entra
com Carteirinha", exponho a razão de tanta distorção que se observa, onde
a mais marcante é a concentração em poucas empresas que explica a alta nos
índices. Hoje, Jensen Huang, CEO da Nvidia, deve estar comemorando algo que
nunca passou pela sua cabeça: a maior empresa do universo em capitalização de
mercado, deixando para trás nomes já amplamente conhecidos como Apple,
Microsoft e Amazon. Ser o primeiro em qualquer lugar significa ter que manter
essa posição, e sabemos que algum dia vai perder a aura.
Ben Carlson, em seu site "A Wealth of Common Sense", trata da concentração e do que ocorreu no passado com as empresas que se encontraram nessa situação.
Perseguindo as Maiores Ações
O mercado de ações se assemelha muito ao perfil de riqueza
deste país: os ricos continuam a ficar mais ricos. Essa riqueza pode ser
expressa de algumas maneiras diferentes. Primeiro, pelo valor de mercado. As
maiores ações são muito maiores do que as outras:
As corporações no S&P 500 não estão distribuídas de maneira uniforme. Na verdade, as 25 maiores empresas no S&P 500 são tão grandes quanto o restante do índice combinado. As maiores ações também têm as maiores avaliações. Torsten Slok, da Apollo, recentemente dividiu as relações P/L por decil do S&P 500:
Valores de mercado maiores, avaliações maiores. Valores de mercado menores, avaliações menores. O guia de mercado da JP Morgan divide isso ainda mais, segmentando as avaliações pelas 10 maiores ações.
As 10 maiores ações parecem relativamente caras quando se trata de avaliações. O restante do mercado parece razoável. Claro, há uma razão para as maiores ações terem um prêmio de avaliação em relação ao resto do mercado. Elas merecem. Essas empresas continuaram a inovar e crescer em níveis que nunca vimos antes nessa escala, e isso se reflete em seus retornos.
Aqui está uma olhada no desempenho por decil nos últimos
cinco anos:
As maiores empresas tiveram os melhores retornos, enquanto as menores empresas foram deixadas para trás. Caso encerrado, certo? Mais devagar, meus amigos. Esses números mostram os retornos acumulados para as maiores ações atuais, não necessariamente as maiores ações de cinco anos atrás. Algumas das grandes ações de hoje eram menores há cinco anos. Algumas das ações menores de hoje eram maiores há cinco anos.
Há cinco anos, a Nvidia estava fora das 60 maiores ações no
S&P 500. Três anos atrás, ela mal havia entrado na lista das 10 maiores,
com um peso no S&P 500 de apenas 1%. Hoje, a Nvidia representa mais de 7%
do índice e está empatada com a Apple e a Microsoft como a maior ação de todo o
mercado.
Agora, vamos olhar os retornos por decil usando o tamanho
dessas empresas há cinco anos como ponto de partida:
Isso é interessante.
As maiores ações de cinco anos atrás ainda têm retornos impressionantes, mas o melhor desempenho foi do menor decil de empresas no S&P 500. Na verdade, é fora do comum que as maiores ações no índice tenham um desempenho superior. A história mostra que a melhor época para comprar essas empresas é **antes** de alcançarem o top 10. Isso parece óbvio, mas vale a pena revisitar esta excelente pesquisa da Dimensional Fund Advisors:
A superação vem da jornada até o top 10, que pode ser emocionante. No entanto, uma vez que essas empresas alcançam o topo, é muito mais difícil manter esse desempenho superior. Como Warren Buffett uma vez observou: "O tamanho é o inimigo do desempenho superior."
Quando você tem uma ideia maluca, por princípio pode ser
chamado de louco ou visionário, esse é o risco. O conceito que criei da
"carteirinha de IA" pode estar dentro dessa categoria, pois ele
explica o porquê dessas distorções de concentração, discrepância entre os juros
de 10 anos e as ações de tecnologia e por aí vai. Como cada vez fica mais
concentrado, minha teoria ganha sustentação.
Mesmo que eu esteja certo, essa concentração tende a
diminuir com o tempo, quando mais empresas ganhem a "carteirinha de
IA" e a valorização tende a ter uma melhor equalização. Por outro lado, e
se eu estiver certo, o pior investimento será nas empresas de valor, que cada
dia estão mais baratas. Não podemos esquecer que a alta será compensada pela
queda de empresas que serão prejudicadas pela IA. Prejudicadas porque vão
dormir no ponto e não reagir ou porque seu produto vai se tornar obsoleto. Como
ninguém sabe quais serão, na dúvida o mercado prefere não apostar nesse
segmento, razão de estarem "baratas". Algumas (muitas?) vão ficar
mais baratas, ou na verdade a projeção de resultados será significativamente
inferior.
No post "bonus-colossal", fiz os seguintes
comentários sobre o IBOVESPA: "Voltando à análise técnica, o cenário
que apresentei na semana passada não é meu preferencial, ainda existe uma
esperança no antigo. Destaquei no retângulo abaixo os níveis a se observar: o
primeiro que se encontra em ataque é o nível de 119,8 mil, que se rompido
rumaria para 116,1 mil."
Resolvi assumir o gráfico a seguir como minha preferida, onde a bolsa deveria atingir entre 114,1 mil / 113,0 mil. Não consegui uma subdivisão intermediária que fosse razoável, o que dificulta uma melhor definição do nível a ser atingido. Em termos de prazo, poderia ser no 3º trimestre deste ano.
- David, vamos imaginar que você está certo. O que vai fazer quando atingir esses níveis?
Se você observar, nesse ponto seria a onda 2 azul e,
seguindo a regra, a partir daí deveria subir e bem, porque seria a onda 3
azul. Mas antes de mostrar 5 ondas para cima, não faço nada, pois por outro
enfoque poderia cair ainda mais.
Hoje fui questionado na reunião da Berkana Patrimônio, da
qual participo, se o stress que o Brasil vive nos últimos dias seria algo mais
geral nos emergentes. O gráfico a seguir desmonta essa ideia, pois na verdade o
Brasil é a pior performance deste grupo quando o ativo é bolsa de valores.
Ontem, o presidente Lula resolveu pegar no pé do presidente do Banco Central, Roberto Campos, de forma agressiva e deselegante, para dizer pouco, colocando-o como o responsável pelo estouro no déficit público, haja vista que está deixando o juro alto para prejudicar o Brasil e, como consequência, seu governo. Mal sabe ele que a decisão não é única e sim de um colegiado. A data pode ter sido escolhida a dedo, pois o BCB decide sobre a taxa Selic no final do dia.
Como diz a frase: "Não basta ser honesto, precisa
parecer honesto", posso criar um derivado: não basta ser austero, tem que
parecer austero, e sendo assim não gostaria de ver uma decisão que não seja a
manutenção da taxa atual, pois caso contrário o mercado irá interpretar
negativamente. Vamos esperar e qualquer coisa comento amanhã.
A bolsa permaneceu fechada, o USDBRL fechou a R$ 5,4392, sem variação; o EURUSD a € 1,0743, sem variação; e o ouro a U$ 2.326, sem
variação.
Fique ligado!
A decisão é de um colegiado, mas a pressão colocada nos indicados do Lula para seguir o Roberto Campos Neto foi bizarra. Isso não é postura de quem confia no BC independente. Lamentável. Infelizmente o Roberto Campos Neto perdeu uma grande oportunidade de mostrar que ele pode tomar decisões de políticas monetárias que beneficiariam o grupo político oposto ao seu (afinal estaria beneficiando o Brasil). Parece que a missão vai ficar para o indicado do Lula, caso a esquerda perda a eleição de 2026.
ResponderExcluir*perca
ExcluirNão tenho o mesmo ponto de vista que você --- veja a postagem de hoje sobre assunto BC. Entretanto, sua observação me fez pensar que, imaginado que Guido Mantega possa ser levado ao BC, o que seria um desastre em meu ponto de vista e se Lula (ou PT) perder a próxima eleição, o presidente do BC vai ficar até 2028. Vai ser duro aguentar! Se continuar o PT minha previsão de alta do dólar terá mais fundamento.
ResponderExcluirNão acho que o Lula cometeria esse erro. Eu acho que o próximo presidente do BC será André Lara Resende.
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