r* - que por$a é essa! USDBRL

 


Eu posso dizer que já vivi tudo em termos de política monetária: de juros negativos até muito positivos. No auge da hiperinflação brasileira dos anos 90, eu brincava — se é que se possa brincar em momentos como esse — dizendo que os juros dos papéis indexados pagavam BTN2, tamanha era a inflação que os juros não eram suficientes para remunerar o investimento.

Para que o leitor entenda o que ocorria na época, os papéis indexados do governo eram denominados BTN — equivalente ao IPCA atual. O rendimento mensal era calculado com a inflação do mês anterior, por exemplo, 100% a.a., mas no mês em curso já estava em 150% a.a. Para compensar essa diferença de 50% a.a., se embutia no juro essa parcela, fazendo com que a taxa expressa chegasse a absurdos BTN + 70%/80% a.a. Essa era minha provocação.

Posso dizer com conhecimento de causa que estabelecer uma política monetária é uma arte. Realmente não sei se os modelos acadêmicos são de alguma valia. Vários são os desafios, principalmente nas situações que ocorrem desvios do objetivo traçado pela autoridade monetária, tanto quando a inflação beira 0%, como a vivida na última década, quanto em momentos de alta. Ambas as situações desencadeiam ações mais agressivas.

Não quero aqui desvalorizar a academia, somente enfatizar que a arte de estabelecer o nível de juros transcende as fórmulas. Em relação ao primeiro, existe uma variável denominada de r* — a taxa de juro neutra de curto prazo — que auxilia neste desafio e é sobre ela que Bill Dudley, ex-presidente do Fed de Nova York, comenta na Bloomberg.

Mesmo com uma meta de taxa de juros de curto prazo superior a 5,25%, a meta de taxa de juros de curto prazo do banco central pode não ser alta o suficiente para esfriar a economia.

Em grande medida e de forma pouco reconhecida, o trabalho do Federal Reserve dos EUA envolve perseguir um número fugidio: r*, ou a taxa de juros neutra de curto prazo. Quando a taxa alvo do Fed está acima de r*, deve restringir o crescimento. Quando está abaixo, deve estimular a atividade econômica.

Acredito que r* é muito mais alta do que o Fed reconhece — o que significa que o banco central não está fazendo o suficiente para combater a inflação.

r* não é diretamente observável. Deve ser inferida a partir de como a economia responde às taxas de juros de curto prazo. Isso não é fácil por três razões principais. Primeiro, o impacto das taxas de curto prazo depende de outros fenômenos financeiros, como taxas de longo prazo, preços de ações e spreads de crédito — todos os quais variam consideravelmente por conta própria. Desde outubro, as condições financeiras aliviaram significativamente, mesmo com o Fed mantendo as taxas de curto prazo estáveis. Segundo, as mudanças nas taxas operam com atrasos longos e variáveis: é possível, por exemplo, que os efeitos completos do aperto do Fed no ano passado ainda não tenham sido sentidos. Terceiro, sempre há muita coisa acontecendo na economia além da política monetária — como, agora, uma onda de investimento em inteligência artificial.

Ainda assim, r* é importante demais para ser ignorada. É necessário fazer um julgamento para avaliar onde o Fed está e o que precisa fazer. E, ultimamente, a abordagem dos membros não tem sido convincente.

O presidente Jerome Powell tem evitado, em grande parte, questões sobre r* em suas coletivas de imprensa. A projeção mediana do Fed para r* (ajustada para uma inflação de 2%) mal se alterou em anos, finalmente subindo 10 pontos base para 0,6% em março. O governador Christopher Waller argumentou inexplicavelmente que r* depende principalmente da demanda por ativos seguros, como os títulos do Tesouro dos EUA. Modelos econométricos formais que estimam r* não conseguem incorporar rapidamente a mudança no ambiente econômico pós-pandemia: dados dos últimos anos são muito confusos e fornecem pouca informação, como os esforços para atualizar o modelo Holston-Laubach-Williams mostraram.

Há um forte argumento de que r* aumentou substancialmente. Por um lado, a força persistente da economia dos EUA leva a crer que a política monetária não é muito restritiva. O crescimento relativamente lento nos primeiros três meses de 2024, a uma taxa anualizada de 1,6%, subestima a verdadeira aceleração. Uma medida da demanda subjacente — vendas finais reais para compradores domésticos privados — aumentou 3,1%. O modelo GDP Now do Fed de Atlanta prevê um crescimento de 3,5% no segundo trimestre.

Medidas mais atualizadas desse indicador apontam para um crescimento do PIB neste trimestre em 2,8%, um pouco abaixo do nível apontado por Dudley.



Além disso, vários fatores estão reduzindo a poupança desejada e aumentando o investimento desejado, o que, por sua vez, eleva r*. Do lado da poupança, os altos preços das ações estão fazendo com que as pessoas se sintam mais inclinadas a gastar, os baby boomers estão acessando seus fundos de aposentadoria e o governo dos EUA está tomando emprestado em grande escala (o oposto de poupar) para financiar seus déficits orçamentários. Do lado do investimento, a administração Biden impulsionou os gastos de capital em tudo, desde fábricas de chips até tecnologia verde, e a energia renovável (eólica e solar) é muito mais intensiva em capital do que o carvão ou o gás natural.

Juntando tudo, r* poderia estar em torno de 2%, o que era a sabedoria convencional antes da crise financeira de 2008 (incorporada na Regra de Taylor, uma estimativa mecânica da taxa ótima dos fundos federais). Se for assim, a taxa neutra de curto prazo atualmente seria de cerca de 5% (um r* de 2% mais 3% de inflação), o que significa que a taxa atual dos fundos federais de 5,25% a 5,50% está exercendo uma restrição insignificante sobre o crescimento e a inflação.

Talvez o mantra do Fed, em vez de "mais alta por mais tempo", devesse ser "mais alta indefinidamente" até que a inflação se mova mais convincentemente na direção desejada.

O mercado recentemente não está compartilhando a ideia de Dudley. A taxa de juros dos títulos de 10 anos, na qual a influência do Fed é muito baixa, vem retrocedendo. Nada maravilhoso, mas pelo menos não está subindo, o que já é muita coisa. Em todo caso, como venho insistentemente mencionando, a diferença entre esse título e o de 2 anos continua negativa em 40 pontos. Não consigo uma boa explicação para o fato, mas posso garantir que em algum momento essa situação anômala irá terminar, pois não é lógico que, numa situação normal de temperatura e pressão, o juro tenha que ser menor para o prazo longo.

Sobre a inflação, o calendário não é muito favorável daqui em diante. Em bases anuais, o índice mensal atual irá substituir índices mais baixos do passado, como a simulação elaborada pelo Bank Of America apresenta para o core CPI.

 



Ocorre que o Fed estabelece sua política monetária através de outro indicador denominado PCE. A razão para tanto desconheço, porém posso garantir que essa medida foi tomada muitos anos atrás e seguramente não tem nada a ver com o movimento altista ocorrido nos últimos anos. O Banco Goldman Sachs projeta que esse indicador irá convergir muito próximo ao nível desejado pelo Fed de 2% a.a.




Como ficamos? Além de não saber se a inflação vai ou não convergir ao nível desejado pelo Fed, ter que analisar se a por$a desse r* é suficiente ou não, e ainda sendo seu cálculo relativamente subjetivo, melhor ter uma postura agnóstica no momento.

No post --- Mr. Google --- fiz os seguintes comentários sobre o dólar: ... "No gráfico a seguir coloquei dois níveis a serem seguidos: vou ficar 'animado' acima de R$ 5,1936 e 'desanimado' abaixo de R$ 5,0431. Lógico que essa qualificação é em função do cenário traçado aqui, pois se romper o 'desanimado', mudamos. Nunca ficar desanimado com o mercado; basta mudar!"




O movimento do dólar está desafiador do ponto de vista técnico. A cada vez que acesso, tenho mais dúvidas sobre o movimento de curto prazo. A única certeza é que até o momento não apareceu nenhuma onda mais direcional, são um emaranhado de correções. Como comento ad nauseam, ondas 5 de formato diagonal são dessa forma e classifiquei há bom tempo que essa seria a forma mais esperada para o dólar.

- David, não vem com essa não! Os leitores te pagam uma nota para ter respostas simples: qual a direção e os níveis.

Calma, amigo. Também sou pago para não colocar os leitores numa fria! Vou tentar mais pistas de curto prazo. Observe o gráfico a seguir.




Vamos primeiro identificar quais seriam os níveis caso uma alta esteja em curso: a área indicada como barreira entre R$ 5,28 / R$ 5,35 tem que ser vencida e, se acontecer, o primeiro objetivo seria em R$ 5,6686.

No caso de uma queda (o que me parece mais provável), deveria levar o dólar a R$ 5,0545 / R$ 5,02 ou mais abaixo, caso rompida, sempre observando os stop loss em vermelho.

- David, muito confortável sua situação com essas previsões, vai acertar 100 %! O que eu devo fazer você não disse.

Vou dizer agora: nada no momento, siga o Mosca! Hahaha ...

Agora à tarde acabei de receber o dado atualizado do GDPNow. Se a diferença fosse pequena, eu nem precisaria mencionar, mas ocorre que, ao invés de 2,8%, a nova estimativa foi para 1,8%, o que enfraquece muito o argumento usado por Bill Dudley. Como será que fica então a por$a desse r* agora? Hahaha...




O SP500 fechou a 5.283, com alta de 0,11%; o USDBRL a R$ 5,2343, com queda de 0,19%; o EURUSD a € 1,0898, com alta de 0,54%; e o ouro a U$ 2.347, com alta de 0,90%.

Fique ligado!

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