O sapato branco #EURUSD
Como comentei há alguns dias, hoje fiz uma apresentação na FEA para os mestrandos de administração. O tema: As Sete Magníficas. A apresentação durou 2 horas e meia e, pela quantidade de perguntas, acredito que o assunto foi de interesse geral. Como não poderia deixar de ser, fiz o marketing do blog – afinal, precisamos chegar a 1 milhão de visualizações! Para o leitor do Mosca, esses assuntos já foram abordados em diversas postagens; apenas alguns slides são novos. Apresentação FEA
Você já usou sapato branco? Diga a verdade! Não há dúvida de que é um risco: você pode estar com a roupa mais “cool”, porém o sapato branco vai chamar atenção pelo negativo – a não ser que você seja modelo, e nesse caso, mesmo algo estranho será considerado moderno. Eu já me arrependi quando usei, pois perdi a chance de um mercado feminino potencial... claro, me refiro à minha juventude.
Ontem foram publicados os dados de inflação americana, que
de maneira geral ficaram em linha com o esperado, apenas o índice que exclui
alimentos e combustíveis ficou um pouco acima. O mercado assimilou bem: a bolsa
começou em queda, mas terminou em alta. No entanto, houve uma mudança na
precificação do número de cortes que o mercado esperava. Podemos ver os
detalhes através do artigo de John Authers publicado pela Bloomberg.
Modere seu entusiasmo (por cortes nas taxas)
Ao contrário do debate que deixou a corrida presidencial dos EUA indefinida, os números da inflação, divulgados 10 horas depois, parecem ter esclarecido algo. Se o Federal Reserve reduzir as taxas em 50 pontos-base na próxima semana, será uma grande surpresa. O processo de desinflação está desacelerando, o que dificulta justificar uma ação tão drástica.
Primeiro, o grande aumento nos preços de bens, alimentos e
energia já passou. O problema é que a inflação nos serviços continua
desconfortavelmente alta. Veja como a decomposição do índice de preços ao
consumidor (CPI) se comportou nos últimos cinco anos:
Antes impulsionada por bens e energia, a inflação agora está focada nos serviços.
O CPI geral caiu ligeiramente, ficando abaixo da média de 20 anos pela primeira vez desde 2020. No entanto, a inflação núcleo, que exclui alimentos e energia, foi menos colaborativa. Há um equívoco comum de que esse indicador seria uma tentativa de manipular os números oficiais, como se alimentos e combustíveis não importassem. Mas o CPI núcleo atualmente mostra que, embora a inflação esteja na direção certa, ainda há um caminho a percorrer; enquanto o índice geral sugere que o Fed pode começar a reduzir as taxas. Se você quer que o banco central seja vigilante no controle dos custos de vida, precisa que ele acompanhe a inflação núcleo:
Para reforçar essa ideia, o "anti-core" — um índice que inclui apenas alimentos e energia — está, notavelmente, mostrando deflação. Conforme calculado por Carolyn Silverman, editora de dados da Bloomberg Opinion, o “anti-core” está agora em -0,1%. O pico acima de 20% dois anos atrás igualou choques dos anos 1970, mas isso já passou.
O problema está em outro lugar. O Fed tem dado muita importância à medida “supercore” de serviços, excluindo habitação. Esta medida está mais diretamente ligada aos salários e, portanto, deveria ser mais afetada pela política monetária (diferente de alimentos e combustíveis). No entanto, essa medida tem se mostrado resistente e, mês a mês, subiu ligeiramente. Um corte substancial nas taxas seria difícil de justificar com isso.
Além disso, há a própria inflação de habitação, que subiu ligeiramente. Isso nos leva a questões estatísticas complexas sobre medição. A metodologia do Bureau of Labor Statistics (BLS) analisa os aluguéis médios em vigor, o que faz com que o índice se mova mais lentamente do que os índices do setor privado, baseados em novos contratos assinados a cada mês. Este gráfico da Pantheon Macroeconomics mostra que o índice de aluguéis da Zillow tende a prever os números oficiais com um atraso de 17 meses. Se esse padrão continuar, é questão de tempo até que a inflação de habitação caia.
A habitação também responde por outro problema sério: o alto nível de inflação “pegajosa” para serviços e bens cujos preços demoram a mudar. Incluindo habitação, essa medida, calculada pelo Fed de Atlanta, permanece acima de 4%. Se a habitação for excluída, ela fica abaixo de 3%, facilitando para o Fed começar a reduzir as taxas.
Considerando tudo isso, o Fed pode ficar satisfeito que a inflação está indo na direção certa. Mas não tão satisfeito a ponto de cortar as taxas em 50 pontos-base.
Há meses que, antes da publicação do CPI, analistas projetam uma queda nos custos de habitação. Da mesma forma, Authers praticamente garante que é uma questão de tempo para isso acontecer. No entanto, acho que o problema nesse segmento é uma questão de oferta. O setor imobiliário é muito sensível aos juros. Espera-se que o aumento dos juros afete os preços dos imóveis, que por sua vez impactam os aluguéis.
No ramo de escritórios, desde o aumento dos juros, uma crise assolou o setor, derrubando os preços. No post os-escritórios-estão-em-campo-minado comento o que está acontecendo nesse segmento. O mesmo não ocorreu no mercado residencial, onde o principal motivo é a demanda reprimida; o número de moradias existentes não é suficiente para atender à demanda. Como consequência, os preços não só não caíram, como subiram. Não sei se essa inflação mais alta do segmento residencial pode perdurar por mais tempo.
- David, interessante, mas o que tudo isso tem a ver com
o sapato branco?
Fazendo uma analogia, a inflação, de uma maneira geral, está
bem-vestida, com roupas “cool”, mas o custo dos aluguéis é como o sapato branco
— está estragando o visual. A grande diferença é que, na vida real, você
percebe e troca o sapato imediatamente; no caso do Fed, vai ter que conviver
com o sapato branco por um tempo!
No post a-china-desafia-até-matematica fiz os
seguintes comentários sobre o euro: "...A moeda única acabou rompendo o
nível de €1,1139, o que enfraquece minha estratégia. Existe um nível máximo
aceitável de €1,1275. O que aconteceria nesse caso? Indiquei com os símbolos em
amarelo duas alterações: primeiro, a onda (B) azul seria deslocada para onde
está a onda (a) laranja; segundo, estaríamos em um movimento de alta que deve
levar o euro a €1,2350..."
Hoje, o BCE cortou a taxa de juros do euro em 25 pontos, levando-a para 3,5% ao ano. O que não foi tão bom foram os motivos alegados para esse movimento: inflação contida e atividade em declínio. Naturalmente, me refiro ao segundo argumento. Em relação à inflação, os *"sticky prices"* também estão atrapalhando, como se nota no gráfico abaixo. Mesmo assim, o BCE resolveu baixar os juros.
Conclusão do Mosca: corte feito por um mau motivo. Mesmo assim, o euro está subindo, assim como a bolsa europeia, acreditando que esse corte irá estimular o consumo. Não compartilho dessa ideia, os problemas na região são mais estruturais, o que ocasiona crescimento mais baixo em comparação com os EUA.
Como fica o euro na visão da análise técnica? O mercado
respeitou o limite máximo de €1,1275, atingindo a máxima de €1,1200, recuando
nos últimos dias e mantendo essa hipótese possível. Observando uma janela
menor, podem-se ver cinco ondas de queda, mas isso ainda é pouco. É necessário
um movimento de queda mais íngreme, o que ainda não ocorreu. Fica a observação
da máxima e o acompanhamento de curto prazo para ver se confirma.
O SP500 fechou a 5.595, com alta de 0,75% ‑ um cenário de
alta maior do que eu estava esperando no curto prazo pode se concretizar, se
for o caso, vamos entrar; o USDBRL a R$ 5,6246, com queda de 0,65%; o EURUSD a €
1,1070, com alta de 0,55%; e o ouro a U$ 2.557, com alta de 1,83%.
Fique ligado!
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