Cuidado com a carona #S&P500

 


Como ocorre todos os anos, fui convidado a fazer uma exposição para os alunos de mestrado da FEA. Esses encontros têm se tornado interessantes, pois, além do tema principal, faço algumas projeções usando minha ferramenta principal: a análise técnica, que tem gerado grande interesse. Neste ano, o tema que escolhi foi: As Sete Magníficas, explorando a concentração dessas ações, suas implicações no mercado e questionando a existência de uma possível bolha em andamento. Nos gráficos, inovei ao apontar o que eu havia previsto e o que realmente ocorreu.

Na apresentação, comento sobre o conceito da “carteirinha”, com o qual os leitores do Mosca estão familiarizados. Com o passar do tempo, essa ideia tem se mostrado apropriada, como confirma James Mackintosh em matéria publicada no Wall Street Journal. Veja o título: Como perder dinheiro no tema mundial mais popular.

Existem muitas maneiras embaraçosas de perder dinheiro, mas é particularmente frustrante quando você identifica corretamente o tema que vai dominar o mercado e consegue investir nele em um bom momento.

Pobre dos investidores dos três fundos de inteligência artificial negociados em bolsa (ETFs)  que conseguiram perder dinheiro este ano. Todos os outros ETFs com temática de IA que consegui encontrar ficaram atrás do S&P 500 e do MSCI World. E isso foi antes de o tema IA ser seriamente questionado na semana passada, quando as dúvidas dos investidores sobre o preço das principais ações de IA, como Nvidia (alta de 1,51%) e Super Micro Computer (queda de 2,48%), se tornaram evidentes.

O desastre dos fundos de IA deveria servir como um alerta para os compradores de ETFs temáticos, que agora cobrem praticamente tudo que você possa imaginar, incluindo permissões de carbono da Califórnia (queda de 15% este ano), computação em nuvem chinesa (queda de 21%) e cuidados com animais de estimação (alta de 10%). Em termos simples: provavelmente você não obterá o que deseja, comprará no momento errado e será difícil manter o investimento a longo prazo.

 



Ironicamente, o sucesso da Nvidia tornou mais difícil para alguns fundos de IA superarem o mercado mais amplo. Parte do objetivo de usar um fundo é diversificar, então muitos fundos ponderam suas participações de forma equilibrada ou limitam o tamanho máximo de qualquer uma das ações. Com a Nvidia representando mais de 6% do S&P 500, isso fez com que alguns fundos de IA tivessem menos exposição à maior ação de IA do que você teria em um fundo de índice amplo.

Esse problema atingiu os três perdedores do ano. O fundo de IA e robótica de US$ 457 milhões da First Trust tem apenas 0,8% em Nvidia, um pouco mais da metade do que possui na empresa de cibersegurança BlackBerry.

O fundo de IA e inovação de US$ 213 milhões da WisdomTree detém a mesma quantidade de cada ação, resultando em apenas 3% em Nvidia.

O fundo iShares Future AI & Tech de US$ 610 milhões da BlackRock também era ponderado igualmente até três semanas atrás, quando alterou seu propósito de ser um fundo de robótica e IA, mudou seu ticker e passou a seguir um índice baseado em valor de mercado que lhe dá uma maior exposição à Nvidia.

O resultado foi uma diferença de 20 pontos percentuais entre os melhores e os piores ETFs de IA este ano. Desde o lançamento do ChatGPT em novembro de 2022, que impulsionou as ações de IA, houve uma diferença de mais de 60 pontos, embora pelo menos todos os ETFs tenham registrado alta desde então.




Recentemente, o mercado puniu a ponderação igualitária, preferindo grandes participações nas maiores ações.

Jay Jacobs, chefe de ETFs temáticos e ativos dos EUA na BlackRock, diz que o ideal é uma ponderação baseada no valor de mercado quando um tema apresenta características de "vencedor leva tudo", como ele acredita ser o caso da IA generativa. Quando o fundo de IA da empresa incluía robótica, estava espalhado por um número maior de ações que não competiam entre si, então a ponderação igualitária fazia mais sentido.

Para os investidores, não é tão simples. A Global X adota a abordagem oposta com seus dois fundos de IA de mais de US$ 2 bilhões, AIQ e BOTZ. O BOTZ compra apenas ações focadas em IA e robótica, mas assume posições maiores. O AIQ distribui suas apostas em IA e tecnologia de forma mais ampla, e seu limite de 3% nas maiores participações a cada vez que rebalanceia significa que possui muito menos em Nvidia do que o BOTZ, que tem um limite de 8%. Mesmo assim, o AIQ conseguiu superar o BOTZ este ano.

Até agora, tudo está confuso. A lição básica: escolher entre fundos dentro de um tema é difícil e depende de sorte, além de uma leitura cuidadosa dos documentos do fundo. Uma lição mais avançada é que é difícil escolher um tema em primeiro lugar, ou mantê-lo. Os três problemas:

1. Definir o tema é complicado. A Nvidia aparece no ETF anti-woke YALL, que se posiciona para “conservadores patriotas e tementes a Deus ”. O fabricante de chips também é incluído em ETFs veganos, de diversidade de gênero e de ação climática. Suas ações claramente são impulsionadas pelas perspectivas de IA, mas a Nvidia ainda tem grande participação em ETFs de jogos de computador e bitcoin, onde seus chips foram originalmente usados.

2. Acertar o timing do tema é ainda mais difícil. Se entrar muito cedo, não há empresas para comprar. Se entrar quando os fundos estão sendo lançados, é provável que o tema já seja amplamente conhecido e supervalorizado, já que tipicamente há um grande número de lançamentos durante bolhas e mercados altistas em estágio avançado.

Um exemplo recente foi a corrida para lançar ETFs de energia limpa e de tecnologia de estágio inicial durante a bolha do final de 2020 e início de 2021. O desempenho desde então tem sido uma miséria, com muitas das ETFs caindo pela metade ou mais.

Acertar o momento é um problema comum em temas: de acordo com um artigo do ano passado do Prof. Itzhak Ben-David da Universidade Estadual de Ohio e três outros acadêmicos, o que eles chamam de ETFs “especializados” perdem, em média, 6% ao ano nos primeiros cinco anos devido ao timing ruim do lançamento.

3. Investir a longo prazo é apresentado pelos gestores de fundos como o objetivo do investimento temático, para manter a posição até que o tema dê frutos. Mas mesmo investidores que realmente querem se comprometer com um tema a longo prazo muitas vezes acham difícil, pois muitos fundos são encerrados, fundidos ou mudam de estratégia quando saem de moda.

O boom dos fundos de internet do final dos anos 1990 desapareceu após o estouro da bolha pontocom, com poucos sobrevivendo para ver o tema da internet florescer uma década depois, enquanto seis dos 50 fundos “metaverso” lançados após o Facebook se tornar Meta Platforms em 2021 já fecharam, de acordo com Lamont.

O fundo temático mais antigo, o DWS Science and Technology mutual fund, começou como o Television Fund em 1948 antes de adicionar eletrônica, e passou por pelo menos quatro outros nomes. Tenho dados apenas a partir de 1973, mas ele ficou muito atrás do mercado mais amplo desde então, apesar das eras de ouro para a televisão, eletrônica, ciência e agora tecnologia. (Sim, possui muitas ações da Nvidia.)

Então, o que fazer? No mínimo, não compre com base apenas no nome de um fundo. Examine as participações, veja o índice que ele segue e como ele é estruturado, e considere se ele faz o que promete. Em seguida, pense em quão cara a ideia já se tornou. Fique atento para o tema entrando em moda e se tornando supervalorizado, pois isso é um bom momento para vender (ou lançar um fundo).

Mas, principalmente, observe as taxas: elas serão muitas vezes mais altas do que as de um fundo de índice de mercado amplo, e o histórico desanimador de timing ruim sugere que, para a maioria das pessoas, elas não valem a pena.

Então, não é exatamente o que eu tenho alertado? Nenhum gestor vai concentrar, por exemplo, 60% do fundo na Nvidia; isso seria uma loucura. Para poder diversificar, ele terá que “adivinhar” quais ações irão ganhar a “carteirinha”, o que é bastante arriscado nesse momento. A sugestão dada por Mackintosh não funciona; no fundo, ele sugere que o investidor analise as participações. Ora, se eu precisar analisar, não preciso do gestor! O melhor conselho que poderia dar nesse momento é ficar fora desses fundos, o que reforça outra tese do Mosca: não recomendo fundos ativos.

Ontem, meu genro, que virou papai recentemente e trabalha no mercado. Depois da folga pelo nascimento do filho voltou a trabalhar animado, a toda carga e me liga pela manhã perguntando: Me indique 5 ações para formar uma carteira. Minha resposta foi lacônica: SPY – SPY – SPY – SPY - SPY! Durante a conversa, argumentei as razões dessa minha escolha. Como jovem que é, não sei se o convenci; afinal, é mais “legal” ter uma carteira que nós escolhemos e depois, nas conversas entre uma cerveja e outra, contar aos amigos a “porrada” que deu na ação X. Lógico que ocultamos as ações que não performaram. Mas o tempo irá mostrar que não é o melhor caminho. Em relação à carteira de IA que o leitor pode construir ou escolher um fundo, sugiro a mesma opção: SPY! Deixe o mercado ir escolhendo quem entra ou sai no clube do IA e, se por acaso não der certo, quem será expulso. Conclusão: sua carteira estará sempre atualizada pelo mercado. Tome cuidado para não pegar a carona errada!

No post nvidia-não-produz-leite, fiz os seguintes comentários sobre o SP500: ... “Se a minha opção de alta que expressei acima se confirmar, é bem possível que o mercado seja 'empurrado' para os níveis apontados ao redor de 5.800” ...




Durante a última semana, não houve nenhuma definição, indicando que está numa consolidação de curto prazo – triangulo? A única coisa que posso oferecer neste momento é um melhor objetivo: 5.789 / 5.801, o que não é de grande valia.




Se minha análise estiver correta, estamos em terreno arenoso. Por quê? Como tinha comentado, onda (v) azul de onda v laranja, algumas possibilidades podem ocorrer: a onda (v) azul pode ser truncada – não especificamente, mas todas; podem ficar aquém do projetado. Essa é a razão pela qual não me meto a sugerir compra neste momento; o fato de ter uma onda v de ordem maior – no caso, a laranja – coloca em risco de uma correção maior que pode se suceder. Conclusão: pode não dar tempo de sair!

O S&P500 fechou a 5.514, com queda de 2,37%; o USDBRL a R$ 5,6422, com alta de 0,44%; o EURUSD a € 1,1040, com queda de 0,28%; e o ouro a U$ 2.491, com queda de 0,30%.

Fique ligado!

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