Holofotes No Fed #USDBRL
Como havia comentado, nesta quarta-feira o Fed anunciará
sua decisão sobre os juros. A questão é: de quanto será a redução? Manutenção,
nem pensar. Não me lembro de tanta discussão sobre o nível do corte. O Mosca
deu seu palpite no post da última sexta-feira fed-cuidado. Hoje,
diversos analistas expõem seus palpites e, em uma atitude democrática –
raridade nos dias de hoje – faço um apanhado de seus argumentos. Inicialmente,
vejamos um resumo dos pontos de Bill Dudley, expostos na Bloomberg.
Fed Deve Agir com Força Agora. Acho Que Vai
Uma redução agressiva de 50 pontos-base nas taxas de juros
faz sentido. O Federal Reserve dos EUA enfrenta uma decisão crucial nesta
semana: aliviar ligeiramente a restrição monetária com um corte de 25
pontos-base ou optar por um raro corte de 50 pontos-base para evitar uma
recessão.
Os dois objetivos do duplo mandato do Fed – estabilidade de
preços e máximo emprego sustentável – chegaram a um equilíbrio muito mais
próximo, sugerindo que a política monetária deveria ser neutra, nem
restringindo nem estimulando a atividade econômica. No entanto, as taxas de
juros de curto prazo permanecem muito acima do nível neutro. Essa disparidade
precisa ser corrigida o mais rápido possível.
Considere os dados econômicos: a taxa de desemprego aumentou
0,8 ponto percentual desde seu ponto mais baixo, em janeiro de 2023. Nos
últimos três meses, o emprego formal cresceu no ritmo mais lento desde 2020. A
inflação salarial moderou para menos de 4%, enquanto a medida preferida do Fed
para a inflação de preços ao consumidor está em torno de 2,5%.
Um corte de 50 pontos-base também se encaixaria bem com o
próximo conjunto de projeções econômicas do Fed, que será publicado nesta
semana. Os mercados esperam uma redução total de pelo menos 100 pontos-base até
o final de 2024. Se o Fed fizer apenas 25 agora e projetar outros 50 em suas
próximas duas reuniões, enviará um sinal hawkish. Se fizer 25 e projetar mais
de 50, as pessoas vão se perguntar por que não está cortando mais
imediatamente. O corte maior, portanto, ajuda o Fed a sair desse dilema.
Por que então o Fed pode não optar por 50? Aqui está a
melhor explicação que posso apresentar:
Primeiro, o destino esperado para as taxas de juros de curto
prazo importa muito mais do que o ritmo das reduções. As expectativas
impulsionam as taxas de longo prazo, incluindo hipotecas. Com cerca de 250
pontos-base de cortes precificados até o final de 2025, o tamanho do movimento
desta semana não deveria importar muito.
Segundo o Fed quer garantir que conquistou a inflação. Já se
enganou antes: no início deste ano, a inflação voltou a subir, forçando o banco
central a manter as taxas mais altas por mais tempo. O presidente Jerome Powell
não quer repetir os erros de Arthur Burns, que não manteve o curso na redução
da inflação nos anos 1970.
Terceiro, embora a economia dos EUA tenha desacelerado um
pouco e o mercado de trabalho tenha enfraquecido, há poucos sinais de que
esteja em ou próximo de uma recessão. O modelo GDPNow do Fed de Atlanta projeta
um crescimento anualizado, ajustado pela inflação, de 2,5% no trimestre atual.
Finalmente, um movimento menor pode evitar reclamações de
Donald Trump de que o Fed está impulsionando a economia para melhorar as
perspectivas eleitorais de Kamala Harris. Os funcionários do Fed,
presumivelmente, prefeririam ficar fora da política eleitoral deste ano o
máximo possível.
Apesar disso, espero que o Fed opte por 50. Acredito que o
presidente Powell favorece uma abordagem agressiva: em seu discurso em Jackson
Hole, no mês passado, ele observou enfaticamente que um enfraquecimento
adicional do mercado de trabalho – que parece estar acontecendo – seria
"indesejável". A política monetária está apertada quando deveria ser
neutra, ou até mesmo expansionista. E um movimento maior agora facilita para o
Fed alinhar suas projeções com as expectativas do mercado, em vez de entregar
uma surpresa desagradável, não justificada pelas perspectivas econômicas.
Em seguida, temos a opinião de John Authers, da Bloomberg.
O Primeiro Corte É o Mais Profundo – Ou Não?
O resultado final é desafiador para o FOMC; com um corte de
50 pontos-base visto como uma probabilidade de 50%, é garantido que vai
desapontar muita gente. Além disso, os dados econômicos poderiam justificar
qualquer uma das opções. Assim, a atenção agora se concentra nas motivações dos
governadores e na forma como um corte, de qualquer magnitude, poderia ser
interpretado como um sinal. Um corte maior poderia ser visto como uma admissão
de que o Fed está atrasado na curva.
Enquanto isso, um corte de 25 pontos-base demonstraria pragmatismo. Tim Horan, da Chilton Trust, argumenta que um corte grande endossaria "uma espécie de pânico de mercado, em que taxas mais altas por mais tempo criaram cicatrizes no setor imobiliário ou em outros setores sensíveis a taxas de juros". Com a inflação caminhando em direção à meta de 2%, o pragmatismo será crucial "para nos levar ao próximo estágio, dando alívio, particularmente às pequenas empresas que têm pagado muito para emprestar".
O Fed também precisa pensar em como sua decisão afetará as
empresas. Um aumento acentuado na parcela de empresas dos EUA que descrevem a
política monetária como muito restritiva, de acordo com a recente pesquisa da
Associação Nacional de Economia Empresarial, aumenta a pressão por um grande
corte. A dependência das pequenas empresas em empréstimos bancários de curto
prazo, ou de taxa variável, explica por que elas sofreram após os aumentos de
taxas de 2022-23, mesmo enquanto grandes corporações prosperavam. **Comentário
meu**: não acredito que isso seja tão relevante, pois os empréstimos são
calculados em cima da curva de juros, que já projeta taxas muito inferiores aos
Fed Funds.
Já Greg Ip, no Wall Street Journal, enfatiza que as taxas
estão muito elevadas, e, portanto, o Fed deveria cortar 50 pontos-base.
O artigo argumenta que o Federal Reserve deveria considerar
um corte de meio ponto percentual nas taxas de juros, pois as taxas atuais
estão muito acima do necessário. Inicialmente, o Fed elevou as taxas para o
nível atual devido à inflação subjacente alta e ao mercado de trabalho
superaquecido, temendo que a inflação permanecesse elevada. No entanto,
atualmente, a inflação subjacente diminuiu para abaixo de 3%, e o mercado de
trabalho esfriou, reduzindo a necessidade de taxas tão altas.
Além disso, a queda nos preços do petróleo e a confiança dos
investidores de que o Fed atingirá sua meta de inflação de 2% sugerem que a
inflação continuará a diminuir. As taxas de juros reais altas estão
restringindo a economia, e manter taxas elevadas pode levar a riscos
desnecessários, especialmente considerando que o mercado de trabalho já mostra
sinais de desaceleração, sem indicar pressões inflacionárias.
O autor também destaca que cortar apenas um quarto de ponto
percentual pode ser mais arriscado, já que pode deixar o Fed atrasado em
relação às necessidades econômicas atuais. Embora haja preocupações de que um
corte maior possa ser percebido como politicamente motivado, especialmente
próximo às eleições, o presidente do Fed, Jerome Powell, enfatizou que decisões
econômicas não devem ser influenciadas por considerações políticas. Portanto,
um corte maior nas taxas seria uma resposta apropriada às condições econômicas
atuais, sem ceder a pressões políticas.
Cada um desses analistas faz o equivalente à frase: *Copo
meio cheio ou meio vazio*, enfatizando seus argumentos para uma redução de 50
pontos. Não sei até que ponto o fato de os mercados indicarem uma probabilidade
maior nesse sentido influenciou suas posições, exceto Bill Dudley, que já havia
externado suas ideias anteriormente. Mas fica clara a indecisão do mercado.
Como se pode notar, não só por esses artigos, mas em relação
à precificação do mercado, o Mosca não está com a maioria. Mas talvez seja mais
interessante analisar o que pode acontecer com os mercados no pós-Fed. Vamos a
alguns pensamentos:
- 25 pontos de corte: Não tenho muita dúvida de que
vai afetar o mercado de juros, onde as taxas tenderiam a abrir. Na bolsa, à
primeira vista, pode ser negativo, mas talvez o mercado enxergue que, se o Fed
foi mais devagar, é porque a economia e o mercado de trabalho estão bem. Não
sei se deveria recuar.
- 50 pontos de
corte: O mercado de juros está bem precificado para essa situação. Não sei
se haveria ganho ‑ pode ter até uma realização. Quanto à bolsa, tenho a
impressão de que seria negativo, pois existem expectativas de que o Fed deveria
acelerar as reduções para evitar uma recessão, e essa medida implica que a
autoridade tem o mesmo ponto de vista.
No post os-modelos-(in)eficientes fiz os seguintes comentários sobre
o dólar: "... dentro do intervalo de R$ 5,7565 / R$ 5,4730 –
aproximadamente 5% – você pode fazer outra coisa; se romper para cima ou para
baixo, podem surgir oportunidades...".
Os comentários sobre a decisão do Fed têm um efeito menor sobre o dólar contra o real, afinal, que diferença existe entre o diferencial de taxa entre essas moedas? No caso de 50 pontos, fica líquido em 5,75% ou, no de 25 pontos, um líquido de 6,00%. Se fosse somente por esse aspecto, o dólar deveria estar bem mais baixo. As questões são mais em relação à sustentabilidade do programa do governo de gastança sem limites – ou limites que estão sendo manipulados de certa forma. Mas na quarta-feira existe outra variável a ser considerada: a reunião do BCB, onde o mercado espera que o comitê eleve a Selic.
Do ponto de vista técnico, reitero os mesmos pontos acima.
As cotações estão dentro do que denominei de “Terra de Ninguém”. Semana
passada, mais perto do limite superior; agora, mais perto do inferior.
O SP500 fechou a 5.633, com alta de 0,13%; o USDBRL a R$ 5,5108, com queda de 0,96%; o EURUSD a € 1,1128, com alta de 0,47%; e o ouro a U$ 2.581, com alta de 0,21%.
Fique ligado!
Divergência interessante no RSI. Em linha com a expectativa para o ibovespa.
ResponderExcluirCom base no histórico do Powell, acredito que o FED vai cortar 0,5% mantendo um discurso Hawk. Assim, O FED mantêm a bolsa longe do palco político e embala a bolsa com discurso de pouso seguro.
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