Os modelos (in)eficientes #USDBRL
No início dos anos 2000, eu estava totalmente envolvido no
mercado de câmbio do G10. O principal motivo, já comentado anteriormente, foi a
“porrada” que dei numa posição de euro. Graças a essa posição, que comprei no
bumbum da mosca (e o Mosca nem existia naquela data) a €0,84 e vendi
aproximadamente a €1,25, acabei entrando no mundo da análise técnica. Como
aconteceu? Inicialmente, eu seguia meu xará David Rosenberg, que era o
economista-chefe do Deutsche Bank e sugeriu, por motivos fundamentalistas, a
compra. Foi ele também que sugeriu a venda a €1,25.
Fiz uma alocação grande, 100% do meu patrimônio, uma loucura
pensando bem. Vocês imaginam como eram as oscilações diárias. Depois de ter
surfado esse rali, achei que entendia tudo e, acima de €1,25, decidi vender.
Não durou muito minha empreitada, pois depois de arcar com prejuízo, zerei a
posição a €1,30. Acredito que o que me salvou foi ter começado a acompanhar
Andrew Baptiste, responsável pela análise técnica do Morgan Stanley, que tinha
uma visão mais altista para a moeda única. Observei o mercado atingir €1,60 e
resolvi estudar o assunto. Esse é o gráfico do euro no período mencionado.
Durante esse período, grande parte dos analistas usava (e ainda usa) o modelo PPP – Purchasing Power Parity – Paridade do Poder de Compra, que sugere que, no longo prazo, as taxas de câmbio devem refletir o diferencial de preços entre os países. Ou seja, o valor de uma moeda em relação à outra deve se ajustar de maneira que o conjunto de bens tenha o mesmo custo em ambos os países, convertido pela taxa de câmbio. Parece lógico e bonito.
Então, comecei a acompanhar essa variável em conjunto com o
mercado. Depois de vários meses, cheguei à seguinte conclusão: de tempos em
tempos – e esses tempos são longos, muitos anos –, a taxa de câmbio chega à
taxa "ideal", calculada pelo PPP, fica ali por algumas semanas e se
distancia por mais alguns anos. Sinceramente, só serve para quem gosta de
modelos; para operar, é prejuízo certo.
Quando comecei a me interessar pelo mercado de ações, a
partir da grande recessão de 2009, notei que também nesse mercado existem
modelos que buscam estabelecer um preço justo. O mais usado é o P/L. Acho um
absurdo confiar nessa proporção. A ideia até é interessante, pois permite
calcular em quantos anos o lucro gerado seria necessário para recuperar o valor
investido. Hoje em dia, um P/L "barato" é de 15, enquanto as Sete
Magníficas giram em torno de 25 a 30. Eu faria uma pergunta simples para quem
acredita nesse critério: será que essa empresa vai existir daqui a 15 anos? Se
nem conseguimos responder a essa pergunta, quedirá prever seu lucro por tanto
tempo? Mas quem sou eu para questionar o mercado?
Ben Carlson publicou um artigo no site A Wealth of Common
Sense sobre a evolução das ações da Peloton desde seu lançamento na pandemia.
Comprei uma bicicleta de exercícios da Peloton nos primeiros
dias da pandemia. É conveniente e a tecnologia é bem interessante. No entanto,
nunca compraria ações da empresa. Tenho uma regra de que qualquer novidade
relacionada ao fitness é uma moda passageira. Já vi muitas dietas da moda,
equipamentos de exercícios sofisticados ou vídeos indo e vindo ao longo dos
anos.
John Foley, o ex-CEO da Peloton, não via dessa forma.
Enquanto observava o valor de mercado da empresa disparar de US$ 7 bilhões
antes da pandemia para quase US$ 50 bilhões pouco mais de um ano depois, Foley
disse ao conselho de administração que a Peloton valeria US$ 1 trilhão em 15
anos.
Eles responderam: "Não diga isso de novo. Faz você
parecer um idiota."
O conselho de administração estava certo.
As ações da Peloton desabaram quando as coisas voltaram ao
normal e toda a demanda deixou de ser antecipada.
O valor das ações está 97% abaixo de seus máximos históricos. Foley já teve um patrimônio de um bilhão de dólares (no papel), mas perdeu praticamente tudo. Recentemente, o New York Post fez um perfil sobre a ascensão e queda de Foley. Mesmo tendo se afastado da empresa, Foley ainda está otimista sobre o valor da Peloton:
Mas ele não tem interesse em levar uma empresa ao mercado
público novamente. “[As ações da Peloton] foram de US$ 170 para US$ 2... com
esse tipo de variação, não confio no mercado público para acertar o preço...
[Peloton é] uma empresa de US$ 40 ou US$ 50 no meu ponto de vista hoje”, disse
ele. (O preço atual está em torno de US$ 4,50). “A obrigação do mercado de
avaliar corretamente não está sendo cumprida.”
A Peloton é uma ação que vale menos de US$ 5. Foley acredita
que vale “US$ 40 ou US$ 50”, o que representa uma enorme discrepância. Ele
culpa os mercados. Está certo que a Peloton realmente foi pega na mania
especulativa dos dias da pandemia, mas isso é ridículo. Se ele realmente
acredita que a Peloton está tão subvalorizada, deveria reunir o máximo de
capital possível para comprar ações ou tornar a empresa privada.
As opiniões absurdas de Foley sobre a precificação do
mercado se alinham bem com a recente entrevista de Eugene Fama ao *Financial
Times*.
Fama criou a hipótese dos mercados eficientes.
Ninguém realmente acredita que os mercados são perfeitamente
eficientes, nem mesmo Fama:
Fama é surpreendentemente contido ao defender o trabalho de
sua vida, o que lembra a famosa observação do estatístico britânico George Box
de que todos os modelos estão errados, mas alguns são úteis. A hipótese dos
mercados eficientes é apenas “um modelo”, Fama enfatiza. “Tem que estar errado num
certo ponto.”
“A questão é se ele é eficiente para o seu propósito. E para
quase todos os investidores que conheço, a resposta é sim. Eles não vão
conseguir superar o mercado, então é melhor agirem como se os preços estivessem
certos”, argumenta ele, enquanto devora eficientemente seu wrap de frango.
Parte da reação contra a hipótese dos mercados eficientes pode ser simplesmente
devido à palavra "eficiente", que Fama admite entender. “Simplesmente
não consegui pensar em uma palavra melhor. Basicamente, a palavra diz que os
preços estão certos.”
Os mercados não são completamente eficientes, mas a maioria
dos investidores deveria agir como se fossem. Concordo com esse sentimento.
Essa citação de Fama é a que John Foley precisa ouvir: “Se os preços estiverem
obviamente errados, você deveria estar rico.”
Os preços das ações raramente estão “certos”, mas estão
certos mais frequentemente do que a maioria dos investidores pensa. E, se
estivessem claramente errados o tempo todo, não seria tão difícil superar o
mercado. Mas superar o mercado é difícil! Basta olhar para os números:
Gestores profissionais acham quase impossível superar os mercados em períodos de 10, 15 e 20 anos.
Na mesma entrevista, havia uma citação de Cliff Asness, da
AQR, sobre como os mercados se tornaram menos eficientes ao longo do tempo:
“Acho que [os mercados] provavelmente são menos eficientes
do que eu pensava 25 anos atrás”, admitiu Clifford Asness, um gestor de fundos
de hedge e ex-assistente de pesquisa de Fama, ao FT em uma entrevista no ano
passado. “E eles provavelmente ficaram menos eficientes ao longo da minha
carreira.”
Isso não parece fazer sentido. Se os mercados estão se
tornando menos eficientes, por que também está ficando mais difícil superá-los?
Felizmente, Asness publicou recentemente um novo artigo para
o *Journal of Portfolio Management* que expõe sua tese com mais detalhes. É um
artigo longo. Eu li tudo (não que eu esteja me gabando).
Aqui está o resumo principal:
Acredito que os mercados ficaram menos eficientes nos 34
anos desde os dados da minha tese. Acredito que isso provavelmente aconteceu
por vários motivos, mas a tecnologia, a negociaçãoque virou jogo vinte e quatro
horas por dia no celular e, em particular, as redes sociais são os maiores
culpados.
Concordo com esse sentimento. A velocidade dos movimentos do
mercado tornou as coisas mais macro-ineficientes, mesmo que o preço dos títulos
ainda seja relativamente micro-eficiente. Então, há mais volatilidade, mas
ainda é muito difícil escolher os vencedores.
Asness diz que isso tornará mais lucrativo para os
investidores que conseguirem manter estratégias comprovadas no longo prazo, mas
também será mais difícil manter essas estratégias no curto prazo.
Pensar e agir a longo prazo continua sendo sua maior
probabilidade de sucesso nos mercados.
Infelizmente, é mais difícil do que nunca ter uma
mentalidade de longo prazo.
Esses resultados levam à minha ideia de que o melhor a fazer
é investir por meio de ETFs em suas várias categorias. Se tiver uma opinião de
que o setor de tecnologia vai performar melhor, ok, escolha esse. Mas continuo
na minha tese de usar o SPY – ETF que se baseia no S&P 500 – que
provavelmente vai errar menos.
No post 100-de-acerto, eu expressei duas possibilidades
com movimentos em direções contrárias no curto prazo. Veja o resumo dessas duas
opções: ... “O arquivo é BRL – (Red Count). Nessa opção, o dólar precisa
ultrapassar o nível de R$ 5,7532 e principalmente R$ 5,8605”... Enquanto a
outra ... “Na opção (Yellow Count), o dólar já poderia estar em movimento
descendente. Inversamente, vou ficar desconfiado acima de R$ 5,7565. Caso a
onda C verde esteja em curso, algumas coisas têm que ocorrer: abaixo de R$
5,4730 aumenta a confiança” ... Embora tenha classificado a opção (Red
Count) como de menor probabilidade naquele momento, passada uma semana, ela
ganhou alguns pontos, razão pela qual a uso hoje.
O dólar ameaçou cair na semana passada, porém, na sexta-feira e hoje, voltou ao nível da última segunda-feira. Mantenho as orientações feitas no post acima: ... “Quando as opções técnicas são divergentes, o melhor é esperar uma definição. Eu poderia resumir da seguinte forma: dentro do intervalo de R$ 5,7565 / R$ 5,4730 – aproximadamente 5% – você pode fazer outra coisa; se romper para cima ou para baixo, podem surgir oportunidades” ...
O compromisso do Mosca é com o bolso; agora, se você está
ansioso, sugiro que tome um calmante. Venho enfatizando que o movimento de alta
que imagino para o dólar seria desafiador, e não tem sido diferente – ending
diagonal. Não vou sugerir algum trade se os parâmetros técnicos assim não
indicarem. Agora, eu posso estar errado na minha análise e, se isso ocorrer, eu
mudo! Mas não é o caso. Aguente firme, em algum momento vai ficar mais claro.
O SP500 fechou a 5.471, com alta de 1,16%; o USDBRL a R$ 5,5802,
com queda de 0,32%; o EURUSD a € 1,1036, com queda de 0,42%; e o ouro a U$
2.505, com alta de 0,36%.
Fique ligado!
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