Mosca "Greatest Hits" #S&P500
Se um leitor antigo do Mosca for perguntado qual o assunto
que mais apareceu nos posts, provavelmente dirá: a Europa. Quando criei o blog,
em 2011, comentei em alguns posts os motivos que me faziam cético em relação a
esse continente. Em resumo, a criação da moeda única inviabilizou essa região
com países tão distintos. Câmbio fixo não funcionou em lugar nenhum no mundo, e
a Europa não seria a exceção. Agora que o euro existe, e nenhum país teve
coragem de abandoná-lo, medidas esporádicas continuam sendo adotadas,
empurrando o problema com a barriga.
Outro local recente que ganhou destaque aqui foi a China.
Nessa, passei de grande entusiasta para grande decepcionado. Se tivesse que
resumir o problema central, foi o crescimento de sua economia baseado em um
único cliente: a exportação. E esse cliente principal está se afastando, seja
das compras, seja das fábricas no país. É verdade que a China busca novos
parceiros, forçando a entrada de seus produtos em países emergentes onde possui
grande influência, mas isso não é suficiente.
Hoje pela manhã, havia dois artigos sobre essas regiões, mas
optei pela China, que tem mais importância atualmente. Sobre o primeiro, faço
um pequeno resumo do artigo publicado por John Authers, da Bloomberg, que
reforça minha tese.
Mario Draghi, ex-primeiro-ministro da Itália, é mais
conhecido por sua promessa feita há 12 anos, quando era presidente do Banco
Central Europeu (BCE), de "fazer o que for preciso" para salvar o
euro. Naquela época, ele tinha considerável liberdade de ação, e suas palavras
surtiram efeito. A crise da dívida soberana da zona do euro rapidamente
arrefeceu. O custo, pode-se argumentar, foram anos de crescimento lento,
enquanto o BCE fornecia a liquidez necessária para ajudar o continente a sobreviver
a uma severa austeridade.
Esta semana, quando o BCE quase certamente cortará as taxas
de juros, Draghi voltou às manchetes com um relatório radical para a Comissão
Europeia, que propõe uma reformulação profunda das instituições da zona do
euro, a fim de permitir que a UE recupere o terreno perdido. Desta vez, no
entanto, nem ele nem ninguém mais tem controle direto sobre as alavancas
necessárias para que isso aconteça.
Se há um gráfico que resume o problema da Europa, é este.
Ele mostra a produtividade do trabalho da UE como uma proporção da dos EUA
desde 1890:
E a produtividade apontada é consequência de uma moeda que não serve para todos os países, com diferenças marcantes entre eles. O euro não é aquela loja onde se encontram produtos “one size fits all”.
Já no caso da China, que não tem a coragem — talvez ninguém
teria — de enfrentar o problema com medidas mais profundas, o país tenta
ajustes que não resolvem. Agora, é a bolsa de valores que se encontra em um
momento crítico, ao se aproximar de um nível perigoso, conforme relatam
Abhishek Vishnoi e outro jornalista da Bloomberg.
Um aumento na venda de ações chinesas está exacerbando uma
crise de confiança na segunda maior economia do mundo, pressionando ainda mais
os formuladores de políticas a interromper a espiral descendente. Um índice de
referência das ações domésticas do país está próximo dos níveis mais baixos
desde janeiro de 2019, refletindo o pessimismo no mercado. Com uma queda de
quase 7% este ano, o índice CSI 300 caminha para uma queda anual inédita pelo
quarto ano consecutivo, enquanto um índice de ações chinesas da MSCI Inc. está
a caminho de seu maior período de desempenho inferior em relação às ações
globais desde o início do século.
A pressão vendedora está aumentando à medida que a crise
imobiliária da China derruba o consumo, e as tensões geopolíticas se
intensificam antes das eleições dos EUA em novembro. O risco para o governo de
Xi Jinping é que a queda do mercado reduza ainda mais a confiança entre
consumidores e empresas, gerando um ciclo deflacionário na economia. É por isso
que fundos apoiados pelo governo gastaram bilhões de dólares tentando sustentar
os preços das ações, com pouco sucesso.
Embora os investidores tenham pedido mais estímulos
econômicos, Pequim, até agora, não demonstrou interesse em adotar medidas
contundentes, como as que ajudaram a recuperar a economia e os mercados
acionários em ciclos anteriores.
Não é que os formuladores de políticas não tenham agido para resolver os problemas. Este ano, estima-se que fundos estatais tenham comprado cerca de US$ 66 bilhões em fundos negociados em bolsa para sustentar as ações até meados de agosto. Restrições foram impostas ao trading quantitativo e à venda a descoberto, para reduzir a volatilidade, enquanto as empresas foram instadas a aumentar a recompra de ações e o pagamento de dividendos. Em fevereiro, a China substituiu o chefe de seu órgão regulador de valores mobiliários em uma medida surpresa.
Para os investidores, porém, as medidas foram
decepcionantes. E a China não parece disposta a seguir um caminho econômico
diferente que capacite as empresas. O risco é que o mercado de ações permaneça
em um limbo, à medida que o país entra em uma era de crescimento lento, sem o
vigor de um mercado emergente nem a estabilidade de um desenvolvido.
O desempenho ruim da China contrasta fortemente com a alta
das ações globais este ano, destacando o ceticismo dos investidores em relação
à visão de Xi para o país. O CSI 300 está agora próximo dos níveis vistos no
início de 2019, enquanto os índices de referência nos EUA, Japão e Índia quase
dobraram — ou mais — seus níveis nesse período. O aumento do controle estatal
sobre empresas privadas e os crescentes conflitos comerciais, à medida que a
China busca a autossuficiência industrial, estão entre as causas fundamentais
que tornaram as ações do país indigestas para muitos investidores.
No total, cerca de US$ 6,5 trilhões foram eliminados do valor de mercado das ações chinesas e de Hong Kong desde o pico atingido em 2021. Isso é quase equivalente ao tamanho do mercado acionário japonês. Na terça-feira, o índice CSI 300 caiu até 0,7%, antes de se recuperar e terminar 0,1% mais alto, após dados mostrarem que as exportações aceleraram inesperadamente em agosto. O índice acumula queda de quase 4% em setembro, após uma sequência de quatro meses de perdas.
Embora tenha havido alguns repiques nos últimos anos, a
maioria não durou mais do que algumas semanas, à medida que a dura realidade
econômica se impôs. Havia esperanças de que as coisas pudessem ser diferentes
este ano, já que os índices de referência chineses avançaram de fevereiro até
meados de maio. Isso se revelou mais uma falsa esperança, à medida que a
fraqueza econômica persistiu e os lucros não se recuperaram.
Os lucros por ação do índice MSCI China caíram 4,5% em
relação ao ano anterior no segundo trimestre, o pior desempenho em cinco
trimestres, segundo dados da Bloomberg Intelligence.
A deflação que assombra a China desde o ano passado está mostrando sinais de intensificação, com expectativas de que uma medida mais ampla de preços da economia, conhecida como deflator do PIB, continuará sua queda por cinco trimestres até 2025. O perigo é que a deflação se intensifique, incentivando os consumidores a cortar gastos ou adiar compras, esperando que os preços caiam ainda mais. As receitas corporativas sofrerão, levando a mais cortes salariais e demissões.
Outros relatórios apontam para um volume enorme de operações cambiais realizadas pelos bancos estatais para controlar a queda do yuan, imprimindo enormes prejuízos a essas instituições. Por onde quer que se observe, os problemas estão se alastrando em uma economia que internamente se encontra estagnada, devido à enorme crise imobiliária que parece não ter fim. Enquanto os preços dos imóveis não se estabilizarem por conta própria — sem auxílios ou ações do governo —, dificilmente o consumidor chinês voltará a gastar.
Felizmente, a maior pauta de exportações brasileiras para a
China é de commodities agrícolas, o que nos dá uma certa estabilidade. No
entanto, o mesmo não se pode dizer das commodities metálicas, cujos preços
estão próximos das mínimas. Não sei se por ingenuidade do Lula ao se aproximar
desse país, acabamos sendo obrigados a receber yuans em vez de dólares. Acredito
que os empresários sabem que a única moeda conversível é o dólar.
Nem eu nem ninguém tem a menor ideia de como isso vai
terminar, mas posso afirmar que, se continuar como está, muitos mais posts
serão escritos sobre novas crises aqui e ali. A China virou agora o "Greatest Hits" do Mosca.
Ah, meu amigo me lembrou: preciso incluir também os fundos
ativos nessa categoria! Hahaha...
No post "Cuidado com a Carona", fiz os seguintes comentários sobre o S&P 500: "Durante a última semana, não houve nenhuma definição indicando que o mercado está numa consolidação de curto prazo — triângulo? A única coisa que posso oferecer neste momento é um melhor objetivo: 5.789 / 5.801, o que não é de grande valia..."
Fiz uma mudança na contagem de ondas, compatível com o que comentei no post "A Ilógica Política", sobre a Nasdaq 100. A onda 3 azul, que na semana anterior ainda estava incompleta, agora está finalizada, e devemos estar na onda 4 azul, que presumo ser um triângulo (destacado no gráfico a seguir). Se isso estiver correto, o mercado vai ficar em idas e vindas até as eleições americanas. Nada a fazer no curto prazo.
O S&P500 fechou a 5.495, com alta de 0,45%; o USDBRL a R$ 5,6542, com alta de 1,27%; o EURUSD a € 1,1025, sem variação; e o ouro a U$ 2.516, com alta de 0,46%.
Fique ligado!
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