Trader entende de tudo (ele acha!) #OURO #IBOVESPA
Quando eu era mais trader do que investidor, numa época em
que não havia tantas fontes de informação, o dia era mais tranquilo. Isso
poderia ser uma vantagem, pois liberava tempo para explorar outros mercados que
não eram do meu conhecimento. Afinal, um trader acha que entende de tudo —
minha esposa acha que ainda não perdi essa mania!
Certa vez, quando estava na Planibanc, instalaram um monitor
da Reuters que permitia acompanhar os mercados internacionais. Ao observar a
tela, notei o símbolo "TEA" — que raio era aquilo? Comecei a
acompanhar diariamente e percebi que subia constantemente durante o dia e caía
no seguinte. Desconfiei que era um marcador de tempo. Resolvi pregar uma peça
em um colega trader. Mostrei o símbolo e disse que era um contrato futuro de
chá, e, como era negociado em Londres, tinha muita liquidez. Ele começou a acompanhar
durante a manhã e ficou perplexo, pois o preço só subia. Perguntei o que ele
faria. “Vou vender”, respondeu. Fomos almoçar e, na volta, ele viu que o preço
estava ainda mais alto. “Vou esperar, tem que cair!”, ele disse. No final do
dia, zerou a posição com prejuízo. No dia seguinte, ao ver o preço, ele
afirmou: “Falei que ia cair!”. Foi quando eu contei que era apenas um marcador
de tempo. Rimos muito, mas essa história, que é real, mostra como traders acham
que entendem de tudo.
Naquela época, nas rodinhas de bate-papo, sempre surgia a
pergunta: Se você pudesse escolher uma informação de daqui a um ano, qual
seria? Logicamente, com esse dado, poderíamos inferir como estariam os outros
mercados e ganhar dinheiro. Era um total “wishful thinking”. Nunca
verificávamos posteriormente o que realmente acontecia, até porque essa
informação tinha valor zero! John Authers traz na Bloomberg um estudo feito por
uma empresa de pesquisa inglesa cujo tema é autoexplicativo: Saber o futuro não
faz você ganhar dinheiro.
Fingindo Ver o Futuro
Ninguém no mundo quer jornais de ontem. Em 24 horas, eles
não servem para mais nada além de embrulhar peixe e batatas fritas. No entanto,
os jornais de amanhã não são mais úteis se você está jogando no mercado de
ações. No curto prazo, saber as notícias do dia seguinte não ajuda a ganhar
dinheiro.
Isso parece estranho. No filme *De Volta para o Futuro 2*,
Biff Tannen fica rico quando recebe de presente um almanaque esportivo do
futuro que permite que ele aposte corretamente em todos os eventos esportivos.
Mas, no dia a dia e minuto a minuto, os mercados tentam antecipar o que está
por vir. O conhecimento do que acontecerá a seguir não é tão útil. Em vez
disso, a melhor abordagem é seguir uma estratégia rigorosa de apostas, sabendo
quando apostar alto e quando ser conservador. (Um corolário vital de saber
quando segurar a posição, etc.)
Essas são as principais conclusões de uma pesquisa
fascinante conduzida por Victor Haghani e James White, da Elm Partners, em
Londres, disponível When a Crystal Ball isn´t enough. Eles criaram um jogo no qual
os traders viam a primeira página do Wall Street Journal (com os preços de
mercado ocultos) e eram convidados a apostar na direção do S&P 500 e do
título do Tesouro de 30 anos no dia anterior. A dinâmica é assim:
A Elm Partners colocou o jogo online, e você pode jogá-lo gratuitamente jogo. É muito divertido. Começando com um milhão de dólares fictícios, um grupo de 118 traders experientes fez apostas em 15 dias diferentes, escolhidos aleatoriamente pela Elm Partners dos últimos 15 anos. Os resultados foram quase cômicos:
Os jogadores acertaram a direção das ações e títulos em
apenas 51,5% das aproximadamente 2.000 operações que realizaram. Eles acertaram
a direção dos títulos 56% das vezes, mas apostaram menos capital em títulos do
que em ações (se você está planejando uma carreira como trader macro
proprietário, considere focar em títulos).
Mesmo com previsões, você acerta um pouco mais da metade das
vezes. O retorno médio foi de apenas 3,2%, com metade perdendo dinheiro e um em
seis indo à falência. O que os prejudicou não foi a falta de conhecimento
econômico, mas o "dimensionamento" — a decisão de quanto apostar em
cada operação. Algumas previsões eram mais claras do que outras, e uma
proporção maior de traders previu corretamente a direção de ações ou títulos —
mas não aproveitaram a oportunidade para apostar mais dinheiro nessas operações:
Em oito das 30 oportunidades
de negociação, os jogadores, no agregado, tinham chances de 2 para 1 de estarem
corretos em suas apostas, mas não apostaram mais nesses casos. No geral, eles
não exibiram um dimensionamento de negociações que tivesse relação com sua
propensão a adivinhar corretamente os movimentos de preços de ações ou títulos.
Haghani e White também encontraram evidências de que pessoas
no topo da profissão de trading realmente ganhavam mais dinheiro com as mesmas
oportunidades — impulsionadas mais por uma gestão mais inteligente do
dimensionamento das apostas do que por uma melhor capacidade de prever as
manchetes. Quando cinco traders de nível sênior jogaram o jogo, todos
terminaram no positivo, com um ganho médio de 130%. Enquanto isso, as 1.500
pessoas que jogaram no site perderam, em média, 30%.
Se você realmente soubesse a direção dos preços com
antecedência, em vez das notícias às quais eles estavam reagindo, os retornos
seriam infinitos. É por isso que as pessoas tentam negociar em primeiro lugar.
Haghani descreve uma abordagem que lembra o meteorologista de Bill Murray,
preso em um ciclo temporal no filme Feitiço do Tempo:
Seis jogadores se dedicaram a
obter o maior retorno possível, aumentando sua riqueza inicial em 70.575 vezes.
Eles fizeram isso jogando repetidamente para ver o que ações e títulos fizeram
em cada dia e, em seguida, usando essas informações para obter a pontuação
perfeita, apostando o valor máximo em cada negociação.
É por isso que as pessoas apostam, e apostam alto. Mas, no
mundo real, para ganhar dinheiro, você precisa reconhecer suas limitações e
apostar menos quando não está totalmente certo. Adicione isso à excitação da
semana passada, quando o Fed cortou 50 pontos-base, apenas para ser recebido
com uma queda no mercado de ações, e tente negociar com humildade. Ou melhore
suas habilidades no pôquer. Ou jogue o jogo da Elm online.
Desenvolvimento Econômico: É Complicado
Mais diversão na internet. O Growth Lab da Escola
Kennedy de Harvard lançou nesta semana a versão 10.0 do Atlas da Complexidade
Econômica, a 10ª edição de seu extenso esforço empírico para medir como os
países se desenvolvem e se preparam para crescer no futuro. A impressionante
gama de informações e percepções não intuitivas é deslumbrante. É melhor
explorar o site você mesmo, mas, como exemplo, ele pode mostrar como a
participação da Europa Oriental nas exportações mundiais cresceu, o que Gana
exporta e o "espaço de produtos" (a conectividade entre produtos, com
base nas similaridades de conhecimento necessário para produzi-los) para o
México, revelando que sua tradicional indústria de petróleo não leva ao
desenvolvimento de outros negócios, enquanto sua base na fabricação de
automóveis está gerando muito mais habilidades e infraestrutura transferíveis.
A teoria básica é que o que impulsiona o crescimento é a
complexidade econômica, medida pela variedade de diferentes negócios em um país
e a facilidade com que suas habilidades podem ser transferidas para outros
setores. A mineração não vai muito longe; treinar trabalhadores para montar
eletrônicos provavelmente inculca habilidades que podem ser aplicadas em outros
lugares. Uma vez que um país se torna mais complexo, ele é mais resiliente a
choques e mais bem preparado para crescer.
Para deixar claro, isso não ajuda a prever o mercado de
ações mais do que as manchetes de amanhã do Wall Street Journal. O Japão tem
sido a economia mais complexa do mundo desde que o projeto começou. Isso não
ajudou suas ações:
As mudanças ao longo do tempo, no entanto, são fascinantes. Hong Kong se tornou mais complexo na última década. Nações da Europa Central (mais espetacularmente a Romênia) agora são muito mais diversas, preparando-as para o crescimento. Estes são os 25 países mais complexos economicamente, juntamente com a mudança de sua classificação na última década:
Essa análise ajuda a explicar por que a moda de investir nos BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China) de duas décadas atrás não entregou os resultados esperados. Veja como os rankings de complexidade desses países, junto com os dos EUA e Japão, mudaram desde 1995:
Entre as economias dos BRICs, apenas a China se tornou mais complexa e capaz de enfrentar mais desafios, enquanto a Rússia e o Brasil regrediram. A melhor explicação pode ser a "maldição dos recursos naturais", em que países ricos em recursos, como África do Sul, Venezuela ou Nigéria, não conseguem se desenvolver, enquanto aqueles sem recursos, como Coreia do Sul ou Camboja, são forçados a serem empreendedores e inovadores.
Além disso, observe que a Coreia do Sul subiu da 22ª para a 2ª posição desde 1995, enquanto a França caiu para a 22ª, tendo descido do oitavo lugar. Com a economia da França gerando preocupações crescentes, esse é um dado difícil de ignorar.
Decepcionado? Eu não fico surpreso com essas conclusões; a
própria experiência me mostrou que o grau de acerto é baixo quando se usa
fundamentos. A não ser em situações mais óbvias, onde há uma grande
concordância sobre os efeitos de um dado econômico, as demais são subjetivas.
Dependendo do grau de adesão à sua percepção, você terá sucesso.
Fico feliz de ter feito a mudança para a análise técnica,
que é o final das ações dos investidores. Por exemplo: na situação de alta
concordância, provavelmente é a onda 3; outras situações podem ser a onda 1 —
uma alta não tão convincente sucedendo a um período de queda; ou a onda 5, onde
o movimento de alta começa a ficar “cansado”. Tudo isso pode ocorrer em um
mercado de queda, que inverte as direções mencionadas. Correções ocorrem em um
jogo dividido.
Se você pode observar e julgar — segundo algum critério
técnico — o que o mercado compreendeu, para que precisa “adivinhar” qual será o
movimento com base no fundamento? Usando os gráficos, posso manter a tradição
de trader: entender de tudo! Hahaha...
No post cinquentinha-ou-cinquentão fiz os
seguintes comentários sobre o ouro: ... “No post acima comentei que o ouro
estava em um modelo diagonal. Nas duas semanas desde a última postagem, ele se
aproximou da zona onde é necessária uma definição. O que quero dizer com isso é
que existe um limite para a alta que justifica essa hipótese, e esse limite é
de US$ 2.659”...
Como comentei acima, a hipótese do modelo diagonal foi abandonada. Nessa nova opção, onde a onda 5 verde é “normal”, surgem dois pontos como possíveis objetivos para o ouro: U$ 2.712 / U$ 2.765, não muito distantes do nível atual. Não tenho muita convicção nesses limites; podem se situar acima. Somente após completado esse movimento, um período de correção deverá levar o metal para algo ao redor de U$ 2.326.
- Hahahah... perdeu essa alta mesmo estando certo!!!
Tem toda razão. Fiquei refletindo um pouco sobre o motivo de
ter perdido esse movimento. Seguramente foi falta de disciplina em seguir as
evidências, além de não acompanhar tão de perto quanto acompanho as bolsas. Meu
único consolo é que tinha uma visão de alta, o que não deve ter causado
prejuízo a nenhum leitor.
Resolvi fazer uma entrada no IBOVESPA, como comentei no
post -- mundos distintos ---- : ... “Na
janela de uma hora, é possível ver claramente 3 ondas, e, sendo assim, vamos
acompanhar, nas próximas horas, duas situações extremas: abaixo de 130.848
posso começar a pensar em uma nova configuração para a bolsa, com múltiplas
opções — tanto de alta quanto de baixa; acima de 133.073, completa-se as 5
ondas e minha análise atual continua válida. O que não pode acontecer, de jeito
nenhum, é “encostar” nos 130.848. Let the market speak” … ocorreu
de acordo com a situação de manter minha hipótese de alta, sendo assim, sugiro
uma compra do Ibovespa a 132.930 com stop loss 131.500, algo como 1,0%.
Acho que vale o risco.
Fique ligado!
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