Surpresas não são anunciadas #IBOVESPA
Hoje, no final do dia, saberemos o que o Fed decidiu. Como
comentei ontem, vai ser interessante observar a reação dos mercados. Mas há um
outro assunto que vem ganhando destaque nos últimos meses e sobre o qual venho
alertando há bastante tempo: a China! John Authers publicou na Bloomberg uma
comparação entre o que está ocorrendo com esse país e o que aconteceu no Japão
desde 1990.
Antes de expor suas ideias, fiquei pensando que talvez o
problema não surja dos EUA, onde boa parte dos analistas estão preocupados com
a saúde da economia, o que parece estar longe de ser uma questão grave. Por
exemplo, ontem foi publicado o GDPNow, projeção do PIB que tem se mostrado
precisa, apontando para um crescimento de 3% neste trimestre. Notem no gráfico
abaixo que, ao longo do tempo, essa estimativa nunca ficou abaixo de 2%.
Estamos falando de 3%! Isso não é pouca coisa!
Agora, e se o problema vier da China? Como poderemos ser (ou já estamos sendo) impactados? Reforcei inúmeras vezes que Xi Jinping deve estar muito preocupado, pois, imaginem se a China entrar em recessão. Pode acontecer? Sem dúvida. Um ciclo vicioso de contenção de consumo aliado a exportações em declínio não tem santo que segure. Como diz meu ex-sócio Luis Paulo Rosenberg: "se o touro está largado, pode dar a corda do mundo que ele não levanta". Ou seja, mesmo com juros a -0% (o sinal de menos é para relembrar as experiências recentes de juros negativos), a economia não reage.
Numa situação dessas, a China se tornaria uma exportadora de
deflação para o mundo. E, mesmo que existam restrições às importações deles em
países desenvolvidos, preço é como a água: flui no caminho de menor
resistência. Essa é a ideia de Ed Yardeni em suas postagens. E qual seria o
impacto? Seria como um banho de água fria nas previsões daqueles que acreditam
que a inflação vai subir, como a Gavekal insiste em seus relatórios. Por sinal,
essa respeitada casa vem cometendo erros ultimamente, recomendando que os
investidores saiam correndo dos EUA e apostem na China. Se aliarmos a IA a esse
cenário, será que voltaremos a conviver com taxas de juros baixíssimas?
Quero destacar que não estou fazendo uma previsão do futuro,
apenas elucubrando sobre cenários possíveis.
A Jornada do Japão para a China
Enquanto todos aguardam notícias do Federal Reserve, os
olhos devem se voltar para a China. O crescimento vacilante de Pequim está
sendo comparado à clássica crise do Japão desde a década de 1990 — a
"japonização". Isso foi evidenciado na última Pesquisa Global de
Gestores de Fundos do Bank of America, que encontrou expectativas de
crescimento para a China em um nível recorde de baixa, com 18% dos respondentes
esperando uma economia chinesa mais fraca:
O setor habitacional está profundamente interligado com a demanda global por commodities, como aço e outras matérias-primas, o que significa que os problemas não são apenas de Pequim. De fato, Tim Congdon, do Instituto de Pesquisa Monetária Internacional, acredita que resolver as dificuldades do sistema financeiro chinês é vital para as perspectivas econômicas globais. Em maio, os formuladores de políticas anunciaram reformas para fortalecer o setor imobiliário, e esses esforços parecem estar começando a mostrar alguns sinais de melhoria.
Os balanços domésticos excessivamente esticados podem estar
impedindo uma recuperação mais robusta. A dívida das famílias mais que dobrou
na última década, alcançando 143% da renda disponível em 2021, antes de se
estabilizar. Assim, taxas de juros recordes de baixa têm pouco efeito; sem
renda suficiente, a capacidade das famílias de contrair empréstimos é limitada.
Harry Colvin, da Longview Economics, sugere que a política monetária precisa
fazer mais:
"A política monetária mais
frouxa, claro, é ineficaz em uma recessão de balanço patrimonial... A curto
prazo, dado que a política está falhando (e muito rígida), a deterioração do
ciclo de crédito, do mercado imobiliário e da economia mais ampla deve
persistir, especialmente na ausência de um alívio significativo na
política."
Qualquer alívio para as famílias não virá facilmente. Com os
incentivos certos, elas poderiam usar suas poupanças em excesso para
impulsionar o consumo. No entanto, o Barclays mostra que essas poupanças estão
majoritariamente em depósitos a prazo, que representaram 96% de todos os
depósitos em 2023:
Evidências pontuais sugerem que as famílias preferem manter depósitos com vencimentos de até cinco anos, para garantir taxas de juros relativamente “altas”, uma vez que se espera amplamente um ambiente de taxas baixas por um longo período.
O Japão levou cerca de três décadas para escapar de sua
crise econômica. O valor de ativos destruídos pela queda no setor imobiliário é
estimado em US$ 9 trilhões, o dobro do valor de mercado das ações da China.
Enquanto isso, o mercado de ações chinês está começando a se assemelhar
alarmantemente ao do Japão:
Não há uma solução rápida. A experiência do Japão e dos EUA indica que pode levar pelo menos uma década para reduzir o endividamento do setor privado. Paciência será necessária.
É interessante a semelhança entre esses dois países do ponto
de vista econômico, mas há uma diferença crucial entre eles: enquanto o Japão é
um país pequeno, tanto em território quanto em população, o mesmo não se pode
dizer da China, com vasto território e a segunda maior população do planeta. A
história mostra que, quando ocorrem situações de grande estresse num país,
gerando descontentamento generalizado, o governo desse país tende a buscar
confusão com seus vizinhos, desviando o foco do problema principal.
Como diz Authers, imaginar que o Fed seria o causador de um
grande problema parece pouco factível. Afinal, o debate sobre o tema dos juros
e agregados está sendo exaustivo. O mesmo não se pode dizer da China, onde os
comentários e análises são colocados em segundo plano. Surpresas acontecem onde
não se espera, não são anunciadas.
No post qual-motor-esta-falhando, fiz os
seguintes comentários sobre o IBOVESPA: ... “Na semana passada, ao observar
a bolsa com janela de 1 hora, parecia nítido que uma onda B de menor porte
havia terminado em 05/09 e que uma onda C deveria estar em curso. Fiquei
propenso a liquidar a posição, mas me segurei, pois a principal razão seria a
dificuldade em entrar novamente. Por enquanto, SE a onda 4 verde
terminou, a bolsa estaria rumando para o nível de 146,3 mil. Ficamos na
torcida” ...
Continuei me segurando para não vender e mantendo a disciplina que o gráfico me impõe. Posso dizer que, no curto prazo, não parece que a bolsa esteja pronta para subir. Na janela de 1 hora, o movimento tem sido errático, para cá e para lá. Tenho a impressão de que essa correção vai se alongar e possivelmente acionar nosso stop loss.
- David, parece que você está jogando a toalha, por que
não zera de uma vez?
É verdade, está parecendo mesmo. Vou dar meus argumentos:
numa correção, normalmente se imagina uma determinada forma (flat, zig-zag,
triângulo etc.) de acordo com a onda que se encontra (onda 2, onda 4, B etc.),
além do princípio de alternância, como é o caso — onda 2 azul, retração
forte, steep; onda 4 azul, retração amena. Mas pode ser muito
diferente do esperado; no caso específico, o stop loss tem pouco a
perder e, caso o movimento de alta ocorra, muito a ganhar.
Nota: não confunda o stop loss da posição com o apontado no
gráfico; esse último é para o cenário de alta adotado.
O SP500 fechou a 5.618, com queda de 0,29%; o USDBRL a R$ 5,4612, com queda de 0,38%; o EURUSD a € 1,1106, sem variação; e o ouro a U$ 2.550, com queda de 0,73%.
Fique ligado!
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