Mundos distintos #IBOVESPA
Quando o PIB de um país sobe, é mais do que natural imaginar
que seus habitantes estejam felizes, no quesito economia. Mais empregos,
salários em alta – por que seria diferente? No entanto, pode ser bem diferente
se a concentração dessa renda estiver em uma parcela pequena da população. O
inverso, porém, não ocorre: se o PIB cai, é ruim para todos, talvez os mais
ricos percam mais, mas isso pouco importa.
Desde a recessão de 2008, quando os bancos centrais
inundaram os mercados com liquidez — lembram dos helicópteros? —, baixando as
taxas de juros a níveis impensáveis, foi gerada muita riqueza para os
detentores de ações, normalmente a parte superior do espectro de renda. Vocês
devem lembrar do movimento “99%”, que mencionei no post a-desigualdade-está-explodindo, em fevereiro de 2013.
Esse processo se desenvolve desde então, com apenas alguns
períodos de alteração, como ocorreu durante a pandemia, quando os salários dos
mais pobres subiram mais que os dos ricos. Contudo, foram períodos curtos, logo
seguidos pelo retorno à tendência anterior. Alertei várias vezes sobre o perigo
dessa concentração, que historicamente não termina bem — e temo o que a IA pode
intensificar o problema nesse aspecto.
Beth Kowitt comenta na Bloomberg como a confiança dos
americanos nas grandes empresas foi de mal a pior, pois houve épocas em que o
crescimento econômico beneficiava todos. Atualmente, parece que apenas os ricos
estão melhor.
Por quase um século, a Boeing Co. foi um ícone dos negócios
nos Estados Unidos, propagando a excelência da engenharia e do espírito
corporativo americanos pelo mundo. Milhões de viajantes embarcavam diariamente
em aviões da Boeing com uma confiança absoluta.
Todos sabemos o que aconteceu depois. Após dois acidentes
fatais em 2018 e 2019, denúncias e investigações revelaram uma empresa que
havia reduzido a qualidade e a segurança e destruído sua cultura de inovação em
busca de margens de lucro mais altas e valorização das ações. Mesmo antes de
uma porta se desprender de um avião da Boeing em pleno voo, em janeiro, ou de a
empresa deixar dois astronautas presos no espaço, em junho, o estrago já estava
feito: a confiança que a Boeing construiu ao longo de décadas desapareceu — e
talvez nunca seja recuperada.
A Boeing é um caso extremo, mas não está sozinha. A
confiança dos americanos nas grandes corporações como um todo vem diminuindo
lenta, mas seguramente, ao longo dos anos.
O percentual de americanos que disseram à Gallup que têm
“muita” ou “bastante” confiança nas grandes empresas caiu de 30% em 1999 para
16% este ano. As repercussões são graves: apenas 40% das pessoas entre 18 e 29
anos tinham uma impressão muito ou algo positiva do capitalismo em 2022, de
acordo com o Pew Research Center. Isso é 33 pontos percentuais a menos do que
entre os com 65 anos ou mais. Considerando que as corporações americanas,
embora imperfeitas, foram algumas das maiores impulsionadoras de inovação e
geração de riqueza que o mundo já viu, esses dados deveriam preocupar qualquer
um que se importe com a economia americana.
Diagnosticar as forças que minam a confiança nas empresas em geral é mais complicado do que destrinchar os problemas da Boeing — e exige voltar ao início. Embora não tenhamos dados das primeiras fases da economia dos EUA, há poucas evidências de que, naquela época, se esperava que trabalhadores ou a sociedade pudessem confiar que as empresas cuidariam de seus interesses.
Então, de onde vem a ideia de que os americanos deveriam
confiar nas empresas? Historiadores apontam para os cerca de 25 anos após a
Segunda Guerra Mundial — um período curto, mas que deixou uma marca indelével
na consciência americana. Os anos pós-guerra foram extremamente prósperos,
marcados por uma redução rara da desigualdade entre os mais pobres e os mais
ricos. Havia uma avalanche de coisas para construir e vender, e um influxo de
americanos retornando das frentes de batalha para fazer isso. Os EUA se
tornaram o centro manufatureiro do mundo, posição que ocuparam por décadas.
Avanços tecnológicos ajudaram a produtividade dos trabalhadores a atingir
níveis históricos, impulsionando as receitas corporativas.
Mas essa promessa foi curta. No final dos anos 1960 e início
dos 1970, parecia que uma ruptura estava em andamento — estagflação, conflitos
de direitos civis, crise do petróleo, Watergate, Vietnã. Ao mesmo tempo,
economias internacionais, como as da Alemanha e do Japão, começaram a se
recuperar. A combinação única de forças que havia impulsionado o poder
financeiro dos EUA estava se dissipando. “Você não pode tocar esse sino duas
vezes”, diz Waterhouse. À medida que a produtividade e os lucros caíam, a desigualdade
de renda começou a subir. "Houve uma mudança de longo prazo na forma como
a economia realmente funcionava", acrescenta. A expectativa de que as
coisas melhorariam continuamente, de que os salários sempre subiriam,
melhorando a qualidade de vida da classe média, estava se tornando menos
realidade.
Globalização em alta, e os EUA já não eram o centro do mundo
econômico. Para os trabalhadores, isso significava a desconfortável experiência
de ver empregos indo para o exterior e enfrentar choques financeiros, como o
embargo do petróleo. Para as empresas, significava uma competição crescente —
e, nessa luta, o foco cada vez maior no decreto do economista Milton Friedman
de que sua “única responsabilidade social” era aumentar os lucros.
O impacto dessas mudanças foi profundo. David Kelly,
estrategista-chefe global da JPMorgan Asset Management, argumentou que uma das
razões da desigualdade de renda é a mudança no PIB dos EUA: agora, os lucros
corporativos representam uma fatia maior do bolo, enquanto a compensação dos
trabalhadores diminuiu. Nos anos 1980, os lucros corporativos representavam
5,5% do PIB; em 2023, quase 10%. Ao mesmo tempo, a compensação dos
trabalhadores caiu de 55,8% para 52,1%. “O sucesso das corporações em reduzir a
fatia do trabalho tem sido um fator importante para aumentar sua própria
fatia”, escreveu Kelly em uma nota recente a clientes.
Os mais impactados são, claro, as classes média e baixa. O
1% mais rico agora detém mais riqueza do que toda a classe média dos 40% mais
pobres; três décadas atrás, o contrário era verdade. Para que isso ocorresse, a
riqueza dos mais ricos precisou crescer exponencialmente mais rápido do que a
dos mais pobres.
Para alguns americanos comuns, parecia que a economia dos EUA — e as corporações que a moviam — estavam quebrando o pacto: uma sociedade onde um emprego e trabalho duro permitiriam pagar as contas, talvez comprar uma casa, e onde, independentemente da origem, cada geração avançaria sobre os feitos da anterior.
Em vez disso, os descrentes viram aqueles no topo ficando
mais ricos — e escapando das consequências, mesmo quando quebravam as regras.
Desde o estouro da bolha das dot-com, o escândalo da Enron, até Madoff,
Theranos, FTX e Boeing, os americanos comuns encontraram muita evidência para
alimentar sua desconfiança. A crise financeira de 2008 e a Grande Recessão são
exemplos definitivos: pessoas perderam empregos e casas, e viram suas poupanças
evaporarem, enquanto muitos dos executivos que causaram o colapso saíram com
milhões.
O mais recente golpe na confiança é a hipocrisia. Em 2019, a
Business Roundtable redefiniu o “propósito de uma corporação”, declarando que a
responsabilidade da administração e dos conselhos não era apenas com os
acionistas, mas com todos os stakeholders [as partes interessadas] .
As empresas começaram a adotar posições sobre imigração, controle de armas e a
fazer promessas como cortar emissões e diversificar suas forças de trabalho.
Então veio a “guerra contra o politicamente correto”.
Pressionadas por forças conservadoras, muitas empresas voltaram atrás,
abandonando iniciativas que haviam anunciado com orgulho poucos anos antes. O
que fazer com um rompimento que se arrasta há décadas?
Pesquisadores apontam três fatores para a confiança: competência, empatia e valores — sendo que violações de valores são imperdoáveis.
A América corporativa pode não voltar no tempo, mas tem o poder
de melhorar. E essa é a meta a atingir se quiser recuperar a confiança pública.
Esse artigo esclarece alguns pontos que pareciam ilógicos:
eu me perguntava qual a razão da baixa popularidade de Biden numa economia que
cresce de forma robusta. Os argumentos seriam de que a grande maioria dos
americanos não está satisfeita, não por causa do governo em si, mas devido à
disparidade de ganhos salariais; e que a polarização, que observamos
mundialmente, está mais relacionada às grandes diferenças de renda do que
propriamente às crenças políticas. A famosa frase: Si hay gobierno, soy contra
poderia ser reescrita: Si hay disparidad, soy contra el gobierno.
Do ponto de vista matemático, existem duas formas de equalizar: ou a parte mais rica perde riqueza com a desvalorização dos seus ativos, ou a parte mais pobre ganha mais renda — o que implica que parte dos lucros das empresas seja canalizada para os salários. Ou, então, o status quo permanece. Nessa última opção, podemos esperar mais radicalização dos governos, até que esse equilíbrio instável leve a situações mais graves — guerras, rebeliões etc. Reflitam um pouco sobre esse tema e vejam como ele justifica várias situações que vivemos atualmente.
No post https://acertarnamosca.bsurpresas-não-são-anunciadas*, fiz os seguintes
comentários sobre o IBOVESPA: ... Continuei me segurando para não vender e
mantendo a disciplina que o gráfico me impõe. Posso dizer que, no curto prazo,
não parece que a bolsa esteja pronta para subir. Na janela de 1 hora, o
movimento tem sido errático, para cá e para lá. Tenho a impressão de que essa
correção vai se alongar e possivelmente acionar nosso stop loss ...
Dito e feito, fomos estopados na semana passada. A grande — grande mesmo! — questão é se minha leitura continuará válida ou não. Isso se resume a saber se a onda 4 verde violaria uma das três regras da Teoria de Elliot, caindo abaixo da onda 1 verde, que no gráfico está anotado como 129.658. Como podem ver a seguir, a queda recente atingiu a mínima de 130.072, ou seja, centímetros acima desse valor.
Como agir nesses casos? Embora tenha ficado muito próxima, não rompeu, e isso é suficiente para não eliminar a leitura feita. Ontem, o mercado recuperou parte dessa queda de forma expressiva. Na janela de uma hora, é possível ver claramente 3 ondas, e, sendo assim, vamos acompanhar, nas próximas horas, duas situações extremas: abaixo de 130.848 posso começar a pensar em uma nova configuração para a bolsa, com múltiplas opções — tanto de alta quanto de baixa; acima de 133.073, completa-se as 5 ondas e minha análise atual continua válida. O que não pode acontecer, de jeito nenhum, é “encostar” nos 130.848. Let the market speak.
O S&P500 fechou a 5.722, com queda de 0,19%; o USDBRL a R$ 5,4752, com alta de 0,38%; o EURUSD a € 1,1125, com queda de 0,49%; e o ouro a U$ 2.660, com alta de 0,12%.
Fique ligado!
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