Não basta dar lucro precisa ser sustentável #nasdaq100 #NVDA

 

Existe uma frase da política que sempre me fascinou: não basta ser honesto, é preciso parecer honesto. No mercado financeiro, a versão é direta: não basta dar lucro, é preciso parecer sustentável. Ao longo da minha vida profissional, vi inúmeros episódios em que empresas entregavam resultados excelentes, mas o mercado reagia como se tivesse visto um fantasma. Em outras ocasiões, notícias medíocres geravam ralis inesperados. É sempre a mesma história: o investidor compra narrativa. E, quando a narrativa racha, pouco importa a força do resultado. O momento atual é exatamente esse.

Os artigos da Bloomberg mostram um ambiente menos estável do que parecia. O setor imobiliário e o mercado de trabalho estão entrando num ciclo que conheço: emprego enfraquece, confiança cai, imóveis perdem valor, o consumo desacelera, e o próprio mercado de trabalho sofre de novo, num laço apertado. A Bloomberg menciona que mais da metade dos imóveis já perdeu valor desde o ano passado, uma estatística pesada para qualquer economia dependente da casa própria como vetor de riqueza.

 Enquanto isso, o setor de tecnologia — que vinha funcionando como o grande motor dos ganhos — sofreu sua primeira grande fissura desde o início do ciclo da inteligência artificial. A Nvidia entregou um trimestre impecável, mas o mercado virou para baixo em minutos. É impressionante como algumas coisas nunca mudam. Vi ações desabarem no passado mesmo com lucros espetaculares porque o investidor decidiu, naquele instante, olhar além do número. O Wall Street Journal descreve com precisão o incômodo crescente: existem dúvidas sobre a capacidade das big techs de recuperar os investimentos ciclópicos feitos em IA. São bilhões destinados a data centers, chips e infraestrutura, e a pergunta que começa a circular é se esse retorno ocorrerá no ritmo prometido.

 Em paralelo, Yardeni levanta um debate que costuma ficar escondido nos detalhes contábeis, mas agora veio para o centro. As gigantes de tecnologia estão esticando a vida útil de suas GPUs para cinco ou seis anos. A Meta, absurdamente, fala em onze. Ao mesmo tempo, a Nvidia lança gerações novas praticamente a cada doze meses. Michael Burry argumenta que isso mascara a necessidade real de reinvestimento e superestima o lucro atual. Yardeni pondera que existe um valor residual que prolonga a utilidade econômica desses chips quando eles migram de tarefas mais intensas para funções de inferência. Esse tipo de discussão, que no passado ficava escondida no rodapé do balanço, tornou-se agora parte orgânica da narrativa — e isso diz muito sobre o estágio em que estamos.

Outro ponto destacado pela Bloomberg é a dívida. Oracle, Meta, Alphabet e Amazon emitiram mais de 100 bilhões de dólares em menos de um ano para financiar a corrida da IA. Na minha vivência, ciclos de investimento tão acelerados financiados por dívida exigem uma convicção absoluta sobre o retorno. Quando essa convicção começa a falhar, o mercado pune de forma desproporcional. Nesse caso específico, não é o investimento que preocupa, mas a velocidade com que ele precisa se pagar.

Para completar o quadro, houve um enfraquecimento claro do famoso “comprar na queda”. A Bloomberg mostra que esse fluxo, que por anos foi uma espécie de rede de proteção automática do mercado, perdeu força. E quando até o comprador de queda hesita, fica evidente que o mercado perdeu convicção. Esse foi o pano de fundo da reversão pós-Nvidia: muitos estavam posicionados para alta, foram pegos de surpresa pela virada e, sem compradores do outro lado, o preço despencou.

 Somado a isso, há a questão da adoção da IA. O gráfico da Ramp AI mostra o avanço crescente da tecnologia entre empresas de diferentes tamanhos. Mas é preciso qualificar. A McKinsey diz que 60% das empresas usam IA em alguma função, mas apenas um quarto realmente escala a tecnologia. A Gartner reforça que maturidade operacional é privilégio de poucos. Adoção não é monetização — e o mercado está começando a precificar exatamente essa diferença.

O ponto central é que estamos vivendo a primeira grande triagem da inteligência artificial desde o início do ciclo. A euforia está em questão. Agora entramos na fase adulta, aquela em que cada empresa terá de provar, trimestre após trimestre, que não apenas lucra, mas que sua capacidade de lucro é durável, repetível e sustentada por fundamentos reais. Já vivi essa transição em outros setores — telecom, bancos, commodities — e sempre foi a mesma coisa: quando o mercado deixa de acreditar na sustentabilidade, nem o melhor resultado impede a turbulência.

O cenário atual não é diferente. Todas as grandes empresas do mundo investiram simultaneamente na mesma tecnologia, algo raríssimo. Se estiverem certas, a produtividade global pode entrar num ciclo de expansão que não vemos há décadas. Se estiverem erradas, será a primeira vez que tantos gigantes terão se enganado juntos. Até lá, permanece a regra fundamental que aprendi ao longo da vida: não basta dar lucro, precisa parecer sustentável. E essa percepção, mais do que qualquer número, é o que define a direção dos mercados.

 

Análise Técnica

No post “a-banalização-da-ia” fiz os seguintes comentários sobre a nasdaq100: “A Alta desde abril deste ano tem uma contagem desafiadora do ponto de vista de Elliot Wave. Quando isso ocorre é prudente se guiar pelo curto prazo para alguma pista. No caso otimista pode ser que esteja completando uma onda (v) vermelha diagonal conforme traçada no gráfico abaixo. Para que isso se concretize não deve negociar abaixo de 24.455”.


Vou tentar ser o mais prudente no curto prazo e não apontar as opções mais dramáticas de queda. Segundo a contagem expressa no gráfico semanal abaixo, a onda (5) vermelha de forma diagonal ainda sugere uma nova alta aos níveis destacados no retângulo 28,4 mil – 29,4 mil, desde que não ultrapasse 22,9 mil. Propositadamente não inclui o nível 26,3 mil. Como já mencionei antes “estamos nos aproximando de níveis importantes, como destacado no retângulo — sendo que um deles já foi atingido” ele será usado para identificar o final desse movimento e o início de um ciclo de baixa.


Em relação a Nvidia meu comentário foi: “Demarquei duas regiões, a primeira em azul onde seria suportada a correção em andamento, já o retângulo em laranja eleva a possibilidade de quedas mais extensas e principalmente se romper o nível de U$ 164,08”.


Minha contagem permanece a mesma, porém com uma margem de manobra bem restrita. O gráfico com janela diária indica que a onda 2 azul deveria estar terminando, para tanto os níveis de U$ 173,35 e U$ 168,58 são fundamentais, não deveriam ser ultrapassados. Caso o stop loss apontado de U$ 164,08 seja rompido vou ter que refazer minha contagem.


Vejam o gráfico abaixo que me deixou intrigado. Sabemos que a tecnologia está invadindo todos os países, dos mais desenvolvidos para os menos em grau distinto. Como tal, no mercado americano que é a fonte dessa mudança estrutural se nota uma performance das ações desse setor em detrimento dos outros e algo semelhante seria de se esperar no resto do mundo, mas não é o que ocorreu este ano.


O S&P 500 fechou a 6.603, com alta de 0,98%; o USDBRL a R$ 5,4035, com alta de 1,31%; o EURUSD a 1,1510, com queda de 0,16%; e o ouro a U$ 4.058, com queda de 0,45 %.

Fique ligado!

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