A realidade se impõe

Vocês são testemunhas de quantas vezes eu enfatizei os erros que a equipe econômica brasileira cometeu. Quando a situação de fluxo era extremamente favorável, até o final de 2012, nossos mandantes fizeram uma interpretação equivocada sobre a real situação brasileira, ficaram embriagados pelo sucesso, como se costuma dizer. Mas eu entendo, pois a vaidade faz parte das reações que estamos sujeitos quando se conseguem vitórias de uma maneira fácil.

Quem não teve oportunidade de assistir o filme Lobos de Wall Street eu recomendo, mesmo para quem não é do "ramo", Leonardo DiCaprio representa o personagem principal de maneira esplêndida, acredito que seja sua melhor performance ever! Tenho que confessar, por ter feito parte desta época, senti um certo desconforto, e uma dúvida que já me incomoda há algum tempo: O que eu construí de real para a sociedade? Em todo caso, o motivo de minha citação é de como Jordan Belfort (Leonardo DiCaprio) vai criando uma imagem pessoal de invencível, reforçada pelos seus sucessos, mesmo cometendo várias irregularidades. Bem vou parar por aqui para não revelar seu final.

De todos os posts que comentei sobre as barbeiragens, talvez o negando-realidade é o momento onde nosso Ministro da Fazenda negava os fatos e buscava justificar de uma forma irônica, dados preocupantes. Ultimamente saiu de cena, vem fazendo poucos comentários e a Presidenta está junto com o BCB, buscando recuperar o terreno perdido.

Nesta sexta-feira foram publicados os dados cambiais de 2013 e não foram nada bons, o déficit em transações correntes atingiu o recorde de US$ 81,4 bilhões, uma cifra grande em qualquer lugar do mundo, representando 3,66% do PIB. Os principais causadores foram a Balança Comercial e a Conta de Serviços. O primeiro vem se deteriorando já algum tempo, pois as exportações estão praticamente estagnadas, enquanto as importações crescem, principalmente por conta do petróleo. O saldo ficou em meros US$ 2,6 bilhões, contra US$ 19,4 bilhões no ano anterior.


Na conta de serviços os subitens de aluguel de equipamentos e viagens internacionais vem crescendo consistentemente. O primeiro é consequência de operações feitas pela Petrobrás, onde exporta suas plataformas, aumentando esta sigla artificialmente, e paga aluguel pelo seu uso; e as viagens internacionais, basta uma visita a Miami para se ter uma ideia da quantidade de brasileiros por lá, fazendo compras.

  
Muito se tem dito que este processo, de uma maneira geral, é consequência do real estar ainda valorizado em relação ao dólar, eu tenho minhas ressalvas. É natural que com uma cotação a R$ 4,00 existiria um impacto muito forte em todas estas contas, mas por outro lado a inflação iria para o espaço, basta ver o que vem acontecendo com nossos hermanos do sul.

Mas correções como estas que estamos assistindo nos últimos 12 meses, onde o real perdeu 20% , não resolvem a sangria, pelos seguintes motivos: Na Balança Comercial vivemos um fenômeno estrutural, onde vários países que tinham sua pauta de exportação baseada em produtos perdem espaço para os países Asiáticos, além disso o que poderia ter ajudado não ajudou, e só piorou, que seria a melhora da produtividade; desde que as viagens Internacionais passaram a ser financiadas, abriu-se a possibilidade para um número elevado de brasileiros que nunca tinham saído do país, e todos nós sabemos que os consumidores locais só pensam no valor da prestação, assim a demanda é ainda muito reprimida.

Portanto a solução estará em aumentar o ingresso de capitais, que mesmo com a debandada dos mercados emergentes pelos investidores, nós ainda não fomos muito afetados, pelo menos nos investimentos diretos. Na conta de investimentos em carteira, que engloba as aplicações em bolsa e renda fixa, o saldo se elevou significativamente de US$ 16,5 bilhões em 2012 para US$ 34,7 bilhões, por conta da compra de títulos de renda fixa, afinal o nível de juros locais são elevadíssimos.

Assim o balanço de pagamentos fechou o ano com deficit de US$ 5,9 bilhões, um número considerado baixo, não afetando nossas reservas. O gráfico a seguir dá uma boa ideia de como as coisas mudaram para os mercados emergentes no ano passado.

Ali estão representados os fluxos de recursos aos fundos que investem em mercados emergentes, notem que 2013 apresentou um quadro inverso ao que ocorreu em 2012, então era de se esperar que nós fossemos afetados. No meu entender, não fosse o interesse das multinacionais em suas subsidiárias locais, bem como o nível de reservas acumuladas durante os últimos anos, estaríamos numa situação muitíssimo pior.

Talvez diferente de Jordan Belfort onde resolveu "peitar" o poderoso FBI e não se deu bem, nosso Governo resolveu tomar medidas para corrigir o rumo, agora se o mercado como um todo entrar num caminho de risk off, vamos ter um período difícil. Felizmente por enquanto são os temores, de quais serão os efeitos pela diminuição dos helicópteros, vamos ficar de olho nesta semana para a reunião do FED. 

O SP500 fechou a 1.781, com baixa de 0,49%; o USDBRL a R$ 2,4205, com alta de 0,95%; o EURUSD a 1,3672, sem variação e o ouro a US$ 1.256, com queda de 0,95%.
Fique ligado!

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