Mapa do tesouro

Na infância ficávamos fascinados com as histórias e filmes sobre tesouros enterrados, para encontrá-los era preciso de um mapa, e aí se desenrolavam as ações. De repente um dos protagonistas encontra, mas o "bandido" rouba e assim se continua a história, até que no final, o tesouro era desenterrado pelo "mocinho".

Neste mundo de helicópteros que vivemos, as taxas de juros encontram-se destorcidas da realidade, o juro real é negativo desde 2008, pois é a forma como os BC's encontraram, para evitar uma catástrofe maior, algum dia esta situação vai mudar e é natural que os juros tenderão a normalidade. Até aqui nada de novo, e o mercado financeiro vem a busca de sinais de quando o FED inciará este processo de normalização. Tenho acesso a vários estudos, estatísticas, correlações, porém um estudo do Deutsche Bank parece ter encontrado o mapa da mina.

- David não publique, guarde este gráfico, vamos ficar ricos!
Hahahaha.... compromisso com os leitores. O estudo a seguir demostra a elevada relação entre a expectativa de quando o FED vai subir os juros com a taxa dos títulos de 10 anos. Na coluna da esquerda o número de meses até a ação do FED, e na direita os juros de 10 anos. Então este analista plotou a expectativa do mercado para esta mudança (vermelho) e a taxa de juros dos títulos de 10 anos (azul).


- David, mas qual a novidade?
Não têm dúvidas que este estudo é lógico, pois se alguém me disser que o FED vai subir os juros na próxima semana é de se supor que a taxa de 10 anos não estaria em 2,8% a.a., teria que subir. O que este gráfico apresenta de novidade é uma estimativa de qual seria este nível, além de demonstrar que todos os modelos usados para precificar estes títulos, como expectativas de inflações futuras, crescimento econômico e premio de risco, não funcionam no momento.

Vejamos algumas hipóteses, se sua expectativa é de que o FED comece o ciclo de alta de juros em junho do próximo ano, daqui a 18 meses, a taxa dos títulos deveria estar próxima de 2,6% a.a, se for no início de 2016, como imagina a PIMCO, ao redor de 2,0% a.a, e assim por diante. Outras conclusões que se podem tirar daí, é que a taxa deveria ser de 4,2% a.a., quando o FED começar o ciclo de alta, ou assumindo que se mantenha a mesma expectativa quanto a uma determinada data de início, os juros têm que subir 0,08% a.a., a cada mês. Pronto pode desenterrar o tesouro!

- Hahahah... que tesouro se ninguém sabe quando o FED vai agir?
Sim, têm razão, diferente das histórias de criança que o local era fixo, neste caso o tesouro se movimenta, mas se você tiver uma boa pontaria, vai chegar antes dos outros e saber quanto pode ganhar.

Ontem o dia foi quente para os mercados emergentes, todas as moedas sem exceção sofreram, inclusive a nossa. Aprendi durante estes anos que, sempre depois do fato surgem explicações, como já bem definiu Nietzsche, que é melhor qualquer explicação que nenhuma. Não caiam num dos argumentos dados para alta do US$, sobre a interpretação da ata da  última reunião do BCB, que estaria confusa. A realidade é que eles (do BCB) não sabem quais serão os próximos passos, dependem da evolução dos dados, e ponto. Mas a razão real é que os mercados emergentes viraram palavrão, e qualquer motivo é válido para empurrá-los mais para o buraco.

Não podia deixar de comentar sobre o real, no post o-bc-esta-de-cabelo-em-pé, eu disse que até o real não ultrapassar o nível de R$ 2,4550, nada é conclusivo ... 1) continua a queda do dólar, e abaixo de R$ 2,25 aumentam as chances de valer o quadro mais baixista e; 2)  Se subir acima de R$ 2,4550 aumentam as chances de R$ 2,60.... Com o movimento de hoje, a alternativa 2) começa a ganhar mais força, veja o gráfico a seguir.


- David, agora você não deveria jogar a toalha e embarcar com a opinião do mercado, comprando dólares?
A disciplina é fundamental, não que garanta sucesso, mas evita decisões impulsivas. Enquanto não ultrapassar definitivamente os R$ 2,4550, este movimento pode ser ainda uma correção. Eu lembrei de um momento que vivi, que guarda uma certa semelhança com este. Nos anos 80, o mercado de ouro era usado como alternativa para posições em US$, uma vez que a compra de moedas estrangeiras era limitada a casos específicos, assim o metal seguia as cotações do dólar paralelo. Naquele momento, havia uma pressão para alta do dólar comercial, e assim o paralelo já tinha subido por conta disso. Nós estávamos vendidos em ouro, pois achávamos que as cotações estavam muito esticadas, eis que um dia, na parte da manhã, o Governo deixou o dólar comercial subir uns 10%, lógico que inicialmente o ouro foi atrás.

Entrei na mesa de operações e vi o responsável da posição de braços cruzados, perguntei:

- David: E aí, o que vamos fazer?
- Chefe: Nada!
- David: Como assim, estamos perdendo uma nota.
- Chefe: Vou esperar até o final da tarde e aí decido, se as cotações se mantiverem elevadas eu realizo o prejuízo, caso contrário, vamos continuar.

Eu entendi sua lógica, pois se o ouro já tinha subido antes, a lógica era de que o mercado iria vender o ouro, dei  um voto de confiança, e no final do dia fechou em baixa. Vou aguardar o parâmetro que tracei, de braços cruzados! Hahahahah....

O SP500 fechou a 1.790, com baixa de 2,09%; o USDBRL a R$ 2,3977, sem variação; o EURUSD a 1,3675, com queda de 0,13% e o ouro a US$ 1.268, com alta de 0,32%.
Fique ligado!

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