Desinteresse #USDBRL #bitcoin
Alguns movimentos de mercado não exigem grandes
explicações. Às vezes, tudo se resume a um fenômeno simples, silencioso e
devastador: desinteresse. E este é exatamente o fator que hoje domina o
universo das criptomoedas. Não houve escândalo, fraude gigantesca ou novo
colapso operacional. Houve apenas o desaparecimento gradual da atenção — e nada
corrói mais um ativo baseado em fluxo do que a perda de interesse.
O espanto dos defensores do bitcoin diante da
queda recente é revelador. Muitos buscam justificativas complexas, modelos
sofisticados ou algum culpado externo. Mas a pergunta relevante nunca foi “por
que caiu?”. A pergunta sempre foi “por que subiu?”. A narrativa de reserva de
valor nunca se sustentou em fatos; a ideia de proteção contra o dólar exigiria
um colapso global improvável; e a utilidade como moeda jamais deixou o
discurso. O que realmente sustentou o preço foi euforia — e euforia não é um
fundamento, é um estado de espírito.
Outro dia, meu genro comentou que, comprou
bitcoin para o filho. Fiquei quieto. Já cometi uma escolha similar, não com
bitcoin, mas com a ilusão de “diversificar do dólar”. Demorei pouco tempo para
perceber que estava comprando uma história, não uma realidade. O mesmo vale
agora: quando a narrativa perde força, o preço perde sustentação.
E os números confirmam o quadro. Segundo a
Bloomberg, os fundos de bitcoin caminham para o pior mês da história, com US$
3,5 bilhões de resgates em novembro. A BlackRock, que muitos apontavam como
garantia de maturidade institucional, registrou US$ 2,2 bilhões de saídas — um
esvaziamento que desmonta a ideia de “entrada dos grandes players”.
O bitcoin também deixou claro que não é proteção de nada. É um ativo de risco. E ativos de risco dependem de liquidez. Quando a liquidez aperta, eles caem; quando aperta mais, caem mais rápido. A correção recente em tecnologia arrastou o bitcoin junto, como mostra o relatório Wild Ride on Wall Street. A suposta descorrelação desapareceu sem resistência.
A estrutura do mercado também segue vulnerável. O flash crash de 10 de outubro, que liquidou US$ 19 bilhões em minutos, evidenciou como as exchanges ainda operam com profundidade limitada. Não houve evento sistêmico: houve falta de compradores. Nesse universo, quando a porta de saída estreita, não existe amortecedor — o piso desaparece.
Enquanto isso, as stablecoins ganharam exatamente o espaço que muitos imaginavam ser do bitcoin. O relatório do Deutsche Bank mostra a expansão firme dessas moedas, que se consolidaram como meio de pagamento interno do sistema cripto. Elas são rápidas, baratas, estáveis — e ancoradas justamente no dólar, a moeda que o bitcoin deveria contestar.
As stablecoins têm fragilidades claras: dependem de reservas, de juros e da confiança nos emissores. Mas, ao contrário do bitcoin, cumprem o mínimo que uma moeda precisa cumprir. E, ao cumprir esse mínimo, expõem o bitcoin como o que realmente é: um ativo especulativo cuja utilidade prática nunca se firmou.
O ponto central está na mudança de
comportamento. O entusiasmo desapareceu. A presença constante nas redes sumiu.
Os debates esfriaram. O tema deixou de mobilizar. Quando o assunto some, o
ativo definha. E nada determinado por humor coletivo resiste quando o humor se
desloca.
O desinteresse tem um poder que o pânico não
tem. O pânico gera reação. O desinteresse não gera nada. Ele simplesmente seca
o fluxo, dissolve a narrativa e deixa o preço exposto. Ele não produz
manchetes, não cria debates, não atrai defensores. Ele apenas retira o chão.
O bitcoin não está enfrentando um ataque
externo nem uma crise estrutural inédita. Está enfrentando algo muito mais
definitivo: a indiferença. Sem atenção, não há comprador marginal. Sem
comprador marginal, não há sustentação. E sem sustentação, o preço vai ao
encontro da realidade.
Apesar de tudo isso, não estou afirmando que o
bitcoin “morreu”. Ativos construídos sobre grande carga emocional e cultural
raramente desaparecem de uma hora para outra. Eles definham, ganham fôlego
ocasional, passam por ciclos longos de consolidação e podem até surpreender
quem os descartou cedo demais. O ponto aqui não é decretar o fim, e sim
reconhecer que o protagonismo já não pertence mais a ele — pelo menos por
enquanto. O mercado pode até reencontrar o interesse mais à frente, mas esse
retorno tende a ser lento, irregular e dependente de novas narrativas. Nada no
bitcoin some de imediato; o que some é o entusiasmo que o sustenta.
É assim que bolhas acabam: não com explosões,
mas com silêncio.
Análise
Técnica
O dólar acabou negociando acima de R$ 5,42 e completou, de forma diagonal, cinco ondas na elipse destacada. Caso uma sequência de alta esteja realmente em desenvolvimento, uma retração entre R$ 5,36 e R$ 5,32 pode representar um nível de entrada — movimento que empurraria a onda 5 azul, como indicado com o símbolo em azul. Por outro lado, uma queda abaixo de R$ 5,30 coloca a tese em dúvida, que só seria eliminada com uma quebra clara de R$ 5,26.
— David, você se sentou nas fichas, como se diz na gíria?
Incrível como você adivinha meus pensamentos!
Hahaha. Estava refletindo sobre isso outro dia e, honestamente, não consigo
afirmar com certeza se reduzi o número de trades para assegurar o ano ou se
realmente não têm surgido oportunidades mais claras de execução. Acredito que
seja um pouco dos dois: mais cautela — bem mais — e um mercado, especialmente
nas bolsas, sem movimentos suficientemente nítidos para justificar
agressividade.
O S&P 500 fechou a 6.705, com alta de
1,55%; o USDBRL a R$ 5,3889, com queda de 0,27%; o EURUSD a € 1,1523, com alta de 0,10%; e o ouro a U$
4.133, com alta de 1,67%.
Fique ligado!
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