Estabilidade traz instabilidade #nasdaq100
O
movimento das bolsas neste início de ano está trazendo muita insegurança aos
investidores. A volatilidade, que andava muito baixa até o final do ano
anterior, mudou de cara. Os mercados estão oscilando durante o dia de forma
aparentemente errática, abrem subindo e revertem para a queda no decorrer do
dia, e vice-versa.
No
meu entender, existe uma batalha entre os analistas dos bancos, que em sua
maioria reforçam a compra de ações para aproveitar a queda que ocorreu, e os
economistas que enxergam o risco da economia americana, principalmente na
execução da retirada de estímulos e do ajuste da taxa de juros pelo Fed.
Olhando sob esse prisma, faz todo sentido o que ocorre nas bolsas.
Baryy
Ritholtz, em seu blog The Big Picture, faz uma analogia com o teste de Rorschach,
usado pelos psicólogos para examinar as características da personalidade e o
funcionamento emocional do paciente.
A natureza bipolar do mercado cria um quadro
confuso; uma tela em branco sobre a qual podemos projetar nossas próprias
esperanças e medos. Todas as nossas falhas comportamentais favoritas ficam
escancaradas, com a excitação do mercado nos levando a fazer exatamente o que a
evolução nos preparou para fazer por tanto tempo.
Embora
você possa ou não ter vivido sua própria
versão da reação de Luta ou Fuga, certamente foi
testemunha de uma série de comportamentos emocionais que estão
pré-programados em nosso cérebro . Aqui
estão alguns que a maioria de nós
combateu pessoalmente estes dias:
Viés
de confirmação: Na mesma época
em que Kahenmann conheceu Tversky, Simon conheceu Garfunkel. Eles estavam em
campos muito diferentes, mas exploraram ideias semelhantes: Em The Boxer, a segunda dupla cantou
"Still,
a man hear what he wants to hear And disregards the rest.".2 A ação
caótica e confusa do mercado é
o cenário perfeito para nossa tendência
natural de encontrar evidências que confirmem nossas crenças
e expectativas pré-existentes. Pior ainda, não
buscamos provas que "desconfirmam" e, assim,
perdemos a chance de evitar grandes erros.
Falácia
da Narrativa: Logo após
o encerramento de ontem, eu referenciei a influência
indevida da narrativa vista através
das manchetes na televisão. Podemos elogiar o pensamento de Burton Malkiel, mas
odiamos acreditar que muito do que está acontecendo é aleatório.
Assim, encontramos conforto na elaboração de narrativas, com heróis e vilões e
contos do bem contra o mal, para explicar o que está acontecendo no mundo. Essas
jornadas de heróis são mais toleráveis do que a alternativa: um universo aleatório
e indiferente. As narrativas trazem
ordem aparente ao caos, criam racionalidade onde não há nenhuma, mas nos
permitem funcionar apesar do temor existencial. (Minha própria teoria de
estimação é que TUDO
é narrativa, mas isso é
outra discussão).
Eu acrescento: Outro fator que reforça essa atitude
tem a ver com a ideia de Nietzsche que é melhor uma explicação que nenhuma.
Viés
de Ação: Temos a tendência
de preferir fazer algo diante da incerteza ou confusão,
mesmo quando as evidências esmagadoras indicam que nossas ações,
em média, tendam a causar danos, e a inação
seja
um curso mais eficaz. "Primeiro, não
faça mal", disse Hipócrates,
exceto nas finanças, onde ele ao
mesmo tempo tem razão
e é amplamente ignorado. Isso provavelmente se relaciona com a "Ilusão
de controle", de que fazer algo, qualquer coisa! nos permite manter
firmes nossas falsas crenças de que estamos de alguma forma no comando de
nossos destinos.
Note
que não estou me referindo a um reequilíbrio
pré-planejado (quando X ocorre, então
faça Y), mas sim, à tendência
a agir por agir.
Princípio
da Incerteza: Meu próprio
conceito de estimação, que afirma que, à
medida que os mercados (ou guerra, política, etc.) se tornam cada vez mais
desafiadores, perdemos a capacidade de nos iludir que entendemos o que está
ocorrendo atualmente ou que podemos prever o que é provável que aconteça mais
tarde. Assim, o que costumamos entender como "Incerteza" é
mais parecido filosoficamente com um momento de clareza. Uma vez que não
podemos mais mentir para nós mesmos, percebemos o quão
pouco entendemos, para nossa própria grande decepção. Isso é
humilhante, e às vezes, aterrorizante.
Nossa
melhor esperança para que nossos portfólios
(e nossa saúde mental) sobrevivam a esses erros
cognitivos e vieses comportamentais é que pelo menos nos tornemos autoconscientes
sobre eles. Talvez com um pouco de iluminação e sorte, evitemos os piores impactos que
estes têm em nossos retornos de investimento a longo prazo.
Ninguém
vai à TV e declara: "É
uma caminhada aleatória imprevisível!" Então
o que você recebe em vez disso são
muitas racionalizações efêmeras e cognitivamente tendenciosas que a)
não
são
especialmente perspicazes; e 2) não o ajudam com seus investimentos.
As
informações mais úteis que posso
compartilhar com vocês: Bem, não são minhas expectativas para os mercados
("elas vão flutuar"). Também não é útil adivinhar quanto tempo e até
onde o Fed vai elevar as taxas para parar a inflação (que é, no máximo, apenas parcialmente
impulsionada pelas políticas
do Fed de aumento de liquidez e Taxa de Juro Zero).
O
que eu acredito que é mais útil é lembrá-lo dos erros comportamentais que tendemos a cometer
quando os mercados ficam instáveis e dos clichês que você
deve evitar. Também ajuda estar ciente das pesquisas mais
valiosas (acadêmicas ou não) que ajudam a fornecer contexto e insight. Só
porque o trabalho foi feito décadas atrás não significa que não seja mais
válido.
Isso
me leva a Minsky: Ele teorizou que a estabilidade econômica
— expansão, aumento dos fluxos de
caixa, crédito amplamente disponível, aumento dos preços dos ativos, ou o que entendemos
mais geralmente como prosperidade econômica — leva a excessos. Às vezes é muita
alavancagem ou crédito muito fácil ou taxas que são muito baixas; também pode
se manifestar em um mercado altista estendido, muito capital ao redor, ou uma
euforia especulativa (ou alguma combinação de tudo isso).
Essa
é
a ideia central pela qual Minsky é mais conhecido: A estabilidade gera
instabilidade; sua hipótese
de instabilidade financeira sugere que a prosperidade traz recessões e que os
mercados altistas terminam em desabamentos. O ciclo continua e
volta a girar.
Sim,
isso é uma simplificação
excessiva, mas vale a pena recordá-lo em momentos como estes. A baixa
volatilidade de 2021, com não mais do que uma redução de 5%, voltou a ser
revertida para a volatilidade normal e quedas.
Não
estou sugerindo que este seja o fim do mercado de alta ou deste ciclo; isso não
é
evidente para mim (ainda). Foi muito evidente em 2000 e depois novamente em
2008; não ficou evidente
em 2020. E assim, embora este
possa ser o começo do fim, parece muito mais uma pausa
prolongada antes do fim do jogo do que qualquer outra coisa.
Minsky
faleceu aos 77 anos em 24 de outubro de 1996. Ele não
viveu o suficiente para ver exatamente o quanto os mercados validaram seu
trabalho: a estabilidade dos anos 1990 levando à implosão das ponto.com ou como
a alta nos anos 2000 levou à Grande Crise Financeira. Desconfio que ele
apreciaria a instabilidade de 2022 vindo logo após a estabilidade de 2021.
Todas essas menções são importantes em momentos de
dúvida. Quando o mercado está subindo, ficamos de certa forma estáticos
observando a alta e lamentando que poderíamos ter investido antes e mais. Já
quando começa a cair, um temor de que possa vir um crash coloca as pessoas sob
tensão, e como mencionado acima, estamos sujeitos a essas atitudes.
O que fazer? Primeiro, se esse movimento de queda
ao redor de 10% fez você perder o sono, é muito provável que você tenha
investido em risco mais que sua tolerância permite — nesse caso, recomendo diminuir
a posição. Se, ao contrário, você não está preocupado e acredita que será mais um
dos percalços que ocorrem, provavelmente está com uma posição adequada.
Eu comentei em um post anteriormente, mas não custa
repetir: sua carteira de risco deve oscilar entre um mínimo e um máximo de
acordo com seu perfil de risco. Esse intervalo deve ser administrado de tal
forma que você possa se aproveitar dessas flutuações. No meu caso, uso a
análise técnica para dimensionar essa métrica. Nesse quesito, como comentei nesta
semana tormenta-nas-bolsas, não acho que deveríamos estar no mínimo do
intervalo, talvez no meio. Existe um cenário descrito a seguir onde deveríamos
estar na mínima, mas não está confirmado, mesmo assim, irá existir um momento que
se poderá diminuir - veja as observações de hoje na seção técnica.
No post prova-de-fogo,fiz os seguintes comentários sobre a nasdaq100: ...” Desde a máxima ocorrida em 22 de novembro até ontem, a queda já atingiu aproximadamente 13%. Esse estrago se deveu a precificação feita pelo mercado por conta das alterações comunicadas pelo Fed” ...
A correção ganhou uma dimensão maior do que seria esperado, e como no caso do SP500 citado acima, existem 2 possibilidades ...” não se pode descartar a hipótese da onda 2 mencionada no post de final de ano tropeço-no-caminho-sp500 estar em curso em função de uma onda 1 que terminou precocemente” ... Ainda continuo com a opção do cenário principal que seria da continuidade da alta com um objetivo ao redor de 19.000. Esse objetivo só poderá ser melhor calculado depois do término da correção em curso.
Nesse cenário, a nasdaq 100 teria ainda uma nova queda que deveria se situar no intervalo marcado no retângulo entre 13.300 – 13.200, para só então começar o movimento de alta. Uma outra hipótese é de que a queda terminou, neste caso é necessário que o nível de 15.165 seja ultrapassado.
- David, e o caso mais preocupante você não
vai mostrar?
Não pretendia, mas acho importante os leitores conhecerem essa opção, pois na melhor das hipóteses já se familiarizam com a queda mais profunda que antevejo.
Como podem notar, o término da queda atual se daria no mesmo ponto em ambos os casos, o que difere entre eles é que nesse caso a recuperação se daria em 3 ondas para terminar a onda B (azul) e em seguida uma queda levaria a nasdaq 100 em algum dos pontos destacados no retângulo.
Como podem ver, não será nada, nada agradável.
- Ok David, vamos imaginar que a queda atual
termine, como vamos saber se a recuperação se refere ao seu cenário preferido
ou a esse último mais tenebroso?
Se você notar destaquei na onda B (azul) uma
formação em A,B,C (verde); sendo assim, se a recuperação for em 3 ondas podemos
esperar que na sequência deverá ocorrer a queda na onda C (azul). Se isso
acontecer, devemos reduzir as posições em bolsa ou até iniciar uma posição
vendida. Continue a acompanhar o Mosca.
Neste momento podemos notar a dificuldade de
navegar nas correções, as possibilidades são muitas. É importante ser flexível
e não ficar preso a uma única configuração.
Não existe nenhuma posição em aberto.
O SP500 fechou a 4.431, com alta de 2,43%; o
USDBRL a R$ 5,3674, com queda de 0,72%; o EURUSD a € 1,1143,
sem variação; e o ouro a U$ 1.791, com queda de 0,30%.
Fique ligado!
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