Pouso soft ou hard? #ibovespa

 

Ontem publiquei sobre os estragos que ocorreram nos ativos em 2022, bem como o ceticismo por parte dos economistas em relação ao discurso do Fed que diz ter condições de domar a inflação sem causar grandes danos a economia, o que se chama soft landing.

Na audiência de hoje no Comitê Bancário do Senado, o presidente do Fed, Jay Powell, enfatizou que, embora o FOMC “não esteja tentando provocar e não pense que precisaremos provocar uma recessão”, continua sendo “absolutamente essencial” que o Fed restaure a estabilidade de preços e observou que seria “muito desafiador” para o Fed para conseguir um pouso suave. Em outras palavras, entre recessão ou domar a inflação, a prioridade é sobre esse último.  

Um crítico do Fed desde o início do processo de alta da inflação, Bill Dudley que dentre de muitas atividades profissionais foi presidente do Fed de Nova York entre 2009 a 2018, publicou na Bloomberg afirmando que os EUA está caminhando para um hard landing 1

1 Um hard landing (pouso forçado) refere-se a uma desaceleração econômica acentuada após um período de rápido crescimento. O termo "pouso forçado" vem da aviação, onde se refere ao tipo de pouso em alta velocidade que - embora não seja um acidente real - é uma fonte de estresse, bem como danos e ferimentos potenciais.

‎Se você ainda está esperando que a Reserva Federal será capaz de projetar um pouso suave na economia dos EUA, pode esquecer. Uma recessão é inevitável nos próximos 12 a 18 meses. ‎

‎Em seu último conjunto de ‎‎projeções‎‎, as autoridades do Fed apresentaram um cenário benigno, no qual a economia continua crescendo a um ritmo moderado e o desemprego aumenta apenas ligeiramente, mesmo com o banco central aumentando significativamente as taxas de juros para controlar a inflação. Embora as previsões do Fed tenham se tornado mais plausíveis com o tempo, vejo várias razões para esperar um pouso muito mais difícil.‎

‎Em primeiro lugar, os persistentes aumentos de preços forçaram o Fed a mudar seu foco de apoiar a atividade econômica para empurrar a inflação de volta para seu objetivo de 2%. O mandato de emprego do Banco Central está agora subserviente ao seu mandato de inflação. Isso pode ser visto tanto no desempenho do presidente Jerome Powell na conferência de imprensa da semana passada quanto na declaração do FOMC de junho, que removeu a linguagem de que o mercado de trabalho "permaneceria forte". ‎

‎Em segundo lugar, o novo foco na estabilidade dos preços será implacável. As autoridades do Fed reconhecem que não conseguir baixar a inflação seria desastroso: as expectativas de inflação provavelmente se tornariam desancoradas, exigindo uma recessão ainda maior mais tarde. Do ponto de vista da gestão de riscos, melhor agir agora, custe o que custar em termos de emprego e crescimento. Powell não quer repetir os erros do final dos anos 1960 e 1970. ‎

‎Em terceiro lugar, a expansão econômica atual é exclusivamente vulnerável a uma parada repentina. No curto prazo, o crescimento da folha de pagamento, a reabertura econômica e os balanços saudáveis (apoiados pelo vasto estímulo fiscal de 2020 e 2021) devem apoiar a demanda, que em diversos setores excede a oferta. Por exemplo, a escassez acumulada de oferta de dois anos no setor de veículos automotores provavelmente equivale a vários milhões de unidades. Como resultado, levará tempo e um aperto considerável da política monetária para reduzir a demanda e para que isso se traduza totalmente em uma produção mais fraca de bens e serviços.‎

‎Mas quando esse momento chegar, o ajuste da produção provavelmente será abrupto, devido às condições financeiras apertadas, à política fiscal restritiva e à economia das famílias. O amplo mercado de ações dos EUA caiu mais de 20%, as taxas de hipoteca subiram mais de 2 pontos percentuais e o dólar subiu cerca de 10% contra uma cesta ampla de moedas estrangeiras (restringindo as exportações dos EUA). O Centro Hutchins da Brookings Institution ‎estima‎ que a política fiscal cortou mais de 3 pontos percentuais do crescimento econômico anualizado dos EUA nos primeiros três meses de 2022 — um arrasto que deve persistir até 2023. À medida que a inflação supera o crescimento dos salários, a taxa de poupança pessoal caiu, de 26,6% em março de 2021 para 4,4% em abril deste ano, significativamente abaixo da média de longo prazo. Não é à toa que o sentimento dos consumidores caiu para níveis atingidos pela última vez após a crise financeira de 2008, e as pesquisas do Google para a palavra "recessão" estão batendo novos recordes.‎

‎Finalmente, a história econômica aponta para um pouso difícil. O Fed nunca apertou o suficiente para aumentar a taxa de desemprego em 0,5 ponto percentual ou mais sem desencadear uma recessão. De acordo com a regra Sahm, quando este gatilho é atingido a próxima parada é uma queda mais profunda, na qual o desemprego aumenta em pelo menos 2 pontos percentuais.‎

‎Assim como um coiote saindo de um penhasco, a economia dos EUA tem muito impulso, mas rapidamente desaparecendo do apoio. Voltar à Terra não será uma experiência agradável.‎

Em termos de inflação alguns materiais e serviços tem recuado das máximas atingidas. Um subconjunto classificado como consequência da pandemia quais sejam: semicondutores, preços dos fertilizantes e custo dos containers apresentam movimento animador. Entretanto, a principal comoditie o petróleo não recuou de forma importante.


Mas, nós como investidores, queremos saber o que já está expresso nos preços dos ativos? Ontem publiquei um gráfico que posiciona a queda que aconteceu até agora com o que ocorreu no passado em situações com recessão e sem. Michael Batnick publicou em seu site The Irrelevant Investor artigo com título sugestivo: Explodiu!

Se uma ação cai 80%, ela tem que subir 400% para voltar ao empate. Esse desafio invejável é onde muitas empresas se encontram hoje. 303 ações no Russell 3000 caíram mais de 80% de sua máxima.‎

‎Essas ações coletivamente perderam mais de US $ 1 trilhão em capitalização de mercado.‎

‎US$ 1 trilhão em capitalização de mercado é muito mais do que eu pensava. Acho que subestimei o tamanho de alguns dessas ações. Todos os nomes neste gráfico já tiveram 20 bilhões de dólares em valor de mercado. Dez delas valiam mais de 50 bilhões de dólares.‎

Um pouco mais abaixo da cadeia alimentar e começa a ficar realmente feio (Mais gráficos/tabelas no final do post)‎.

Vimeo passou de US$ 8,5 bilhões para US$ 1,1. A Beyond Meat passou de US$ 12,2 bilhões para US$ 1,5 bilhão. Peloton passou de US$ 40 bilhões para... Espere, a Ring Central tinha uma avaliação de US $ 40 bilhões?!?!?!? Isso é o que acontece quando seu preço sobre vendas vai de 5 para 20. Para algum contexto sobre o quão louco esse número é, a General Mills tem uma capitalização de mercado de US $ 40 bilhões hoje. Chipotle é 35 bilhões de dólares. Prudential e Aflac são cada um US$ 34 bilhões. A Peloton está agora em US$ 3,3 bilhões e negociando a menos de 1x as vendas.‎

‎É loucura pensar em como o campo de investimento parece diferente hoje em relação ao início de 2021. Passamos do crescimento a qualquer preço no caminho para nenhum crescimento a qualquer preço na queda. Eventualmente, esses nomes encontrarão um fundo, mas não há como dizer onde fica.‎


Os leitores brasileiros provavelmente não acompanham as ações mencionadas nesse relatório, mas independente desse fato se nota que não são companhias de pequeno porte, pelo seu valor de mercado mesmo depois da queda. A magnitude é enorme. É mais fácil dizer que os valores atingidos anteriormente eram absurdos, fora da realidade, porém, não foi uma ou duas, mas centenas, então tinha que ter alguma lógica.

A questão agora não é saber se estavam caras e sim se agora estão baratas? Eu fiz vários estudos sobre bolhas que foram publicados no Mosca em diversas ocasiões. Uma das conclusões sobre esses estudos é de que do pico os ativos chegam a valer de 10% a 20% do valor máximo. As ações constates no último gráfico acima, todas se qualificam dentro desse parâmetro. Esses estudos também não garantem que haverá uma recuperação em seguida podem morfar nesse patamar.

Não sei dizer se chegaram na mínima, mas posso dizer que não ficaria vendido nem a pau em nenhuma delas (a não ser que tivesse indicação que iria quebrar), só isso por enquanto!

No post httpbitcoin-revela-sua-identidade, a bolsa brasileira se encontrava num ponto delicado e como acabei observado nesse post minha posição seria alterada caso o nível de 100 mil fosse rompido: ... “E se acontecer de romper os 100 mil o que se poderia esperar? Nesse caso, novas quedas deveriam ocorrer. A seguir vou publicar uma das várias possibilidades nesse caso, onde a queda teria como objetivo entre 82,3 mil/ 78,5 mil ao redor do 4º trimestre (pode ser as eleições?)” ...


Agora existem 2 opções que considero mais factíveis dentro das inúmeras existentes com a mesma conclusão: por enquanto a bolsa é para baixo. Vou externar essas duas opções a seguir:

Péssima: Neste caso o Ibovespa teria a trajetória traçada a seguir cuja mínima deveria se situar entre 82 mil/79 mil/76 mil. Esse movimento se daria conforme demarcado em verde e cálculo iria até o final do ano. Enfatizo que todos esses pontos são calculados de forma tentativa e serão atualizados conforme o andamento.


Péssima 2: Esse cenário não difere muito do anterior, inclusive só saberia qual dos dois prevalece algum tempo depois de encerrar a queda. O objetivo estaria entre 83 mil/ 78,5 mil/ 77 mil, valendo as mesmas observações acima da acuidade desse números. Uma formação clássica se observa no indicie ibovespa – ombro, cabeça, ombro – destacado em branco. Segundo esse modelo a queda da linha pontilhada é igual a queda do ponto C) – tudo destacado em laranja. O resultado seria praticamente igual ao anterior dando mais sustentação a essa análise.


Qual será o plano de ação? Numa janela mais curta é possível contar 5 ondas completas, se esse for o caso, vou aguardar uma correção que deveria se situar entre 103 mil e 106 mil para sugerir um trade de venda do Ibovespa. Isso deveria ocorrer em breve. Ainda vou estudar o tamanho da posição e o respectivo stop loss.

Quando posso assumir que esse cenário está errado? A primeira indicação surgiria a 127 mil e definitivamente a 131mil.

Estou mudando minha opção de médio de prazo das bolsas (principalmente as internacionais), passando de alta para baixa, sem precisar ficar vermelho e ter que dar muitas explicações (ou arrumar) que justifique. Essa postura difere bastante da análise fundamentalista que coloca todo o peso sobre o Fed, inflação, juros ou o argumento que se encaixa, enquanto na análise técnica o motivo é o mercado. Outra grande (grande mesmo) diferença é que na análise técnica existe níveis muito bem definidos onde se deve refazer o cenário.

Vale, entretanto, observar o que publiquei em dezembro do ano anterior no post lula-de-novo com as previsões para 2022: ... “O objetivo da retração que se iniciou em janeiro aponta para o nível entre 89mil e 83 mil, uma queda nada desprezível de 20%, e caso não pare nessa região, novas mínimas deverão ser calculadas” ... Sendo assim, os leitores do Mosca não devem ficar tão surpresos.

O SP500 fechou a 3.759, com queda de 0,13%; o USDBRL a R$ 5,1808, com alta de 1,08%; o EURUSD a 1,0564, com alta de 0,37%; e o ouro a U$ 1.837, com alta de 0,26%.

Fique ligado!

Comentários