Começando pela China
Sempre que retorno de um período longo de descanso a inércia
predomina. Não devo ser o único. Um assunto que surgiu em quase todas as
matérias que li durante esse tempo, é a possibilidade da China comprometer o
cenário benigno vivenciado ao redor do mundo. Uma matéria publicada hoje
levanta essa possibilidade.
No curto prazo, o crescimento conforme definido pelas
mudanças no produto interno bruto (PIB), pode ser elevado com mais empréstimos
e/ou investimentos. No longo prazo, no entanto, os empréstimos e investimentos
não podem aumentar o PIB se resultarem em dívidas incobráveis. A grande questão
é a quantidade de dívida ruim que a China atualmente possui e quanto mais
produzirá nos próximos anos.
Por algumas estimativas, a taxa de crescimento real da
China, que representa dívidas incobráveis, é cerca de 6,9 % a metade do
publicado oficialmente. Para avaliar se a China vem criando uma boa dívida -
empréstimo que produzirá retornos positivos - ou ruim, examinou-se quem são os
beneficiários dos empréstimos corporativos.
Conforme mostrado na figura acima à esquerda, os lucros nas
empresas do setor privado aumentaram 18% entre 2011 e 2016, enquanto os lucros
nas empresas estatais caíram 33%. Conforme mostrado na figura à direita, no
entanto, a participação do crescimento da dívida corporativa explicada pelas
empresas públicas aumentou de 59% em 2010 para 80% até 2016. Isso é o oposto do
que se poderia esperar em uma economia de mercado.
Como destacado no ano passado, os empréstimos improdutivos
(NPL) estão crescendo. Dada a evidência de que a China está contratando novos
empréstimos para empresas com menor capacidade de devolvê-los, parece que esse
país está indo em direção a uma crise da dívida.
Há diversos anos, um sem número de analistas vem pregando um
final semelhante para a China, mas que até agora não se materializou. Algumas
outras evidencias apontam para situações melhores naquele país, por exemplo
suas reservas cambias. Ao atingir U$ 4,0 trilhões no final de 2014, um movimento
de saque começou logo em seguida, que perdurou entre 2015 – 2016, finalizando
com uma queda de U$ 1,0 trilhão. Desde então, as reservas estão em lenta
recuperação situando-se atualmente, depois da alta de dezembro, ao redor de U$
3,1 trilhões.
Uma notícia publicada na semana passada assustou o mercado.
Hoje em dia, a China é a maior detentora de títulos americanos. Com a intenção
do FED em reduzir suas posições, o que menos se quer é algum problema nessa
área. A ilustração abaixo aponta quais seriam os principais motivos para tal
movimento.
Qualquer um deles vai no sentido inverso do desejado, sendo que
a tensão comercial entre os dois países seria o pior.
Já no campo cambial, o yuan atingiu o seu nível mais alto em
relação ao dólar, em dois anos, mesmo quando as autoridades em Pequim afrouxam
os controles para apoiar o yuan.
O Banco Popular da China na manhã de hoje propiciou uma
valorização de 0,7%, fazendo a cotação atingir 6,41 yuans, a mais elevada dos
últimos três meses. A moeda chinesa pode mover-se 2% para cima ou mais baixo
diariamente.
Nos últimos meses, o banco central afrouxou as medidas
políticas que apoiaram o yuan - que causou perdas aos hedges funds na aposta
contra a moeda, prevendo uma desaceleração econômica acentuada da China.
Sempre de forma enigmática os analistas não têm confiança
nos dados publicados pela China. Números muito estáveis de PIB aumentam a
desconfiança. Por outro lado, o governo daquele país caminha para uma abertura
do seu mercado, movimentos esses feitos a conta gotas. Não se tem muito a fazer,
ao não ser ficar sempre com um pé atrás.
Na semana passada eu liquidei a posição de euro que agora se
mostra prematura. Os motivos naquele momento foram táticos pois a moeda única
não conseguiu romper a marca de € 1,2080.
No post euro-caminho-incerto, publicado no final do ano
passado, fiz os seguintes comentários sobre o euro: ...” E o que poderá acontecer com o euro em 2018? O Mosca trabalha com
uma alta de pelo menos € 1,28. Entretanto, daí em diante, paira uma grande
dúvida” ... Com o rompimento do nível citado acima - € 1,2080 – esse
objetivo deve se materializar nos próximos meses.
Isso poderá acontecer em poucos meses, pois a onda
derradeira está em curso conforme se pode verificar no gráfico abaixo.
A primeira resistência a ser vencida está no nível de €
1,24, depois disso € 1,265 onde o movimento poderá reverter. Embora eu tenha
citado € 1,28 como nível crítico, o que vale é a reta descendente em verde.
No post acima também alertei para um ponto decisivo onde
poderia indicar uma mudança de rumo, e é esse ponto acima que eu me refiro ...” em algum momento esse triangulo será
rompido, o que não sabemos se será desta vez (1). Em todo caso, se isso
acontecer, o euro poderá atingir € 1,40 ou até acima disso, vai depender da
forma como ocorre esse rompimento” ... ...” Mas se a linha for respeitada e ao
atingir a marca de € 1,28, e o euro dá meia volta (2), o nível de € 1,10 poderá
ser revisitado” ...
O diferencial de juros entre os títulos em euros e dólares
continua a aumentar, e mesmo assim, o mercado resolveu apostar na fraqueza do
dólar. Mas segundo uma frase que me acompanha a décadas “juros não leva
desaforo”, e se o FED continuar a subindo os juros enquanto o ECB teimar em
manter os seus juros em zero, esse fator poderá pesar. E como o mercado está
extremamente posicionado em euros todo cuidado é pouco. Mas isso parece ser um
problema para um pouco mais a frente, por enquanto o euro está firme e forte.
Hoje as bolsas nos EUA permaneceram fechadas em função do
feriado de Martin Luther King, o USDBRL a R$ 3,2117, com alta de 0,17%; o
EURUSD a € 1,2770, com alta de 0,69%; e o ouro a U$ 1.340, com alta de 0,14%.
Fique ligado!
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