A caminho da realidade

Quem é leitor do Mosca de longa data conhece minhas restrições aos fundos hedge, que aqui no Brasil se denomina de multimercados. De uma forma resumida minha advertências são: os custos cobrados são elevados, além do fato da taxa de performance ser cobrada quando ganha, mas não devolve quando perde; quanto mais bem sucedido é o fundo maior a chance de tropeços no futuro (todo mundo erra, mas normalmente esses gestores se acham invencíveis); eu realizei um estudo na FEA com todos os fundos multimercados (*) e cheguei à conclusão que, se a performance piora num trimestre deve ser trocado, o que é contrário a política de investimento divulgada de longo prazo.

(*) o estudo considera uma carteira dinâmica dos melhores 7 fundos observados em janelas de 3,6,9,12 meses. A minha colocação acima é bem simplificada, porem eu observei que o retorno só é superior ao CDI quando essas carteiras são trocadas a cada trimestre, num prazo maior não mostram retornos consistentes.

Nos últimos anos essa indústria tem passado por decréscimo de patrimônio, e para complicar esse ano o retorno tem sido pífio, embora os investidores lotaram os maiores fundos de hedge desde a última crise financeira, à medida que buscavam segurança em tamanho. Agora, eles estão pagando um preço alto.

Fundos superdimensionados estão fracassando com seus clientes durante um período de turbulência no mercado que, em teoria, deve representar uma chance sem precedentes de ganhar dinheiro. Em vez de lucrar, porém, alguns dos maiores fundos de hedge do mundo mal conseguiram proteger seus investidores de perdas.

Um indicador de pesquisa de fundos de hedge que dá mais peso aos players maiores caiu 4,4% este ano até setembro, enquanto todos os fundos de hedge conseguiram, em média, obter um pequeno lucro. Nomes “banhados a ouro” que caíram incluem: Bridgewater, casas quantitativas como: Renaissance Technologies e Winton, Michael Hintze's CQS e Lansdowne Partners.

As perdas estão prejudicando em grande parte investidores institucionais influentes - fundos de pensão, seguradoras e endowments - que contribuem mais para os ativos do setor e mantem os maiores fundos. Os investidores retiraram US$ 89 bilhões dos fundos de hedge nos primeiros nove meses do ano, principalmente de grandes empresas, de acordo com dados da Eurekahedge.

Fundos de hedge maiores têm sido tradicionalmente vistos como mais estáveis nos mercados em baixa, uma percepção suportada nos dados de desempenho que remontam a mais de uma década. Os grandes fundos perderam menos do que seus pares menores quase dois terços do tempo desde a crise financeira global, de acordo com uma análise de cada mês de perdas de 2008 a 2019. Mas esse padrão quebrou em 2020.

Os fundos de hedge com mais de US$ 1 bilhão em ativos acumularam cerca de US$ 60 bilhões em perdas de desempenho este ano até setembro, ou pouco mais de 5% de seu capital, de acordo com Eurekahedge. Os investidores teriam se saído muito melhor com um fundo de índice acompanhando o mercado de ações: o S&P 500 subiu 5,6%.

O superdimensionamento dos fundos de hedge evoluiu à medida que as instituições gradualmente substituíram indivíduos ricos como seus maiores clientes. Como a maioria desses investidores não tem equipes de pesquisa e precisa alocar centenas de milhões de dólares para ter qualquer impacto significativo em suas carteiras, eles tendem a estacionar dinheiro com os maiores e conhecidos fundos de hedge.

Isso levou os fundos maiores atrair capital novo e menores ficando sem negócios. Dos US$ 170 bilhões líquidos investidos em fundos de hedge desde 2010, cerca de US$ 135 bilhões foram para os maiores, de acordo com dados da HFR.


O tamanho tornou-se um fardo. A grande escala de alguns fundos torna mais difícil para eles reagirem trocando de apostas. Assim, quando a volatilidade abalou ações, títulos, moedas e commodities no início deste ano, muitos gigantes perderam quantias enormes de dinheiro.

Os oito meses até agosto foram feios: o principal fundo da Bridgewater Associates perdeu 18,6%; As Ações Institucionais da Renascença caíram 13%; O principal fundo Winton caiu cerca de 19%; CQS de Hintze caiu 42,5%; enquanto o Lansdowne Developed Markets Fund caiu quase 22%.

Mesmo antes da pandemia, os investidores questionavam as altas taxas cobradas pelos fundos de hedge para retornos medíocres. Até agora, muitos escaparam culpando a falta de volatilidade para seus problemas -- então 2020 deveria ter potencialmente proporcionado sua melhor oportunidade de oportunidades em anos.

Uma razão pela qual os fundos menores estão melhorando é que eles estão aproveitando oportunidades de nichos que simplesmente não ter essa oportunidade para os bilhões de dólares que seus pares maiores precisam investir.

"A ironia é que a indústria de fundos de hedge foi construída sobre investimentos com pequenos gestores ágeis que poderiam explorar oportunidades de investimento esotérico", disse Andrew Beer, fundador dos investimentos Dynamic Beta. "Os últimos anos mostraram que às vezes grandes podem ser muito grandes, especialmente quando as taxas consomem mais desempenho."

A indústria de fundos passa por uma tendência inequívoca de mudança, aonde os investidores preferem exercer a decisão discricionária sobre seus investimentos ao invés de delegar a profissionais. Isso foi possível graças aos inúmeros veículos disponíveis agora para clientes pequenos com custos muito inferiores.

Vamos imaginar que um fundo de hedge consiga gerar um retorno bruto de 12% a.a., todos os anos, o que por si só já algo muito difícil de assumir. Supondo que cobra 2% a.a. de taxa de administração e 20% de performance fee, veja a seguir a tabela de rendimentos.


Notem que do rendimento total, mais de 1/3 vai para o gestor, e essa proporção aumenta conforme o prazo também aumenta, chegando a dividir 50/50, depois de um período de 20 anos. Tudo isso piora muito em anos que existem perdas, pois o que foi ganho anteriormente não é devolvido, elevando a participação do ganho pelo gestor.

Normalmente esses gestores são profissionais destacados, não tem dúvida. Com o apelo de só ganhar se o cliente ganhar, viram seu socio somente no lucro, e não é um socio minoritário!

No post a-europa-vive-na-torcida, fiz os seguintes comentários sobre o SP500: ...” Essa pequena correção que está em andamento deveria reverter em algum ponto destacado na elipse, sendo o mais “provável” 3.334. Como não sabemos de ante mão qual será esse nível, o acompanhamento em janelas mais curtas poderá dar alguma pista” ...


Ontem o SP500 chegou a mínima em 3.364, relativamente próximo do nível apontado acima. Uma análise num micro horizonte de tempo, pode indicar a tendência de alta está em curso, mas esse sinal não é suficiente para embarcar na compra. O outro indicador de bolsa, o Nasdaq 100, também aponta nesse sentido, nesse último já estamos posicionados. Está tudo indo bem por enquanto.

Resolvi fazer uma simulação teórica considerando que o movimento de alta segue os níveis mais prováveis. Considerando essa premissa, o SP500 deveria atingir entre 4.000/ 4.120 no início do próximo ano, uma alta nada desprezível de 17%/21%.


- David, com esse objetivo é bom combinar com várias pessoas? Hahaha ...

É verdade, com quem poderia eu combinar? Com os democratas e republicanos (como hedge)? Com os russos? Parece que já virou carne vaca! Hahaha ...

Já sei, nesse momento o melhor é combinar com coronavírus, afinal, se tem alguém que pode acabar com a festa são esses malditos! Hahaha ...

O SP500 fechou a 3.390, com queda de 0,30%; o USDBRL a R$ 5,6934, com alta de 1,27%; o EURUSD a 1,1809, sem variação; e o ouro a U$ 1.907, com alta de 0,28%.

Fique ligado!

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