Prateleiras vazias #usdbrl
Em
1986 o governo lançou um plano denominado de Plano Cruzado. O presidente na
época era José Sarney e tinha como ministro da Fazenda Dilson Funaro.
A
principal marca foi o congelamento de preços. Alimentos, combustíveis, produtos
de limpeza, serviços e até o real tiveram os preços tabelados pelo governo.
Inicialmente,
o Cruzado reduziu a inflação de 12,49% em fevereiro de 1986 para 1,40% em
outubro do mesmo ano. Com o resultado, o governo Sarney ficou extremamente
popular, sendo considerado ótimo ou bom por 72% dos brasileiros.
Como
fracasso do plano, o governo lançou o Plano Cruzado II. Passados 4 meses, a
demanda subiu de forma expressiva e não levou muito tempo para o plano
fracassar. Se você queria comprar carne, por exemplo, estava sujeito a um ágio,
e toda a transação era feita com muito cuidado. Faltava de tudo.
Lembro-me
de uma reportagem no Jornal Nacional onde um consumidor verificou que alguns
preços estavam acima da tabela, dirigiu-se à porta desse estabelecimento e
declarou: “Em nome do Presidente Sarney, declaro fechado esse supermercado”.
Foi ovacionado pela multidão de pessoas que se encontravam no local.
Atualmente,
alguns países estão enfrentando falta em alguns produtos, cuja atual escassez pode
ser apenas uma
interrupção temporária ou a evidência de um colapso global na
produção. Mas os choques de oferta de hoje oferecem
paralelos marcantes com a crise financeira global de 2008, e podem exigir uma resposta
política igualmente ousada. Diane Coyle,
professora na Universidade de Cambridge, produziu um artigo no Project Syndicate
sobre esse assunto.
Este
episódio
vem à
mente devido à escassez generalizada que emerge em todo o
mundo. Mercados de gás, caminhoneiros, dióxido de carbono (extraordinariamente), brinquedos, móveis prontos para montar, iPhones, chips de computador,
e muito mais
foram afetados. Esses choques de fornecimento serão meramente uma interrupção
temporária à medida que a economia global se recupera do impacto da pandemia
COVID-19? Ou estamos testemunhando um colapso do sistema de produção global? E,
neste último caso, qual seria o equivalente, em termos de cadeia de
suprimentos, às intervenções dos principais bancos centrais para evitar um
colapso financeiro global em 2008?
Os
paralelos entre os choques de oferta de hoje e os choques financeiros de 2008 são impressionantes. Antes de
cada crise, a suposição predominante era de que os mercados descentralizados
proporcionavam resiliência adequada, seja espalhando riscos financeiros ou
garantindo uma diversidade de suprimentos alternativos.
No
setor de energia, por exemplo, houve uma mudança constante da autossuficiência
nacional para a dependência dos mercados globais. A União Europeia iniciou o
processo de "liberalização" em 2008,
permitindo uma nova concorrência em gás e eletricidade no que se
pretendia ser um mercado em toda a UE. Embora alguns tenham expressado
anteriormente preocupações sobre as implicações para a segurança do fornecimento, os
formuladores de políticas avançaram com a legislação para confiar as importações de energia das economias
europeias aos mercados globais.
Mas
a maioria dos analistas – e formuladores de políticas – não conseguiu prever
que os mercados globais de gás e muitas outras commodities acabariam por ter
gargalos. A suposta diversificação da oferta resultante da liberalização muitas
vezes parece ser ilusória. Para muitos produtos, incluindo semicondutores ou CO2 (um subproduto de
fertilizante) para processamento de alimentos, os suprimentos se
tornaram mais concentrados. E a divisão das cadeias globais de produção em elos cada vez mais
especializados ao longo de várias décadas levou a correlações inesperadamente próximas entre choques de
oferta em diferentes indústrias, como com fertilizantes e alimentos ou
semicondutores e carros.
Além disso, algumas faltas
(como as de caminhoneiros e contêineres de transporte, ou gasolina no Reino
Unido) afetam diretamente a logística que conecta os elos nas cadeias de
suprimentos. Como resultado, as vulnerabilidades rapidamente se tornaram
mutuamente reforçadas e auto amplificadoras. O design altamente especializado e
o just-in-time do sistema de produção global proporcionaram benefícios
substanciais, mas suas fraquezas são agora evidentemente maiores.
Então, como os formuladores de
políticas
devem pensar sobre essa falta de resiliência do sistema, e o que pode ser feito para
combatê-la? Benjamin Golub, da Northwestern University, mostrou que a teoria da filas oferece insights sobre como uma pequena
mudança em um sistema de bom
funcionamento (como cortar duas pistas de checkout de supermercados para uma só)
pode levar a enormes aumentos nos tempos de espera. Por outro lado, introduzir
um pouco de folga em um sistema, adiciona muita resiliência.
Da
mesma forma, o modelo clássico de
teia de aranha mostra como os atrasos de tempo podem
desestabilizar os mercados e desencadear grandes flutuações na demanda e na
oferta. Se a demanda é menos responsiva do que a oferta de sinais de preços, e
as expectativas sobre o futuro se mostram incorretas, então um atraso nas
respostas dos fornecedores gera volatilidade.
Então, há muitos modelos mentais
para entender o problema atual da escassez. O desafio premente é como restaurar a
estabilidade e aliviar a escassez para que as pessoas não enfrentem uma
temporada de férias sem brinquedos, perus ou gás.
Uma
prioridade máxima é ter melhores dados e melhor informação
econômica no governo. Mesmo após 30 anos de globalização, há informações surpreendentemente pouco
detalhadas e disponíveis publicamente sobre os fluxos de produtos nas cadeias
globais de suprimentos. Os ministérios precisam restaurar o tipo de
conhecimento da indústria baseado em engenharia que era mais comum quando a
política industrial era considerada uma função fundamental do governo.
Mas,
no curto prazo, mercados descentralizados e sinais de preços são o problema, não a solução. Os governos precisarão
intervir — seja deslocando soldados para conduzir petroleiros ou fornecendo
subsídios de produção — para mitigar algumas das faltas.
Quando
diminuírem as preocupações imediatas quanto aos suprimentos, as empresas e os
formuladores de políticas devem considerar que tipo de seguro ou
folga devem construir no sistema de produção a longo prazo. Assim como os
bancos precisavam aumentar seus buffers de capital após 2008, talvez agora
precisemos recuar da produção just-in-time e redefinir a produtividade à luz
dos riscos na cadeia de suprimentos.
O Mosca não tem nenhum conhecimento na área
de distribuição, mas não precisa ser um grande entendido para perceber que dois
macro movimentos observados em passado recente podem ter ocasionado essa
situação. Um é o sistema just-in-time, onde os produtores
praticamente levaram seus estoques de componentes a zero para evitar custos de
estocagem — funcionou maravilhosamente bem, mas pressupõe não haver falha na
cadeia de suprimentos. Outro é a globalização, que levou à produção de itens a
locais com custos menores. A China foi o grande beneficiário desse movimento em
virtude de seu enorme contingente de mão de obra. Acontece que esse excesso de
trabalhadores não é mais nem tão grande, nem tão barato como no passado, e neste
momento de escassez de produtos a China deve estar privilegiando o seu mercado
interno.
Além desses fatores, agrega-se um aumento temporário
na demanda, em virtude dos recursos distribuídos pelos governos num momento em que
a cadeia produtiva se encontrava sem sincronia em função da pandemia. E por
último, a Lei de Murphy, que se aplica bem nesse caso.
Uma pesquisa realizada com os consumidores no Reino Unido não parece mostrar retrato semelhante ao que ocorreu no Plano Cruzado, onde faltava de tudo. Como mostra a ilustração a seguir, a falta parece localizada.
Quando Doyle faz um paralelo com a crise financeira global de 2008, não sei se compro essa ideia. Primeiro, a recessão ocasionada naquela data pode ser chamada de “clássica “, com os excessos ocorridos em mercado específico termina em quebradeiras. Agora o motivo foi outro, com queda “forçada “em praticamente tudo, devido aos lockdowns. Quando o efeito cessou, a demanda voltou ao “normal “de forma rápida. O gráfico a seguir aponta esses dois momentos, e para mim parecem não ter nenhuma semelhança.
Não tenho a menor ideia de como as cadeias voltarão à normalidade e nem quanto tempo vai demorar. Também, vai ser difícil para os bancos centrais saberem que parte da inflação é temporária — que produtos retornarão à normalidade, e o que é mais definitivo, por exemplo — por conta da elevação dos preços das commodities. Vai ser um processo de tentativa e erro.
No
post morte-lenta, fiz os seguintes comentários sobre o dólar: ... “Continuamos com o objetivo traçado anteriormente, mas
sem deixar de frisar que não existe um grau de convicção muito grande. Por
exemplo, seu tivesse que assumir alguma posição, colocaria stop loss bastante
curtos” ...
O Banco Central atuou mais forte na semana passada através de contratos de swap, isso ocasionou uma pequena retração nas cotações durante a semana mas não alterou o cenário técnico que traçamos — ao contrário, deu mais sustentação à configuração ending diagonal.
- David, você comentou no último post que tem um cenário prevendo a queda do dólar, mas que não iria revelar, dando uma justificativa que não colou muito.
Bem,
você pode interpretar da forma que quiser, mas nesse momento não tenho razão
para revelar essa alternativa. Entretanto, como você foi muito gentil em sua
colocação, posso revelar um nível que passa a ser vital nesse outro panorama. Esse
intervalo seria entre R$ 5,65/ R$ 5.72. Se cenário pretende passar para
primeira linha, o movimento de alta deveria no máximo estancar nesses níveis, para
em seguida cair. Ficamos de olho nessa região para ver o que acontece.
O
SP500 fechou a 4.486, com alta de 0,34%; o USDBRL a R$ 5,5176, com alta de
1,04%; o EURUSD a € 1,1610, com alta de 0,10%; e o ouro
a U$ U$ 1.764, com queda de 0,17%.
Fique
ligado!
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