O medo predomina #usdbrl

 


Como já comentado anteriormente, hoje o post foi elaborado com a contribuição de Alberto Dwek.

Não adiantam argumentos quando a emoção está envolvida; é ela que dita nossas ações em momentos de euforia ou medo. Podem notar que, na maioria das vezes em que tomamos alguma decisão nessas condições, quando estas cessam percebemos que nossa decisão provavelmente seria diferente. Muito pior: quando uma perda financeira está envolvida, esta tem impacto duas vezes superior ao ganho. Um bom exemplo de situação extrema está numa história do escritor Stephen King, de quem sou fã desde seu primeiro livro.

Um dos melhores filmes baseados em suas obras é sem dúvida “Um Sonho de Liberdade”, em que um banqueiro é injustamente condenado à prisão perpétua. No conto de King, lá pelas tantas, o pobre ex-banqueiro explica a seu melhor amigo o motivo de uma de suas decisões mais cruciais (não vou dar spoiler, assistam ao filme). “Só tem na verdade dois tipos de pessoa quando o problema fica sério. Digamos que o dono de uma casa cheia de obras de arte bem caras ficasse sabendo de um baita furacão indo bem na direção da casa dele. Um desses dois tipos simplesmente espera pelo melhor. O furacão vai desviar, nenhum furacão ousaria destruir minhas riquezas. E mais: Deus não deixaria, e no pior dos casos eu tenho seguro. Esse é um tipo. O outro simplesmente supõe que o furacão vai entrar direto na casa dele. Se o pessoal da meteorologia falar que o furacão mudou de caminho, ele vai achar que vai mudar de novo só para acertar a casa dele. Esse segundo tipo sabe que não tem mal nenhum em esperar pelo melhor contanto que você esteja preparado para o pior.”

Essa passagem me veio à lembrança assim que eu li o artigo de Ben Carlson no site A Wealth of Good Sense, em que ele fala da tendência em acreditar no pior, justamente quando as coisas vão mal. O interessante é que sua conclusão não deixa de ser otimista.

Um leitor pergunta:

Você tem cara de ser uma pessoa relativamente otimista quando se trata dos mercados. Você pode nos dar seu cenário mais pessimista para o mercado de ações agora? Estou preocupado que o pior ainda esteja por vir.

Esta é uma avaliação justa.

Eu sou uma pessoa do tipo copo-meio-cheio por caráter.

Não posso provar isso, mas acho que otimismo ou pessimismo é algo com o qual você nasce. Eu por acaso nasci uma pessoa mais otimista, que vê principalmente o lado bom das coisas. (Só tenho pessimismo permanente em relação ao meu time de coração e às barbeiragens dos outros motoristas.)

Mas quando se trata de investir, você também precisa equilibrar otimismo com realismo. Para mim, isso significa ser um otimista racional de longo prazo com o entendimento de que as coisas podem e vão ficar muito ruins no curto prazo de vez em quando.

É assim que as coisas funcionam. Como agora, por exemplo. As coisas parecem muito ruins financeiramente falando.

Você poderia pensar em hiperinflação ou um colapso do dólar ou uma invasão alienígena, mas vamos nos ater aos cenários mais realistas para o ambiente de mercado atual.

O maior risco agora é um erro de política do Fed ou de outros bancos centrais. Este também tem a maior probabilidade de ocorrer, na minha estimativa.

Minha preocupação aqui não é baseada em uma leitura errada dos dados econômicos ou algo desse tipo por parte de Jerome Powell e companhia. É mais o elemento humano envolvido em seu processo de tomada de decisão.

Fatores externos podem afetar nossas decisões, estejamos cientes deles ou não.

Pesquisadores da última década estudaram mais de 1.000 decisões de liberdade condicional por 8 juízes israelenses. Ao analisar o momento das decisões, os autores do estudo notaram um padrão em termos de quando esses criminosos condenados compareceram diante dos juízes.

Dois terços dos pedidos de liberdade condicional foram concedidos quando eles se apresentavam diante de um juiz logo pela manhã. Mas esses números caíam bastante antes do almoço.

Então, milagrosamente, depois do almoço, o número de pessoas que recebiam liberdade condicional voltava para 65% ou mais.

Mas no final do dia, quase ninguém conseguia liberdade condicional.

Eles calcularam que os presos em liberdade condicional tinham entre duas e seis vezes mais chances de serem libertados se fossem um dos três primeiros prisioneiros do dia a ver um juiz do que os três últimos prisioneiros do dia.

Tenho certeza de que há muitos fatores em jogo aqui, mas eles concluíram que os juízes estavam mais mal-humorados logo antes do almoço porque estavam com fome. Uma vez que eles se alimentavam, eles estavam com um humor muito melhor. E no final do dia eles estavam de mau humor novamente depois de trabalhar o dia todo e ficar com fome novamente para o jantar.

Somos todos humanos e os membros do Fed também.

Eles estão sendo criticados pela mídia financeira e especialistas econômicos há meses sobre como eles perderam o bonde no pico inflacionário e não fizeram nada sobre isso antes.

Então, acho que há uma possibilidade real de que eles corrijam demais na direção oposta e se esforcem demais agora para tentar provar sua credibilidade.

Você não acha que vamos mandar a economia para uma recessão para provar nosso argumento?! Nós vamos lhe mostrar!

Além disso, acho que aprendemos que o Fed é muito bom em estimular a economia e manter o sistema financeiro à tona quando as coisas estão realmente ruins, mas não há evidências de que eles saibam o que estão fazendo quando se trata de pisar no freio e desacelerar as coisas.

Algo que anda de mãos dadas com um erro de política seria se as taxas de juros e a inflação continuassem subindo ou a inflação simplesmente permanecesse elevada.

O número da inflação hoje veio mais forte do que o esperado.

Minha pesquisa mostra, tudo o mais permanecendo constante, que  o mercado de ações tende a ver retornos acima da média quando a inflação está baixa e/ou caindo, e retornos abaixo da média quando a inflação está alta e/ou subindo.

A inflação alta e renitente provavelmente seria um coisa ruim, porque isso significaria que o Fed iria aumentar as taxas de juros de forma mais agressiva.

O outro risco aqui é que algo inesperado assuste os investidores.

Durante um mercado em alta, dizem que as ações passam por cima de um muro de preocupações. É muito mais fácil ignorar outras coisas quando as ações já estão subindo e as pessoas não estão em pânico.

Mas no meio de um mercado em baixa, os investidores estão tensos e apenas procuram algum motivo para vender. Não é preciso muito para fazer os investidores entrarem em pânico no meio de um pânico.

Considere o mercado de urso de 2000-2002.

O mercado em alta dos anos 1990 terminou no início de 2000, depois que as ações de tecnologia nos levaram a níveis de avaliação absurdos.

Daquele ponto até pouco antes de 11 de setembro, o S&P 500 caiu mais de 28% em relação às máximas:

Você pode ver que as ações tiveram quedas maiores a partir daí, caindo mais 33% de 11 de setembro até o fundo no final de 2002.

Para ser justo, as ações apanharam feio logo após o 11 de setembro e tiveram uma forte alta no meio do mercado de baixa nos meses que se seguiram. Mas você também teve os escândalos da WorldCom e da Enron, além de uma pequena recessão em 2001.

A questão é que não foram apenas as altas avaliações que afetaram o mercado. As ações estavam em tendência de baixa e depois vieram mais más notícias. Adicionar ainda mais pânico ou incerteza a um mercado já em pânico pode tornar as coisas ainda piores.

Eu acho que você poderia dizer que a guerra na Ucrânia foi aquele evento externo que piorou as coisas aqui, mas qualquer outra coisa fora do comum acontecendo do ponto de vista geopolítico ou do sistema financeiro provavelmente não seria a melhor coisa agora.

Por outro lado…

…as pessoas sempre supõem que um Cisne Negro tem que ser um evento negativo.

E se tivermos algum tipo de cisne negro positivo que torne as coisas melhores do que o esperado?

E se a inflação cair mais rápido do que as pessoas pensam a partir dos níveis atuais?

Esta foi a taxa de inflação da última vez que o Fed estava tentando jogar a economia dos EUA em uma recessão na década de 1980:

Depois que a inflação atingiu o pico de 14,8% em março de 1980, os números mensais seguintes foram de 14,7%, 14,4% e 14,4%. A inflação permaneceu teimosamente alta por vários meses antes de finalmente cair.

Às vezes, a economia não faz o que você quer imediatamente. É mais como virar um navio de guerra.

Outros eventos positivos de cisne negro podem ser:

E se de alguma forma o Fed for capaz de se virar e orquestrar um pouso suave se o mercado de trabalho continuar forte?

E se os ganhos não caírem tanto quanto você suporia em uma desaceleração econômica?

E se a guerra terminar abruptamente?

Não são apenas boas notícias que fazem com que os mercados de baixa cheguem ao fim, mas notícias melhores do que o esperado que são simplesmente menos ruins.

Viu, você sabia que eu tinha que trazer a coisa para o copo meio cheio, mesmo quando parece que o copo está vazio agora.

Não mencionei Stephen King à toa. Quando recomendei a liquidação das carteiras de ações logo ao primeiro sinal de Covid na China (o mercado ainda subiu um pouco por dez dias depois disso), muitos me chamaram de fã de filme de terror. E, embora eu tivesse acertado minha previsão sobre a calamidade que se seguiu, perdi o bonde da compra nas mínimas em meados de março de 2020 e só voltei a recomendar a compra em meados de maio, quando o mercado já havia recuperado metade da queda. Fazendo as contas, meu nível de preços foi o equivalente a alguém que tivesse mantido sua carteira durante os piores momentos e comprado nas mínimas para fazer preço médio. Ou seja, o resultado de quem acreditou no pior e de quem apostou na recuperação na hora certa foram praticamente iguais. A diferença, claro, foi a qualidade do sono durante o terremoto.

Concordo com Carlson: otimismo e pessimismo tendem a ser inatos. Mas, invertendo a frase do banqueiro da história de King, preparar-se para o pior não deveria impedir que se espere pelo melhor.

Tenho muita convicção de que o maior problema é a inflação americana. Se os economistas estiverem certos em suas projeções, tudo pode ficar diferente daqui a seis meses. Na visão do Banco Wells Fargo, dentro de 18 meses estaria ao redor de 2 %, um pouco mais talvez. Notem que o maior problema entre os itens são os serviços que ainda continuam subindo. Sobre essa categoria o Fed tem poucas armas.

Mas parece que por outro lado esses mesmos economistas estão a cada dia que passa elevando a chance de que ocorra uma recessão. Naturalmente, levam em consideração não só a inflação, mas o que o Fed vem dizendo que vai fazer na questão dos juros. Como a ilustração a seguir mostra hoje esse risco é de maior que 60%.


Combinando essas ideias, é razoável supor que o mercado acredita que o Fed vai fazer uma barbeiragem ou que não tem jeito mesmo, praticamente todas as vezes no passado o período de aperto monetário culminou com uma recessão. Para responder à pergunta que vale bilhões, entrar agora na bolsa é um bom momento? O gráfico do Deutsche Bank diz que não, pois a mínima só ocorreu no passado quando a recessão estava em curso, o que não é o caso agora.


O que fazer com tantas dúvidas? Como mencionado por Alberto Dwek em sua experiência no evento da Covid, duas decisões diferentes podem chegar ao mesmo resultado final, na verdade só se saberá ex post. Eu ainda acredito mais na análise técnica como indicador de nossas decisões.

No post o-fed-esta-levando-chute-de-todo-lado, fiz os seguintes comentários sobre o dólar: ... “Não tenho muita convicção no cenário em curso. Por quê? Primeiro que no curto prazo “está demorando muito para o dólar cair (identificado no gráfico com a elipse), isso me faz desconfiar que ao invés de ser uma onda II em laranja seja uma onda B”


 Ainda não se pode saber qual dos dois caminhos o dólar pretende tomar, mas no curto prazo os dois indicam a possibilidade de queda, variando a extensão dela. Dessa forma, iniciei um trade de venda do dólar quando houve a recuperação a R$ 5,3250 apontado no gráfico abaixo com o símbolo em verde. O stop loss fica estabelecido no nível de entrada.



Quais os objetivos desse trade? No caso em que o dólar caia mais forte, seria R$ 4,38 e na outra situação R$ 4,91. Esse é um caso interessante que vale mencionar. Com uma visão mais longa no primeiro caso depois dessa queda (R$ 4,38), deveria haver uma correção para em seguida uma nova queda, ou seja, esse cenário é negativo para dólar num prazo mais longo; já no segundo o dólar estaria em alta até que atinja R$ 6,06. Com essas opções, a princípio, não se deveria sugerir um trade de venda pois tem direções opostas, porém no curto prazo ambas são de queda, razão do trade.

- David, interessante! Como você vai saber em qual dos casos está o dólar?

Primeiro é necessário que se confirmem, pois podemos ser estopados antes de poder definir em qual dos dois. Eu não estou usando o stop loss que seria recomendado, evitando essa situação. Em correções, normalmente busco entrar em preços convidativos (pouco para perder e muito para ganhar), sem essa oportunidade prefiro ficar fora.

O SP500 fechou a 3.677, com alta de 2,65%; o USDBRL a R$ 5,2956, com queda de 0,57%; o EURUSD a 0,9835, com alta de 1,19%; e o ouro a U$ 1.648, com alta de 0,40%.

Fique ligado!

Comentários

  1. Excelente! Vc definiu antecipadamente a possível entrada no trade e, quando a oportunidade chegou, apertou o gatinho! Isso é trading mindfully. Abs

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    1. Obrigado! Mas costumo dizer que os elogios só depois do trade terminado ....

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