A última bala na agulha #USDBRL

 


No último fim de semana, os Estados Unidos escalaram o conflito no Oriente Médio ao bombardear três usinas nucleares iranianas com armamentos de alta penetração, capazes de atingir alvos subterrâneos. O Irã, isolado diplomaticamente e com recursos militares esgotados, enfrenta um cenário crítico. Como dizia uma colega meu, quando uma das partes em um conflito não tem nada a perder, o risco de ações desesperadas cresce exponencialmente. O Estreito de Ormuz, por onde passa cerca de 20% do petróleo global, é o trunfo final de Teerã – uma arma que pode desestabilizar a economia mundial, mas também selar seu próprio colapso econômico.

O Estreito de Ormuz, localizado entre o Golfo Pérsico e o Golfo de Omã, é uma artéria vital para o comércio global de energia. Com apenas 33 km de largura em seu ponto mais estreito e canais navegáveis de 3 km por direção, é vulnerável a qualquer interrupção. Em 2024, cerca de 16,5 milhões de barris de petróleo por dia transitaram pelo estreito, provenientes de Arábia Saudita, Iraque, Kuwait, Emirados Árabes Unidos e do próprio Irã, segundo dados da Bloomberg. Além disso, mais de um quinto do gás natural liquefeito (GNL) global, majoritariamente do Qatar, passa por essa rota. A dependência global do estreito dá ao Irã uma alavanca estratégica, mas também o coloca sob a mira de potências ocidentais, especialmente os EUA, cuja Quinta Frota patrulha a região. A Guarda Revolucionária Islâmica, com seus barcos rápidos, mísseis antinavio e minas marítimas, tem a capacidade de obstruir o tráfego marítimo, como demonstrou em incidentes passados, como a captura de navios em 2019 e 2023.




A escalada militar recente, com os ataques dos EUA e de Israel às instalações nucleares iranianas, expôs as fraquezas de Teerã. O programa nuclear iraniano foi severamente comprometido, mas 400 quilos de urânio altamente enriquecido, suficiente para até nove bombas, permanecem desaparecidos, conforme relatado pela Bloomberg. A ausência de emissões radioativas após os bombardeios sugere que esse material não foi atingido, aumentando a tensão global. O Irã, sob pressão de sanções e com aliados como Rússia e China mantendo distância, enfrenta um dilema: retaliar de forma calibrada ou arriscar um bloqueio do Estreito de Ormuz. Um fechamento total, embora improvável devido ao impacto nas exportações iranianas e na relação com a China, principal compradora de seu petróleo, poderia disparar o preço do Brent para até US$ 150 por barril, segundo estimativas da Kpler. Mesmo uma interrupção parcial, como minagem ou ataques a navios, elevaria os custos de seguro marítimo e desestabilizaria mercados energéticos.

Enquanto isso, os mercados israelenses, surpreendentemente, sinalizam otimismo. Conforme o Wall Street Journal, o índice TA-125 subiu 8% desde o início do conflito com o Irã, superando o S&P 500. Investidores locais, acostumados a conflitos, veem as ações militares de Israel e dos EUA como um enfraquecimento decisivo do eixo liderado por Teerã, incluindo Hezbollah e outros proxies. A queda do regime de Assad na Síria e a morte de Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah, reforçam essa percepção. Contudo, o conflito está longe de um desfecho. O chefe do Estado-Maior israelense, Eyal Zamir, alertou para uma campanha prolongada, e a ausência de uma solução para o conflito palestino mantém a instabilidade regional. A resiliência econômica de Israel, com crescimento contínuo e desemprego em 3%, contrasta com a fragilidade iraniana, mas não elimina os riscos de uma escalada maior.




O Irã, acuado, pode optar por uma retaliação “telegráfica”, como ataques a infraestruturas ligadas aos EUA sem causar baixas, permitindo a Trump evitar uma guerra total. No entanto, a destruição parcial de seu programa nuclear pode levar Teerã a abandonar o Tratado de Não Proliferação Nuclear, intensificando sua busca por armas atômicas, como alertou Cyrus Razzaghi, da Ara Enterprise. Isso colocaria o regime em rota de colisão com os EUA, que, segundo o secretário de Estado Marco Rubio, poderiam considerar a mudança de regime como objetivo. A ironia, como apontou Ellie Geranmayeh, do Conselho Europeu de Relações Exteriores, é que os ataques de Trump, destinados a neutralizar a ameaça nuclear iraniana, podem ter pavimentado o caminho para um Irã nuclearizado.

A China, maior importadora de petróleo do estreito, tem incentivos econômicos para pressionar o Irã contra ações drásticas, como um bloqueio. Conforme o Deutsche Bank, a maioria das exportações iranianas de petróleo destina-se à China, e uma interrupção no estreito afetaria diretamente Pequim. A Goldman Sachs estima que uma redução de 50% nos fluxos de petróleo por um mês poderia elevar o Brent a US$ 110 por barril, com impactos ainda maiores no GNL europeu. A Europa, especialmente a Espanha, é vulnerável a essas oscilações, enquanto a Alemanha, menos dependente de petróleo, sofreria menos, segundo o Deutsche Bank.



Os conflitos geopolíticos são movidos por interesses econômicos e estratégicos, mas também por desespero. O Irã, com sua “última bala na agulha”, enfrenta uma escolha trágica: retaliar e arriscar sua própria sobrevivência ou recuar e aceitar a humilhação. Um bloqueio do Estreito de Ormuz seria um ato de autodestruição, mas elevaria os preços de energia globalmente, punindo seus adversários. Para os mercados, a calma relativa é enganosa. O risco de disrupção no estreito, aliado à incerteza sobre o urânio iraniano, mantém o mundo à beira de uma crise energética. A audácia de Teerã, se consumada, pode transformar o Oriente Médio em um tabuleiro onde todos perdem.


Análise Técnica

No post “o-dólar-esta-perto-do-telhado”, fiz os seguintes comentários sobre o dólar: “Estamos muito próximos do objetivo traçado para esse cenário, entre ~R$ 5,45 (queda de 0,90%) ou ~R$ 5,40 (queda de 2,0%). Vou ficar atento nos próximos dias. Se a queda for ‘tranquila’, pretendo zerar a posição; se for ‘violenta’, pode indicar que o outro cenário está em curso.”



Como comentei acima, dos dois cenários, a opção “tranquila” parece ser cada vez mais provável. No gráfico com janela de 4 horas, na elipse destacada, os parâmetros técnicos sugerem que não se trata de um movimento direcional, o que seria esperado na alternativa. Destaquei no retângulo os possíveis objetivos, que são: ~R$ 5,46 (queda de 1%) ou ~R$ 5,39 (queda de 2,20%), contra uma potencial perda (devolução do lucro) em R$ 5,5414, de 0,46%. Isso indica um bom risco-retorno para manter a posição. De qualquer forma, estamos no final deste trade.



O S&P 500 fechou a 6.025, com alta de 0,96%; o USDBRL a R$ 5,4997, com queda de 0,21%; o EURUSD a € 1,1577, com alta de 0,49%; e o ouro a U$ 3.376, com alta de 0,25%.

Fique ligado!

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