Acabou a moleza #IBOVESPA

Durante muito tempo, quem precisava de chips para treinar modelos de inteligência artificial tinha apenas uma opção real: aceitar o preço imposto pela Nvidia ou simplesmente ficar sem produto. A relação era essa — ou você pagava o que Jensen Huang determinava, ou não treinava nada. E não adiantava levantar a sobrancelha e ameaçar “vou comprar do concorrente”. Concorrente? Era piada. O mercado inteiro dependia do monopólio tecnológico da Nvidia, e ela cobrava como tal: margens de 75%, filas de espera intermináveis e empresas engolindo seco para não sair atrás na corrida da IA.

Eu conheço bem essa dinâmica. No tempo de pregão, quando alguém precisava comprar um ativo com poucos vendedores, a expressão era direta: “fecha na boca do vendedor”. Significava que não havia negociação possível — ou você aceitava o preço ou ficava sem negócio. A lógica era exatamente essa.

Só que toda hegemonia gera arrogância, e toda arrogância abre espaço para uma reação. A Google não é exatamente uma empresa acostumada a se ver em posição subalterna. Enquanto o mundo inteiro aceitava pagar caro pelos chips da Nvidia, ela desenvolvia silenciosamente seus próprios TPUs. O que antes era apenas uma solução interna acabou virando arma estratégica.

E agora o jogo virou.

Os primeiros testes comparando o desempenho entre os TPUs da Google e os GPUs da Nvidia mostram que o nível de performance está, no mínimo, empatado. E esse “empate” tem o peso de um terremoto. De repente, a Nvidia deixou de ser o único rottweiler do quarteirão. E pior: a Google não está só usando os próprios chips — está em tratativas para vender para a Meta. É a tempestade perfeita para quem reinava sozinho.

 O mercado reagiu de imediato: Alphabet subiu mais de 15% desde o fim de outubro, enquanto a Nvidia caiu mais de 12% no mesmo período. O impacto psicológico é brutal. Desde que o Nasdaq tocou o pico, Alphabet simplesmente ignorou o ruído e continuou subindo — como mostram os gráficos. Não foi só uma recuperação: foi uma tomada de liderança num momento em que todos juravam que a festa da IA iria desacelerar.

A Google conseguiu unir três elementos raros de ver juntos: tecnologia própria, escala e timing. O novo modelo Gemini 3 recebeu elogios pela capacidade de raciocínio e programação, reforçando a percepção de que a empresa está, finalmente, utilizando todo o seu arsenal. Não se trata mais de ser um “concorrente” da OpenAI ou da Microsoft. A Google acordou — e acordou armada.

Artigos da Bloomberg e Wall Street Journal destacam que o peso das despesas de capital está aumentando de forma impressionante. Alphabet deve investir entre 91 e 93 bilhões de dólares este ano — valor 75% maior do que a média dos três anos anteriores. E tudo isso com uma estrutura financeira mais leve que a dos pares. Enquanto o mundo discutia “bolha de IA”, a empresa empilhava resultados e ampliava sua vantagem.

 É nesse ambiente que vem a pergunta decisiva: o que acontece quando a empresa que sempre precisou comprar o chip resolve vender o chip? A resposta está começando a surgir no preço das ações da Nvidia. Como mostram os gráficos do Bloomberg, a percepção de risco mudou. A ação é, hoje, a pior do chamado “Magnificent Seven” no mês e sofre porque os investidores começam a duvidar da sustentabilidade daquela margem de 75%. Se existe alternativa — e agora existe — a matemática muda.

Monopólio nunca é estável por muito tempo. Ele atrai inveja, concorrência, vingança empresarial e, eventualmente, ruptura. Tudo indica que a “fortaleza Nvidia” abriu sua primeira rachadura relevante. Não porque a empresa ficou mais fraca — mas porque a Google ficou mais forte.

 Essa queda não é sobre números de curto prazo. É sobre narrativa. E narrativa é o que move o mercado no período entre um trimestre e outro.

Até ontem, a história era simples:

“Se você quer treinar IA, precisa da Nvidia.”

Hoje a frase tem outra versão:

“Se você quer treinar IA, talvez não precise só da Nvidia.”

E amanhã — quem sabe — ela pode se tornar:

“A Nvidia é só mais uma fornecedora de chips.”

É cedo para cravar isso. A demanda por IA ainda é tão grande que talvez haja espaço para todos. Mas o ponto essencial é outro: acabou a moleza. A Nvidia vai ter que competir de verdade, cortar margem, provar eficiência e enfrentar clientes que agora têm opção. E poucos sentimentos são mais dolorosos para um fornecedor dominante do que ouvir de um cliente enorme: “eu não dependo mais de você”.

 Essa história ainda está no primeiro capítulo. Se Alphabet realmente transformar seus TPUs em produto de mercado e fechar com a Meta — que já estuda reduzir dependência da Nvidia — estamos falando de uma mudança estrutural na geopolítica da IA. Não é brincadeira. É o tipo de movimento que destrava bilhões em valor para uns e arranca bilhões de outros.

E, como sempre, quando existe esse tipo de disputa, é prudente acompanhar de perto — não pela torcida, mas pela oportunidade. Porque no fim das contas, enquanto muitos enxergam “queda”, é essencial procurar entender quem está comprando, quem está vendendo e quem está apenas acordando para um jogo que mudou na surdina.

Acabou a moleza.

 

Análise Técnica

No post “O dia N de Nvidia” fiz os seguintes comentários sobre o IBOVESPA: “antevejo o IBOVESPA subindo até 164 – 167 mil no curto prazo” ... “Tudo indica que a onda 3 azul ainda não terminou. O movimento de curto prazo, destacado na elipse, sugere apenas uma correção antes de continuar subindo até os níveis mencionados”


A bolsa reagiu nos últimos dias o que coloca minha hipótese em curso. Como destaquei com a elipse no gráfico abaixo a onda 4 verde pode ainda estar em andamento o que retardaria o movimento cujo objetivo seria ao redor de 174, 6 mil.


- David, não estou entendendo! Não vale uma aposta?

Veja meus comentários no post acima antes de me cobrar: “não me sinto confortável com o software disponível para esse mercado. Não vou fazer! “. Mas você me fez refletir: Por que devo acompanhar um mercado cujas ferramentas para tomar decisão não me satisfaz? O único motivo é que boa parte dos leitores por serem brasileiros devem acompanhar a bolsa. Porém, será mesmo verdade que a maioria é brasileiros? Não é o que as estáticas do Google me apontam, veja a abaixo

Desde o início

EUA – 47%

Brasil – 33%

Nos últimos 12 meses

EUA - 34%

Brasil – 34%

Uma primeira conclusão é que o Brasil não detém o maior número de leitores e na margem, últimos 12 meses, está se diversificando no mundo em detrimento dos EUA.

Por tudo isso é bem provável que no próximo ano passarei a seguir a bolsa brasileira de forma descontínua deixando de ser um mercado onde irei fornecer sugestões de trade. Gostaria muito de continuar, mas a ferramenta que sigo não me dá confiança e como sempre digo: dinheiro não leva desaforo.

O S&P 500 fechou a 6.812, com alta de 0,69%; o USDBRL a R$ 5,3337, com queda de 0,91%; o EURUSD a € 1,1594, com alta de 0,22%; e o ouro a U$ 4.163, com alta de 0,79%.

Fique ligado!

Comentários

  1. Oi davi, talvez sejam brasileiros mornado fora somente, mas vse vc tem transito no mercado internacional tbm pode ser.

    É uma pena descontinuar as análises, mas será mesmo que não agrega valor na visão dos leitores, mesmo a ferramenta não estando tão calibrada?

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